domingo, 31 de outubro de 2010

Empregos perdidos, nos EUA: perdidos para sempre (traduzido)

As “privatizações” e a globalização voltam, para bater no lombo de quem as inventou

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu 

Agora, quando alguns Democratas e o que restou da AFL-CIO [principal união sindical nos EUA, composta de 54 federações nacionais e internacionais de sindicatos] começam a acordar para o impacto destrutivo da exportação de postos de trabalho sobre a economia dos EUA e sobre a vida de milhões de norte-americanos, os defensores da globalização ressuscitaram um artigo de Matthew Slaughter, economista de Dartmouth, que já foi ridicularizado há alguns anos. O artigo demonstrava que a globalização, com exportação de postos de trabalho, seria fator que faria aumentar o emprego e os salários nos EUA.

Quando o artigo apareceu, dediquei-me a expor os erros de Slaughter. Mas economistas dependentes dos grandes salários das grandes transnacionais entenderam que seria mais lucrativo divulgar aqueles erros do que discutir números e fatos. Recentemente, a Câmara de Comércio dos EUA requentou o falso argumento de Slaughter, usado como arma contra os deputados Democratas Sandy Levin e Tim Ryan; e o Wall Street Journal mandou William S. Cohen, secretário da Defesa de Bill Clinton, regurgitar as ideias de Slaughter em sua coluna no jornal, dia 12/10.

Escrevi ao Wall Street Journal, mas os editores não se interessaram por o que tivesse a dizer um de seus ex-diretores e colunistas, e secretário-assistente do Tesouro para questões de economia política do presidente Reagan. A fachada de mentiras publicadas como fatos tem de ser mantida a qualquer custo. Ninguém questionará, no WSJ, os benefícios da globalização para os EUA.

Cohen disse aos leitores do WSJ que “para cada emprego exportado para Bangalore, criam-se cerca de dois empregos em Buffalo e em outras cidades norte-americanas”. Aposto que Buffalo “e outras cidades norte-americanas” adorariam saber o endereço desses novos empregos que teriam sido recentemente criados. Talvez descubram, se telefonarem a Slaughter, Cohen ou à Câmara de Comércio.

Mês passado estive em St. Louis, e impressionaram-me os quarteirões, quarteirões e quarteirões, de casas abandonadas, fábricas desertas e prédios de escritórios com as lojas de calçada com placas de “aluga-se”.

Detroit está tentando reduzir a área da cidade, abrindo mão de mais de 40 milhas quadradas do próprio território. Dia 25/10, no programa 60 Minutes, tratou-se do desemprego no Vale no Silício, onde viviam profissionais de altíssimos salários que, hoje, estão desempregados há mais de dois anos e já não encontram nem empregos de meio período pagos a $9/hora, na Target.

A ideia de que a exportação de empregos, pelas transnacionais norte-americanas globais, aumentaria o emprego nos EUA é das maiores falácias jamais divulgadas por especialistas e pela mídia. Como já demonstrei em inúmeros artigos e também em meu livro How The Economy Was Lost [Como a economia perdeu o rumo] (2010), Slaughter consegue montar sua conclusão errada, porque conta o crescimento dos empregos nas multinacionais nos EUA, sem corrigir os dados de modo a que reflitam as aquisições e fusões de empresas: empresas norte-americanas compradas por conglomerados globais e empresas que já existiam, mas se converteram em empresas globais pela primeira vez. Não há novos empregos em transnacionais nos EUA. Os empregos simplesmente foram convertidos em empregos multinacionais, porque as empresas empregadoras converteram-se em multinacionais.

Se Slaughter (ou Cohen) tivesse consultado as estatísticas do Bureau of Labor e seus dados sobre nonfarm payroll Jobs [1], não conseguiria achar lugar para os supostos 5,5 milhões de empregos que teríamos criado, mas não criamos. Tenho escrito detalhadamente, há quase uma década, sobre a criação de empregos nos EUA que se vê nos dados do BLS e outros, como o economista Charles McMillion, de Washington, que têm feito o mesmo. Na última década, os novos empregos criados nos EUA nada tiveram a ver com as corporações multinacionais. São empregos de garçons e garçonetes, de assistentes médicos (em unidades de atendimento ambulatorial), vendedores em lojas de varejo e – enquanto a bolha se arrastar – na construção civil.

Nada dos empregos high-tech de altos salários, que a “Nova Economia” tanto prometeu, e não são empregos que possam ser associados às empresas globais. Além do quê, também os empregos domésticos já escasseiam.

Mas o que menos se considera são os fatos. Será que Slaughter, Cohen, a Câmara e o Wall Street Journal jamais se perguntaram como seria possível ter, simultaneamente, milhões de novos empregos e bons salários para a classe media, com cada vez maior desigualdade de renda no mundo desenvolvido, e toda renda acumulando-se cada vez mais na faixa dos mega ricos?

Em meados de outubro, o secretário do Tesouro e fantoche de Goldman Sachs, Tim Geithner, discursou na Califórnia no pátio, ou no ex-pátio, de ex-casas dos ex-ricos da classe média do Vale do Silício, vários dos quais vimos no programa 60 Minutes sobre a mesma região. Lá, Geithner disse que a solução é “formar mais engenheiros”.

Os EUA já têm muito mais engenheiros do que empregos para eles. Em pesquisa recente feita por empresa de pesquisa e marketing da Philadelphia, Twentysomething, constata-se que 85% de recém-saídos de universidades terão de voltar a viver na casa dos pais. Ainda que os “filhos do boom” consigam empregos, não conseguirão salários suficientes para manter-se com vida independente dos pais.

A mídia financeira “especializada” nada ajuda a esclarecer. Jornais e jornalistas repetem a mentira de que a taxa de desemprego estaria em 9,6%. Essa é taxa fabricada, especialmente depurada para não contabilizar a maior parte dos desempregados. Os números do governo, mais inclusivos, chegam a 17%. John Williams, especialista em estatística, que calcula desemprego como tem de ser calculado, trabalha já com taxas de 22% de desemprego.

A mídia financeira converte más notícias em boas notícias. Recentemente divulgaram novos 64 mil empregos no setor privado; são empregos que desaparecem, se confrontados aos empregos desaparecidos no setor público. De fato, são necessários cerca de 150 mil novos empregos por mês nos EUA, só para equilibrar o crescimento vegetativo da força de trabalho. Em outras palavras: 100 mil novos empregos por mês são, de fato, déficit mensal de 50 mil empregos.

A estupidez da mídia financeira aparece bem evidente em duas manchetes publicadas dia 19/10, na mesma página Bloomberg:

“Dólar reage bem ao apoio de Geithner ao fortalecimento da moeda” e, adiante: “Mercado vê o dólar fraco de Geithner como caminho para a recuperação da economia norte-americana”.

Por não darem qualquer atenção aos empregos que desapareceram porque foram exportados, os políticos e seus asseclas na imprensa financeira atribuem o desemprego nos EUA a uma suposta manipulação pela China ou à crise financeira. Os Republicanos dizem que a crise financeira, ela mesma, é culpa dos cidadãos de baixa renda que assumiram dívidas hipotecárias que não poderiam saldar.

Em outras palavras, a culpa é da China e da cobiça dos norte-americanos pobres que aspiram a viver acima de suas possibilidades. Se os EUA ‘raciocinam’ desse modo, é fácil ver por que parece não haver solução para os problemas econômicos.

Nenhum governo dos EUA assumirá os próprios erros, se pode culpar algum estrangeiro. A China é o bode expiatório para o fracasso dos EUA. Os empresários acusam a China, mas não são capazes de ver os efeitos de 20 anos de continuada exportação de postos de trabalho – a chamada “globalização” –, nem veem os efeitos, nos EUA, de nove anos de guerras caríssimas e sem sentido algum.

O crime se chama “manipulação da moeda”. Mas a China não está interessada em manipular o dólar norte-americano. Aconteceu, sim, que o governo chinês decidiu converter sua economia comunista quebrada em economia de mercado. Isso, quando o governo entendeu que os investidores teriam de confiar na moeda em que negociassem. Então a China atrelou sua moeda ao dólar, para sinalizar que o dinheiro chinês era tão confiável quanto o dólar. Naquele momento, a China, é claro, não poderia, sem perder a credibilidade, atribuir alto valor em dólar à moeda chinesa.

Mas o tempo passou. As políticas financeiras irresponsáveis e alucinadas dos EUA consumiram o valor do dólar. E, porque a moeda chinesa continua atrelada ao dólar, o valor dela também caiu. Só se fossem doidos, os chineses manipulariam a própria moeda, para que valesse menos.

Bem ao contrário disso. Quando estive na China, em 2006, a taxa corrente era de pouco menos de 8 yuan por 1 dólar. Hoje, é de 6,6 yuan por 1 dólar: o yuan valorizou-se 17,5%.

O governo dos EUA atribui à moeda chinesa desvalorizada a responsabilidade pelo déficit comercial com a China. Nada mais falso. A moeda chinesa valorizou-se 17,5% contra o dólar desde 2006, mas o déficit comercial EUA-China não diminuiu.

A maior causa do déficit comercial EUA-China é a “globalização”, ou a prática, estimulada por Wall Street e Wal-Mart, de as corporações norte-americanas exportarem a produção de seus produtos para o mercado de trabalho chinês, em busca de mão de obra barata. A maioria das tarifas que os idiotas do Congresso querem impor às importações “chinesas” pesarão, portanto, sobre a produção que as multinacionais norte-americanas exportaram para a China!  Quando produtos norte-americanos, como computadores Apple, por exemplo, são trazidos para o consumo dos norte-americanos, entram como importações. Assim, as tarifas pesarão, primeiro, sobre a produção que as empresas multinacionais norte-americanas exportaram para a China; em seguida pesarão também sobre os bens lá produzidos e exportados da China de volta aos EUA, quando chegarem aos EUA.

Só se pode concluir que o déficit comercial dos EUA com a China é resultado da “globalização”, sobretudo, dos empregos; não, é claro, de alguma manipulação dos chineses com sua moeda.

Aspecto importante jamais considerado é que, hoje, os EUA são dependentes da China para inúmeros bens manufaturados, inclusive produtos de alta tecnologia, que, há bastante tempo, já não são fabricados nos EUA. Se a China valorizar sua moeda, o preço desses produtos aumentará nos EUA. Quanto mais valorizado o Yuan, maiores os preços nos EUA. Então, sim, o impacto sobre o padrão de vida já declinante nos EUA, seria dramático.

Quando políticos norte-americanos dizem que a solução para os problemas dos EUA seria moeda chinesa mais forte, mais uma vez tentam jogar todo o peso do ajustamento à nova situação de desemprego, sobre a população mais pobre dos EUA, já endividada, desempregada e sem casa onde morar.

Nota:

[1] Número construído por pesquisas do US. Bureau of Labor Statistics, que mostra o número total de trabalhadores norte-americanos pagos em todos os ramos de negócios, excluídos os  funcionários públicos em geral, empregados domésticos, empregados de organizações assistenciais e sem finalidades de lucro e empregados rurais. Mais, em: Non-Farm Payroll

sábado, 30 de outubro de 2010

TÁ NA HORA DA JANTA

Um dos porquês da parcialidade de alguns órgãos da Mídia !
por Luiz Antonio Simas




O Brasil compreende e aceita Lula - e dá ao presidente inédita popularidade entre os homens do poder - porque Lula compreendeu e aceitou o Brasil. É simples assim.


Certos segmentos da elite e da grande imprensa, que tentam desqualificar Lula e o seu eleitorado, agem como  as madames quatrocentonas paulistas que oferecem banquetes para duzentos talheres em suas mansões. Cheias de si, conhecedoras das regras de etiqueta dos grandes ágapes, as madames se horrorizam quando alguém esculhamba o ritual, inverte pratos e facas, altera a ordem dos copos e desarticula as pompas e circunstâncias da festa.


Toda liturgia pressupõe um jogo de poder. A imposição de regras de etiqueta serviu, ao longo da história, para delimitar terrenos, marcar territórios e colocar cada qual em seu devido lugar. Quem não respeita a liturgia, a regra, os chamados bons modos, não merece frequentar o clube dos bem nascidos e a mesa dos poderosos. 


Desta forma o discurso da etiqueta serve, não raro, para segregar, erguer paredões, consolidar posições e inibir mudanças. Assim acontece - e de forma exacerbada - na esfera da política, reino repleto de todos os salamaleques cerimoniais que caracterizam as sociedades hierarquizadas.


O recado da liturgia é claro: os que não conhecem o cerimonial e não sabem se comportar não merecem frequentar a fidalguia dos salões. Somos, afinal de contas, o país que reproduziu trezentos anos de casa grande e senzala na arquitetura dos apartamentos com dependências de empregadas, os chamados quartinhos de fundos. 

O que certa elite não perdoa em Lula é exatamente a  dimensão simbólica de sua presidência - aquela que subverte a liturgia e, desta maneira, quebra a lógica de segregação que o exercício do cargo de mando geralmente impõe.


Lula é o batuque da senzala que abafa o bafafá da casa grande; é canto de torcida que invade os nobres balcões dos teatros de ópera; é a empregada doméstica que rasga o uniforme branco - em alvo contraste com o corpo preto - que escancara visualmente sua função de mucama da sinhá. Lula é, enfim, o homem comum que botou a faixa e subiu a rampa - território outrora destinado aos generais com seus galardões e aos bem nascidos principes das sociologias.

A imagem mais emblematica desse simbolismo foi a de Lula carregando um isopor cheio de cervejas em um dia de praia. Os jornalões estamparam nas primeiras páginas, com manchetes e charges que travestiam em humor o preconceito e o espanto, a figura do presidente da República agindo como homem comum. Não se espantariam, todavia, se um empregado carregasse a bebida do presidente, feito o negro de ganho que em antanhos carregava os pesos e pertences do senhor.


Os homens miúdos são necessários para preparar o jantar, arrumar talheres, manobrar os carros, limpar os banheiros, tirar a poeira e varrer os comodos das mansões. Chegam até mesmo a receber algumas gentilezas que mascaram a indiferença cordial dos poderosos. Que os miúdos fiquem longe, porém, do banquete de não sei quantos copos, garfos e facas de prata.


Os doutos poderosos não entendem Lula simplesmente porque nunca carregaram o isopor e ainda se esqueceram, trancafiados em decadentes palacetes, de olhar o céu e constatar que anoiteceu no Brasil (e como está bonita essa noite clara, de lua cheia e gente na rua). 


Tá na hora da janta, a fome é tanta e a mesa  é nossa.

Abraços
Luiz Antonio Simas

do blog  Histórias Brasileiras
enviado por MVM

2010: A democratização por gelequificação (virô geléia!) da oposição, no Brasil

Comentário do pessoal da Vila Vudu sobre: CESAR MAIA, “Emulsificação política”, 30/10/2010, Folha de S.Paulo, p.2, em 
[copiado-colado adiante]


Quando acordei hoje (taaaaaaaaaaaaarde...), o meu Gato Filósofo já estava trabalhando. Olhei e vi: cachimbando, olhar perdido sobre as colinas da Vila Madá, é batata: o meu Gato Filósofo tá trabalhando. Nessas horas, nem preciso dar bom-dia. Foi me ver (insisto, insisto em que ele me vê, mas... sei não...), e o Gato começou, já, ele, na metade do seu parágrafo pensado:

“... porque só alguns petistas mais jovens ainda vivem da ilusão de que todos os fascistas seriam 'naturalmente' idiotas, ‘porque’ seriam não-‘éticos’, não-‘transparentes’, não-‘ecológicos’, além de não-petistas e, por isso, bobos & feios. 

Fato é que há fascistas inteligentes. Cesar Maia, por exemplo. É inteligente. Melhor ainda: ele, que é organicamente reacionário, se acha TOTALMENTE inteligente. 

Por isso, hoje, na Folha de S.Paulo, Cesar Maia, inteligente, mas reacionário temerário, entregou o ouro.

Cabe-nos recolher o ouro e deitar fora a lixívia (reciclada, facavôr, claro). [“Claro”... suspirei, já taquidigitando. O Gato Filósofo conta comigo. Precisa de mim. Alimento-me dessa certeza. Vivo desse precário consolo.]

E o Gato Filósofo, sem parar de falar:

“Hoje, Cesar Maia listou, para nós, todos os seus-dele problemas, que seriam os problemas de alguma oposição inteligente, se tivesse restado um átomo, que fosse, de alguma oposição inteligente no Brasil. Não restou.

No Brasil, já praticamente não havia oposição democrática inteligente. Agora, depois das eleições parlamentares de 2010, já não há, sequer, a oposição burra que havia no Brasil antes dessas eleições históricas que se consumarão amanhã, no Brasil. A saber:

O primeiro problema do Cesar Maia, que está sem votos, sem vozes, sem partido e sem causa, condenado à Folha de S.Paulo e ao PIG (“Partido da Imprensa Golpista”), e condenado, todo o PIG, por sua vez, à mais lamentável mediocridade e já objeto de chacota universal, é:

-- COMÉ que a campanha do PSDB-DEM pagará os credores? Esse problema aparece como problema marco zero, cratera, buracão, supranumeração, só numerário (em notas não marcadas, façavôr!). A esse problema, CM chama de “o da campanha”.

O sintagma “o problema das dívidas de campanha” foi ocultado, no artigo da FSP, mas de fato, sim, lá está, e grita! O item “dívidas de campanha” foi ‘desnumerado’ e metaforizado, mas, CM sabe do problema. Todos sabem. (Claro, também, que esse problema é problema muito mais dos credores da campanha do PSDB-DEM, do que, propriamente, da campanha ou da oposição. Claro.)

O segundo problema do Cesar Maia é:

-- COMÉ que a oposição burra que havia no Brasil e foi afinal DETONADA pelos nossos votos democráticos fará para ‘exigir’ que NÓS cumpramos o que NÓS prometemos na campanha?

É problema, esse, sim, grave, para Cesar Maia. Cesar Maia constata, corretamente, inteligentemente, que a oposição está TOTALMENTE sem meios para exigir coisa alguma. Está sem partido, sem votos, sem maioria, sem nomes representativos, com todos os seus ‘grandes nomes’ [só rindo!] já TOTALMENTE desempregados. E, claro, perderam as imunidades e foros privilegiados, é claro, ante investigações que, é claro, virão. É claro.

A resposta, aí, é clara e linda, só não vê quem não queira: A oposição no Brasil, hoje, depende TOTALMENTE da democracia brasileira. VIVA O BRASIL! DILMA LÁ! A luta continua. Só a luta ensina!

Na próxima 2ª-feira, dia 1/11/2010, só restarão, à oposição burra que se constituiu no Brasil... a Folha de S.Paulo, a D. Danuza, o Augusto Nunes, Marília Gabriela, D. Dora Kramer, o Reinaldo Azevedo, o ex-FHC e atual NADA, o Merval, Dona Eliane, alguns trolls violentos e sem graça e sem competência, o Papa, o herdeiro presuntivo da Coroa de Orleans no Brasil, os monarquistas... Juntos, esse pessoal não elege nem ‘assessor especial’ para limpar penicos do Instituto Milênio!

Data venia, Sr. Cesar Maia, mas... De onde, diabos, a oposição brasileira tirou a ideia de apostar tudo nessa gente?!

O terceiro problema do Cesar Maia é:

-- COMÉ que a oposição conseguirá manter aquecida, na opinião pública, a estupidez TOTAL de ter inventado que haveria, no Brasil, no século 21, uma “questão religiosa”? Foi ideia de quem?!

Pois se ATÉ a Maçonaria (que fez vários presidentes, no Brasil, vários) já DETONOU, há mais de 150 anos, a tal “questão religiosa”!

“As tensões entre o Império do Brasil e a igreja tiveram origem nas novas diretrizes do Vaticano, fixadas por Pio IX em 1864 nas bulas Quanta Cura e Syllabus errorum, que condenavam as liberdades modernas, reafirmando o predomínio espiritual da Igreja no mundo. No Brasil, tais mudanças causaram um choque de interesses entre o alto clero, que passou a adotar uma postura ultramontana - romanização do catolicismo - e o Estado.

O ponto máximo do conflito ocorreu entre 1872 e 1875, em meio ao confronto entre o episcopado e a Maçonaria, que resultou na prisão dos bispos de Olinda e Belém. (...) A coisa ia neste pé, quando um jornal maçônico publicou artigos de um protestante, discutindo a perpétua virgindade de Nossa Senhora” (...) Para os fiéis tocados pelo ultramontanismo, majoritariamente urbanos e alfabetizados, a prisão dos bispos indicou o caráter arbitrário das instituições, distanciando-os do regime. Para a grande massa da população, ainda presa à religiosidade antiga, aquilo tudo fora uma impiedade” [e por aí vai, como vai jornal de ontem!].

O quarto problema do Cesar Maia é:

-- COMÉ que a oposição conseguirá manter aquecida, na opinião pública, a estupidez TOTAL de ter inventado que haveria uma “política econômica eleitoral, com o real valorizado e contas públicas em processo de desmontagem”? Pois se até o Delfim Neto já dilmou! Pois se até o Joelmir Betting já dilmou!

Se quiser manter esse discurso, a oposição burra terá de continuar a depender das ‘análises’ ‘econômicas’ da D. Danuza, do Mendoncinha, do Sardenberg, do William Waack...

OK, OK. Concedo: A oposição burra poderá escalar D. Danuza para que se ponha, à porta da Bolsa de Valores, com cartazes de "Eike Batista, vote em mim!", “Investidores, rasguem dinheiro!” “Não comprem PP da Petrobras!” “Só o golpe salva!”

O quinto problema do Cesar Maia é:

-- COMÉ que a oposição burra se haverá com o problema – que ela mesma inventou, deixando-se pautar pelos Friazinhos! – de ter feito campanha eleitoral baseada em ‘análises-de-Danuza’, com Papa e herdeiro presuntivo da Coroa dos Orleans, e senhoras-de-santana... MAS, DESSA VEZ, sem grana, sem militares, sem Golbery, sem ditadura, sem ‘Terceira Via’, sem neoliberalismo, com democracia, com crescimento, com China, SEM os EUA! [risos, risos])... e – como está a oposição burra, hoje, no Brasil –, sem deputados, sem senadores e sem agenda e sem projeto para o país?

O sexto problema do Cesar Maia é:

-- COMÉ que a oposição burra conseguirá manter-se viva, com uma Câmara e um Senado muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito saneados, em relação ao que foram nos governos Lulas e, pode-se dizer, já QUASE-TOTALMENTE saneados, se comparados ao que foram nos governos do facinoroso ex-FHC e atual NADA?!”

[O Gato Filósofo deu por encerrada a homilia, pediu um uísque e clicou Janis Joplin - Ball And Chain live in Germany 69. Sinal claro, indevassável, de que entrou em modo de realimentação. Eu não existo. Depois, ele sempre clica em: Jimi Hendrix - VooDoo Child (live)  e, depois, é cuesta abajo. Só se recompõe amanhã, quando me levará, pela coleirinha, para (eu) votar.

ATUALIZAÇÃO:

Já há dias o Gato Filósofo mandou-nos para o Twitter, alertar o Cesar Maia de que ele pare coaquele papo dele-lá, de só re-noticiar desgraças, coaquele denuncismo suicidário lá-dele, só “emoção triste”, conversa de justiceiro de milícia & extorsão (até “Tropa de Elite 2” já sabe que milícia & extorsão tão cum nada, sô!).

Cesar Maia faria melhor, se parasse, logo, de investir tudo na ideia de que algum jornalismo e alguma oposição sobreviverão no Brasil, só de denuncismos pirados, sem nenhum interesse de propor caminhos DEMOCRÁTICOS para construir melhor democracia para todos (até para a oposição e o jornalismo!).

Talvez adiante repetir o aviso-alerta. O Brasil precisa de oposição democrática, produtiva, construtiva, tanto quanto precisa de melhor jornalismo e jornalistas. Fascistas inteligentes, como o Cesar Maia, já bem poderiam estar cuidando disso, mesmo que pensando, como sempre pensam os fascistas, só na própria sobrevivência. 

Mas pensando, sobretudo, ante a evidência de que já não há vias golpistas viáveis -- golpes e instabilidade política SÃO PÉSSIMOS para os negócios! -- e convencendo-se, também a oposição, de que a sobrevida da oposição terá de ser buscada por VIAS DEMOCRÁTICAS, por mais impalatável que a verdade soe aos ouvidos fascistas e golpistas udenistas genéticos no Brasil, como o ex-FHC e atual NADA, pra citar outro.

Sabe-se lá, mas... talvez, com algum esforço na direção de melhor prática democrática, o fascismo constitutivo, visceral, genético, de tantos por aí, talvez até amaine! Para dar melhor futuro, até, à oposição, aos jornais, ao jornalismo no Brasil.

Afinal, nas eleições de 2010, no Brasil, a oposição burra – que operou, expôs-se e se autodetonou pelos jornais, pela televisão, pelos descaminhos de um ‘marketing’ eleitoral indigente, incompetente, tecnicamente fraquíssimo ainda casado a jornalistas e a autoproclamados ‘intelectuais’ [só rindo!] –, foi a PRINCIPAL e impressionantemente acachapantemente DERROTADA força derrotada pelos nossos votos democráticos e pela democracia brasileira.

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Sobre: CESAR MAIA, “Emulsificação política”, 30/10/2010, Folha de S.Paulo, p.2,

A campanha eleitoral 2010 tem vários custos além do que é mais óbvio: o da campanha. Nesta eleição, são ao menos seis os custos adicionais.
O primeiro custo é o de cumprir as promessas. O segundo é o de não cumprir as promessas. O terceiro custo é o de a agenda final do primeiro turno e inicial do segundo ter tido um caráter religioso. O quarto é o custo econômico para o Brasil da política econômica eleitoral, com o real valorizado e contas públicas em processo de desmontagem. O quinto é o custo estratégico de se sair de uma campanha sem agenda e sem projeto para o país. O sexto é o custo político de uma Câmara estilhaçada.
Ao primeiro custo (as promessas dos candidatos) devem-se somar aquelas feitas pelos candidatos a governador articuladas com os candidatos a presidente. Se cumpridas, as pressões fiscais e inflacionárias, que já são preocupantes, serão agravadas.
O segundo custo é não cumprir as promessas e ganhar tempo e, com isso, antecipar uma inevitável impopularidade, pela sucessão de um presidente cuja popularidade é pessoal, não de seu governo. O terceiro custo é trazer para a agenda eleitoral temas (valores cristãos) que terminaram reforçando a partidarização das igrejas.
O quarto custo é econômico. Se há um ponto em que o governo atual e o anterior se igualam é ter usado o populismo cambial e fiscal em ano eleitoral. O governo anterior pagou por isso em seu segundo momento.
Constrói-se um consenso de que 2011 será um ano perdido, que exigirá um freio de arrumação cambial e fiscal. Estima-se uma inflação nunca inferior a 7% e um crescimento econômico medíocre.
O quinto é o custo estratégico de uma campanha sem agendas. Questões fundamentais para os próximos anos -como a política externa e as circunstâncias internacionais do governo Obama "terminar" dois anos antes; a dependência à China; a guerra das moedas; França e Grã-Bretanha estarem aplicando medidas fiscais severas; a Europa viver a politização da crise da imigração; o chavismo extrapolar suas provocações; o Irã intensificar a instabilidade na região- passaram ao largo da campanha.
E, finalmente, o custo político das relações entre Executivo e Câmara dos Deputados, que tendem a ser as mais inorgânicas desde sempre. São 22 partidos representados, um recorde. Os quatro maiores partidos apenas representarão 50% dela, outro recorde.
E, mais grave, se a inexperiência parlamentar e sua fragilidade potencial (numa das alternativas presidenciais) sinalizarem a seu partido e aos deputados espertos que vale a pena pressionar.
O mais provável é termos em 2011 um estranho caso de emulsificação política.

SERRA E AS “MENININHAS BONITAS”

Laerte Braga 

O desespero do candidato José FHC Serra diante dos números revelados pelos quatro maiores institutos do País em suas pesquisas sobre intenção de votos do eleitorado, somado a absoluta falta de princípios, programa e respeito pelo ser humano, que são características tucanas, foram as razões do pedido alucinado e degradante que José FHC Serra fez às “menininhas bonitas”.

Que cada uma delas mande um mail a quinze de seus pretendentes e peça o voto para ele sugerindo que aquele que assim o fizer terá mais chances.

Como entregar a presidência de um País como o Brasil, com dimensões continentais, em franco processo de crescimento, hoje potência mundial a um político com essa visão, se é que isso é visão?

É claro que o candidato tucano não imagina transformar o Brasil num imenso bordel, mas é óbvio que isso, se acontecer, não faz a menor diferença para ele.

Importante são os “negócios”. Mais que a ambição desmedida de ser presidente a qualquer custo, José FHC Serra segue a máxima de Paulo Maluf (a quem supera). Investir na conquista de um mandato, ainda mais o de presidente, representa quadruplicar o capital em quatro anos.

José FHC Serra fez esse pedido em Uberlândia, uma das mais prósperas cidades do estado de Minas Gerais (o de Aécio Neves e Itamar Franco), num comício onde a maior parte do público chegou de ônibus, foi recrutada em Belo Horizonte e recebeu em média 25 reais pela viagem, além das despesas de alimentação.

Como ficam Aécio Neves e Itamar Franco nessa história?

Não ficam, caiaram de quatro.

O ex-governador de Minas e agora senador eleito, sugeriu em meados de 2009 que o candidato do PSDB à presidência deveria ser escolhido em prévia interna e colocou seu nome. A candidatura de José FHC Serra está colocada desde o dia seguinte ao da eleição de 2002, quando foi derrotado por Luís Inácio Lula da Silva. Em 2006, prefeito de São Paulo, pré-candidato a presidência, percebeu que seria derrotado na convenção pelo então governador paulista Geraldo Alckmin. Renunciou à Prefeitura para candidatar-se a governador, desistindo da presidência.

A derrota de Alckmin fez renascer a candidatura José FHC Serra para 2010. Aécio era um empecilho desde o dia que rompendo o domínio paulista sobre o partido – PSDB – elegeu-se presidente da Câmara dos Deputados derrotando Inocêncio Oliveira, candidato do então presidente Fernando Henrique.

Em sua trajetória em direção à candidatura presidencial o mineiro elegeu-se e reelegeu-se governador do seu estado.

Construiu uma base política que lhe valeu agora, em 2010, uma esmagadora vitória para o Senado. De quebra arrastou o senador da segunda vaga, o patético ex-presidente (pensa que foi) Itamar Franco – na cidade de Itamar Franco, mais de 120 mil eleitores não votaram para senador, a cidade tem 330 mil eleitores). Teria sido mais negócio ter sido prefeito de Aracaju. Cama, comida e roupa lavada e passada, para chilique das “itamaretes”.

Nos meses que antecederam a escolha de José FHC Serra como candidato tucano em aliança com o DEM e a empresa PPS (o sócio majoritário é Roberto Freire), o ex-governador de São Paulo viu-se às voltas com situação semelhante à de 2006. Aécio ia comendo as bases tucanas pelas beiradas, José FHC Serra corria o risco de ser suplantado nas prévias e na convenção partidária pelo governador de Minas.

No velho estilo mafioso montou um dossiê contra Aécio Neves e enviou um recado claro ao seu adversário. O fez através do jornalista Juca Kfuri, seu amigo pessoal, na coluna do mesmo. Segundo Kfuri, o ex-governador de Minas, descontrolado, deu um tapa em sua namorada num evento num hotel no Rio de Janeiro. Em comentários sobre a nota o jornalista sugere semelhanças entre Collor de Mello e Aécio Neves e deixa no ar a acusação que Aécio é usuário de drogas.

Aécio acusa o golpe, desmente a notícia, mas desiste de sua candidatura. Monta um dossiê contra José FHC Serra, onde, por exemplo, aponta as ligações de sua filha com o banqueiro Daniel Dantas e vários episódios de corrupção.

Renuncia ao governo de Minas para concorrer ao Senado, viaja para a Europa, mas antes declara que o seu primeiro compromisso é com “Minas e os mineiros”.

Retorna e ignora os apelos de José FHC Serra e do comando tucano para vir a ser o companheiro de chapa do presidenciável. Num dado momento, como José FHC Serra, na tentativa de seduzi-lo afirma que seria a salvação da chapa, declara: “se sou o salvador eu deveria ser o candidato a presidente”.

Lança seu vice-governador, Antônio Anastásia, como candidato ao governo, declara apoio a Itamar Franco na segunda vaga para o Senado e vence as eleições em Minas, mas Dilma Roussef derrota José FHC Serra na composição chamada de DILMASIA. Mistura de Dilma com Anastasia, abertamente apoiada por Aécio.

Itamar Franco emerge dos escombros do cemitério de políticos e sai candidato ao Senado fiando-se no apoio de Aécio. É uma espécie de troca. Quando governador Itamar deu toda força à candidatura de Aécio já que não conseguiu ser indicado por seu partido de então, o PMDB, para disputar a reeleição.

A essa altura pela terceira ou quarta vez muda de partido e agora integra os quadros da empresa PPS, propriedade de Roberto Freire. Chegou a ter seu nome lembrado para a vice de José FHC Serra. Foi descartado, pois traria a lembrança que foi vice de Collor de Mello, no antigo PRN.

Por duas vezes José FHC Serra deixou de visitar Juiz de Fora (700 mil habitantes, duas horas do Rio, três de BH e seis de São Paulo, cidade pólo de boa parte da Zona da Mata mineira), sabedor que Itamar embora publicamente não o fizesse era hostil à sua candidatura.

Em seu twitter, em plena disputa entre José FHC Serra e Aécio pela indicação presidencial, Itamar faz critica direta ao ex-governador paulista por ter se apropriado da paternidade dos medicamentos genéricos, quando, de fato, foi o ministro Jamil Haddad quem teve a iniciativa. Registra a data inclusive, cinco de abril de 1993.

Critica FHC por ter se apropriado do Plano Real, idealizado pela equipe de Dílson Funaro e implantado a partir de seu governo. FHC era Ministro da Fazenda.

Terminado o primeiro turno das eleições Aécio e Itamar cujo compromisso de “Minas e os mineiros” foi reiterado em palanque diversas vezes, se atiram aos braços de José FHC Serra, caem de quatro e o compromisso com Minas e os mineiros vai para o espaço.

Na prática, entregam Minas em bandeja de prata ao tucano.

Não foi por acaso que em Uberlândia, importante centro do agro-negócio, sede de uma Universidade Federal, uma das maiores cidades mineiras, que José FHC Serra conclamou as “menininhas bonitas” a se permitirem a concessões em troca de apoio a ele José FHC Serra.

Ato de desespero, de falta de respeito, de cinismo e dito num local onde os dois políticos vencedores das eleições no primeiro turno, Aécio e Itamar, mostraram absoluta falta de dignidade nas palavras e atos ditos e feitos no primeiro turno.

Fica claro que se merecem.

E claro também que ninguém joga Minas no lixo e trai os mineiros de forma impune.

Nem as “menininhas bonitas” de Minas e de qualquer outro estado do Brasil, se prestarão a esse papel sugerido por um político que almeja ser presidente da República.

Essa frase, esse pedido, essa sugestão, é a síntese do caráter de José FHC Serra.

Deve ter sido abençoado por D. Luís Gonzaga Bergonzini e pela OPUS DEI, com a contribuição do pastor Malafaia.      

Encontros Moviola: “Novos Fundamentalismos”

21/10/2010, reunião e debate (e cervejada) na Livraria Moviola, RJ
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu

Veja também:
2. Rodrigo Guerón: “A michetagem intelectual” – (em preparação)
3. Ivana Bentes: “Novos ou velhos fundamentalismos?”
4. Cunca Bocayuva: “O governo Lula e o manejo da potencialidade do capitalismo. A mobilidade plebéia” (em preparação)

3. IVANA BENTES: “Novos ou velhos fundamentalismos?”
Não sei se são velhos fundamentalismos. Talvez interesse chamar a atenção hoje para as estratégias que foram mobilizadas para trazer hoje à discussão, para recolocar em pauta hoje, os velhos fundamentalismos.
Acho que a novidade, em termos de cultura de massa, é que nunca se discutiram abertamente no Brasil alguns desses temas trazidos por essa campanha eleitoral: o aborto, o Estado laico... São questões que se explicitaram, afinal, de um modo que permite ver como a emergência dessa pauta, de uma forma conservadora pode ser um ponto de partida extremamente positivo para reverter-se essa pauta – depois da eleição de Dilma.
Nesse sentido, me oponho um pouco ao hiperativismo pessimista do Guerón [risos], e já antecipo aqui o meu otimismo crítico.
Claro que é momento de tensão, as coisas ainda não estão definidas, mas vejo de forma positiva a emergência desses temas. Não, evidentemente, o modo como estão sendo trazidos e tratados. Quanto a isso, acho que as estratégias de mídia são decisivas e devem ser discutidas.
No primeiro turno, ainda tivemos alguma boa discussão da pauta política, sobre os avanços nos programas de políticas públicas. Tivemos alguma discussão política, sobre os programas implantados pelo governo Lula, Bolsa-Família e outros.
Mas o segundo turno – e é onde se vê que a questão da mídia é decisiva na pautação desses temas específicos e para pautá-los em alguns momentos, não em outros – foi pautado por uma ideia, por um slogan que esteve na base da campanha de Serra e foi a ideia sobre a qual trabalhou a empresa que fez a publicidade da campanha, segundo a qual, a nossa "marca" seria “uma crise moral”.
Já que eles não conseguiram, na discussão dos programas, empurrar para um impasse o projeto político, o projeto de Brasil do governo Lula, restou a eles impor a pauta da tal “crise moral”, uma suposta crise moral, é claro. As questões ligadas aos Estado laico, ao aborto, aos direitos dos homossexuais entraram aí.
Todos esses direitos já estão de forma muito clara no Plano Nacional dos Direitos Humanos. E quando foram apresentados lá já criaram certa reação, mas, naquele momento esses temas não foram trazidos à tona, pela mídia. Agora, então, eles voltam àquele tema. A verdade é que essa reversão ao discurso moralista, centrada nos ‘bons costumes’, voltou, agora, associada à possibilidade de Dilma ser eleita.
Não citaram o Plano, mas ele apareceu algumas vezes, sempre oferecido como ‘prova’ de que não se trataria de discussões vazias, mas que, sim, esses ‘riscos’ existiriam, no caso de Dilma ser eleita. Assim ‘reativaram’ a tal ‘crise moral’.
De novidade, só, que, antes, havia o discurso moralista de direita, e ele agia, mas muita gente não assumia esse discurso moral de direita. As pessoas tinham vergonha, jornalistas, intelectuais, sociólogos, a classe média, não explicitavam seu discurso de direita. Agora, assumiram. Na mídia, chama muito a atenção: articulistas, jornalistas, sociólogos explicitaram um discurso de direita, há produção acadêmica, há toda uma universidade mobilizada para constituir um ideário conservador, de direita, que reivindica para si o direito de existir. Isso, antes, não estava explicitado e, agora, apareceu de modo muito claro.
Claro. Há a questão dos meios de comunicação tornados órgãos de publicidade de um só programa e de uma só campanha, de uma elite.
Mas a questão moral já havia aparecido na primeira eleição de Lula – questões morais, de ‘ética’, foram também um dos motes daquela eleição. Também lá se mobilizaram questões de ética, de moral, sempre usados como elementos para expor a ideia da ‘não-confiabilidade’ do governo Lula. E voltaram na segunda eleição de Lula e, agora, na eleição de Dilma. O argumento voltou, como voltou a coisa de o programa do governo Dilma ser igual ao dos governos Lula: os avanços estão aí, mas ela tampouco seria confiável.
E por aí se entrou numa argumentação, num discurso irracional, numa emocionalidade, numa irracionalidade, emocionalidade que é traço típico do discurso midiático. E isso acabou por mobilizar toda a campanha política.
Episódio exemplar desse movimento e da centralidade que ganhou na campanha é o dramático evento do ataque da “bolinha de papel”, que já apareceu ridicularizado até no Le Monde.
Paralelamente, aí também apareceu o contradiscurso forte, um ativismo forte, que faz oposição à mídia de massa e já existe nas redes sociais, Twitter, Facebook, e que conseguiram impor-se na discussão. Na segunda eleição de Lula, já havia a militância de resistência pela rede. Mas na eleição de Dilma, afinal, muito velozmente, os discursos da mídia puderam ser quase instantaneamente desconstruídos. Desconstruiu-se tudo, com ferramentas eficazes, muito velozmente. Logo que as primeiras imagens apareceram, viu-se pela internet a utilização da própria linguagem midiática para desconstruir o discurso da mídia, com detalhes, a forma da narração, construindo um contradiscurso, que utilizou a própria linguagem da mídia para desconstruir o discurso da mídia. As capas de Veja foram parodiadas, apresentadas como piada. Hoje há quatro ou cinco vídeos na internet, produzidos por jornalistas profissionais e também por amadores. Hoje, nas redes, as capas da Veja são antecipadas e antecipa-se também a linguagem da mídia, as estratégias da mídia. Isso é muito eficaz, embora seja ainda pouco e pequeno e, sim, me parece um ganho muito importante.
A própria Globo respondeu ao presidente Lula, embora sem citar o Twitter, às críticas que lhe fez o presidente Lula e lhe fizeram as redes sociais. Hoje, por exemplo, a manchete de O Globo é resposta à reação das redes sociais e reafirma a desqualificação moral do presidente e da candidata, sempre com adjetivos no campo do discurso moral, da não confiabilidade.
A desqualificação moral me parece ser esse último reduto ao qual regrediu a campanha e os discursos da mídia. Nesse campo, sim, me parece que as questões dos novos fundamentalismos que vamos discutir aqui, sim, me parecem importantes. São as questões mais polêmicas e que mexem com questões religiosas, os direitos da mulher, que têm a ver com o aborto e a vida, o casamento de homossexuais. São questões que arrastam todos para esse pântano que é o ‘a moral do outro’. Depois das intervenções dos outros aqui presentes, talvez possamos articular outras consequências disso tudo.
Pra terminar, vejo, sim, possibilidades extremamente positivas, tanto quanto vejo traços extremamente preocupantes, o que se viu nessa campanha. 
Temos, sim, de discutir a ‘herança’ desse acirramento das questões morais, do ódio, da criação de tensões absolutamente maniqueístas no campo político, os efeitos de se fazer campanha de torcedor ‘hooligan’, muito dual, e na explicitação disso tudo.
Temos, para o futuro, uma pauta importantíssima a ser levada depois da eleição de Dilma.

"Meu governo não será um engavetador de denúncias"

Entrevista exclusiva da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff

Octávio Costa


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DESAFIO
Dilma afirma que um dos seus principais objetivos,
se eleita presidente, é erradicar a miséria
 
A revista ISTOÉ elaborou uma entrevista com as mesmas 15 perguntas para os dois presidenciá­veis – tratando de temas relevantes para o País, como emprego e educação – com o compromisso de democraticamente abrir o mesmo espaço para suas ideias. O candidato
José Serra preferiu não responder. A candidata Dilma Rousseff concedeu a entrevista e a seguir publicamos o seu teor.
ISTOÉ – O Brasil cresce hoje a 7%. O que esperar dos próximos quatro anos?
Dilma Rousseff –
Nos últimos oito anos, abriu-se uma nova era de prosperidade para o Brasil. Temos uma política econômica que vem dando resultados altamente positivos, com crescimento do PIB a taxas inéditas no País e com distribuição de renda. O Brasil está perto de se tornar uma das maiores potências mundiais. No meu governo, se eleita, seguirei a trajetória do presidente Lula, que criou 15 milhões de empregos com carteira assinada, reduziu a informalidade, aumentou e recuperou o poder de compra do salário mínimo, ampliou o crédito e o consumo interno, estabeleceu uma política de investimentos públicos e privados, deu estabilidade macroeconômica. Colocou o Brasil num novo patamar mundial. Mas trabalharei incansavelmente para erradicar a miséria. Já fizemos muito para chegarmos a esse objetivo, 28 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e outras 36 milhões ascenderam à classe média.

ISTOÉ – Há anos o Brasil sofre com uma elevada taxa de juros. O que fazer para baixá-la?Dilma – Temos conquistado, progressivamente, taxas de juros reais menores ao longo do tempo. Eram 16% no início de 2003 e chegamos a menos de 6% nos últimos meses. Concordo que é preciso baixar mais, mas isso, infelizmente, não se consegue só com boa vontade. É preciso reunir condições para isso. Estamos aumentando o investimento e reduzindo a dívida pública. Isso permitirá uma redução adicional na Selic, que, por sua vez, diminuirá a pressão atual pela apreciação do real. Outro fator que permite a redução, sem comprometer o controle da inflação, é o crescimento da nossa produtividade.

ISTOÉ – Qual deve ser o perfil do seu futuro ministro da Fazenda?Dilma – Não se fala em cargos e perfis, sem saber o resultado das urnas.

ISTOÉ – O BC deve continuar autônomo em relação à Fazenda?Dilma –
O Banco Central brasileiro tem autonomia operacional e isso deu muito certo. Acho que o BC é o seguinte: autonomia operacional e status ministerial no que se refere ao seu presidente.

ISTOÉ – O País tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Como diminuir o peso dos impostos na produção e no consumo?Dilma – O principal foco da reforma tributária deve ser o de simplificar e racionalizar a arrecadação de impostos. Avançamos muito nos últimos anos, com desonerações e ampliação de sistemas tributários simplificados, como o Super Simples. Ainda assim, as empresas brasileiras gastam muito tempo e recursos para pagar impostos e o governo também gasta muito tempo e recursos para arrecadar e fiscalizar os impostos. Assim, minha proposta de reforma tributária vai priorizar o aumento na eficiência produtiva, tanto do ponto de vista das empresas quanto do governo. Alguns impostos podem e devem ser reduzidos, como a contribuição sobre a folha de pagamentos, serviços públicos essenciais, remédios e investimentos. Vou também construir um sistema de devolução automática de créditos, em acordo com os governadores, envolvendo os impostos e as contribuições federais e estaduais, pois um crédito não devolvido é um tributo pago indevidamente.

ISTOÉ – O Brasil precisa garantir melhor qualidade ao sistema público de saúde. É possível fazer isso sem recriar a CPMF? Como?Dilma – Se eleita, vou construir a estrutura definitiva do SUS, o que requer financiamento compatível com suas necessidades. Vou apoiar a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 para fixar novos patamares de vinculação da receita e definir o que são ações e serviços públicos de saúde. Promoveremos maior equidade na distribuição dos recursos federais e estaduais para a saúde utilizando critérios epidemiológicos, de rede instalada, renda per capita, IDH e outros para corrigir as desigualdades. Aperfeiçoaremos os mecanismos de acompanhamento, monitoramento e controle social dos recursos do Ministério da Saúde e os transferidos a Estados e municípios, priorizando o combate ao desperdício e a desvios.

ISTOÉ – Quais são seus planos para o Mercosul?Dilma – O Mercosul é uma realidade histórica com quase 20 anos de existência. Todas as iniciativas devem ser voltadas para o seu fortalecimento, não para a sua morte. Com a multipolarização do mundo, os problemas encontram cada vez mais soluções de natureza regional. É assim na Ásia, na América ou em outras regiões. Vale para questões econômicas, ambientais ou de segurança. Os últimos anos do Mercosul foram marcados por um extraordinário incremento comercial. A crise global, que abateu especialmente a indústria, afetou as transações comerciais. Mas em 2010 observamos uma forte recuperação. O fortalecimento institucional do Mercosul e uma integração produtiva maior devem fazer parte de uma agenda para o Mercosul.

“Acho que o BC é o seguinte: autonomia operacional e
status ministerial no que se refere ao seu presidente”

ISTOÉ – Como evitar que nossa Previdência Social entre em colapso, como acontece agora na Europa?Dilma – Não precisamos de uma grande reforma na Previdência. Se houver necessidade, poderão ser realizados ajustes pontuais, para adaptar a estrutura de aposentadorias e pensões às novas realidades da economia e da sociedade.
 
ISTOÉ – O que fazer para melhorar o padrão educacional do Brasil?Dilma – O grande salto para um país verdadeiramente desenvolvido é a educação de qualidade, desde a creche até a pós-graduação. E tenho absoluta convicção de que não chegaremos a este lugar se não investirmos fortemente no professor, na sua carreira, na sua formação, no seu salário. Este será um dos grandes investimentos de meu governo, se for eleita.
 
ISTOÉ –Hoje o Brasil bate recordes na geração de empregos. Qual a sua política para manter esse ritmo?Dilma –A taxa de desemprego de 6,9% aponta para um quase pleno emprego. E isso graças aos sucessivos recordes de geração de empregos nos últimos anos. Vamos fechar em algo em torno de 15 milhões, com carteira assinada. A receita para continuar gerando empregos é: fortalecer as políticas sociais; continuar investindo em infraestrutura; estimular a produção; apoiar o agronegócio e a agricultura familiar; fortalecer as micro e pequenas empresas. E manter as políticas sociais que estimulam o consumo das famílias, além da política de valorização do salário mínimo. Mas tenho duas propostas que serão decisivas para avançar ainda mais: a desoneração da folha de pagamentos, reduzindo a alíquota de contribuição patronal, o que beneficiará principalmente os setores intensivos em mão de obra, como calçados, alimentos, têxteis; e a criação do Ministério das Micro e Pequenas Empresas, que permitirá aprimorar todas as políticas voltadas a este segmento, dando-lhe mais competitividade e, desta forma, ampliando a capacidade da economia brasileira de gerar empregos de qualidade.
 
ISTOÉ – Como será a relação do governo com o MST?Dilma – Como foi no governo do presidente Lula, sempre com diálogo. Nós não tratamos movimentos sociais com cassetete nem com repressão. Não apoiamos nenhuma ação que fuja da legalidade, mas também não fechamos as portas do diálogo para resolver conflitos.
 
ISTOÉ – Como preservar o meio ambiente fazendo o Brasil crescer? Dilma –No governo Lula, demonstramos que é possível crescer, distribuir renda e ser ambientalmente sustentável. Este é o modelo de desenvolvimento que perseguimos e que continuarei perseguindo. Tenho proposta clara para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Entendo ser fundamental, por exemplo, avançar na agenda da sustentabilidade em todos os segmentos de políticas públicas. No PAC 2 já previmos investir R$ 9,7 bilhões no período 2011-2014 em fontes alternativas de geração de energia, em especial eólica e biomassa. Temos o compromisso com a implementação da Política Nacional de Mudanças Climáticas e vamos consolidar os acordos setoriais no âmbito do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. O grande avanço que tivemos nesses oito anos e que continuará sendo a marca da nossa gestão, se eleita for, é a vinculação da questão social e da ambiental. Consolidar este modelo de desenvolvimento nos levará a uma situação de maior justiça social, valorização dos nossos recursos naturais e preservação da nossa biodiversidade.
 
ISTOÉ – É necessária uma mudança na matriz energética brasileira?Dilma –O governo Lula deixará um legado importantíssimo para os quatro anos do próximo governo, que é a contratação de 100% da oferta necessária para atender à demanda de energia elétrica no Brasil, com o País crescendo a taxas desejáveis. Não farei diferente. A minha experiência no setor – que é grande – mostra que a política de geração de energia elétrica no Brasil deve sempre priorizar, como fizemos no governo Lula, a modicidade tarifária, a segurança do abastecimento e uma matriz energética renovável. Lembro que uns 47% de toda energia que produzimos no Brasil é proveniente de fontes renováveis, com destaque para a hidreletricidade, os biocombustíveis e as energias alternativas – biomassa, pequenas centrais hidrelétricas e eólica. É sempre bom lembrar que a hidreletricidade abasteceu 85% de nossa demanda de energia elétrica em 2009. E só utilizamos um terço do potencial energético de nossos rios para a geração de eletricidade, o que significa que temos todas as condições para manter elevada a participação das energias renováveis nos próximos anos, principalmente com a entrada em operação das hidrelétricas do rio Madeira e de Belo Monte. A fonte hidráulica, tão abundante em nosso país, com toda certeza terá papel preponderante na próxima década. Todavia, para que aproveitemos de forma racional as características dessa energia, será preciso completá-la com fontes alternativas também renováveis.

“Alguns impostos podem e devem ser reduzidos,
como a contribuição sobre a folha de pagamentos,
serviços públicos essenciais, remédios e investimentos”

ISTOÉ – A ONG Transparência Internacional mostra que o Brasil ocupa uma vergonhosa 69º posição no ranking da percepção de corrupção. O que fazer para mudar isso?Dilma –Não vou vender para a população a ideia de que as coisas são perfeitas e de que não vai acontecer nada. Um governo se mede pela capacidade que tem, não de garantir que não haja nada, mas de, em havendo, tomar providências, investigar e punir. O governo do presidente Lula não foi – e o meu, caso eleita, não será – um engavetador de denúncias, como aconteceu no passado. É importante lembrar, também, que fortalecemos e valorizamos os órgãos investigativos, como a CGU e a Polícia Federal.
 
ISTOÉ – Qual a melhor maneira de enfrentar o déficit habitacional brasileiro? Construindo casas populares ou facilitando o crédito para a população de baixa renda?  Dilma – Com o Minha Casa Minha Vida, que terá atenção especial em meu governo. Nós retomamos no País o papel do Estado na política habitacional, por meio desse programa. Se os mais pobres não têm condições de pagar a prestação de uma casa própria, o Estado tem que subsidiar. Mas esta é uma política também para reaquecer o setor da construção civil, que é grande empregador. Vamos continuar nessa linha, mantendo crédito e financiamento. Fizemos o Minha Casa Minha Vida, que coordenei pessoalmente como ministra-chefe da Casa Civil, e já temos prevista a segunda edição do programa para o período 2011-2014. Serão construídos dois milhões de moradias com investimentos de R$ 71,7 bilhões. É importante lembrar que 60% das unidades habitacionais serão destinadas a famílias com renda de até 2,4 salários mínimos.

extraído da IstoÉ Independente