Adam
Shatz, London Review of Books,
vol. 35, n. 8, 25/4/2013
Traduzida pelo pessoal da Vila Vudu
Resenha
de BUCHAN, James, Days of God: The Revolution in Iran and Its
Consequences [Dias de Deus: a revolução no Irã e suas
consequências], John Murray, 482 pp, £25.00, Nov. 2012, ISBN 978 1 84854 066 8
Adam Shatz |
Ao
final da 2ª Guerra Mundial, um panfleto anônimo começou a circular nos
seminários de Qom, bastião de estudos e de intelectuais muçulmanos xiitas.
“Segredos Revelados” [orig. The Unveiling of Secrets] acusava a monarquia
iraniana de traição: “Sob chapéus europeus, vocês flanam pelos
boulevards, espiam meninas despidas e veem-se como gente finíssima, sem
perceber que estrangeiros estão saqueando o patrimônio e os recursos do país”. O
panfleto pregava que o Irã fosse governado por uma assembleia de juristas
islâmicos, comandada por um sábio. Nesse novo Estado, não seriam necessárias
eleições nem Parlamento, nem, sequer, seria necessário qualquer exército: uma
milícia de religiosos (basij) garantiria o respeito à lei.
Aiatolá Ruhollah Khomeini, lider e iniciador da revolução islâmica do Irã |
É
pouco provável que alguém, fora de Qom, tenha lido “Segredos Revelados”; mesmo
nos seminários, poucos teriam abraçado aquele programa. Mesmo assim, trinta anos
depois, o autor do panfleto, Ruhollah Khomeini, ajudou a lançar uma revolução
que derrubou a monarquia e estabeleceu-se como Líder Supremo do Irã, com poderes
que o xá teria invejado. A paisagem política foi transformada: os xiitas do Irã,
uma minoria na Casa do Islã, haviam re-escrito o roteiro da revolução no Oriente
Médio.
James Buchan |
“Dias
de Deus” [orig. Days of God], de James
Buchan, mostra o processo pelo qual um clericato radical assumiu o
controle de um levante popular contra uma ditadura apoiada pelo Ocidente e
implantou ali a primeira e até agora única República Islâmica do mundo. Buchan
acompanha fielmente os fatos, mas “Dias de Deus” é também uma reflexão erudita
sobre três importantes questões: por que houve uma revolução; por que foi
revolução islamista; e qual o legado daquela revolução.
A
Revolução Islâmica foi, argumenta Buchan, revolução contra uma modernização
imposta pelo Ocidente que favorecia um suposto caminho rápido para a
modernidade. Tinha um objetivo espiritual brotado diretamente da história do
xiismo, com seus temas de martírio e redenção, mas a tentativa de impor a
autoridade divina ao governo político acabou por expandir – e, de fato, por
santificar – o estado autoritário que os clérigos herdaram do xá. “Na revolta
contra o pahlavismo” – escreve Buchan –“a República Islâmica também é a
continuação dele, em turbante e túnica”.
Reza Khan Pahlavi |
A
dinastia Pahlavi começou em 1926, quando Reza Khan – soldado da Brigada Iraniana
de Cossacos, que chegara ao poder cinco anos antes, por golpe apoiado pelos
britânicos contra a monarquia Qajar – se autocoroou xá. Embora ele e seu filho
Mohammed se apresentassem como herdeiros de Ciro, o Grande, a dinastia jamais
passou de operação “de pai-para-filho”, dependente de patrocínio estrangeiro,
contra o qual rugiam, mas do qual jamais se separaram. Reza foi modernizador
autoritário do molde de Ataturk, que forçou nômades a se fixar; disciplinou
minorias étnicas rebeldes; construiu rodovias e ferrovias; e criou exército e
burocracias modernas. Mas seu projeto ocidentalizante, sobretudo os ataques ao
véu, arregimentaram contra ele a oposição dos clérigos; além disso, Reza jamais
conseguiu apagar da opinião pública a certeza de que não passava de lacaio dos
britânicos. Na verdade, resistiu a interferências estrangeiras e tentou
renegociar o famigerado acordo de 1919 com a empresa Anglo-Persian Oil Company, mas nada
conseguiu. Afinal, depois de declarar o Irã neutro na 2ª Guerra Mundial, foi
deposto por tropas soviéticas e britânicas, em setembro de 1941.
Mohammed,
o filho mimado, frágil, tampouco gostava muito dos patrões ocidentais, mas
rapidamente aprendeu a não os desafiar, sobretudo depois do golpe orquestrado
pela CIA contra seu primeiro-ministro, Mossadegh, em 1953. Sedutor, fluente em
francês e inglês, com a sofisticação mundana que adquiriu nos anos de estudo em
colégios suíços, Mohammed era também nacionalista, mas cometeu o erro de supor
que obteria apoio popular sem jamais cogitar de assegurar independência
nacional. Depois do golpe de 1953, assinou melhor acordo com a British Petroleum, que garantia ao Irã
50% dos lucros. Embora ainda estivesse longe dos planos de nacionalização de
Mossadegh, o acordo gerou um boom de progresso, com projetos grandiosos
que seu pai muito teria admirado: barragens, hidrelétricas, uma imensa fábrica
de aço financiada e construída pelos soviéticos – uma quase declaração de
independência que lhe fez bem ao ego. A população do Irã cresceu, de
19 a 30
milhões; Teerã tornou-se metrópole moderna.
Mossadegh, patriota iraniano, preso após golpe EUA-Inglaterra de 1953 por contrariar interesses anglo-americanos no petróleo do Irã |
O
crescimento econômico gerou elogios e aplausos do ocidente ao xá, mas não lhe
valeu o amor do povo iraniano, que ele julgava merecer; e o povo acabou por
virar-se contra a própria modernização. Os iranianos viram a modernização como
uma modalidade de imperialismo, ameaça existencial às próprias tradições do Irã.
Obcecado com conspirações contra o trono, o xá foi-se tornando cada vez mais
dependente do Savak, seus serviços de inteligência, que a CIA, o Mossad e o MI6
britânico haviam treinado, especializados em vigilância e interrogatórios. Os
que se opusessem à amizade entre o xá e EUA, Israel e a África do Sul do
apartheid podiam escolher entre exílio em Berlim ou Paris e os cárceres
do Savak.
Mohammed Reza Pahlavi |
O
xá tentou cooptar a esquerda com sua “revolução branca”, ambicioso programa de
reforma agrária lançado no início dos anos 1960s, mas cujo único feito foi
destroçar a vida tradicional no interior do país e provocar um êxodo de
migrantes, do interior para as favelas de Teerã, que cresceram e converteram-se
em território da oposição.
Buchan
testemunhou os efeitos deletérios da “revolução branca” no início dos anos
1970s, quando viveu como professor inglês em Isfahan, cidade de palácios que
pareciam “tão leves que se podiam erguer do chão com um sopro”. O pahlavismo,
aos olhos dele, foi como “serra cega, tentando cortar o núcleo mais duro da
iraneidade”. Sugere que o xá foi derrubado tanto pelo “estilo Pahlavi de
governar” quanto por suas políticas: o desavergonhado anseio de agradar ao
Ocidente com sua “grande civilização”; a cruel indiferença à tragédia da
migração interna provocada por suas políticas; o mal disfarçado desprezo pela fé
xiita e pelo bazaar, que o xá via como sinais de atraso e ignorância.
Jalal Al-e-Ahmad |
Jalal Al-e Ahmad, um dos profetas intelectuais da Revolução reclamava que os iranianos
já não sabiam quem eram, que haviam sucumbido a uma praga que ele chamava de
gharbzadegi: “Ocidentite” ou “Ocidentose”. Em 1971, na celebração
ostentatória, em Persépolis, em que o xá comemorou 2.500 anos da monarquia com
69 chefes de Estado e serviço importado diretamente do restaurante Maxim’s de
Paris (“orgia de glutonaria bestial”, nas palavras de Khomeini), o xá
praticamente empurrava o povo a derrubá-lo.
Mas,
quando a revolução veio, não foi o levante comunista que o xá e seus patrões
ocidentais tanto haviam temido, mas uma revolução islâmica que proibiu o álcool,
obrigou as mulheres a cobrirem cabeça e corpo e deu todo o poder aos clérigos. A
explicação usual para essa reviravolta é que o xá, ao envolver-se na derrubada
de Mossadegh e reprimir a esquerda, criou um vácuo que o clericato conseguiu
ocupar. Mas isso não explica como o clericato, que sempre vira a política como
atividade suja, passou, de repente, a ver-se como ator político e movimentou-se
para tomar o poder.
A
desconfiança contra o poder do Estado tem raízes profundas na fé xiita. Para os
xiitas, qualquer esforço para legislar ou governar, “no melhor dos casos, tem de
ser atividade provisória; no pior, é usurpação”, até o retorno do 12º imã,
desaparecido em Samarra em 874. Outra razão, mais secular, para que o clericato
se mantivesse afastado do poder político é que esse afastamento interessava aos
clérigos, no plano material.
Ao
longo do século 19, os clérigos enriqueceram, graças à aliança com o
bazaar, que canalizava os lucros – além de ¼ dos lucros do comércio do
ópio – para as mesquitas e seminários. Embora o clericato se tivesse unido ao
bazaar para oporem-se às concessões comerciais a estrangeiros e para
pregar a discrição no trajar, em todos os demais assuntos viviam separados e
distanciados.
Hossein Borujerdi |
O
aiatolá Hossein Borujerdi, marja-e taqlid (“fonte de força e emulação”)
sênior em Qom durante os anos 1940s e 1950s, proibira que os clérigos tivessem
qualquer envolvimento na política. Mas o ciclo virtuoso de dinheiro-mesquitas
construídas tinha de ser protegido contra a intrusão do Estado – sobretudo
quando o xá pôs-se a falar de reforma agrária no interior do país, exatamente
onde os clérigos eram mais fortes. Para que houvesse revolução islâmica, teria
de haver, antes, uma revolução dentro do próprio Islã.
Durante
a era Borujerdi, Khomeini foi figura marginal, que vivia quase em ostracismo em
Qom , conhecido quase exclusivamente pelo estilo austero de vida
e por seus conhecimentos de erfan (misticismo). Suas palestras atraíam
bom público, mas também levantavam suspeitas de que fosse “infiel”, talvez, até,
sunita. Cultivava linguagem erudita e um ar de superioridade que contagiava seus
seguidores; e desdenhava colegas “mulás estúpidos e reacionários”, como dizia.
Admirava homens de ação, sobretudo os que executavam membros do governo, por
dever religioso. Borujerdi mantinha Khomeini à distância, temendo que seu
radicalismo tornasse o seminário vulnerável à perseguição pelos serviços de
segurança do xá. Mas depois da morte de Borujerdi, em 1961, Khomeini começou a
erguer a voz contra o xá.
Aiatolá Khomeini (jovem) |
Seu
primeiro alvo foi a “revolução branca”, que o xá levou a referendo popular em
1963. Khomeini acreditava que, por dar voto a “grande quantidade de mulheres
ignorantes”, o referendo gerava grave ameaça de “extirpar o Islã”. Mas instruiu
seus seguidores a não atacar o conteúdo do que estaria sendo votado, um pacote
de algumas normas de reforma agrária e nacionalização de florestas, que muitos
iranianos (principalmente a classe média urbana e nacionalista) apoiava. Em vez
de atacar o conteúdo, atacou o próprio referendo, acusando o xá de violar a
Constituição. Forças da monarquia atacaram o seminário de Faizieh e, nos
confrontos, morreu um estudante. Khomeini e seus apoiadores converteram a
cerimônia dos 40 dias de luto em manifestação política, exatamente como fariam
depois, nos “dias de Deus” da Revolução. Em discurso furioso, Khomeini chamou o
xá de “escombro sem valor”; disse que ele tratasse de “aprender a lição do
destino de seu pai”. Quando Khomeini foi preso, explodiram levantes em todo o
país; as forças do xá atiraram contra uma multidão de manifestantes que
cantavam: “Khomeini ou morte!”.
Hassan Pakravan |
“Por
que não deixam a política para nós?”, perguntou a Khomeini o chefe do Savak,
Hassan Pakravan, que convencera o xá a libertá-lo, “política é vilania,
mentiras, hipocrisia. Não se deixe contaminar pela política”. Era conversa que
talvez funcionasse com Borujerdi, mas Khomeini era homem de outro tipo. (Ao
assumir o poder, Khomeini mandou executar Pakravan). O prestígio de Khomeini
crescia enormemente. O establishment religioso em Qom já o promovera ao
posto de marja-e taqlid, única via possível para tirá-lo da prisão.
Mas
nem o novo título serviu de proteção quando, em 1964, Khomeini denunciou a
imunidade diplomática que protegia, no Irã, todos os militares
norte-americanos.
Se um
norte-americano, digamos, um cozinheiro norte-americano, assassinar nosso marja no meio do bazaar, ou se esmagá-lo com o
coturno, a polícia do Irã não o prenderá. Mas se um iraniano atropelar um
cachorro que pertença a um militar norte-americano, será
processado –
trovejava Khomeini.
Abol Hassan Bani-Sadr |
Uma
semana depois disso, Khomeini foi expulso para a Turquia. Um ano depois, foi
transferido para um seminário em Najaf, no Iraque. Ali se organizou uma rede de
estudantes iranianos revolucionários, trabalhando em íntima associação com Abol
Hassan Bani-Sadr, jovem e rico militante terceiro-mundista, que vivera em Paris
e que viria a ser o primeiro presidente da República Islâmica.
Religioso,
de hábitos severos, de turbante, Khomeini pouco tinha que o qualificasse como
líder de estudantes. Mas valente oposição que fez contra o Xá e a aproximação
que construiu entre o xiismo e a luta anti-imperialista ressoou entre os jovens
leitores de Al-e Ahmad e Ali Shariati, os pais espirituais da Revolução
Islâmica. Gharbzadegi de Al-e Ahmad e A Volta a Nós Mesmos [orig.
Return to Ourselves] de Shariati ofereciam uma mistura hipnótica,
encantatória de marxismo, misticismo xiita e [Frantz] Fanonismo. Falavam a um
sentimento comum e disseminado, de que a cultura iraniana estava sob ameaça de
ser atropelada, até destruída, pela cultura ocidental do consumismo.
O
esquerdismo islamista de Al-e Ahmad e Shariati era, ele próprio, uma mistura
complexa de ideias ocidentais e muçulmanas, que tinha de vital o que tinha de
impreciso e indefinido, mas manifestava claramente uma ânsia por alguma
modernidade alternativa, um estilo de vontade radical que era – ou pelo menos
foi intensamente sentida como tal – autenticamente iraniana. A solução para os
problemas do Irã, diziam eles, não será jamais encontrada em modelos ocidentais,
mas no “verdadeiro” Islã de libertação nacional e justiça social, como o
conceberam os velhos sábios de Qom. O Islã nunca foi um código fixo de regras e
proibições, mas uma religião de liberdade, uma espécie de existencialismo persa,
e vivia na consciência individual, nas mesquitas. “O Imã pelo qual todos nós
esperamos já vive dentro de cada um de nós” – escreveu Al-e Ahmad.
Aiatolá Khomeini (velho) |
Khomeini
foi pressionado por Qom para que excomungasse Shariati como “desviante”, por
causa de seus ataques à poligamia e ao véu. Mas mais uma vez “e não seria a
última” – como escreve Buchan – “Khomeini provou ser homem sutil e paciente”.
Pouco teria a ganhar com ataques ao ídolo dos estudantes; além disso, a crítica
de Shariati contra o clericato fazia dele excelente aliado tático de Khomeini,
em luta contra o establishment religioso conservador em Qom. Khomeini viu
que a fusão que Shariati construíra, de motivos islâmicos e marxistas, poderia
ser poderosa ferramenta de mobilização.
Os
slogans dos khomeinistas durante a Revolução – “O Islã pertence aos oprimidos,
não aos opressores” / “O Islã manifesta os que vivem em barracos, não os que
vivem em palácios” – muito devem a Shariati, que morreu no exílio, na
Inglaterra, em 1977. Milhares de seguidores de Shariati – especialmente os
guerrilheiros da esquerda islâmica dos “Mujahedin do Povo”, que ajudaram a
disparar a Revolução, mas depois romperam violentamente com a República Islâmica
– acabariam prisioneiros nas prisões de Khomeini; mas naquele momento, como
escreve Buchan, “a reconciliação com os Shariatistas teria de esperar.”
Enquanto Shariati falava de
libertação, Khomeini cuidava do que aconteceria depois da libertação. A questão
de quem governaria depois do xá era a única que realmente o ocupava. Em uma
série de palestras que deu em Najaf em 1970, publicadas um ano depois como Islamic Government
[Governo
Islâmico], Khomeini dizia que a concepção corânica de velayat-e faqih, “o
governo dos jurisconsultos/juristas (islâmicos)”, não se aplicava só a viúvas e
órfãos (como muitos clérigos acreditavam e ensinavam), mas à sociedade como um
todo: o estado islâmico deve ser governado por um grupo de clérigos; até mesmo
“por um único homem”, mas não poderia ser jamais algum tipo de monarca, porque o
islamismo é inerentemente hostil à monarquia. Deve ter soado como espantosa
novidade para clérigos que haviam apoiado monarcas iranianos desde a fundação da
dinastia safavida no século 16. Apesar do tom escritural da elocução, esse
velayat-e faqih já soava, para muitos, como interpretação fantasiosa do
Corão.
*****
Quando
jornalistas ocidentais o visitaram em Neauphle-le-Château , a
vila nos arredores de Paris onde passou os últimos quatro meses de exílio,
Khomeini não falou do governo dos jurisconsultos/juristas islâmicos. Sem saber
do que ele dissera em Islamic Government, os ocidentais que se sentaram
com ele sob aquela macieira, dos quais o mais famoso foi Michel Foucault,
reproduziram o que Khomeini lhes dissera ali, que não tinha interesse pessoal
pelo poder e que as mulheres seriam livres na República Islâmica.
Aiatolá Khomeini na entrevista em Neauphle-le-Château |
Poucos
iranianos algum dia haviam ouvido falar de “governo dos jurisconsultos/juristas
(islâmicos)”; para muitos, a simplicidade e a sobriedade de Khomeini encarnavam
não só a oposição ao xá, mas a própria honra nacional do Irã. O espetáculo de
Khomeini na França, escreve Buchan, “reforçou nos iranianos a noção de que eles
próprios eram também vulneráveis e preciosos”. Até os comunistas exilados do
Partido Tudeh alinharam-se a Khomeini. (Em 1983, o líder do Tudeh pediu
desculpas, transmitidas por televisão e extraídas sob tortura, por ter “traído”
a Revolução). Mas, apesar de sua serena indiferença ao que pensasse ou dissesse
o Ocidente, Khomeini já se deixara contaminar pela gharbzadegi, a
“Ocidentite”, ou “Ocidentose”, dos Pahlavis, que Al-e Ahmad definira tão
claramente.
A
fagulha que desencadeou os primeiros embates da Revolução Iraniana foi um ataque
a Khomeini, publicado sob pseudônimo, num jornal iraniano, três dias depois da
visita de Jimmy Carter a Teerã, no Ano Novo de 1978. Mas o xá e seus patrões
continuavam a supor que a ameaça real viria da esquerda. A CIA diagnosticara,
ainda em agosto daquele ano, que o Irã “não estava em situação revolucionária
nem de pré-revolução”.
Restos do incêndio do Cinema Rex em Abadan |
Mas
depois que um incêndio, dia 19 de agosto, no Rex Cinema, na cidade petroleira de
Abadan, matou mais de 400 pessoas, já se sabia, sem sombra de dúvida, que os
dias do xá estavam contados. Não porque o governo do xá tenha tido algo a ver
com o incêndio; mas porque nenhum iraniano acreditaria que não tivera.
Depois
da Revolução, um ex-traficante de drogas confessou que iniciara o incêndio no
cinema, com um grupo de ativistas islamistas. Disse esperar que o incêndio
atraísse apoio para “o pessoal que estava fazendo a Revolução”. Khomeini era
conhecido por dizer que cinemas eram “ninhos de iniquidade”, mas, ali, ele viu
de onde extrair boa vantagem estratégica. Declarou que o incêndio “contrariava
todas as leis do Islã” e, portanto, tinha sido, obviamente, serviço dos homens
do xá.
Em
setembro, aconteceria o massacre dos manifestantes da Praça Zhaleh, que ficaria
conhecido como o massacre da Sexta-feira Negra. Em outubro e novembro, houve
ataques selvagens à refinaria de Abadan e bancos foram incendiados. A terceira
esposa do xá, Farah Diba, descreveu esses eventos como “um pequeno feu de
joie [fr. no orig., “tiros para o ar”] popular. O xá dissolveu o estado de
partido único e introduziu o que chamou de “democracia responsável”, o que só
conseguiu fazê-lo aparecer como ainda mais fraco. Multidões desarmadas clamavam,
nas ruas, pelo fim da monarquia, e o xá, diferente do pai, não manifestou
qualquer vontade de resistir. Em dezembro, foi Khomeini, não o xá, quem
convenceu petroleiros em greve a refinar petróleo suficiente para o consumo do
país. Em meados de janeiro 1979, o xá fugiu do Irã, com a rainha, levando na
bagagem uma caixinha com terra do Irã.
Shapour Bakhtiar |
Nas
duas semanas entre a partida do xá e a volta de Khomeini, não se sabia com
certeza quem governava. O primeiro-ministro Shapour Bakhtiar, funcionário da era
Mossadegh e ex-prisioneiro do xá, dissolveu o Savak, libertou prisioneiros
políticos, proibiu por lei a venda de petróleo para Israel e a África do Sul e
pôs fim à censura à imprensa. As reformas de Bakhtiar podem ter agradado muitos
iranianos – mas antes de desembarcar em Teerã, Khomeini exigiu que
renunciasse. O governo americano estava dividido entre os que insistiam em um
golpe militar e os que, como William Sullivan, embaixador dos EUA em Teerã, viam
Khomeini como figura assemelhada a Gandhi e aliado potencial na luta contra o
comunismo.
Os
soviéticos assumiram que o que os americanos perdessem seria ganho para os
soviéticos, e que os gritos de “Deus é grande!” e o mar de turbantes e
chadors que tomava as ruas de Teerã não passava de fachada para uma
revolução socialista. Mas o slogan de
Khomeini era “nem Leste nem Oeste”, e significava que os iranianos haviam feito
sua revolução para romper com a história da interferência estrangeira, não para
trocar de superpotência patroa – muito menos uma nova encarnação da Rússia
Imperial, sua velha inimiga. “Esse não é governo igual a todos” – disse Khomeini
em Teerã, dia 5/2/1979, quatro dias depois que milhões de iranianos saíram às
ruas para recebê-lo de volta. Menos de uma semana depois disso, civis invadiam
instalações militares, soldados desertavam, e Bakhtiar, disfarçado como
empresário francês, fugiu para a França.
Mehdi Bazargan |
Um
mês depois, em referendo, avassaladora maioria aprovou uma República Islâmica. O
primeiro-ministro de Khomeini, Mehdi Bazargan, nacionalista liberal cauteloso,
que comandara a indústria do petróleo sob Mossadegh, preferiria que os iranianos
tivessem escolhido uma “República Islâmica Democrática”, mas Khomeini vetou a
fórmula: “O Islã dispensa adjetivos do tipo “democrático”. Para nós, nenhum
adjetivo acrescenta qualidades ao Islã, que é perfeito”. Mas conformou-se ante
alguns ocidentalismos que detestava, inclusive um parlamento eleito e direito de
voto assegurado às mulheres. O estado que resultou disso, apoiado por Khomeini,
seria um híbrido de governo dos jurisconsultos (juristas) islâmicos
(velayat-e faqih) e da república à francesa. Mas a Assembleia dos
Especialistas, de 73 membros, todos homens, dominada por seguidores de Khomeini,
a maioria dos quais clérigos, controlava tudo. E acima de todos ficava o próprio
Líder Supremo, o próprio Khomeini, com mandato vitalício. Khomeini implantou
também um shadow government [lit. governo nas sombras], pelo qual
consolidou o próprio poder sobre o Estado, composto do Corpo de Guardas
Revolucionários, do Partido da República Islâmica e da milícia IRP, à
qual foram entregues os campi universitários, em violenta “revolução
cultural” contra a esquerda, antigos aliados de Khomeini. Monarquistas e outros
suspeitos de “semear a corrupção sobre a terra” logo se viram objetos de
julgamentos em tribunais revolucionários, nos quais Sadegh Khalkhali, clérigo
sem expressão nacional, que Khomeini nomeou para a Corte Suprema, supervisionou
milhares de execuções. O objetivo aí não era apenas punir, mas, nas palavras do
locutor da rádio estatal, “injetar sangue novo nas veias da Revolução”.
Invasão de estudantes à embaixada dos EUA em Teerã (1979) |
A
decisão de Khomeini de apoiar os “Seguidores da Linha do Imã” [orig.
Followers of the Line of the Imam] – os estudantes que invadiram a
Embaixada dos EUA em novembro de 1979, pouco depois de o xá ter chegado ao New York Hospital para tratar-se de um
câncer – foi tomada com objetivo semelhante. O alvo real nem era tanto os EUA
quanto os nacionalistas moderados que o ajudaram a chegar ao poder: homens como
Bazargan, cujas formação universitária e esperança de que o Irã re-estabelecesse
relações com o ocidente convertiam em perigosos suspeitos de “liberalismo”. Os
“Seguidores da Linha do Imã” diziam que tratavam de impedir que se repetisse o
golpe de 1953, mas os americanos, agora, tentavam uma reaproximação – e Khomeini
sabia perfeitamente disso.
Zbigniew Brzezinski |
Quando
os estudantes escalavam os muros da embaixada [momento que se vê com precisão fotográfica
em Argo, o filme, do qual
contudo se apagam todas as pistas que permitiriam considerar o contexto em que
aconteceu a operação (NTs)], Bazargan, com a aprovação de Khomeini, estava
reunido em Argel com o principal Assessor de Segurança Nacional dos EUA,
Zbigniew Brzezinski. Bazargan denunciou os estudantes pela violação da lei
internacional e das regras da diplomacia, mas o Supremo Líder apoiou-os,
colhendo a oportunidade de pintar qualquer oposição à invasão da Embaixada como
covarde rendição ao Grande Satã. Bazargan demitiu-se. Quando afinal os reféns
foram soltos, em janeiro de 1981, o líder espiritual dos que os haviam
sequestrado, Mohammad Khoeiniha, declarou que “a árvore da revolução cresceu e
ganhou força”.
Na
verdade, a árvore da revolução perdera parte considerável de sua força: a
República Islâmica recebeu apenas $2,88 bilhões, dos $12 bilhões do patrimônio
iraniano que lhe era devido e foi congelado; praticamente todo o restante foi
consumido para pagar o serviço das dívidas do xá. Para Buchan, “não se pode
dizer com certeza quem era refém de quem”. Mas as perdas financeiras foram mais
do que recompensadas pela derrota imposta aos “liberais” e pela vitória
psicológica sobre os norte-americanos e também, o que não significava pouco,
sobre os aliados pré-revolucionários. Numa das mais fantasmáticas imagens da
Revolução, jovens cujas avós haviam “tecidos tapetes nos anos 1920s”, agora se
dedicavam a colar fragmentos de documentos recolhidos no “ninho dos espiões” [imagem que se vê no filme Argo, das poucas informações
realmente interessantes, do ponto de vista histórico, do filme (NTs)]. Com o
Irã no pleno controle, afinal, do próprio destino, o isolamento internacional, a
dívida e as sanções pareciam pequeno preço a pagar. E a República Islâmica podia
assumir a própria rota de desafio, porque o petróleo iraniano estava, afinal,
sob comando dos iranianos.
A
crise dos reféns reforçou o radicalismo da revolução de Khomeini; a guerra
contra o Iraque deu resiliência e legitimidade popular à sua República. Começou
em setembro de 1980, quando o Iraque atacou de surpresa, na esperança de
redelimitar a fronteira no rio Shatt al-Arab. Os americanos e os franceses
apoiaram o Iraque, e até os soviéticos tenderam na direção de Saddam. Os únicos
apoiadores do Irã na região foram a Síria e, por pouco tempo, os israelenses,
que esperavam que Khomeini viesse a aliar-se a eles, como o xá se alinhara. Em
julho de 1982, o Irã expulsara o exército do Iraque do sudoeste do país.
Khomeini deixou a vitória escapar-lhe entre os dedos, ao rejeitar a proposta de
armistício de Saddam. Os israelenses acabavam de invadir o Líbano, e Saddam
sugeriu a Khomeini que seus países pusessem de lado as diferenças, para combater
“o inimigo sionista”. Mas Khomeini suspeitava que a invasão israelense fosse uma
armadilha, construída pelo ocidente, para proteger o Iraque contra um castigo a
ser-lhe imposto pelo Irã, que descobrira um “pulmão” no leste árabe: a
organização guerrilheira xiita “Hezbollah”, organizada pelo Corpo de Guardas
Revolucionários no Vale do Bekaa, no verão de 1982, que é hoje o mais importante
e precioso aliado da República Islâmica na região, um escudo contra qualquer
ataque israelense às suas instalações nucleares.
A
continuação da guerra contra o Iraque condenou o Irã a mais seis anos de imenso
sofrimento, incluindo os ataques com armas químicas que lhe foram impostos por
Saddam. Adolescentes iranianos, mal chegados à puberdade, recebiam “uma rama e
vinte balas e eram mandados combater uma posição de artilharia”, informados de
que combatiam contra soldados israelenses. Então, o objetivo da guerra já era
derrubar o regime do Partido Baath e expandir a Revolução Islâmica. Bem mais de
100 mil soldados iranianos morreram antes que, no final de 1988, Khomeini afinal
aceitasse um acordo de cessar-fogo da ONU. Aceitou beber “do cálice envenenado”,
como disse, depois que o porta-aviões norte-americano USS Vincennes derrubou um
avião carregado de civis iranianos, confundido com um F-14.
Local do ataque dos EUA ao voo 655 da Iran Airlines |
Quase
300 passageiros e a tripulação morreram, em ação que, para Khomeini, foi ataque
deliberado: uma mensagem dos EUA, para que o Irã entendesse que jamais, em caso
algum, lhe concederiam vencer aquela guerra. Khomeini interpretou corretamente
as intenções dos EUA. E a derrota ante a maior potência bélica do planeta
garantiu-lhe saída honrosa. A redenção pelo martírio dos iranianos viria 14 anos
depois, quando o Iraque caiu no colo do Irã, cortesia dos militares
norte-americanos.
Hossein-Ali Montazeri |
Terminada
aquela guerra, Khomeini começou a preocupar-se com o futuro de sua revolução; e
lançou nova onda de expurgos. Começou por executar quase 3.000 membros dos
Mujahedin do Povo, que haviam lutado nas tropas de Saddam. A seguir, na fila,
vieram os condenados por “guerrear contra Deus”: entre as vítimas, uma filha de
13 anos de um clérigo aliado, o aiatolá Hossein-Ali Montazeri, protegido de
Khomeini e cogitado para sucedê-lo. Montazeri escreveu a Khomeini para protestar
contra “esse ato de vingança e desprezo” e para lembrá-lo da crença muçulmana no
perdão; Khomeini ignorou-o. No 10º aniversário da Revolução, Montazeri escreveu
novamente a Khomeini, denunciando as restrições à liberdade. Dessa vez, Khomeini
respondeu. Disse-lhe que jamais seria Líder Supremo; e avisou-o de que, se não
calasse a boca “Serei obrigado a tomar alguma providência contra você. E você
sabe que jamais descuido do meu dever”. Montazeri refugiou-se em Qom. Khomeini
convocou uma assembleia constitucional especial, de membros que, praticamente
todos, haviam sido nomeados por ele, e reformaram a Constituição, que deixou de
exigir que o Supremo Líder tivesse ocupado a posição de marja-e-taqlid.
Assim
se abriu ostensivamente o caminho para que Ali Hosseini Khamenei, que não era
marja, mas sempre foi renomado khomeinista, substituísse o líder depois
de sua morte. Bastou esse movimento de mão do próprio autor, para que o
fundamento escolástico do governo dos jurisconsultos/juristas (islâmicos)
[velayat-e faqih] fosse abolido.
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Mohammed Khatami |
Todos
os esforços para democratizar a República Islâmica na era Khamenei deram em
nada. O presidente reformista Mohammed Khatami, ex-discípulo e aluno de
Montazeri, foi minado por dentro do próprio governo por clérigos linha-dura, e
por fora pelo governo Bush, que agradeceu ao Irã por sua ajuda no Afeganistão
depois de 2001, pondo fim às aberturas pró-paz e incluindo o Irã, com Coreia do
Norte e Iraque, no mesmo “eixo do mal”.
As
manifestações em 2009 do “Movimento Verde”, reação a uma suposta fraude nas
eleições presidenciais, foram reprimidas por milícias basij, com as
bênçãos de Khamenei. O aparato de estado já estava constituído de clérigos
linha-dura liderados por Khamenei e islamistas anticlericais no Corpo de Guardas
Revolucionários; os dois grupos detestavam-se entre eles, mas estavam unidos
contra os reformadores.
O
Islã ainda assegura à República fonte mais local e profunda de legitimidade do
que o comunismo assegurou à União Soviética, mas número crescente de clérigos
vêm-se unindo à oposição ou recolhem-se ao quietismo da geração anterior. A
intelligentsia iraniana apenas tolera, quando não despreza, a República
Islâmica.
Seja
como for, os iranianos não anseiam por outra revolução, nem aceitarão “mudança
de regime” que lhes venha do exterior. Há uma diferença crucial entre a tirania
da dinastia Pahlavi e a República Islâmica: a República Islâmica é produto de
revolução local e tem raízes mais profundas. Ridicularizados pelos monarcas
Pahlavi, como atrasistas e supersticiosos, Khomeini e os clérigos seus aliados
acabaram por realizar o sonho que Reza Shah e seu filho nunca conseguiram
realizar: criar um Irã moderno e independente, com status e prestígio de
potência regional, cujo alcance já chegou ao Líbano, Afeganistão, Iraque, Síria
e Palestina. A grande baixa da Revolução foi a visão de liberdade que Al-e Ahmad
e Shariati trouxeram à tona, a mesma que Khomeini tanto elogiou, só da boca para
fora, em
Neauphle-le-Château.
Aiatolá Ali Hosseini Khamenei |
Desde
o colapso da reforma de Khatami, o estado tornou-se mais autoritário, mais
paranoico e mais brutal no tratamento aos dissidentes. A juventude, atingida
pela ferocidade da repressão pelos basij, já descrê da possibilidade de
qualquer reforma e deu as costas à política. Sua principal preocupação é
conseguir pagar as contas no fim do mês, em tempos de sanções punitivas.
As
sanções visam oficialmente a impedir que o Irã continue a trabalhar em seu
programa nuclear, que o país insiste que só tem finalidades pacíficas. Mas as
sanções dificilmente funcionarão. O Irã tem inimigos armados com bombas atômicas
e memória recente de ter sido atacado com armas químicas, enquanto o mundo
dava-lhe as costas e fingia que não estava vendo. E, seja como for, a decisão de
jamais ceder ante qualquer pressão externa é um dos princípios basilares da
República Islâmica. Por mais que anseie pelo reconhecimento internacional, o
país já sobreviveu ao isolamento e, em vários sentidos, o isolamento não assusta
os iranianos. (Nisso, o Irã não é diferente de Israel, estado que também diz
representar uma minoria perseguida e justifica a atitude de desafio contra tudo
e contra todos, inclusive o desacato à lei internacional, com retórica de
nacionalismo religioso fundamentalista e arrogante vitimismo). O isolamento fez
aumentar a autoconfiança e estimulou o sacrifício, e o sacrifício é visto como
prova de virtude.
A
tenacidade da República Islâmica durante a guerra contra o Iraque fortalece a
crença de que ela também resistirá às sanções – como já resiste ao assassinato,
por Israel, de seus cientistas nucleares.
Programa nuclear iraniano em andamento |
O
programa nuclear goza de alta popularidade na opinião pública, que o vê como
fator de contenção e absolutamente não entende por que Israel, Paquistão e Índia
são autorizados a ter arsenal atômico, mas não o Irã. A resistência a pressões
que lhe vieram do Ocidente já define o nacionalismo iraniano há mais de um
século, e ainda é das poucas cartas com que um regime, pouco popular sob
inúmeros outros critérios, ainda pode jogar, a seu favor.
Buchan
conclui seu estudo, com a esperança de que o Irã se mostre menos intransigente
do que em 1953, quando Mossadegh foi derrubado por ter nacionalizado a Anglo-Iranian Oil Company. Mas Khamenei
e seus clérigos podem extrair outra lição, diferente, dos eventos de 1953,
sobretudo hoje, se compararem o destino de Gaddafi, que extinguiu seu programa
nuclear nacional, e o destino do regime da Coreia do Norte, que não o fez. Eles
são xiitas, sim, mas isso não implica que desejem ser mártires.
O artigo é muito bom, ao que tudo indica idem o livro.
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa em traduzi-lo.
Uma observação: ao contrário do que o autor dá a entender, o Hisbolah não é de 1982, mas de 1985. "No verão de 1982" os futuros ativistas do Hisbolah receberam os soldados israelenses com flores e arroz.
A tradução do trecho "In this it is not unlike Israel, a state which also speaks in the name of a persecuted minority and justifies its defiance of international law with a rhetoric of religious nationalism and righteous victimhood" para "Nisso, o Irã não é diferente de Israel, estado que também diz representar uma minoria perseguida e justifica a atitude de desafio contra tudo e contra todos, inclusive o desacato à lei internacional, com retórica de nacionalismo religioso fundamentalista e arrogante vitimismo" é uma assustadora "liberalidade criativa” mostra que o tradutor aproveitou para inserir, com a assinatura do Shatz, as suas impressões pessoais.
ótimo site, me ajudou muito mesmo, parabéns pela traduçao!
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