sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ucrânia: “Dos espíritos que convoquei − Senhor, livrai-me!”

22/2/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

“Que dilúvio! Que enchente!
Meu senhor e mestre, ouçais meu chamado!
Ah, aí vem meu mestre!
Como preciso de vós!
Dos espíritos que convoquei,
Senhor, LIVRAI-ME!”

A oposição na Ucrânia e seus patrocinadores-pagantes nos EUA e na União Europeia convocaram os espíritos da direita, dos fascistas, para montar um golpe contra presidente eleito e para impor os objetivos daqueles patrocinadores pagantes à opinião pública ucraniana.

O Pravy Sektor (Setor Direita) quer o PODER!
Agora... aqueles espíritos recusam-se a sair de cena:

Era difícil saber o quanto dos gritos de fúria que se ouviam na 6ª-feira (21/2/2014) à noite na Praça Independência era pura fúria e prepotência, ou eram gritos finais de ira antes do esvaziamento de três meses de protesto, ou, ainda, se eram o anúncio de ainda mais violência, possivelmente pior, que há pela frente.

Dmytro Yarosh
Vividamente clara, contudo, era a enorme distância que se abriu entre as lideranças políticas do movimento e um movimento de rua que foi radicalizado e escapou ao tênue controle pelos políticos
...

Dmytro Yarosh, líder do Pravy Sektor (Setor Direita), uma coalizão de grupos nacionalistas de linha duríssima, reagiu contra as notícias de um acordo – com o que arrancou urros de aprovação da multidão.

“O acordo que assinaram não corresponde às nossas aspirações”, disse ele. “O Setor Direita não deporá armas. O Setor Direita não levantará o bloqueio à frente de um único prédio público, até que nossa principal demanda seja cumprida – a renúncia de Yanukovich”.

Yulia Timoshenko
Mas mesmo que Yanukovich renuncie, as demandas dos “manifestantes” fascistas não terminarão. Hoje, o rabino chefe da Ucrânia instruiu os judeus a deixar a cidade de Kiev – e teve boas razões para fazê-lo. O Pravy Sektor (Setor Direita) e o Partido Svoboda são conhecidos por furioso antissemitismo.

Ontem, 67 membros do partido governante das regiões mudaram-se para a oposição – que agora tem maioria no Parlamento. O Parlamento então alterou a Constituição para retirar poderes da presidência, demitiu o ministro do Interior que ordenou que a Polícia protegesse os prédios do Estado e libertou a corrupta “princesa do gás” da Ucrânia, [Yulia] Timoshenko, que estava na cadeia.

Putin deve estar rindo.

O que os propagandistas no “ocidente” jamais dizem é que Timoshenko foi condenada à prisão por causa de um negócio de gás pelo qual teria favorecido a Rússia. Foi condenada e presa por ter aceitado pagar aos russos preços super aumentados. Yanukovich – que Putin odeia e despreza como “perdedor” – está fora do governo. Timoshenko, a mulher que Putin sempre gostou de ter como parceira em lucrativos negócios de gás, está de volta.

Vladimir Putin
Dado que a indústria ucraniana não é viável sem acesso aos mercados russos e que a Ucrânia depende completamente da energia que a Rússia lhe fornece, sempre forneceu e continuará a fornecer, a Rússia, agora, está em posição muito confortável na Ucrânia. Pelo menos metade da população ucraniana é pró-Rússia. Nenhuma “revolução colorida” versão 1.0, 2.0 ou 3.0 e nenhum empréstimo do FMI em troca de “austeridade” conseguirá alterar esses fatos.

Partes da Ucrânia rapidamente darão sinais de anarquia, com os tais “manifestantes”, e vândalos, que protestaram sem qualquer objetivo claro, fazendo uma rápida transição para atividades criminosas. A “oposição” agora no poder terá de apresentar resultados e, pressionada, rapidamente se partirá em mil pedaços. As forças fascistas, que a imprensa-empresa “ocidental” insiste em chamar de “nacionalistas”, concentrarão mais poder.

Os aprendizes de feiticeiro nos EUA e na União Europeia acabarão por compreender que são incapazes de controlar os espíritos que convocaram. E terão de chamar o mestre, para devolver às respectivas tocas os espíritos que Washington e Bruxelas convocaram. O número de Discagem Direta Internacional que terão de chamar começa com 007 495.



Nota dos tradutores
[1] GOETHE, J. W. − O aprendiz de feiticeiro, São Paulo: Cossac y Naif (ed. bilíngue port./al.). Trad. Mônica Rodrigues da Costa, Col. Dedinho de prosa, 2006.
__________________________


[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:


3 comentários:

  1. Pena que o artigo não levou em conta toda a história entre Ucrânia e Rússia. Não levou em conta o Holodomor. Não levou em conta a Segunda Guerra. Não levou em conta Stalin. Apenas fez uma análise de toda a história de uma nação em cima da receita dos PIG sobre as revoltas dos últimos tempos. E o pior, está defendendo que toda a cultura de um povo deve sumir e ser russificada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não acredito que seja possível levar em conta toda a história Rússia-Ucrânia em um só artigo. Adiante e atrás, em outros artigos sobre a Ucrânia, procuramos estender a nossa visão e dos nossos leitores para aspectos sócio-linguísticos culturais dos dois países. Nossa intenção, muito mais do que certezas, é levantar possibilidades e justificativas para a atual crise ucraniana. Os artigos postados aqui no bloguinho tem apenas o objetivo de mostrar o lado que JAMAIS é mostrado pela imprensa-empresa ocidental. Mas nós temos LADO. Somos sempre contra o NAZI-FASCISMO venha de onde vier...

      Excluir
  2. NOTA MUITO ÚTIL, de Tlaxcala, Rede Internacional de Tradutores:

    A Organização dos Nacionalistas Ucranianos [orig.Organization of Ukrainian Nationalists (OUN)], organização fascista criada em 1929 na Ucrânia do Oeste (então sob governo polonês), dividiu-se em duas em 1940: a OUN-M mais moderada, com Andriy Melnik; e a OUN-B mais radical, com Stepan Bandera. A OUN-B declarou uma Ucrânia independente, em junho de 1941, como estado-satélite da Alemanha Nazista. Todos os grupos direitistas na Ucrânia de hoje apresentam-se como herdeiros das tradições políticas da OUN, inclusive o Partido Svoboda, a Assembleia Nacional Ucraniana, o Congresso dos Nacionalistas Ucranianos e o Setor Direita (Pravyi Sector).

    ResponderExcluir

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.