quinta-feira, 16 de junho de 2011

Clima de IPM no Itamaraty

15/6/2011 20:17,  *Rui Martins de Genebra

Com apenas seis meses de existência o CRBE comete seu abuso fatal.

Era de se prever, o presidente do CRBE (Conselho de emigrantes), Carlos Shinoda, que pelos votos obtidos representa cerca de 0,01% da população emigrante, depois do silêncio diante do expurgo instaurado dentro do Conselho, vai além e exige retratação, contrição e penitência do condenado, antes do sacrifício na fogueira da intolerância. A medida tem cheiro dos Inquéritos Policiais Militares da época da ditadura e mostra, parodiando-se Sheakespeare, que existe realmente algo de podre no reino do CRBE.

Só que agora o caso CRBE, esse apêndice criado pelo Itamaraty – que já mereceu reportagem desabonadora da revista Época e uma análise destruidora do jornalista Eliakim Araújo, editor do Direto da Redação, emigrante em Miami – se notabiliza não só como pretenso representante dos emigrantes brasileiros, mas por querer impor uma política digna de órgãos da época da ditadura. E para isso quer utilizar métodos abomináveis como retratação, penitência e quer obrigar a autocrítica para quem não reza pela sua cartilha.

Será que o ministro Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores, ao qual entreguei pessoalmente minha crítica à atual política brasileira da emigração, vibrante panfleto em favor de um órgão institucional emigrante separado do Itamaraty, permitirá que viceje sob o teto do seu Ministério a ideologia da intolerância, do pensamento único e da mordaça, inspirada em processos inquisidores de regimes ditatoriais ?


São graves, Senhor Ministro, as absurdas exigências às quais se quer sujeitar um simples suplente do Conselho de emigrantes (CRBE) pelo crime de pensar diferente e em alta voz, nos jornais e sites para os quais escreve. Num primeiro ato, armaram sua expulsão que deveria ocorrer em surdina. Diante da péssima repercussão da expulsão junto aos emigrantes, Carlos Shinoda, o presidente de voz macia, propôs rever o ato indecente, do qual também participara com sua assinatura, num clima de pacificação.

Porém, alarmado com a transformação do mártir em herói e percebendo que sua recuperação lhe daria ainda mais prestígio e respeito, deu marcha à ré na pacificação e criou uma camisa de força vexatória para ser vestida pelo transgressor. Ou ele rejeita e renuncia, o que será melhor que uma expulsão, ou ele aceita e se desmoraliza, deve ter pensado.

É assim leitores do Brasil continental, é assim Senhor Ministro do MRE, que se age dentro desse grupúsculo eleito, entre fraudes e votos de cabresto, por 18,5 mil votos, que representam 0,5% da população emigrante.

Seria para se rir, mas é para chorar, porque se o MRE deixar passar em brancas nuvens esse processo inquisitorial instaurado sob seu teto, estará aberto o precedente para outros abusos e outras torturas morais.

Existe um suplente subversivo (vamos usar a linguagem da época) dentro do CRBE, ele é apenas 1 entre 32 e nem ocupa o posto de titular, mas está minando o grupo com sua repetitiva afirmação em favor da autodeterminação dos emigrantes, contra a colonização do movimento emigrante pelos diplomatas do Itamaraty.

Ele não disse que a Terra não é o centro do universo e nem que a Terra gira em torno do Sol e nem disse que as indulgências vendidas por Tetzel são uma farsa. Nada disse de tão importante, que valeram fogueira para Giordano Bruno, retratação para Galileu e ameaça de retratação para Lutero diante da Dieta de Worms.

O tal suplente disse apenas que diplomata é diplomata e emigrante é emigrante, acentuando as diferenças, e que nada justifica a direção e o controle do movimento emigrante por diplomatas do Itamaraty.

Disse também, durante sua campanha para chegar ao CRBE, depois de ter sido titular no Conselho provisório, que, sem independência e sem autodeterminação, os membros de qualquer conselho sujeito ao Itamaraty seriam, como são, vaquinhas de presépio, aqueles pequenos animais de Natal com um único movimento possível, o da cabeça no sentido vertical do sim-sim.

Felizmente estamos no séculos XXI, pois fosse nos séculos XII a XV e sua condenação à retratação e à penitência por tantas heresias proferidas, se concluiria com a fogueira ou o empalamento.

O edital de execução assinado pelo presidente Carlos Shinoda (reproduzido no final deste texto) diz no primeiro quesito, que o condenado deverá fazer uma declaração pública dizendo ter havido exagero nas críticas ao CRBE. Batendo no peito e se flagelando com um chicote, o condenado deverá dizer – não são vaquinhas de presépio, os emigrantes devem se submeter aos diplomatas, o CRBE é nossa salvação e outras litanias, em alta voz, para que todos possam ouvir na praça pública, usando-se se possível um megafone.

O segundo quesito exige que o ato de contrição e penitência deverá ser publicado no Direto da Redação, Facebook e outros, isso inclui o Correio do Brasil, a Rede Castor e blogs de toda mídia alternativa. O condenado, de joelhos, com um garrote no pescoço, deverá renegar tudo quanto escreveu e pedir a benção aos seus algozes. Deverá negar ter havido fraude nas eleições ou consulta, deverá mastigar e comer seu artigo – Padres, pastores e despachantes viva o Conselho de emigrantes, e desmentir haver incompatibilidade no caso do conselheiro titular que é também empregado de Consulado.

A seguir, o condenado deverá destacar a seriedade e o equilíbrio do CRBE no encaminhamento dos pedidos dos emigrantes e jurar em nome do Plano de Ação, sem rir, sem fazer qualquer movimento que possa ser interpretado como ironia ou descrença.

Embora cansado, suado e sangrando, o condenado deverá repetir alto e bom tom que merece toda tortura a que está sendo submetido e que seus torturadores são pessoas responsáveis e conscientes de que assim estão evitando que se propague a erva daninha da ideologia da autodeterminação e independência dos emigrantes.

Quando a fogueira começar a crepitar, o condenado deverá dizer que ninguém foi enrolado na farinha, que foi torturado e será queimado por decisão consciente de todos os membros do CRBE, para que nunca se saiba quem lançou a idéia de se punir o herege e subversivo.

Enfim, antes de ser atado na pilha de lenha sobre a fogueira, o condenado genuflexo deverá informar que, depois de cumpridos os cinco quesitos punitivos, suas infames cinzas deverão ser enviadas ao MRE.
Seria para se rir, não fosse para chorar.
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Leia aqui o vergonhoso ato de condenação promulgado por um Conselho que reúne vários religiosos, que pelo visto pregam o ódio em vez do perdão.

Prezado Conselheiro Suplente Rui Martins,

venho através desta manifestar a decisão da maioria dos Conselheiros Titulares do CRBE em acatar a vossa solicitação com as seguintes ponderações da vossa parte:
1) Comunicação pública reconhecendo que houve excesso nas criticas ao CRBE;
2) Manifestação sobre reconsideração do CRBE na coluna “Direto da redação”, Facebook e outros canais de comunicação;
3) Destacar a “seriedade e equilíbrio” do CRBE no encaminhamento das demandas dos brasileiros residentes no exterior, um fato concreto é o Plano de Ação elaborado na reunião de trabalho em Brasília;
4) Reafirmar que o encaminhamento da abertura do processo administrativo junto ao MRE fora feito de forma consciente e responsável por todos os Conselheiros Titulares;
5) Ter a clareza de que o aceite do pedido manifestado através do e-mail intitulado “Compromisso pela Pacificação” não se trata de declaração do CRBE ter agido de forma irresponsável em relação a solicitação de abertura do processo administrativo encaminhado ao MRE.
6) Os itens citados acima deverão constar no comunicado oficial a ser encaminhado pelo Conselheiro Rui Martins para o MRE (resposta da notificação recebida).
Apesar do e-mail ter sido direcionado para a Presidência do CRBE, a consulta dirigido a todos os integrantes titulares foi necessário para a tomada de decisão seja coletivo.

Atenciosamente,
Carlos Shinoda, Presidente do CRBE

(Esta coluna foi publicada originalmente no Direto da Redação)
*Rui Martins, jornalista, escritor, correspondente do Correio do Brasil em Genebra
Enviado por Correio do Brasil

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