“Não há nem haverá divisão sectária no Líbano”
Sayyed Nasrallah |
3/7/2011, Al-Manar TV, Beirute - Sayyed Nasrallah Rejects Indictment, Rules Out Strife in Lebanon
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Ver também:
“Tribunal Especial da ONU para o Líbano: Mais sectarismo e nenhum esclarecimento” - 1/7/2011, Hicham Safieddine, Al-Jazeera, Qatar
“Sayyed Nasrallah fala à TV Al-Manar” - 16/1/2011, Al-Manar TV, Beirute –Mohamad Shmaysani - Excerto
Sayyed Nasrallah: “Somos a resistência. Não nos interessam cargos” - 25/1/2011, Batoul Wehbe, Al-ManarTV, Beirute
Sayyed Nasrallah: “Tudo depende de nossos elementos de poder” - 24/08/2010, Mohamad Shmaysani, Al-ManarTV, Beirute e no Islam Times
O secretário-geral do Hezbollah Sayyed Hasan Nasrallah rejeitou no sábado a chamada “acusação formal” divulgada pelo Tribunal Especial da ONU para o Líbano, no caso do assassinato do ex-primeiro ministro Rafiq Hariri. Sua Eminência desqualificou a acusação como sem qualquer fundamento, e tentativa gorada de minar o novo governo do Líbano.
No primeiro comentário desde que a acusação formal foi entregue ao Procurador na 3ª-feira, Sayyed Nasrallah confirmou que os quatro homens injustamente acusados pelo Tribunal da ONU são membros do Hezbollah e disse que os quatro têm honrada história de resistência contra a ocupação por Israel. Disse que, mesmo que o chamado Movimento 14 de Março estivesse no poder, nenhum deles seria jamais preso. E que é possível que sejam julgados à revelia.
Sua Eminência reiterou que a corte internacional é projeto manobrado por EUA e Israel, para várias finalidades, a mais importante das quais é estimular a divisão sectária no Líbano entre grupos muçulmanos. Disse que não há e jamais haverá divisão entre libaneses sunitas e xiitas – mas reconheceu que alguns cristãos do Movimento 14 de Março ainda sonham com o Líbano dividido.
Israel jamais foi investigada
O secretário-geral do Hezbollah iniciou sua fala com detalhada reconstituição das diferentes fases da suposta investigação. Primeiro, acusaram a Síria. Depois, os quatro generais que foram presos e agora libertados. Agora, acusam o Hezbollah. Sua Eminência observou que o inimigo israelense nunca foi considerado suspeito por esse tribunal, apesar das muitas provas reunidas, de seus crimes de espionagem.
“Várias vezes falamos da possibilidade de haver espiões de Israel envolvidos no assassinato, e o fato comprovado de que, na véspera, havia agentes israelenses no local do crime. Mas o Tribunal da ONU sequer os convocou para interrogá-los. Isso é normal, por quê? Porque o Tribunal da ONU, desde a constituição, só trabalha para um único objetivo e são todos proibidos de interrogar israelenses. Em vez de investigar os israelenses, o Tribunal da ONU trabalha a partir de informação fornecida por espiões israelenses.”
Sayyed Nasrallah exibiu documentos, para mostrar que, quando o Tribunal da ONU transferia equipamento do Líbano para a base da Corte Internacional na Holanda, enviou um carregamento de 97 computadores via Israel, em vez de embarcá-los diretamente de Beirute. Até que se entenda o por quê desse procedimento, todas as suspeitas são legítimas.
Bellemare, Procurador do Tribunal, trabalha com agentes da CIA
O secretário-geral do Hezbollah passou então a questionar a credibilidade do Procurador do Tribunal da ONU, Daniel Bellemare e de sua equipe de investigadores, os quais, todos, têm ligações com a inteligência ocidental e já trabalharam antes contra a Resistência.
“Se Bellemare fosse justo, teria contratado especialistas e conselheiros que, no mínimo, não fossem pessoas conhecidas por seu trabalho contra qualquer das partes envolvidas no julgamento” – disse Sayyed Nasrallah. Acrescentou que pelo menos um dos consultores que trabalham para Bellemare é agente da Agência Central de Inteligência dos EUA, CIA.
“Um dos principais consultores que trabalha para Bellemare's é agente de alto escalão da CIA, que nós já acusamos de trabalhar há 15 anos contra a Resistência, de seguir Hajj Imad Mughniyeh e de estar envolvido no massacre, pela CIA, em Beer Hasan, no Líbano, onde seu alvo foi o falecido Grande Aiatolá Sayyed Mohamad Hussein Fadlallah, e onde houve dúzias de mortos” – disse Sua Eminência.
O discurso foi entremeado com filmes em que se viam provas de que vários dos membros do Tribunal Especial da ONU para o Líbano têm relações com agências ocidentais de espionagem, inclusive um australiano, um britânico (especialista em combater o que chama de “terrorismo islâmico”), um ex-militar norte-americano, um consultor especialista em legislação libanesa, franco-libanês, que trabalhou contra a Resistência, e Robert Baer, agente da CIA.
Tribunal comprovadamente corrupto
Sobre a corrupção de vários funcionários do Tribunal Especial, Sayyed Nasrallah destacou o caso de Gerhard Lehman, ex-presidente da Comissão de Investigação do assassinato de Hariri. “Temos provas de que Lehman vendeu declarações e confissões, em troca de dinheiro” – e Sua Eminência exibiu um vídeo, em que se vê Lehman recebendo dinheiro e entregando documentos relacionados à investigação.
Sayyed Nasrallah também falou sobre outras falsas testemunhas, e revelou que o próprio Bellemare empenhou-se pessoalmente e acompanhou todo o processo de cancelamento do mandato de prisão (da INTERPOL) contra Mohammad Zuheir al-Siddiq, a chamada “testemunha-chave” do caso, que contribuiu para que, desde o início, a investigação tomasse rumo predefinido.
Sua Eminência também comentou os motivos suspeitos que há por trás dos repetidos vazamentos de informações do Tribunal, diretamente para os jornais. A investigação, de fato, jamais foi secreta; tudo sempre foi vazado para os jornais, mesmo não havendo qualquer prova.
“Que credibilidade teria um tribunal que, antes de investigar, divulga nomes de ‘culpados’?” “O vazamento mais escandaloso aconteceu há poucos dias, quando uma delegação de investigadores reuniu-se com o Advogado Geral do Líbano, Saeed Mirza, para entregar-lhe o documento formal da acusação e, antes do fim da reunião, os nomes dos acusados já estavam sendo divulgados nos noticiários” – disse Sua Eminência.
Naasrallah disse que todos os vazamentos foram planejados e intencionais, orientados para enlamear a imagem pública do Partido da Resistência. O timing da divulgação dos nomes dos acusados, vazados para a mídia, foi mecanismo que visou a fragilizar o novo Gabinete recém formado pelo novo primeiro-ministro Najib Miqati.
O presidente do Tribunal da ONU é grande amigo de Israel
Sayyed Nasrallah lembrou também que o presidente do Tribunal da ONU para o Líbano, Antonio Cassesse, é conhecido grande amigo de Israel. “O presidente do Tribunal tem ligações antigas com Israel e todos os preconceitos contra a Resistência libanesa” – disse Sua Eminência.
“Por que teríamos de nos submeter a um juiz que defende Israel? Que justiça esse juiz poderia administrar, se é do grupo que define como “terroristas”, os movimentos da Resistência?” Disse: “Esse juiz chama a Resistência de “organização terrorista”. Como poderia nos fazer justiça, se supõe que sejamos terroristas?”
“Aos olhos de Cassesse, Israel seria o único estado de direito, respeitador dos direitos humanos, em toda a Região. E o que faz Israel na Palestina há mais de 60 anos? E os 11 mil prisioneiros políticos nas prisões israelenses? E os massacres israelenses no Líbano, que todos vimos acontecer? Para Cassesse, Israel, que é estado terrorista, combateria o terrorismo. Que justiça se poderia esperar de quem pensa assim?” – perguntou Sayyed Nasrallah.
Não há nem haverá divisão sectária no Líbano
Falando ao povo libanês, Sayyed Nasrallah reiterou que não há nem haverá divisão sectária entre os libaneses sunitas e xiitas. “Já lhes disse há mais de um ano, que um dos objetivos do Tribunal da ONU é semear a cizânia entre os libaneses. Não há nem haverá divisão sectária. Reafirmo aqui que, mesmo depois dessa chamada “acusação formal”, não haverá nem divisão nem guerra civil no Líbano”. E continuou: “Tenham certeza de que nada aconteceu nem acontecerá entre xiitas e sunitas libaneses, a menos que alguma força externa, um terceiro, interfira, com ânimo de semear a discórdia e vocês se deixem levar.”
Sua Eminência falou para tranqüilizar e por fim aos boatos que falam de agitações e divisão na sociedade libanesa: “O Tribunal da ONU visa a semear a discórdia entre nós. Mas não haverá discórdia entre xiitas e sunitas, nem haverá outra guerra civil” – disse ele.
Nenhum governo poderia cumprir os mandatos de prisão
Sayyed Nasrallah, em seguida, falou ao bloco 14 de Março, que se tem apresentado como nova oposição no Líbano. Sua Eminência disse que não tentem culpar o Gabinete do primeiro-ministro Najib Miqati por algo que nem eles, se estivessem no poder, conseguiriam fazer.
“Não culpem o novo governo, por algo que, se estivessem no poder, vocês tampouco conseguiriam fazer. Os mandatos de prisão emitidos pelo Procurador do Tribunal da ONU não podem ser executados por nenhum governo libanês, nem em 30 dias, nem em 30 anos, nem em 300 anos.”
Sayyed Nasrallah também exigiu que a coalizão conhecida como 14 de Março também não cobre do primeiro-ministro Miqati o que o ex-primeiro ministro Saad Hariri estava pronto para ceder, em troca de permanecer no poder.
Sua Eminência revelou que recebeu documentos, enviados pelo primeiro-ministro do Qatar e pelo ministro das Relações Exteriores da Turquia, que provam que Hariri havia concordado em fazer várias concessões, em troca de manter o cargo de primeiro-ministro. Sayyed Nasrallah disse que, sendo necessário, adiante, poderá divulgar esses documentos, mas que é documentação muito sensível, porque comprova que o ‘acordo’ já fora aprovado pelos sauditas, franceses, britânicos e norte-americanos.
Trata-se de golpe contra a Resistência
Na conclusão, Sayyed Nasrallah reiterou que o Hezbollah rejeita a acusação, como rejeitará cada uma e todas as acusações do Tribunal da ONU para o Líbano: “Rejeitamos o Tribunal Especial e todas e quaisquer acusações que façam, as quais, para nós, são equivalentes a ataques diretos ao Hezbollah” – disse. Observou que a acusação agora ‘formalizada’, é apenas mais um passo, no rumo dos objetivos desse tribunal de exceção, manobrado pelos EUA por Israel.
“Nada há hoje, além de agressão contra nós. A Resistência jamais permitirá que esse Tribunal arraste o Líbano para a tragédia das lutas sectárias ou das divisões internas. A única vítima em todo esse caso é o mártir Rafiq Hariri, ex-primeiro ministro assassinado.”
“Os que apóiam a Resistência não têm por que se preocupar. Trata-se de mais um movimento da mesma luta que enfrentamos desde que a entidade sionista foi criada, e iniciou sua agressão à terra dos palestinos.”
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