O
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, obteve apenas os votos
necessários para manter-se no posto, mas nunca esteve tão fraco |
23/1/2013, Julia Amalia Heyer, Der Spiegel, Telavive
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Julia Amalia Heyer |
O
slogan da campanha eleitoral de Benjamin Netanyahu foi “líder forte, para nação
forte”, mas nas eleições de ontem ele sofreu um duro revés. Com avanços
significativos do centro-esquerda, a direita de Israel, ainda no governo, pode
ter problemas para formar governo estável.
As
urnas mal haviam sido fechadas, e as primeiras projeções começam a pipocar,
quando Benjamin Netanyahu
anunciou pelo Facebook que o povo
decidira que ele permanecesse como primeiro ministro de Israel. “As eleições são
passado. E temos pela frente inúmeros desafios complexos”, escreveu ele, em
agradecimento aos eleitores.
O
comentário pelas mídias sociais foi visível esforço para dar ares de vitória ao
que, essencialmente, foi uma derrota. O “Rei Bibi”, como parte da imprensa o
chamava, perdeu sua aposta eleitoral. Agora, está em posição mais fraca para
compor alguma coalizão que governe o país.
Netanyahu
antecipou as eleições, contando com vitória fácil que cimentaria seu poder por
vários anos à frente, como ele próprio disse recentemente, em conversas privadas.
Em vez disso, está hoje de mãos atadas.
Avigdor Lieberman |
Padrões quebrados
Netanyahu
ligou seu partido ao ultranacionalista Yisrael Beiteinu [Israel nosso Lar], do
seu ex-ministro de Negócios Exteriores, Avigdor Lieberman, por sugestão de um
estrategista político norte-americano e intelectual “midiático”, Arthur
Finkelstein. A aliança estratégica recebeu muito menos votos que os esperados;
Netanyahu superestimou o seu potencial. Em 2009, a mesma aliança alcançou 42
assentos no Parlamento. Dessa vez, mal chegaram a 30, dos 120 assentos no
Knesset, o Parlamento israelense em Jerusalém.
Depois
dessa noite eleitoral, haverá menos diz-que-diz sobre a Finkelstein-ização da
política de Israel. Netanyahu está pagando o preço de ter feito uma campanha que
nem chegou a ser conduzida como tal. O candidato apenas serviu-se das eleições
como oportunidade para cobrir-se de autoadulação. O partido Likud e seu
companheiro de coalizão, Yisrael Beiteinu não apresentaram qualquer plataforma
política. Em vez disso, os dois partidos limitaram-se a cantar incansavelmente o
jingle segundo o qual “nossa força é nossa unidade”, como se a cantoria
bastasse para atrair todos os votos.
Os
eleitores, pelo que se viu, tinham outros planos. Derrubaram, nas urnas, as
certezas políticas de anos recentes, que muitos acreditavam inalteráveis. Por
exemplo, a certeza de que sempre haveria dois blocos políticos, com a direita
conservadora-religiosa que estava no governo, de um lado; e, de outro lado todos
os partidos de centro e de esquerda. “Essa padrão foi quebrado” – escreveu no
Haaretz, Ari Shavit, comentarista de política.
Yair Lapid |
Surpresa nas urnas
A
maior surpresa dessas eleições, previstas para não trazer surpresa alguma, é o
partido Yesh Atid (Há Futuro) liderado por Yair Lapid, firmemente enraizado no
centro do quadro político israelense. É caso de sucesso que deixou boquiabertos
os institutos de pesquisa. Lapid – conhecido ex-âncora de programas de
entrevistas na televisão e colunista, afamado e rico self-made man –
ganhou três vezes mais assentos no Parlamento do que as pesquisas haviam
projetado.
Os
cerca de 20 deputados com direito a voto que seu partido elegeu colocam-no,
hoje, como a segunda maior força política dentro do Knesset, apesar de jamais
antes ter conseguido eleger sequer um único deputado. O partido é hoje fator
determinante em todas as negociações para construir nova coalizão de governo.
Parece
que, afinal, alguém promete e faz as mudanças prometidas. Lapid visa a
representar, sobretudo, a classe média – e quer que a carga seja mais
uniformemente distribuída para toda a sociedade. “Não seremos parte de governo
que subsidie a vida dos ultraortodoxos e dispense-os do dever de alistar-se no
Exército” – disse Lapid. Esses ultraortodoxos, chamados “Haredim”, que quase
sempre tem famílias enormes, com muitos filhos, são, com raras exceções,
pesadamente subsidiados pelo Estado.
Shelly Yachimovich |
Tudo é possível
Lapid
impôs outras condições para que seu partido aceite participar da coalizão de
gverno. Está preparado, diz ele, para trabalhar ao lado de Netanyahu, mas
recusa-se a servir como folha de parreira “popular” para qualquer governo
religioso de ultradireita. Jamais mostrou qualquer simpatia pelos colonos
ultra-ortodoxos e religiosos nacionalistas.
Dentre
outras exigências, Lapid quer que Netanyahu também inclua outro partido do
espectro da centro-esquerda em qualquer coalizão de governo. Não será fácil,
porque a líder do Partido Trabalhista, Shelly Yachimovich, já rejeitou, de
início, a possibilidade. E será difícil para Netanyahu aceitar como sua parceira
de governo a ex-ministra de Negócios Exteriores, Tzipi Livni, do novo partido
Hatnuah (O Movimento). Lapid diz também que não aceitará fazer parte de governo
que se recuse a negociar com os palestinos.
Tzipi Livni |
Seja
como for, as condições impostas por Lapid não são a única dificuldade que
Netanyahu enfrentará para construir uma coalizão estável de governo. No momento,
a única coisa que Netanyahu obteve é a tarefa, difícil, de formar algum governo,
seja qual for.
Ainda
que se se mantenha unido aos seus chamados parceiros “naturais” no atual governo
– o ultraortodoxo partido Shas e os ultranacionalistas, pró colonos, partidos do
Lar Judeu – a aliança entre o Likud de Netanyahu e o partido de Libermann, que
teve ampla maioria até essas eleições, não terá votos necessários para governar
com maioria confortável.
Especialistas
em política israelense e eleições dizem que não se pode descartar, sequer, a
possibilidade de uma coalizão de governo de centro-esquerda e
ortodoxos.
Evidentemente,
a única coisa quase praticamente certa, nesse caso, é que Netanyahu estará
excluído desse governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.