Adriano Benayon* -
5.3.2013
01. O Estado
costuma ser regido pela classe dominante. Nos países ditos desenvolvidos, a
grande burguesia ganhou essa condição, graças a políticas de Estado voltadas
para o engrandecimento do poder nacional.
02. O poder do
Estado foi usado para fortalecer empresas estatais e privadas de capital
nacional, desenvolvendo tecnologias próprias. Os capitalistas já tinham no
Estado um instrumento para erguer seu próprio poder, embora ainda não tivessem
completa ascendência sobre aquele, nem sobre seus quadros civis e
militares.
03. Os grandes
bancos e empresas industriais foram formando um sistema de poder controlado por
poucos potentados, todos com “investimentos” em todas essas áreas, além de
estreitos vínculos interempresariais.
04. Concentrado
assim, o capital “privado” passou a predominar inquestionavelmente sobre as
autoridades do Estado, bem como sobre os tecnocratas e as forças
armadas.
05. Esse
processo foi acompanhado pela propagação da ideologia liberal e por instituições
de aparência democrática, tais como eleições periódicas, suposta divisão dos
poderes do Estado.
06. Tais formas
perderam todo conteúdo democrático que pudessem ter tido, através do controle
das eleições por meio das campanhas alimentadas por quantias somente accessíveis
aos concentradores de capital, também comandantes diretos ou indiretos dos meios
de comunicação.
07. Essa é
realidade política e econômica dos países centrais, a qual levou aos absurdos da
financeirização, culminando com o Estado a passar aos banqueiros dezenas de
trilhões de dólares das receitas tributárias e da emissão de moeda e de títulos,
além de suscitar a emissão também pelos bancos centrais e pelos próprios bancos
privados.
08. Assim, o
Estado endividou-se para favorecer grandes bancos, cujos controladores e
executivos já se haviam locupletado enormemente durante os anos da proliferação
dos ativos financeiros que criaram e que se revelaram, mais tarde, títulos
podres.
09. Notavelmente, exigem sacrifícios de trabalhadores,
aposentados e da grande massa dos produtores e consumidores.
Brasil
10. Os
concentradores mundiais, há séculos, projetam seu poder em numerosos países de
todos os continentes, dominando-os diretamente ou através de grupos locais. No
Brasil, desde há séculos, aliaram-se a proprietários de terra e/ou mineradores,
servindo-se deles para penetrar na sociedade local e obter elevados ganhos
comerciais e como banqueiros credores e concessionários de serviços públicos.
11. Isso se deu,
primeiro, através do comércio, tornando a burguesia local dependente da
exportação para ter acesso ao padrão de vida dos ricos das economias centrais.
12. No Brasil,
segmentos locais - burguesia industrial, estamentos militar e burocrático,
trabalhadores - aspiraram, na primeira metade do Século XX, a tornar o Estado
instrumento da autonomia nacional, livrando o País da condição de zona de
exploração, administrada em função dos interesses de empresas
estrangeiras.
13. Até 1930, o
Estado foi, em geral, governado por representantes da burguesia “compradora”:
grandes fazendeiros de café, produto cujas receitas de exportação eram, em
grande parte, absorvidas pelo serviço da dívida externa e cuja comercialização
era controlada por casas comerciais estrangeiras.
14. Ainda assim,
formou-se apreciável industrialização, graças à falta de divisas para importar e
à proteção involuntária, através da taxa de câmbio desvalorizada.
15. Apesar de
ter introduzido mudanças estruturais importantes, a Revolução de outubro de 1930
contemplou os interesses dos cafeicultores, determinando a queima de estoques de
café e emitiu moeda para pagar os produtores, com o que atenuou os efeitos
internos da brutal queda do preço e da quantidade exportada, desde o eclodir da
depressão nos EUA.
16. Isso, junto
com a falta de divisas para importar, fortaleceu a industrialização. Além disso,
foram aprovadas leis para colocar o subsolo sob a autoridade da União e
aparelhar o Estado, organizando carreiras no serviço público civil, através de
concursos e da formação de quadros e técnicos.
17. Ao mesmo
tempo, foram criadas instituições de pesquisa tecnológica, inclusive nas Forças
Armadas. Ademais, foi instituída a legislação trabalhista, e criados os
Institutos de Previdência, autarquias e estatais para fomentar produções
essenciais e estratégicas. Foi fundada a primeira siderúrgica integrada e a
Fábrica Nacional de Motores.
18. Não admira
que, terminada a Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas, tenha sido, em 1945,
defenestrado pelos interesses imperiais. Seguiu-se o interregno entreguista do
Marechal Dutra (1946-1950). Vargas, eleito em 1950, foi nova e definitivamente
derrubado por conspiração dirigida por serviços secretos estrangeiros, em agosto
de 1954, após difíceis avanços em seu projeto de construção
nacional.
19. Apesar de
estes terem ocorrido desde o início do Século XX, e se intensificado na Era
Vargas, não foram suficientes para tornar o País capaz de resistir à pressão
imperial. Daí em diante, o País voltou a sofrer o aumento das dependências
cultural, financeira e tecnológica.
20. Isso
aconteceu desde o governo militar-udenista (1954-1955) e prosseguiu com JK, que
abraçou a dependência tecnológica como política de governo, ampliando os
subsídios instituídos desde 1954 em favor das empresas
transnacionais.
21. Seguiu-se a
instabilidade, agravada pela ação das agências dos governos imperiais no quadro
da Guerra Fria, os quais investiram no anticomunismo para alinhar, ainda mais
que antes, as elites locais às potências anglo-americanas. O primeiro dos
governos militares, em 1964, entregou a economia a Roberto Campos , e este instituiu
políticas que destruíram grande parte das empresas de capital
nacional.
22. Os governos
militares seguintes, tal como JK, tentaram promover o desenvolvimento, sem
entender que este é incompatível com as dependências financeira e
tecnológica.
23. Assim, os
saldos negativos nas transações correntes ganharam vulto maior, devido às
transferências das multinacionais ao exterior e ao endividamento do Estado,
empenhado em investir na infra-estrutura e indústrias básicas, em apoio às
multinacionais, com projetos regidos pelo Banco Mundial e financiados por bancos
estrangeiros.
24. Daí a
explosão da dívida externa (segunda metade dos anos 70), a qual se tornou
poderoso instrumento adicional da subordinação do País.
25. Esgotaram-se
os recursos para a infra-estrutura, ficando tudo subordinado ao serviço da
dívida. Além disso, a entrada de investimentos diretos estrangeiros para
“equilibrar” o balanço de pagamentos redundou na desnacionalização quase
completa da economia, realimentando os déficits externos e o crescimento das
dívidas externa e interna.
28. O
investimento direto estrangeiro é o veículo da periferização por dentro, muito
mais profunda que a antiga, através só do comércio exterior.
Adriano Benayon* é doutor em economia e autor do livro Globalização
versus Desenvolvimento.
E os anos pós FHC, houve mudança significativa ?
ResponderExcluirPrezado Marcos
ExcluirÉ só ver a tabelinha na postagem: http://bit.ly/VzEP7N e diga você mesmo.
Abraço