15/3/2013, Esther Zuckerman, The Atlantic Wire
Traduzido e comentado pelo pessoal
da Vila Vudu
Resultado
do sarau político/midiático de hoje na Vila Vudu:
Aí está notícia interessante, por vários motivos.
Pra
começar, atenção:
a “Left” [esquerda] de que fala o título nada tem de “esquerda” como o resto do
mundo a conhece ou algum dia conheceu. Por isso traduzimos como aí se vê: “left”-EUA e, claro, há de
haver traduções melhores. É só sugerir à discussão.
Nos
EUA, se o cara não for um diabão da falange do Pastor Maldito e/ou da falange da
Blogueira Cubana Nefanda... ele já é apresentado como progressista. E se, dentre
os progressistas, ele não for um Obama acuado pelo Complexo Industrial-Militar e
rendido ao dinheiro dos sionistas norte-americanos, pronto: já é apresentado
como se fosse “Left” (podendo, num ou noutro caso ser apresentado – e logo
apagado do mundo que a grande imprensa-empresa conservadora inventa – como um
“radical”).
É
quase impossível traduzir essas designações genéricas, porque quando, nos EUA,
se diz liberal, fala-se exclusivamente de liberais progressistas (e o
conceito muitas vezes aproxima-se de uma quase-esquerda burguesa, democrática,
metida a “ética”; às vezes, até, aproxima-se de alguma esquerda revolucionária).
Quando
se diz libertarian nos EUA, fala-se dos malucos do Tea Party, ditos “libertários” porque
querem total liberdade pra fazer o que lhes dê nas telhas individualistas,
sempre resistindo contra o Estado. Tá cheio de libertarians, nos EUA, que
batalham a favor de cada cidadão ter seu canhão privado, em casa, pra poder
atirar no coletor de impostos que chegue à sua porta, e em qualquer preto que
lhe pareça ameaçador (para os libertarian à americana, todos os pretos
são ameaçadores).
Mas
a matéria abaixo é interessante também, porque aí se pode começar a ver, por
inferência, que NÃO HÁ no Brasil grande empresário, que:
(a) não
seja diabão privatista golpista da falange do Instituto Millenium
(b) tenha
qualquer interesse em investir dinheiro grosso em grandes empresas de
comunicação QUE CONCORRAM disputando audiência, no mercado, contra a Rede Globo,
a Abril, o Grupo Folha, o Grupo Estadão (o facinoroso Grupo GAFE).
Em
outras palavras: NÃO
HÁ, no Brasil, grandes empresários progressistas (mesmo que fossem conservadores
progressistas! Nem isso!) interessados em fazer falar e valer, no negócio das
comunicações de massa, o tal livre mercado que eles todos tanto dizem crer com
fé sólida e profunda, e que tanto querem ver operante, como solução para todos
os males.
O
negócio é mais ou menos o seguinte: O mercado tem de ser livre e operar
livremente em tooooodas as áreas... Exceto no setor das comunicações de massa,
que, pelo visto, parece aos nossos empresários progressistas muito bem
organizado como está: como propriedade feudal, de poucas famílias. E protegido,
além do mais, ainda, por legislação que, quando não é legislação da ditadura, é
escandalosa reserva de mercado para alguns remanescentes da aristocracia
paulista udenista mais retrógrada, no caso do Estadão; ou para grupos de
militantes fanatizados de organizações como a Opus Dei (isso, no Brasil-2012 é,
de fato, quase inacreditável. Mas parece ser a mais pura verdade), no caso da
Folha de S.Paulo.
Assim
se vê que há especificidades mais profundas, que pouco se estudam no Brasil, no
problema político (grave!) e comercial (ainda mais grave, porque muito menos
estudado!) em que está convertido o pseudo “jornalismo” que um punhado de
empresas mal administradas, atrasistas, oligopolistas, oligofrênicas, impingem,
sem qualquer concorrência, aos consumidores PAGANTES de informação, os quais, no
Brasil, são necessariamente também ELEITORES.
O
problema “jornalístico” no Brasil é maior e pior que – e é diferente de –
qualquer questão de simples livre, leve, solta, tão bela simples e franca
competição por mercados (como os conservadores e reacionários creem que seja e
ensinam que seria a concorrência comercial): as grandes empresas de comunicação,
no Brasil, não são “um item” de mercado, a ser negociado livremente como tal,
dentro de um bloco histórico, num dado contexto histórico, político e social.
No
Brasil, elas são, mais que a Academia, a Igreja e o próprio Estado (embora
operem, como sempre, articulados), a alma e a espinha dorsal do tal bloco
histórico. Por isso, elas mesmas – não algum mercado – controlam quem entra e
quem sai do negócio: não por regras de livre mercado, mas por regras de controle
fascista e de oligopólio.
Pode-se
chamar essa alma e espinha da reação conservadora brasileira mais atrasada, de
“UDN ou neo-UDN”. Ou talvez se possa chamá-la até de neo-Senhoras-de-Santana. O
que interessa é que são golpistas, no Brasil, desde, no mínimo, 1935. Empresas
comerciais e golpistas, metidas a “jornalísticas”, amparadas numa ideologia do
jornalismo que tudo justifica. Essa gente monopoliza, no Brasil, como máfia, o
negócio da comunicação de massa.
Hoje,
essa gente já perdeu TRÊS ELEIÇÕES CRUCIAIS PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – o
que jamais acontecera antes, em mais de 500 anos de história do Brasil que
aquelas empresas regeram como bem entenderam, a favor da ditadura, quando foi o
caso; e contra a democracia dos muitos, sempre.
E
nós, os muitos, que já os derrotamos nas urnas três vezes, e logo teremos
derrotado quatro vezes.
NÓS
já temos a presidência, NÓS temos 35 ministros, NÓS temos o Banco Central, NÓS
temos maioria na Câmara de Deputados, NÓS temos um governo Dilma considerado em
todo o planeta... mas ainda NÃO TEMOS UM JORNAL, UM CANAL DE TELEVISÃO QUE FALE
POR NÓS.
O
que há de interessante na matéria abaixo é que aí se vê que, nos EUA, já começa
a existir concorrência forte, na disputa pelos canais e veículos de comunicação
de massa, pelo menos, entre a direita sionista fascista e a direita não sionista
e um pouco menos fascista, quase-progressista. Parece pequena diferença, mas não
é. É diferença imensíssima e assunto para acompanhar.
Além
do mais, pode estar aí, nesse traço do antimercado em que as empresas
oligopolistas de comunicações reinam sozinhas no Brasil, a explicação para o
projeto em que o Ministro Paulo
Bernardo está trabalhando. Ele pode estar tentando organizar, pelo menos, um
mercado-mais-mercado. Pode-se não concordar. Pode-se entender que sabe(ría)mos
fazer diferente. Mas, por exemplo, o projeto em que trabalhou o
ministro-jornalista que o antecedeu, que investia muito no “jornalismo” que há
no Brasil, na correspondente teoria liberal burguesa fanada de jornalismo, que
por aqui reina, dominante, e nos jornalistas que aqui se formam... foi
muitíssimo mais fraco.
Pode-se
dizer MAIS, contra o projeto do ministro-jornalista, do que contra o projeto do
ministro Bernardo “do mercado”... já que, contra mercados, não se diz, mesmo,
coisa alguma.
(Aliás...
nem nós dizemos, nem a China diz.)
Mas
absolutamente NÃO SE PODE entrar na conversa velha, fraca, superada,
reacionária, segundo a qual o ministro Paulo Bernardo seria “entreguista” ou
“vendido ao grupo GAFE”. Ele talvez até seja. Ele parece ser homem “do mercado”;
e é do PT (desde 1985/1); e é ministro do governo Dilma. Claro: muito
provavelmente é homem “do mercado”, pelo menos no sentido de que não tem
discurso político consistente antimercado. Mas, isso, ora bolas, NENHUM PETISTA
tem e nem o PT jamais tiveram ou deram qualquer sinal de ter interesse em
construir.
Se
a China trabalha, com sucesso espantoso, para chegar ao socialismo
“atravessando” as estruturas do mercado... achamos excelente que o Ministro
Paulo Bernardo comece a trabalhar, pelo menos, para tentar rachar, por forças de
mercado, a dominação oligopolista que meia dúzia de empresas comerciais exercem
no negócio da comunicação de massa, no Brasil. Por que não?!
Em
todos os casos (e apesar do pouco que o próprio ministro e o próprio ministério
dizem com seriedade e consistência sobre o próprio projeto, dentre outros
motivos porque não tem imprensa... a ponto de ter de falar sobre seu projeto nas
páginas d’O Estado de S.Paulo!) esse projeto do ministro Paulo Bernardo
parece ser projeto MUITO menos delirante que a tal ideia de criar leis de
“democratização da comunicação”, as quais NUNCA, never, núncaras, nem em
mil anos, conseguirão tornar mais democráticos os discursos e a cabeça dos
jornalistas-empregados que a imprensa-empresa brasileira sempre encontrará, no
universo gigante – perfeito exército industrial de reserva – dos jornalistas
muito reacionários que continuam a sair, aos magotes, da universidade brasileira
e dos famigerados, facinorosos cursos de “cumunicação”, para as empresas da
“mídia”. (E, isso, quando não são cursos de “cumunicação & marketing”, a
pior coisa que a universidade brasileira jamais se atreveu a vender a
alunos-consumidores que, se não eram perfeitos imbecis fascistizados ao entrar,
com certeza já o serão, ao sair desses cursos.)
Querem
mercado? Pois lhes demos mercado à vera, uai. E, depois, a gente conversa outra
vez...
Só
a luta ensina.
__________________________________
Eis,
então, o artigo em referência
Esther Zuckerman |
No início desta semana
(10-16/3/2013)noticiamos que pode estar começando guerra comercial pelo controle
dos jornais do grupo Tribune Company,
especialmente o Los Angeles Times e o Chicago Tribune, entre os
irmãos Koch
[1]
e Rupert Murdoch [2]. Mas agora o
Hollywood Repórter noticia que outro concorrente de peso entra na disputa
e, dessa vez, do outro lado do muro, também interessado em entrar no jogo dos
jornais.
Paul
Bond, de THR, noticia que o bilionário Eli Broad, conhecido mecenas e
animador de instituições culturais em Los Angeles, uniu-se a Austin Beutner,
financista e ex-vice-prefeito da cidade, para apresentar uma proposta para
comprar o Times e, possivelmente, outros jornais do Grupo Tribune Company – ou todos.
Broad
e Beutner, no campo oposto em que jogam os irmãos Koch e Murdoch, são conhecidos
grandes doadores de campanha e apoiadores do Partido Democrata. (...)
Bond
informa que Broad já tentara um primeiro movimento para comprar a Tribune Company com Ron Burkle em 2007.
Mas, então, Sam Zell levou a dianteira.
A possibilidade de Broad entrar na
corrida para comprar o Times começou a ser noticiada em maio passado,
quando começou a circular o que escrevera sobre o destino do grupo Tribune Company em seu livro The
Art of Being Unreasonable: Lessons in Unconventional
Thinking [A arte de não ser razoável. Lições sobre pensamento não
convencional]. Para Broad, assumir o controle do Times faria aumentar sua
já considerável influência em Los Angeles.
Não
é simples. Os irmãos Koch e Murdoch já manifestaram interesse em comprar o
jornal; Broad talvez não consiga. Mas a luta pela propriedade dos jornais do
grupo Tribune será luta emocionante.
Notas
dos tradutores
Irmãos Koch |
[1]
Postagens sobre os
Irmãos Koch (em português):
- 3/9/2010: redecastorphoto, The New Yorker, Jane Mayer em “Os irmãos bilionários que comandam a guerra contra Obama”
- 13/12/2011, redecastorphoto, The Nation, John Nichols em: “Irmãos Koch e ALEC: assalto selvagem contra a democracia”
Rupert Murdoch |
[2] Postagens sobre Rupert Murdoch e
suas imprensa-empresas (em português):
- 10/7/2011, redecastorphoto, Istoé – Dinheiro, em: “Em 2004, Murdoch comprou parte da Globo, na bacia das almas...”
- 17/7/2011, redecastorphoto, Direto da Redação, Eliakim Araujo em: “O submundo do jornalismo”
- 21/7/2011, redecastorphoto, Gordon Duff em: “Murdoch/Israel: Do que ninguém fala”
- 21/7/2011, redecastorphoto, Financial Times, Conrad Black em:
“Murdoch,
como Napoleão, é um grande homem mau”
- 27/7/2011, redecastorphoto, The Independent, Oliver Wright em:
“Murdoch
falava MUITO MAIS com seus editores, do que diz”
- 28/4/2012, redecastorphoto em: “Caso
Murdoch: Inquérito Levenson-2012, na Grã-Bretanha”
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