12/4/2013, Shir Hever, The Real News Network -
TRNN(vídeo)
Traduzida da transcrição pelo
pessoal da Vila
Vudu
Shir Hever é
Pesquisador de Economia e estuda os aspectos econômicos da ocupação israelense
dos territórios palestinos (TPOs). Tem inúmeros relatórios e estudos publicados
sobre o tema especialmente para o Centro de Informação Alternativa, uma
organização palestino-israelense ativa em Jerusalém e
Beit-Sahour. Elabora a sua tese de
doutoramento (PhD.) sobre a privatização da segurança em Israel. Seu primeiro
livro é: Political Economy of Israel’s
Occupation: Repression Beyond Exploitation [Economia Política de Ocupação de
Israel: Repressão Além Da Exploração].
SHIR
HEVER,
economista do Alternative Information
Center: Dia 8/4/2013, morreu Margaret Thatcher, de infarto, aos 87 anos.
Thatcher
foi a primeira mulher Primeira-Ministra da Grã-Bretanha – cargo que ocupou de
1979 a
1990. Foi chamada de “A Dama de Ferro” e recebeu o título de baronesa. A palavra
“tatcherismo” foi cunhada a partir de seu nome é designa um tipo de política
pública que nasceu com ela, mas não morreu com ela.
Margaret
Thatcher foi eleita líder do Partido Conservador da Grã-Bretanha em 1975; sempre
foi política de extrema direita e com essa política venceu as eleições de 1979 e
manteve-se por 11 anos como Primeira-Ministra.
A ascensão de Thatcher ao poder
marcou mudança histórica que se viu acontecer em outras partes do mundo, por
exemplo, no governo de Ronald Reagan nos EUA. [1] Marcou
um esforço declarado para reverter os benefícios oferecidos pelo Estado de
Bem-Estar, sob o argumento que o estado de bem-estar desestimula as pessoas para
o trabalho duro como meio para melhorar de vida. Foi período de intensa
repressão aos sindicatos, sob o argumento de que seria preciso “flexibilizar” o
mercado de trabalho e privatizar o patrimônio do estado, na crença de que as
empresas privadas seriam mais eficientes que o Estado, para administrar o
patrimônio social [“flexibilizar” foi o
mote incansável, também, dos governos de FHC no Brasil (NTs)].
Thatcher
fez aprovar leis para limitar a ação dos sindicatos (leis de 1980, 1982, 1984,
1988, 1989 e 1990). Essa legislação enfraqueceu o poder de barganha dos
sindicatos, e o desemprego aumentou durante seu governo (mais de meio milhão de
novos desempregados). O desemprego aumentou sobretudo na Irlanda do Norte e em
áreas industriais da Inglaterra e da Escócia.
Thatcher
fez avançar a privatização em larga escala, política que ela trabalhou para
apresentar como recomendável, avançada e legítima em todo o mundo. Privatizou a
British Aerospace e de Cable & Wireless, a Jaguar, a British Telecom, a Britoil e a British Gas. Depois de 1987, privatizou
a British Steel, a British Petroleum, a Rolls Royce, a British Airways e empresas de água e
eletricidade. A privatização desenfreada trouxe dinheiro rápido, por pouco
tempo, para o Tesouro Britânico, mas, no longo prazo, tudo que essas empresas
geraram de lucro ao longo dos anos foi diretamente para o bolso de proprietários
privados.
Essas
políticas tiveram consequências duras e imediatas para a economia britânica. Os
níveis de renda dos 10% mais ricos aumentaram rapidamente, enquanto a renda
média do restante da população permaneceram estagnados.
Durante
o governo de Thatcher, a desigualdade cresceu rapidamente. O número de crianças
vivendo em condições de pobreza extrema mais que duplicou.
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MARGARET
THATCHER, primeira-ministra britânica: Se vocês comprimem os incentivos, de cima
para baixo, não importa quanto cada um ganhe, e dizem “eu fico com a parte do
leão só para mim e vocês não põem a mão nela ... Eles dizem “OK, então não
ficarei com a parte do leão”. E param de criar a riqueza extra que os beneficia
e beneficia toda a sociedade.
~~~
HEVER: Essas
políticas, que se tornaram conhecidas como “tatcherismo”, baseiam-se na
ideologia neoliberal. Quando Thatcher disse “não existe essa tal de sociedade”, ela manifestava o extremo
individualismo promovido pela escola econômica neoliberal.
Essa
ideologia cultiva a liberdade, e vê a liberdade econômica (e o direito à
propriedade privada) como um dos mais básicos direitos humanos [no Brasil, é a ideologia cultivada e
propagandeada pelo Instituto Milênio (NTs)].
Mas
apesar da aparente moralidade do neoliberalismo, as políticas de Thatcher eram
extremamente conservadoras. Enquanto fazia cortes nos serviços públicos
garantidos pelo Estado de Bem-Estar, ela aumentava os gastos militares para
armar o exército britânico ainda para a Guerra Fria.
Mas
aquelas armas não foram usadas contra a União Soviética: o inimigo da hora foi a
Argentina. Quando, em 1982,
a Argentina invadiu as Ilhas Falkland [Malvinas] e South Georgia, que a Grã-Bretanha
considerava território britânico “dependente”, a Grã-Bretanha retomou o controle
dessas ilhas mediante ação militar. Morreram centenas de soldados (a maioria dos
quais, argentinos), e a Argentina rendeu-se depois de 74 dias de guerra.
A
vitória militar rendeu a Thatcher o codinome de “Dama de Ferro” e fez inflar sua
popularidade, bem quando os protestos contra suas políticas econômicas atingiam
o pico, o que a levou a vencer as eleições de 1983, e continuar com aquelas
políticas.
Thatcher
opôs-se às sanções contra a África do Sul durante o apartheid. Referia-se ao
Congresso Nacional Africano, de Mandela, como “típica organização terrorista”.
Falava da África do Sul como “aquela terra de amalucados”, sugerindo que Nelson
Mandela jamais conseguiria governar o país.
Sempre
apoiou Israel e foi o primeiro Primeiro-Ministro britânico a visitar Israel, em
1986.
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THATCHER: Claro que quando o presidente da Comissão,
Mr. Delors, disse numa conferência de imprensa, dia desses, que quer que o
parlamento europeu seja o corpo democrático da comunidade, queria que a Comissão
fosse executiva e queria que o Conselho de Ministros fosse o senado. Não, não e
não!
Ou
talvez os Trabalhistas concederiam tudo isso, facilmente. Talvez aceitassem uma
moeda única, a total abolição da libra esterlina. Talvez, totalmente
incompetentes como são em temas monetários, adorariam entregar toda a
responsabilidade, como fizeram ao FMI, a um banco central.
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HEVER: O
legado de Margaret Thatcher portanto, não são só as políticas econômicas de
extrema direita, em nome do individualismo. Ela foi também um dos agentes que
forjaram a aliança entre o neoliberalismo e o neoconservadorismo, com ênfase na
segurança, em valores conservadores e domínio pela força das armas, com sistema
econômico que se declara livre, mas contribuiu para aumentar as desigualdades
sociais.
Thatcher
morreu essa semana, mas a aliança entre neoliberais e neoconservadores que ela
ajudou a forjar permanece forte até hoje, não só no Reino Unido, mas em todo o
mundo capitalista.
Nota dos
tradutores
[1] No Brasil, são os anos da
ascensão de FHC, que teve início difícil: de 1978 (quando se candidata ao Senado
e é derrotado por Franco Montoro; só chegaria ao Senado em 1983; em 1985 é
derrotado por Jânio Quadros, em eleição para a prefeitura de São Paulo; em 1993,
passa de ministro das Relações Exteriores no governo do presidente Itamar
Franco, para ministro da Fazenda) até 1994, quando afinal é eleito presidente
pela primeira vez, antes da “reeleição” comprada de 1998. Ver em: PSDB Nunca
Mais.
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