13/5/2014, [*] Pepe Escobar, Asia Times Online − The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Assim
sendo, eis a mensagem-chave dos referendos: REJEITAMOS a junta neoliberal neofascista de Kiev-OTAN. É “governo”
ilegal, de putschistas. NÃO SOMOS SEPARATISTAS PRÓ-RÚSSIA. Não queremos nos
separar da Ucrânia. Queremos uma Ucrânia federalizada, unificada e
civilizada, com províncias autônomas.
E a suástica adentra ao Parlamento do Banderastão! |
Tudo o que há
para ver em matéria de mediocridade, nas elites políticas medíocres que supostamente
representariam os “valores” da civilização ocidental, apareceu bem claro, à
vista de todos, na reação daquelas elites aos referendos em Donetsk e Lugansk.
Os referendos
podem ter sido coisa de última hora; podem ter sido organizados na correria;
aconteceram no meio de uma guerra civil de facto; e, além do mais, foram
realizados sob fogo – fogo, aliás, fartamente fornecido pela junta neofascista
neoliberal da OTAN, a qual conseguiu inclusive assassinar alguns votantes em
Mariupol. Processo imperfeito? Sim. Mas absolutamente perfeito em termos do que
mostrou de um movimento de massas a favor do autogoverno e da independência
política em relação a Kiev.
Jen Psaki - Porta-voz Depto de Estado |
Foi
democracia direta em ação; não surpreende que o Departamento de Estado dos EUA
tenha odiado tudo; e que tenha decidido vingar-se (QUE VERGONHA! Shame on you, US!).
O
comparecimento foi gigante. A vitória do voto pela independência, indiscutível.
Transparência, também, total: votação à vista de todos, em urnas de vidro, com
monitores para acompanhar cada passo do processo, jornalistas ocidentais dos
principais veículos alemães, mas também da Kyodo News Agency ou do Washington
Post.
O que teria
de vir depois que a República Popular de Donetsk se autoproclamou estado
soberano e pediu que Moscou considere a integração do país à Federação Russa,
não é a secessão, nem guerra civil generalizada, mas uma negociação.
Ficou
perfeitamente claro, a partir da reação
ponderada, equilibrada, do Kremlin:
Moscou respeita o desejo do povo de Donetsk e
Lugansk e espera que a realização prática da decisão alcançada nos referendos
seja feita de maneira civilizada.
O tom de
cautela refletiu-se também no pedido, que o Kremlin encaminhou, para que a
Organização de Segurança e Cooperação da Europa (OSCE), ajude a construir a
negociação.
Oleksandr Turchynov |
Pois mais uma
vez, há prova concreta de que a junta neoliberal neofascista da OTAN não quer
negociar coisa alguma. Palhaço, rei da farsa, o presidente “interino” Oleksandr
Turchynov rotulou que o exercício da
democracia direta teria sido aquela “farsa que os terroristas chamam de
referendo”. E Washington e Bruxelas decidiram que os referendos teriam sido
“ilegais”.
E tudo isso
depois do massacre de Odessa; depois do surgimento de paramilitares neonazistas
travestidos como soldados de uma “Guarda Nacional” (que os sabujos da
imprensa-empresa norte-americana chamam de “nacionalistas ucranianos”); dúzias
de agentes da CIA e do FBI agindo em território estrangeiro; mais
de 300 dos inevitáveis mercenários da empresa Academi – ex-Blackwater. E o que
mais esperar, se o atual secretário de Segurança Nacional ucraniano é o
neonazista Andriy Parubiy, ex-comandante das “forças de defesa” de Maidan, e
chefe de torcida de Stepan Bandera, colaborador dos nazistas na IIª Guerra
Mundial?!
Ex-Ucrânia com o Banderastão (em vermelho) |
O Banderastão
– com seu remix dos esquadrões da morte à moda América Central dos anos
1980s – não reconhece referendos: prefere queimar vivos os “insetos” russos
étnicos que se atrevam a ocupar prédios.
Assim sendo,
eis a mensagem-chave dos referendos: REJEITAMOS a junta neoliberal neofascista
de Kiev-OTAN. É ‘governo’ ilegal, de putschistas. NÃO SOMOS SEPARATISTAS
PRÓ-RÚSSIA. Não queremos nos separar da Ucrânia. Queremos uma Ucrânia
federalizada, unificada e civilizada, com províncias autônomas.
“Dever/Responsabilidade
de Proteger”, R2P? Alguém se interessa?
O Império do
Caos deseja – e o que mais desejaria? – caos e mais caos. Agora, o Império do
Caos está apoiando descaradamente o “emprego do exército contra o próprio
povo”; foi frase e ação absolutamente verboten – castigáveis com bombas
da OTAN, ou ataques de jihadistas armados pela OTAN – na Líbia e na
Síria. Mas agora, na Ucrânia, é perfeitamente normal.
Samantha Power |
Na Líbia e na
Síria – tentaram três vezes na ONU – seria pretexto perfeito para R2P [Responsabilidade/dever
de Proteger]. Mas na Ucrânia, agora, os “terroristas” – até a terminologia é a
mesma dos idos de Dábliu-Bush – são a própria população; e os “mocinhos” são
milicianos neonazistas de Kiev armados com correntes e metralhadoras.
A embaixadora
dos EUA à ONU e chefe da torcida pró “R2P”, Samantha Power ultrapassou todos os
níveis prévios de loucura-desatino, quando declarou que:
(...) o massacre de civis pela junta neonazista da
OTAN teria sido “razoável” e “proporcional”, acrescentando que “qualquer dos
nossos países” teria feito o mesmo, ante tal nível de ameaça.
Berlin, por
sua vez, tenta seguir a via diplomática, embora haja clara divisão entre os
Atlanticistas linha dura e os capitães de indústria alemães – que já perceberam
que Washington não terá meias medidas, e está decidida a destruir a sinergia
econômica russo-alemã. O Império do Caos visa a erguer um muro entre aquelas
duas metades, que se manifestaria, na prática, numa “invasão” russa. É verdade
que Moscou poderia facilmente dar uma “de Samantha” e invocar o
Dever/Responsabilidade de Proteger russos e russófonos na Ucrânia. Mas Putin é
mestre de xadrez e absolutamente não cometerá a estupidez de inventar um novo
Afeganistão bem ali, em suas fronteiras do oeste.
Quanto a
Berlin, só a economia interessa. A Alemanha crescerá, no máximo, 1,9% em 2014.
Com 6.200 empresas alemãs na Rússia e mais de 300 mil empregos alemães
dependendo do comércio recíproco, as sanções à moda dos EUA são muito
contraproducentes, embora a russofobia e a histeria da Guerra Fria 2.0 continue
rampante, em certo sentido.
Vladimir Putin escrevendo... |
Paris, por
exemplo, já entendeu o recado. O contrato de US$1,66 bilhão, para vender dois
porta-helicópteros classe Mistral à Rússia prosseguirá vigente, depois que
diplomatas franceses admitiram que o cancelamento – em termos de penalidades e
postos de trabalho cancelados – feriria muito mais gravemente a França, que a
Rússia.
Há cerca de
um mês, dia 10/4/2014, Putin
escreveu carta crucialmente importante a 18 chefes de estado (cinco deles
fora da União Europeia), cujos países importam gás russo através da Ucrânia.
Foi mais do que claríssimo: Moscou não pode continuar a financiar sozinha toda
a economia ucraniana, já praticamente em bancarrota. Entre descontos e mais
descontos, e perdoando multas e mais multas, desde 2009 Moscou subsidia Kiev,
uma conta que já alcança espantosíssimos US$35,4 bilhões. Os europeus, Putin
escreveu, também têm de pôr dinheiro sobre a mesa.
José Manuel Barroso |
Aquela
espetacular, invencível nulidade & presidente da Comissão Europeia, Jose
Manuel Barroso, embora concorde que algum diálogo seria necessário, respondeu
que a nova “regra” que a Gazprom estaria “implantando”, de só liberar gás para
ser bombeado pela Ucrânia se o pedido for pago antecipadamente, era “preocupante”.
Como se qualquer grande empresa europeia de energia estivesse disposta a
perdoar credores que não paguem as contas!
Uma Ucrânia
neutra, finlandizada, poria fim, com
sentido positivo, à atual confusão. É questão, só, de esperar que a junta
neofascista neoliberal da OTAN acabe de fracassar, e que vá prô inferno.
[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista,
brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em
inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online;
é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information
Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/
articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison
e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português
pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan: How the
Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of
Baghdad During the Surge,
Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
Ótimo texto Pepe continue a nos brindar com as veracidades dos fatos e analises certeiras. Tenho uma grande convicção que estes fatos estão a se desenrolar para também enfraquecer a UE por causa do EURO e o BRICS, pois com a Rússia isolada seria fácil para os EUA desmontar esse bloco e empurrar a ALCA goela abaixo de nós, e não perderia para mais um mercado comum com sua própria moeda, enfraquecendo cada vez mais o dólar, como na UE.
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