7/6/2014, [*] John Catalinotto,
Workers World
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Parlamento europeu - Eleições 2014 |
As eleições
para o Parlamento da União Europeia realizadas dia 25/5 refletiram a crescente
rejeição, pelas massas, contra os partidos de centro que comandaram a maioria
dos governos na Europa Ocidental e a própria União Europeia – sobretudo contra
o modo como a União Europeia enfrentou a grave crise capitalista em 2008 e daí
em diante, com a crise continuada, até hoje. No continente europeu, só 43% dos
eleitores habilitados compareceram para votar.
Desde 1945,
os partidos de centro-direita ou conservadores e a social-democracia ou
partidos ditos socialistas de centro-esquerda vinham-se alternando na
administração dos governos ocidentais imperialistas. A partir de 2008, partidos
de centro-esquerda e de centro-direita passaram a colaborar para impor austeridade
à classe trabalhadora na Europa.
A classe
governante europeia – especialmente os grandes financistas capitalistas –
impuseram programas impopulares de austeridade contra países individualmente
endividados, para garantir que as dívidas fossem pagas aos bancos credores.
Para fazer isso usaram instituições financeiras da burocracia da União
Europeia, chamadas “a Troika”
— a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central
Europeu.
Essencialmente,
a União Europeia é o instrumento da classe governante europeia para tomar mais
e mais do que os trabalhadores produzem e transferi-lo para os ricos. Reduziu
salários dos trabalhadores, pensões e benefícios para os desempregados, e
cortou no campo do atendimento gratuito à saúde e à educação.
Combinada
com a ausência em muitos países europeus, de uma alternativa eleitoral crível e
efetiva pela esquerda, a repulsa popular contra os partidos de centro e contra
a União Europeia levou a eleger, em muitos países, partidos nacionalistas de
ultra-direita que são publicamente contrários à União Europeia e que, de
rotina, apresentam programas anti-imigração e anti-imigrantes, xenófobos e, não
raro, também racistas.
Partidos de extrema direita na Europa |
Os ganhos da
direita foram especialmente grandes em duas das principais potências imperialistas
– Grã-Bretanha e França – e na Holanda e Dinamarca.
É claro que
a classe trabalhadora e suas organizações têm de combater contra esses partidos
direitistas e, claro, sobretudo, contra esses partidos racistas, nas ruas, como
nas eleições. Mas nem por isso é o caso de se superestimar a ameaça que esses
partidos direitistas ou neofascistas representariam, ou o risco de estarem à vista,
hoje, por toda a Europa.
O Parlamento
Europeu não passa de sala de visitas, para conversas: não é um poder executivo.
A União Europeia não administra sequer qualquer aparelho de Estado ou algum
exército seu, como faz Washington. Todo o poder da União Europeia está
concentrado nas suas instituições burocráticas – como a Troika – não no Parlamento.
Nos países
mais duramente atingidos, os partidos progressistas avançaram
A votação
teve resultados diferentes em diferentes países. Considerem-se os países
europeus sobre os quais a crise capitalista caiu com mais força. Para usar um
indicador de crise: as taxas de desemprego foram maiores que 25% na Espanha e
na Grécia; que 18% em Portugal, e que 14% na Irlanda. A Troika e as classes governantes locais impuseram
cortes horrendos em todos esses países, para garantir que os grandes bancos
recebessem o que os esses países lhes deviam.
Em todos
esses países, o resultado das eleições para o Parlamento Europeu mostrou maior
número de deputados europeus eleitos com programa mais progressista ou mais
favorável à classe trabalhadora. Só na Grécia um partido de extrema direita
elegeu mais deputados.
Na Espanha,
os resultados impuseram pesada derrota tanto aos socialistas do PSOE como aos
direitista do Partido Popular, o que sinaliza mudança a caminho. Um novo
partido do movimento dos “Indignados” obteve 8% dos votos; e a Esquerda Unida
também avançou.
Mas mais
importante que o resultado eleitoral na Espanha foram os eventos de depois das
eleições. Pessoas que protestavam contra a invasão policial, num prédio de
apartamentos ocupados por grupos de sem-tetos, combateram durante quatro dias
contra a polícia local em Barcelona.
Dia 2/6/2014,
o rei espanhol, símbolo extremamente impopular da continuidade do regime
fascista de Franco, abdicou. Imediatamente, organizações da classe trabalhadora
espanhola convocaram manifestações para exigir um referendo sobre a Espanha
deixar de ser monarquia e converter-se em república.
Em Portugal
os comunistas, e na Irlanda o partido Sinn Fein, avançaram nas eleições para o
Parlamento Europeu, ganhando votos entre os jovens. E partidos direitistas
perderam espaço.
Na Grécia, o
Partido Comunista teve 6% dos votos, e o partido Syriza da nova esquerda
social-democrata apareceu em 1º lugar, com 26% dos votos. O partido Syriza ganhou quase todos os votos perdidos
pelos social-democratas tradicionais, comprometidos pelo apoio que deram à
austeridade. O partido fascista Aurora Dourada [orig. Golden Dawn] avançou, chegando a 11%
dos votos.
Berlusconi "dançou"... |
Na Itália, o
partido direitista de Silvio Berlusconi perdeu pesadamente, e um voto de
protesto, equivalente a cerca de 20% dos eleitores, foi para o Movimento
5 Estrelas, grupo antiausteridade liderado pelo comediante Beppe Grillo, astro
de televisão. Na Itália o Partido Democrático, de centro-esquerda, que governa
a Itália, recebeu a maioria dos votos para o Parlamento Europeu.
Na Alemanha,
cuja classe governante domina a Europa, os partidos tradicionais mantiveram
seus papéis de domínio. Nenhum partido, nem de esquerda nem de direita,
apareceu significativamente nas urnas. O desemprego ainda é razoavelmente baixo
na Alemanha – embora os salários tenham perdido poder de compra e os benefícios
sociais tenham sido reduzidos, ao longo dos últimos 20 anos.
Na
Grã-Bretanha, os partidos Trabalhista e Conservador perderam votos; a maioria
dos eleitores encaminharam-se na direção de um voto de protesto, a favor do
Partido Independente do Reino Unido [ing. Independence
Party (UKIP)], de programa indefinido em vários campos, mas claramente
anti-União Europeia. Esse partido – que é diferente do declaradamente racista British National Party — apareceu em primeiro lugar, com 27,5% dos
votos para o Parlamento Europeu – sem ter jamais conquistado sequer um assento
no Parlamento Britânico!
O pior
resultado foi na França, onde o partido Front Nacional, racista, apareceu em 1º
lugar nas eleições para o Parlamento Europeu, com 25% dos votos. Nenhum partido
da esquerda francesa ganhou assento ao Parlamento Europeu. O Partido Socialista
de Hollande, tão intimamente identificado com a austeridade e que traiu todo e
qualquer vestígio de solidariedade que tivesse com a classe trabalhadora, foi
detonado.
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[*] John Catalinotto
nasceu em New York, USA, onde leciona matemática na City University. Foi organizador
social do sindicato antiguerra e antirracista American Servicemen's Union
durante a guerra dos EUA no Vietnã. Desde 1982 é diretor-gerente do semanário Workers World, um dos principais organizadores para
o International Action Center do Tribunal
sobre Iugoslavia (junho de 2000) e do Tribunal sobre Iraq (agosto de 2004). É
colaborador de Avante, odiario.info (Portugal) e de Terra e Tempo (Galicia). É editor de dois livros: Metal of Dishonor sobre urânio baixo-enriquecido (1997) e Hidden
Agenda: the U.S.-NATO Takeover of Yugoslávia (2002). É membro de Tlaxcala.
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