25 de junho de 2010
Na semana passada, a China anunciou uma mudança em sua política cambial, um movimento claramente destinado a evitar a pressão dos Estados Unidos e de outros países na reunião de cúpula do G-20 deste final de semana. Infelizmente, a nova política não ataca o verdadeiro problema, que é o fato de a China estar promovendo suas exportações às custas do resto do mundo.
De fato, longe de representar um passo na direção certa, o anúncio chinês foi um exercício de má fé – uma tentativa de tirar vantagem da moderação dos Estados Unidos. Para manter a temperatura retórica baixa, a administração Obama usou a linguagem diplomática em seus esforços para convencer o governo chinês a parar com o seu mau comportamento. Agora, os chineses responderam se apropriando da forma da linguagem americana para evitar lidar com a essência das queixas americanas. Em resumo, eles estão enganando.
Para entender o que está acontecendo, precisamos voltar ao básico da situação.
A política cambial da China não é complicada nem inédita, exceto por sua própria escala. É um exemplo clássico de um governo que mantém o valor de seu dinheiro em moeda estrangeira artificialmente baixo ao vender sua própria moeda e comprar moeda estrangeira. Essa política é especialmente eficaz no caso da China porque há restrições legais para o movimento de recursos tanto dentro quanto fora do país, o que permite ao governo intervir para dominar o mercado cambial.
E a prova de que a China está realmente mantendo o valor de sua moeda, o yuan (renminbi), artificialmente baixo é precisamente o fato de o banco central estar acumulando grande quantidade de dólares, euros e outros ativos estrangeiros – o equivalente a US$ 2 trilhões até agora. Houve todos os tipos de cálculos com a intenção de mostrar que o yuan não está realmente subvalorizado, ou pelo menos não tanto. Mas, se o yuan não está excessivamente desvalorizado, por que a China precisou comprar
O efeito dessa desvalorização de moeda é duplo: torna os produtos chineses artificialmente baratos para os estrangeiros, enquanto torna os produtos estrangeiros artificialmente caros para os chineses. Ou seja, é como se a China estivesse ao mesmo tempo subsidiando suas exportações e aplicando uma tarifa protecionista às suas importações.
Essa política é muito prejudicial em um momento em que grande parte da economia mundial continua profundamente deprimida. Em tempos normais, você poderia argumentar que as compras de títulos dos Estados Unidos pela China, apesar de distorcerem o comércio, pelo menos nos proporcionaram crédito barato – e você poderia argumentar que não foi culpa da China o fato de termos usado esse crédito para inflar uma enorme e destrutiva bolha imobiliária. Mas agora estamos nadando em crédito barato; o que está faltando é demanda suficiente por bens e serviços para gerar os empregos de que precisamos. E a China, ao conduzir um superávit comercial artificial, está agravando o problema.
A propósito, isso não significa que a China ganhe com essa política cambial. O yuan desvalorizado é bom para as empresas exportadoras politicamente influentes. Mas essas empresas acumulam dinheiro em vez de repassar os benefícios aos trabalhadores, daí a recente onda de greves. Enquanto isso, o yuan fraco cria pressões inflacionárias e desvia uma enorme fração da renda nacional da China para a aquisição de ativos estrangeiros com uma taxa de retorno muito baixa.
Então, onde a política anunciada na semana passada se encaixa em tudo isso?
Bem, a China permitiu que o yuan subisse – mais muito pouco. Desde quinta-feira, a moeda esteve apenas em torno de 0,5% mais alta do que o seu nível típico antes do anúncio. E todas as indicações são de que assistir ao movimento futuro do yuan será como ficar tediosamente “vendo a tinta secar”: as autoridades chinesas ainda fazem declarações negando que uma apreciação de sua moeda de nada servirá para reduzir o desequilíbrio comercial, e os preços no mercado futuro, no qual os negociadores concordam em trocar moedas em datas futuras, sugerem uma alta de apenas em torno de 2% no yuan até o final do ano. É basicamente uma piada.
O que os chineses fizeram, alegam eles, para aumentar a “flexibilidade” de sua taxa de câmbio: o yuan está flutuando mais de um dia para o outro do que no passado, algumas vezes para cima, outras para baixo. Claro, os responsáveis pela política chinesa sabem perfeitamente que, embora as autoridades americanas tenham de fato exigido mais flexibilidade no câmbio, isso foi apenas um eufemismo diplomático para o que os Estados Unidos – e o mundo – querem (e têm o direito de exigir): um yuan muito mais forte.
Ter a moeda oscilando levemente para cima ou para baixo não faz diferença na essência.