Publicada em:02/06/2010 Circula na internet um excelente artigo de Leonardo Boff, no qual ele trata o comportamento da imprensa brasileira na cobertura da política externa do governo Lula sob a ótica da Fenomenologia do Espírito, de Hegel, que analisa a dialética do senhor e do servo. “O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo.” (*) Boff identifica este comportamento na imprensa brasileira, que já se revela há muito tempo, mas ficou ainda mais explícito na mediação conduzida por Lula e pelo primeiro-ministro da Turquia da crise nuclear iraniana. O sucesso da missão de Lula, reconhecido na maior parte do mundo, foi negado pela imprensa brasileira, que tentou desqualificá-la com argumentos dignos dos mais raivosos falcões norte-americanos. Para Boff, as opiniões da imprensa brasileira e da maioria de seus colunistas revelam que essas pessoas “têm saudades deste senhor imperial internalizado” e “não admitem que o Brasil ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante”. “Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.” Afinal, onde já se viu um presidente brasileiro não se levantar para o presidente norte-americano, como fez Lula em 2003, durante a reunião do G8, em Evian, na França. Questionado sobre a atitude, já que os demais presentes se levantaram, Lula respondeu singelamente: “Ninguém se levantou quando eu entrei.” Os nossos colunistas não dispensaram tantas linhas de condenação quanto escrevem agora quando o chanceler brasileiro no governo de Fernando Henrique Cardoso tirou os sapatos para entrar nos Estados Unidos. A atitude de total subserviência já está assimilada no complexo de vira-latas, que perdemos no futebol ao vencermos a Copa de 1958, mas que se mantém na imprensa brasileira em termos de política externa. O assunto parece não ter fim e foi retomado pelo jornalista Elio Gaspari na coluna que escreve para os jornais O Globo e Folha de S.Paulo. O jornalista classifica a diplomacia de Lula de “amoral”, pelo “beneplácito” que tem com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e justifica a atitude semelhante do governo turco com o argumento pequeno de ser um país vizinho ao Irã, enquanto Brasília está a 11 mil quilômetros de distância. Mais uma vez a síndrome de vira-latas se revela. Ao Brasil, cabe cuidar do seu mundinho, quiçá dos seus vizinhos sul-americanos. Por que se meter em questões tão distantes, já que somos um país de terceira? É a lógica do senhor totalmente arraigada e se manifestando sempre que se tenta sair dela. A cura de síndromes exige tratamentos psicológicos e grandes vitórias. Para superar o medo de passar em túneis é preciso cruzá-los em algum momento para ver que não oferecem perigo. A imprensa brasileira ainda não se livrou do complexo subalterno que o país teve na arena internacional durante grande parte de sua história. Se comporta como alguém psicologicamente abalado que se recusa a enxergar o que está a sua frente. |
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