sexta-feira, 23 de julho de 2010

Crises


Giovanni Zibordi é um trader, comentarista econômico-financeiro e dono de Cobraf.com.
Nestes dias encontra-se nos Estados Unidos.
E o quadro que pinta não é dos melhores.

Aqui a economia está afundando mês após mês e a queda é inevitável, porque os recursos acabaram e, em seguida, também os malabarismos.
Ontem e hoje, como de costume no últimos dois anos, o mercado subiu porque hoje à noite falava Bernanke que, como um guru religioso ou mago da chuva, teria apresentado medidas de intervenção da Fed sobre a liquidez ou o mercado da dívida, e com isso teria levantado os espíritos. Como os famosos 700 bilhões de TARP que ninguém entendia o que fosse e, em seguida, descobriu-se que nunca tinha sido utilizada, mas mesmo assim ao longo de um ano tem levantado os mercados financeiros

Mas hoje? Surpresa: hoje Bernanke, após ter explicado que a economia está enfraquecendo, disse que não tinha nada de novo para oferecer. Todos esperavam que, como de costume, depois de ter dito algo de negativo, avançasse com a solução, um novo programa de 1.000 bilhões em que a Fed injetaria, bombearia, financiaria. Mas o homem estava nervoso e apenas disse que a Fed pode comprar mais empréstimos ou obrigações, mas deve também ter em conta as consequências negativas. S & P e Dow perderam 2% em duas horas.

Esta farsa ridícula pela qual, com a manipulação das taxas com os quais os bancos retiram o dinheiro da Fed (o dinheiro criado do nada e depois emprestado), é possível gerir uma economia de produção dum País inteiro, está prestes a terminar. A Federeal Reserve de Greenspan e Bernanke só pode dar mais dinheiro para aumentar a dívida: e ao longo de 20 anos funcionou. Mas quando a dívida é demais e todos estão saturados, o que podemos fazer? Tomamos as dívidas das famílias, das nações, e atiramos tudo numa fogueira?

Devemos abrir os nossos olhos: a economia dos EUA e da União Europeia (com exceção da Alemanha, Holanda, Escandinávia ...) não teve recuperação nenhuma desde 2008, as 100 empresas multinacionais do Nasdaq 100 e Dow Jones que faturam 60% no exterior são quase OK, mas as restantes 10 mil, para não falar das pequenas, refletem uma economia ocidental deprimida; encomendas, produção industrial e o volume dos negócios são sempre cerca de 10% abaixo do pico de 2007. Leiam os números ou de saiam de casa e conversem com quem tem um negócio de qualquer tipo.

Estou há duas semanas na Califórnia, Thousand Oaks, que fica entre Los Angeles e Santa Barbara e visitei pelo menos sete shopping centers diferentes duma área que é rica e onde não se pode ver os sinais de casas à venda como em Orange County, ou no interior tipo Inland Empire. A qualquer hora do dia ou da semana, inclusive sábado à tarde, não há tráfego de clientes, nunca faz-se uma fila d'um minuto; há vendedores em toda parte que saúdam com ar nervoso e deprimido. Apenas as lojas Apple mostram sinais de estar cheias.
Isso se aplica em Williams Sonoma e Best Buy, número um da eletrônica. Nordstrom, roupa de faixa alta, Costco, Barnes & Noble, Sports Authority, Traders Joe, Whole Foods... Estou falando de lojas de nível médio-alto, que dizem ser as que mantém negócios e sofrem menos com a crise, numa área residencial, não de mutuals subprime. Fui comer na sexta-feira e sábado à noite e está tudo meio vazio, a Santa Barbara, num ótimo Arts Café sábado à noite, por exemplo, metade das mesas vazias.

Os bancos locais, que nos Estados Unidos são centenas, agora põem painéis publicitários com os próprios capital ratio, apesar de quase ninguém entender o que significa: o que está escrito em letras maiúsculas é quanto capital em percentagem dos créditos têm!

O desemprego nos EUA é dramático, estamos em 10,5% oficiais, mas se considerarmos aqueles que pararam de procurar ativamente trabalho, mas já trabalhou ou procurou trabalho, ficamos em 17%, os jornais estão cheios de histórias de dois mil candidatos para um lugar de guarda prisional, de pessoas que reduzem o currículo omitindo que ganhava 100 mil dólares ou a licenciatura, na esperança de encontrar um lugar para 30 mil dólares, de fato que, neste Verão, os estudantes não encontram os habituais trabalhos sazonais.

Mas a razão é que nos últimos 30 anos, a metade da base industrial da América foi desmantelada e substituída pela indústria no México, China, Taiwan, Singaore, Japão, Índia. Com os centros comerciais bonitos e grandes, restaurantes de todos os tipos, as clínicas supermega, os college agora todos de luxo, milhares de advogados de rapina, com tudo isso não vai para frente.
Os bancos e as finanças criaram dívidas durante estes 30 anos pagando por esses centros comerciais, clínicas, escolas, advogados (bem como as 900 bases militares no exterior, 300 mil soldados na guerra, um governo federal que paga uma média de 70 mil dólares por empregado)

Mas agora as finanças mostraram ser apenas um mecanismo para criar dívida até níveis absurdos, enriquecendo uma elite em detrimento da economia produtiva. E em 2008 explodiu de forma espectacular, foi ressuscitada acrescentando outros 5 ou 6 trilhões de dívida.

Quando um País é demasiado endividado, como balança comercial, como Estado e como famílias, e não produz o suficiente para cobrir os próprios custos, não há nenhuma saída indolor: ou passamos por um colapso ou uma hiperinflação da moeda e uma crise social.

Nota: o título do post, assim como a primeira imagem, refere-se ao álbum de Mike Oldield, Crises, altamente recomendado. Que tem a ver isso com a economia? Nada. Esta é música. Ora essa.


Ipse dixit.

Fonte: Cobraf.com

Traduzido, editado e comentado por Informação Incorrecta