Preso de consciência na África do Ódio
Ecos do teu escárnio são comentados nesta cidade,
Nelson Mandela.
Ainda que a população em peso, imbecilizada pela
ausência de pão e pelo excesso de medo,
se divirta com o circo armado
na principal praça do meu bairro.
Ecos da tua integridade são comentados
nesta cidade,
Nelson Mandela,
por haveres recusado propinas, migalhas, suborno,
cargos burocráticos, promoções,
medalhas, prisões...
Aqui, somos prisioneiros especiais,
não temos ideias,
não temos gestos próprios,
simplesmente caímos bêbados,
encharcados de mentiras,
cercados de vigias,
na principal praça do meu bairro.
Ecos da coragem do teu povo são comentados
nesta cidade,
ainda que a população,
entulhada de bons propósitos religiosos,
se divirta com o circo pornográfico,
armado na principal praça do meu bairro.
Quisera saber:
gestos da tua recusa
também acontecem aqui.
Tu és livre, Nelson Mandela.
Autor: Ramos Sobrinho - Olinda, 1988
Pelo dia 14 de março – Dia Nacional da Poesia
Enviado por Urariano