Para tentar virar o resultado da eleição de outubro, que até agora aponta Dilma Rousseff como provável vencedora já no primeiro turno, a oposição busca desesperadamente o que chama de “fato novo”.
Este é o único produto em alta na campanha tucana no momento.
Com o “fato novo” procura-se um acontecimento que, usado calculadamente, poderia provocar impacto suficientemente forte para mudar o rumo da eleição, ou que, pelo menos, teria força para frear Dilma e manter a chance de levar Serra ao segundo turno.
Chama a atenção pergunta sugerida no ex-blog do ex-prefeito carioca Cesar Maia, tutor de Índio da Costa, candidato a vice na chapa de Serra: “Drew Westen dizia, dois meses antes das eleições de 2008 nos EUA, que Obama precisava criar um fato novo. A quebra do Lehman Brothers encarregou-se disso. Aqui, isso não deve ocorrer. Então, o quê?”
Maia é o introdutor do factóide na cena brasileira. Mas factóide não é uma mentira. É um fato inexistente até ser usado como ato de manipulação política. Factóide é uma criação do jornalista e escritor norte-americano Norman Mailer, que deu esse sentido à expressão.
Factóides são os únicos recursos existentes no arsenal da oposição brasileira na campanha eleitoral. A força do factóide não está no fato em si, mas na forma com que é usado.
Nos últimos dias, mais uma vez, os fatos foram usados como factóides. Sempre com a obsequiosa ajuda da imprensa dita isenta e imparcial.
Simultaneamente à divulgação de novas pesquisas que ampliam a vantagem de Dilma Rousseff, reapareceu o episódio da quebra do sigilo fiscal de Eduardo Jorge, da direção do PSDB. É um fato grave. A Receita Federal fez o que devia. Abriu sindicância interna e descobriu que houve três acessos irregulares e dados pessoais de outros contribuintes tucanos. Os funcionários responsáveis devem pagar por isso.
Eis aí o exemplo de um fato transformado em factóide.
Atribuíram a responsabilidade do ato irregular a Dilma Rousseff ou à equipe de campanha dela sem que haja provas. É um factoide de uma leviandade sem par, como atestam as duas declarações abaixo:
“Não é a primeira vez, isso vem de muitos anos. Lembram do dossiê dos aloprados do qual fui vítima?”, disse Serra.
“Dilma Rousseff tem de dar uma satisfação. Ela é a candidata dessa turma que praticou o ato ilegal”, atacou o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB.
Serra, hoje, é o candidato preferido pelos militares que apoiaram a tortura durante a ditadura militar. Seria, então, o caso de se perguntar: qual é a responsabilidade do candidato tucano com aquelas atrocidades? Honestamente, nenhuma.
Serra e aliados erraram desde o início. Apostaram sempre na desconstrução de Dilma Rousseff. Em consequência, nos palanques e no horário eleitoral de rádio e tevê, a oposição não tem o que dizer.
De qualquer forma, ainda há tempo de Serra reconstruir a campanha. Talvez, não mais para ganhar, mas somente para perder dignamente e, assim, poder contar aos netos do início ao fim da história de sua trajetória política.
CartaCapital n˚611
Coluna Rosa dos Ventos – Mauricio Dias