Uma coisa é ler sobre os ataques dos Talibãs nos arquivos vazados em WikiLeads. Outra coisa, muito diferente é ver a evolução dos bombardeios e ataques, e assistir "ao vivo" à metátase da guerrilha Talibã – e vê-la arrastando as forças de ocupação dos EUA e OTAN para dentro de seu (do Talibã) território.
Drew Conway, aluno de ciências políticas da University of New York (e colaborador ocasional desse “Danger Room”) fez exatamente esse serviço [1], usando uma linguagem de programação estatística chamada “R” e um programa de plotagem gráfica [2]. Os resultados são impressionantes, como assistir a um filme em câmera lenta de um engavetamento em autoestrada. Na imagem acima, vê-se exemplo disso: as imagens mostram a evolução dos combates, de 2004 a 2009.
É exatamente o que ninguém quer ver, ao mesmo tempo em que a guerra avança.
“A imensa quantidade de observações e dados [na base de dados de WikiLeaks] impede que a maioria das pessoas extraia a informação e o conhecimento que estão lá, ainda não construídos. Se se constroem sumários gráficos daqueles dados, as pessoas veem facilmente e podem tirar suas conclusões, o que seria quase impossível a partir da simples leitura dos dados vazados” – escreveu Conway em e-mails para esse Blog “Danger Room”.
“Por exemplo, a partir das últimas imagens divulgadas [a imagem acima reproduzida], as pessoas já começam a ver[3] o crescente número de ataques em torno do “anel de estradas” do Afeganistão, ao longo do tempo. Pode ser sinal claro de que os Talibã trabalham para enfraquecer o governo do Afeganistão, separando as vilas e cidades, umas das outras.”
Boa parte dos achados de Conway levam a conclusões semelhantes às das equipes de inteligência militar interna dos EUA [4]. Mas Conway e Mike Dewar [5] trabalharam sozinhos, confiados exclusivamente em ferramentas de fonte aberta e nos dados vazados por WikiLeaks [6] . Aplicando análise estatística àqueles dados, começaram por demonstrar que é baixíssima a probabilidade de os arquivos serem falsificados ou terem sido manipulados. [7]
No próximo mês, espera Conway, vários usuários de R reunir-se-ão em New York, para analisar juntos os resultados que têm obtido, todos trabalhando com os dados vazados.
Evidentemente, os dados vazados não contam toda a história da guerra, como já comentamos nesse “Danger Room”.[8] E as estatísticas podem tem influenciado indevida e temerariamente as forças da Otan[9], para ações em diferentes partes do país.
Até agora, o ponto mais perturbador das descobertas de Conway estão nas provas de o quanto as coisas estavam dando errado em 2006 e 2007. No sul do Afeganistão, por exemplo, só havia raros e mínimos confrontos, no início de 2006. Quanto ao ano que seguinte... Vejam vocês mesmos..., em: Wikileaks Afghanistan Data .
ATUALIZAÇÃO: O trabalho de Conway é um dentre dúzias de esforços, em andamento em todo o mundo, para tornar visíveis e acessíveis para o grande público os dados vazados por WikiLeaks. Por exemplo, o blog “Visualising Data”
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NOTAS
[1] O trabalho está, na íntegra, no Blog “Zero Intelligence Agents”, 16/12/2009, em On the Ecology of Human Insurgency
[2] Sobre o programa, ver: ggplot2
[3] Em: Wikileaks attack data by year and type, projected onto regional map of Afghanistan, vê-se uma longa troca de comentários de internautas que já estão trabalhando com os gráficos.
[4] Ver “Afghan Insurgency Can Sustain Itself Indefinitely’: Top U.S. Intel Officer”, 8/1/2010, Noah Shachtman, revista Wired .
[5] Em: Michael Dewar .
[6] Acessíveis em: Afghan War Diary, 2004-2010 .
[7] Em: Benford’s Law Tests for Wikileaks Data
[8] Ver “My War, WikiLeaked: Why the Public (and the Military) Can’t Count on Those Battle Logs”, 28/6/2010, Noah Shachtman, revista Wired.
[9] Sobre isso, interessante, ver Drew Conway “On the Ecology of Human Insurgency”, 16/12/2009,
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Ferramentas de Fonte Aberta & os dados vazados em WikiLeaks para fazer-ver o andamento da guerra no Afeganistão (atualizado)
Traduzido por Caia Fittipaldi