24/08/2010, Mohamad Shmaysani, Al-ManarTV, Beirute e no Islam Times
Traduzido por Vila Vudu
O secretário-geral do Hizbollah Sayyed Hasan Nasrallah disse hoje que o Líbano só alcançará liberdade e soberania se conseguir reunir os elementos de poder necessários. “Nesse país, enfrentamos muitas dificuldades externas e internas, e é nosso dever superar essas dificuldades, não temê-las nem nos render a elas. Ninguém pode fingir que não tem as responsabilidades que tem”, disse Sayyed Nasrallah ontem, durante a refeição comunitária (iftar), ao final do dia de jejum do Ramadan, organizada pela Organização de Apoio à Resistência Islâmica em Beirute.
Sua Eminência tratou da questão de como armar o exército libanês, sobre a qual há acordo de todos os partidos no Líbano, sobretudo depois do incidente em Addaiseh [1], sul do Líbano, mês passado, quando dois soldados libaneses e um jornalista foram martirizados e um coronel israelense morreu.
“O que aconteceu em Addaiseh mostrou que os EUA e as armas que os EUA forneciam ao exército libanês não eram fornecidas para combater Israel, mas para outros objetivos só deles, que chamam de “combater o terrorismo”. Continuará a “ajuda” dos EUA ao Líbano, para comprar armas? Ninguém sabe. Alguns deputados libaneses já exigiram inquérito para investigar se as armas usadas pelo exército libanês contra o exército de Israel são mesmo armas norte-americanas, ou não!”
Mas, continuou Sua Eminência, os EUA continuam a prometer que fornecerão armas ao exército libanês, “sob o pretexto de armar o exército para enfrentar o Hizbollah. Os EUA fazem seus cálculos a partir da certeza de que, mais dia menos dia, o Líbano acabará nas mãos do Hizbollah. Ao armar o exército libanês, entendem que fazem um grande favor ao Líbano.”
“Certa vez, em reunião com o ex-primeiro-ministro e mártir Rafic Hariri”, ele me disse: “Ninguém está preocupado com algum colapso econômico no Líbano, porque o mundo não permitirá que aconteça. A verdade é que todos trabalham com a certeza de que, mais dia menos dia, o Líbano será governado pelo Hizbollah”.
Sayyed Nasrallah continuou sua reflexão, dizendo que a comunidade internacional tenta convencer Israel a se retirar da região ocupada de Ghajar, porque, se eles se retirarem de lá, os EUA poderão apresentar a Resistência como “desnecessária”.
“Digo-lhes que Israel não se retirará do Ghajar porque eles conhecem e temem a resistência no Líbano, mesmo que, hoje, nenhuma resistência esteja em luta armada lá”.
“O que interessa ao Líbano não são armas fornecidas ao exército pelos EUA, mas que o exército libanês encontre o armamento de que realmente necessita, armamento adequado e que o próprio exército libanês escolha determine. Para isso, é preciso que essa despesa seja prevista em orçamento – exatamente o que o presidente Michel Sleiman pediu. Mas essa é uma grande despesa. Nenhum exército será jamais equipado com dinheiro recolhido em doações populares”.
“Nenhuma resistência jamais se constituiu só com dinheiro recolhido entre os pobres e isso vale também para qualquer exército de defesa”.
“A alternativa que resta, para armar o exército libanês, é recorrer às nações árabes solidárias ao Líbano. Sugiro que o governo libanês determine e liste as armas de que necessita e, em seguida, recorra aos Estados árabes amigos. Ninguém pedirá nada. O Líbano dirá aos Estados árabes amigos que não queremos dinheiro; queremos que nos cedam armas que tenham armazenado, sem uso, enferrujando nos armazéns. Queremos as armas, não o dinheiro. Isso, sim, se pode fazer, sem que qualquer despesa tenha de ser acrescentada ao orçamento da nação”.
“A situação do Líbano é diferente de todas as demais, na Região. A situação é tensa. O confronto que aconteceu em Addaiseh é potencialmente muito mais perigoso que a captura de dois soldados, que bastou, como pretexto, para que Israel invadisse o Líbano em 2006. Houve mártires nossos. E do lado de Israel há um coronel morto”.
“Na colônia de Shmona Keryat, os colonos fugiram. Quem examine o quadro, de longe, ainda não verá sinais de guerra. Mas os sinais lá estão, para quem examine de perto aquela situação”.
“Em resumo, o Líbano não pode continuar a discutir indefinidamente as alternativas. É imperioso agir rápido e armar o exército libanês. Minha sugestão é que o Líbano recorra a outros governos árabes solidários”.
Sobre o Irã
“Quanto ao Irã, já dissemos, na campanha para as eleições gerais, que o Líbano pode recorrer ao Irã e à Síria para equipar o exército. Essa posição acabou envolvida no tumulto geral que houve depois das eleições, e na divisão política que prevaleceu”.
“Hoje, já todos os que ontem discordavam estão perfeitamente dispostos a aceitar as armas que o Irã forneça incondicionalmente. O Irã oferece incondicionalmente, sem exigências. A via mais acertada, para o Líbano, é pedir ajuda ao Irã”.
“O Hezbollah compromete-se a trabalhar nessa direção e empenhará todos os seus contatos e relações de amizade para obter, do Irã, essa ajuda. O presidente Ahmadinejad visitará o Líbano,
O espiões de Israel
Sobre a questão dos espiões israelenses, Sayyed Nasrallah advertiu que o Líbano está atualmente envolvido numa guerra diária de segurança, contra o inimigo israelense.
“Já foram presos, até agora, mais de 100 espiões israelenses; a contagem oficial fala de 150 espiões presos. Não há aí motivo de espanto, porque estamos
“Sua Eminência destacou que o Hezbollah não foi infiltrado. “O Hizbollah não tem burocracia nem qualquer tipo de estrutura organizacional rígida. A resistência é luta diária, em vários fronts da vida diária. Temos milhares de olhos atentos a qualquer tipo de tentativa de infiltração. Assim, ao longo de 28 anos, mantivemos o maior corpo que se conhece de resistentes dedicados a preservar o próprio movimento. Continuamos inumes à espionagem. Não fomos infiltrados.” (...)
Uma usina nuclear para gerar energia
“O Líbano enfrenta condições difíceis no fornecimento de água e energia para a população. Não é problema desse governo e não é problema novo: são, provavelmente, os mais antigos problemas de quantos todos os governos enfrentam. (...) Com todo o respeito e o amor que sinto pelo povo libanês, peço ao povo em todas as regiões que cooperem e sejam pacientes. Os movimentos de reivindicação são legítimos e não serão infiltrados ou manipulados para finalidades que só interessam aos nossos inimigos. No Líbano, também na área do fornecimento de água e energia, temos de encontrar soluções”.
“Conclamo o governo do Líbano a considerar a construção de uma usina nuclear para gerar energia e outras finalidades pacíficas”.
“A usina Busheher custou muito menos ao Irã, do que tudo que o Líbano gasta hoje no setor de produção de eletricidade. Temos integral direito de considerar a produção de energia
“No futuro, a água será o recurso mais vitalmente importante em todo o mundo, e a Região caminha para uma crise da água. Nós temos a água. O que não temos é meio de armazenamento e distribuição. Temos de construir barragens para preservar esse recurso natural valioso”.
Sayyed Nasrallah concluiu seu discurso, repetindo a fórmula tripartite que preserva o Líbano:
“O exército, o povo e a resistência.”
Nota de tradução:
[1] Sobre esse incidente, ver ROBERT FISK, “Explodem as tensões Israel-Líbano: 4 mortos“, 5/8/2010 (em português).
O artigo original, em inglês, pode ser lido no AlManar TV: Sayyed Nasrallah: Our Freedom, Sovereignty Depend On Our Elements of Power ou no Islam Times em: Our Freedom, Sovereignty Depend On Our Elements of Power