Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Esta semana emergiram sinais de que a história na Tunísia ainda não está decidida. Continuam os protestos em Túnis e em todo o país contra o primeiro-ministro interino Mohamed Ghannouchi e o presidente Fouad Mebazaa, rejeitados por serem parte do partido de Ben Ali deposto, o RCD.
As multidões não querem no governo ninguém que tenha sido assessor próximo do ditador deposto Zine el-Abedine Ben Ali.
A rede Aljazeera English traz notícias de demonstrações reprimidas por milhares de policiais no centro de Tunis.
[Filme em http://www.youtube.com/watch? v=4XT83Ct9-jo]
Os membros do governo interino insistem que são inocentes e que cumpriam ordens. E que os mandantes, não eles, é que devem ser punidos.
Simultaneamente, na área rural do país, a União Geral dos Trabalhadores da Tunísia organizou marchas que devem encaminhar-se para a capital, para exigir a deposição de Ghannouchi e Mebazaa. Cerca de 500 membros da “Caravana da Liberdade” partiram de Manzil Bouzian no sábado à noite. Segundo a Aljazeera, os primeiros manifestantes dessa caravana, que vêm de outros locais da Tunísia, devem chegar à capital no domingo – cerca de 1.000 manifestantes.
Pequenas manifestações de solidariedade à Tunísia aconteceram ontem também na Argélia e no Iêmen. Na Argélia houve violência, com dúzias de manifestantes feridos pela repressão policial.
Tendo já abolido o chamado ‘ministério da Informação’ e a censura prévia de jornais e televisões, o governo anunciou hoje que, doravante, ficam livres de qualquer controle e autorização prévia as importações de livros, revistas, CDs, filmes e outros produtos de mídia eletrônica.
Quando estive na Tunísia, há poucos anos, andei à procura de livrarias árabes. Praticamente não encontrei nenhuma, só pequenas bancas, praticamente sem livros, vendendo autores tunisianos, quase sempre romances curtos. Vi uma enorme livraria ao estilo ocidental, luxuosa, carregada de edições francesas, como se o governo de Ben Ali estivesse atentamente impedindo que as classes médias e trabalhadores alfabetizados tivessem acesso a material escrito em árabe, ao mesmo tempo em que favorecia o acesso dos estrangeiros e ricos ao que o governo supunha que fosse ‘boa literatura’. O governo parece ter pressuposto, erradamente, como agora se viu, que aqueles cosmopolitas ricos estariam a favor, não contra, o regime ditatorial.
A ideia de livros e vídeos entrando livremente em país árabe, sem qualquer tipo de impedimento ou censura, é entusiasmante (até no Líbano, a censura parece estar-se fechando cada vez mais). Mas o governo interino da Tunísia continua a censurar a internet – o que, afinal, ainda é censura.
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