Novo Egito e festa na Faixa de Gaza
27/4/2001, Palestine Chronicle
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Fatah e Hamas, as duas organizações políticas que governam a Palestina uniram-se e trabalham para formar um governo de transição, com eleições a serem marcadas no prazo de um ano – informou hoje o serviço de inteligência do Egito.
Em fevereiro, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e do partido Fatah, convocou eleições legislativas e presidenciais para setembro, movimento que, naquelas circunstâncias, o Hamás rejeitou.
“Consultas e reuniões a partir daquele momento resultaram em pleno entendimento e acordo sobre todos os pontos em discussão, inclusive a formação de um governo de transição com tarefas específicas, entre as quais definir data para eleições” – disse ontem um funcionário da inteligência do Egito.
O acordo, que colheu muitos de surpresa, foi discutido no Egito, em vários encontros não divulgados à imprensa.
“Os dois lados assinaram memorandos iniciais com vistas ao acordo. Todos os pontos de conflito foram superados” – disse Taher Al-Nono, porta-voz do governo do Hamas em Gaza, à agência Reuters de notícias. Disse também que, em breve, o governo do Egito convidará Fatah e Hamas para a cerimônia de assinatura do acordo, que acontecerá no Cairo.
Falando à Al Jazeera, de Gaza, Ghazi Hamad, membro da alta cúpula do Hamas, disse: “Estamos otimistas, porque afinal há acordo oficial entre Hamas e Fatah, e entendo que demos um grande passo rumo à unidade dos palestinos. Mas não deve surpreender ninguém: o acordo é resultado de muitas conversas e discussões”.
“Acho que hoje nos aproximamos realmente desse acordo, depois que chegamos a um acordo sobre alguns pontos. O que temos hoje é como um bom rascunho, e acho que é ótimo começo. Depois do que já começamos, podemos implementar o acordo, que será imediatamente traduzido e posto em prática”
“Situação Geopolítica”
Para Marwan Bishara, editor-chefe de política da rede Al Jazeera, “É notícia importante. A situação geopolítica não parecia exatamente favorável [à reconciliação], mas depois se passaram os últimos seis meses de levantes, e vê-se aí claramente a ação também do Egito.
“No final, pode-se dizer que o presidente Abbas perdeu o apoio que tinha no Egito, do presidente Mubarak, e o Hamás enfrenta hoje, pode-se dizer, problema semelhante na Síria, com Bashar Al-Assad que enfrenta oposição em Damasco.”
“Assim, com os EUA mantidos à distância e Israel sem jamais se decidir a trabalhar pela paz e a favor do bom relacionamento com os palestinos dos territórios ocupados, os próprios palestinos encontraram a via do acordo e da paz. De fato, tudo que agora se formaliza em acordo já estava acordado, de fato, há quase um ano e meio”.
Benyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, disse ontem que Abbas não pode esperar conseguir qualquer paz com Israel, se assinou acordo de reconciliação com o Hamás. “A Autoridade Palestina tem de escolher ou a paz com Israel ou a paz com o Hamás e não há paz possível com os dois lados” – disse.
O Hamás não reconhece o estado de Israel, ao qual se refere sempre como “a entidade sionista”.
“Divisão amarga”
O partido Fatah governa a Cisjordânia ocupada, e o Hamás – eleito em eleições parlamentares em 2006 –, teve de derrotar forças militares de Abbas em 2007, para conseguir assumir o governo ao qual havia sido eleito na Faixa de Gaza.
Rawya Rageh, correspondente da rede Al Jazeera no Cairo, disse que “Agora, afinal, o acordo porá fim efetivamente à divisão amarga em que vivem os palestinos desde 2007.”
“Espera-se para as próximas horas um anúncio formal, quando se conhecerão os detalhes do acordo de reconciliação entre Hamás e Fatah”.
Rageh disse que o acordo deve ser assinado na próxima semana, em cerimônia da qual participarão Abbas e Khaled Meshall, líder político do Hamás que vive em Damasco.
Para Nicole Johnston, correspondente da rede Al Jazeera em Gaza, “Um dos principais grupos de organização da sociedade civil em Gaza está convocando todas as facções palestinas para que se reúnam na praça central na cidade de Gaza – a Praça do Soldado Desconhecido –, para iniciar as celebrações
“Gaza precisa muito de alguma boa notícia. Foi mês particularmente difícil por aqui, em vários aspectos, com ataques cada vez mais violentos que vêm de Israel e o sequestro e assassinato de um estrangeiro. Portanto, esse tipo de novidade, primeira boa notícia depois de tanto tempo, merece, sim, muita festa.”
O acordo decidido ontem foi divulgado, em primeira mão, pelo serviço de inteligência egípcio, que organizou os encontros e discussões.
Em declaração divulgada pela agência estatal egípcia de notícias MENA, o serviço de inteligência do Egito disse que o acordo foi firmado por delegação do Hamás liderada por Moussa Abu Marzouk, vice-presidente do comitê político do Hamas, e por Azzam al-Ahmad, do comitê central do partido Fatah.
Al-Ahmad e Abu Marzouk disseram que o acordo cobre todos os pontos em que havia discordância, inclusive a formação de governo de transição, acordos de segurança e reestruturação da OLP (Organização de Libertação da Palestina), de modo a que o Hamás posse ser integrado a ela.
Falando à televisão estatal egípcia, al-Ahmad disse que as eleições gerais estão previstas para acontecer dentro de um ano. E Mahmoud al-Zahar, do Hamás, disse que todos os prisioneiros sem condenação criminal serão libertados (de Al Jazeera e agências).
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