“As notas curtas provaram ser exatamente aquilo que um novo público -de educação rudimentar, em busca de informação condensada e facilmente assimilável- queria. (...) eram eles que iriam formar o mercado para os bens de consumo barato.
Todas as notícias e artigos eram curtos. As reportagens políticas eram reduzidas a pequenas notícias meramente informativas ou sensacionais. (...)
Um grande espaço vinha dedicado às “fofocas” sobre homens e mulheres de destaque, pois era uma regra da direção que os leitores estavam mais interessados em gente do que em princípios. (...)
A importância não residia em sua preocupação com os leitores de educação deficiente, mas na percepção de como este público poderia ser explorado comercialmente. (...)
Ele (Northcliffe) percebeu que um grande número de leitores com pouca educação, vivendo uma existência difícil e penosa, não queria que espelhassem a realidade, mas que fornecessem algo mais que a vida do dia-a-dia.
(...) foi o primeiro de uma série de magnatas da imprensa que explorou a influência da imprensa para servir a seus objetivos pessoais”. [1]
Nota
[1] referência às linhas editoriais dos jornais Daily Mail (inglês) e New York Journal (estadunidense) no final do séc. XIX e começo do séc. XX.
Lord Francis Williams, A Era de Hearst e Northcliffe, História do Século XX vol. I 1900/1914 pp. 3-5 ed. Abril Cultural São Paulo SP 1968
Nota
[1] referência às linhas editoriais dos jornais Daily Mail (inglês) e New York Journal (estadunidense) no final do séc. XIX e começo do séc. XX.
Lord Francis Williams, A Era de Hearst e Northcliffe, História do Século XX vol. I 1900/1914 pp. 3-5 ed. Abril Cultural São Paulo SP 1968
A Idade Mídia
e a construção da “realidade”.
Homero Mattos Jr. |
Homero Mattos Jr.
Queda de Gigantes de Ken Follett não é uma obra-prima da Literatura. Certamente não é. Mas ler suas páginas é uma maneira agradável de conhecer algo sobre a História dos eventos que, logo ao início do século XX, haveriam de moldar as feições de um período cujo declínio futuros historiadores, talvez, venham a situar em algum momento entre o fim da paridade dólar/ouro em 1971 e as consequências (a médio prazo) do ataque ao World Trade Center em 11 de Setembro de 2001.
Para os apreciadores de uma leitura leve e “movimentada” Ken Follett, como de costume, além de escrever cinematograficamente oferece o bônus de situar os personagens de suas estórias (declaradamente fictícias) em meio às realidades históricas por ele (comprovadamente) pesquisadas. Método oposto, portanto e ao que parece, aos utilizados pelos founding fathers da mprensa sensacionalista a desempenhar decisivo protagonismo nos eventos narrados em Queda de Gigantes.
Poucos meses antes do término da Primeira Guerra (1914/1918) ainda não havia vencedores, uma vez que o esforço de guerra exaurira igualmente as energias (e os cofres) de todas as partes em luta. E, nesse momento, o grande temor das classes dirigentes inglesas e francesas não era mais a Alemanha e sim a Rússia. Tal como ocorrera às potências imperiais à época da Revolução Francesa, a possibilidade de amplo contágio dos ideais revolucionários russos por entre a classe trabalhadora deveria ser eliminada. Primeiro em casa e depois na origem. Não por acaso já em 1919, ao mesmo tempo em que realizavam a Conferência de Paz, as potências vencedoras criaram a Organização Internacional do Trabalho e, em seguida (sem divulgação pública nem reconhecimento oficial do fato) invadiram a Rússia por todos os lados. Literalmente. Tal façanha não teria sido possível sem a omissão (voluntária) dos jornais sensacionalistas de lord Norhtcliffe. Omissão e ação.
Considere-se que a seis meses do final da guerra, a paz era tão desejável para os alemães como o era para a imensa maioria dos europeus. Porém, à Alemanha interessava a paz nos termos dos 14 Pontos propostos pelo presidente Woodrow Wilson dos E.UA, ou seja: um armistício sem reparações e com retorno às fronteiras anteriores a agosto de 1914. Contudo, aos industriais e militares franceses importava recuperar territórios perdidos para a Alemanha em 1870 e at last but not at least aos arruinados governos e banqueiros de todos os lados do conflito, se não houvessem reparações...?... quem haveria de pagar as enormes dívidas contraídas junto aos bancos estadunidenses?...
Ao final da guerra “as pessoas tinham necessidade de culpar alguém e os jornais estavam sempre dispostos a suprir esta necessidade” e porque os grandes proprietários destes jornais “realmente acreditavam nas bobagens que publicavam” uma campanha de ódio insuflava “as chamas da vingança” mediante edição, em letras garrafais, de manchetes provocativas como, por exemplo:
OS HUNOS (isto é, os alemães) TÊM QUE PAGAR!
Ao impedir a ascensão dos Trabalhistas ao governo os “efeitos da malévola propaganda do jornal Daily Mailsobre as eleições” [2] britânicas de outubro de 1918 contribuíram para a elaboração dos termos degradantes do punitivo Tratado de Versalhes que, como se sabe, adubou as sementes da Segunda Guerra Mundial - na verdade, para muitos historiadores - uma continuação da Primeira.
E assim foi.
Sem contar com a simpatia do gigantesco complexo industrial-financeiro criado pelos robber barons (barões ladrões) [3] do final do século XIX, Woodrow Wilson não conseguiu levar adiante suas propostas para a paz e, desse modo, estabeleceram-se os fundamentos da “exuberância dos mercados” que haveriam de consagrar Alan Greenspan e entusiasmar a muitos. Aqui inclusive.
Quanto a lord Northcliffe morreu em 1922 após um colapso nervoso, fazendo jus às palavras do jornalista e comentarista Will Hutton do jornal The Observer:
“Aqueles a quem os deuses querem destruir eles, primeiro, o enlouquecem”.
Notas de rodapé
[2] Ken Follett, Fall of Giants p. 754/755 McMillan London 2010
(em Português: Queda de Gigantes ed. Sextante Rio de Janeiro 2010)
[3] ver Charles R. Morris - Os Magnatas - vol. 745 col. L&PM Pocket Porto Alegre RGS 2009
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