quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O quinto dos infernos

Homero Mattos Jr.

por Homero Mattos Jr.
nota
Escrevi pela primeira vez O quinto dos infernos em 2001, mais ou menos à época da descoberta da existência dos tristemente famosos personagens reais, nele e ao final, citados. Personagens os quais o leitor informado, certamente, haverá de lembrar-se.

No momento atual, em que minorias sombrias e poderosas da sociedade brasileira intentam -ao que parece na tentativa de reconquistar um poder perdido- disseminar por entre a população a idéia de que a violência urbana e a corrupção apresentam-se de modo inédito ou como algo jamais visto neste país, decidi reeditar (ad hoc) este conteúdo, elaborado há mais de dez anos e que, creio, haveria de ser considerado atual por qualquer brasileiro que pudesse lê-lo a vinte, trinta, quarenta, cinquenta ou sessenta televisivos anos atrás.

Relativo à epígrafe creio, também, ser oportuno informar àqueles que ainda não haviam nascido quando seus autores a compuseram: a menção a São José -capital da Costa Rica, é uma homenagem à Convenção Americana dos Direitos Humanos ali realizada no obscuro ano de 1969. Obscuro para toda a América Latina e (não particularmente) o Brasil, que haveria de ratificar os termos da convenção apenas em 1992. 



"
Quero a utopia, quero tudo e mais.
 Quero a felicidade, nos olhos de um pai.
 Quero a alegria, muita gente feliz.
 Quero que a justiça reine em meu país...
 São José da Costa Rica, coração civil,
 me inspire no meu sonho de amor, Brasil
 ...doido prá ver meu sonho teimoso um dia se realizar."
 Coração Civil
 Milton Nascimento e Fernando Brant

cinco andares para baixo um apartamento dois ambientes.

no andar -1 à direita reside uma minoria organizada. são pais e mães de crianças de zero a sete anos que buscando transformar os filhos em pequenos mozarts tentam educá-los em conformidade aos mais modernos princípios pedagógicos. no momento confusos entre o que pode e o que não pode estão tentando recuperar a capacidade de dizer não.

no outro lado à esquerda reside a maioria desorganizada. são pais e mães de crianças de zero a sete anos que sem ter com quem deixar os filhos durante o trabalho os deixam aos cuidados de outros parentes crianças ou conhecidos despreparados os quais por entre maus tratos ou descuidos lhes traumatizam os filhos de forma indelével.

no andar -2 do lado esquerdo outra maioria desorganizada. são professores de crianças de oito a treze anos que mal alimentadas e freqüentando escolas feias imundas e desaparelhadas têm dificuldades absurdas de aprendizado que desestimulam a todos o seguir em frente -crianças e professores. 

à direita está a minoria organizada. também são os professores de crianças de oito a treze anos. professores que temendo com razão a retaliação por parte dos pais junto à direção da escola sentem-se incapazes de repreender seus pequenos alunos arrogantes para os quais não há limites nem disciplina necessários para a convivência em sociedade.

no andar -3 à direita reside a minoria organizada dos amigos amigas namorados e namoradas dos adolescentes de quatorze a vinte e um anos que um horizonte de possibilidades ilimitadas transformou em tipinhos anormais ou pequenas bestas para as quais a vida se resume em roupas de grife malhação e balada.

no outro lado está a maioria desorganizada dos amigos amigas namorados e namoradas de adolescentes de quatorze a vinte e um anos portadores de televisivas atitudes e idéias cínicas e medíocres a lhes atenuar as dores decorrentes de um tudo nivelado tudo por baixo.

no andar -4 à direita encontra-se a minoria organizada de homens e mulheres maduros cuja crueldade inconsciente os leva a enxergar no outro um incômodo competidor a ser vencido ou superado no perde-e-ganha de uma moral darwinista sempre disposta a levar vantagem em tudo.

à esquerda está uma maioria desorganizada de homens e mulheres maduros que a rejeição por parte dos vizinhos do outro lado transformou em bárbaros dispostos a conquistar pela violência o quê uma indiferença de séculos lhes nega por conta de um eventual futuro grandioso que nunca chega.

o quinto dos andares é diferente.

 não tem direita nem esquerda. estão todos juntos. matando-se uns aos outros por motivos à todos justificáveis. matam-se por meio das armas e drogas legais e ilegais que para júbilo de traficantes os regulamentados e os marginais às partes ainda mais só faz dissociar.

construído por sérgios nayas incorporado por georginas do i êne éssa essa e administrado por lalaus esta construção situa-se à beira mar sob a luz do céu profundo.

uma
obra-prima
da exclusão social
da falta de consciência coletiva
e do pouco-caso com os problemas dos
semelhantes que como tais não são reconhecidos
feios e sujos moradores da periferia gente miúda e ignorante
   larga maioria por fina minoria como bandi..................excluídos.

Brazil com zê seus tristonhos campos tem mais dores seus bosques tem mais morte e a morte em seu seio menos dor. bobão da américa. desamor eterno é símbolo o avaro que ostenta blindado. 


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