Trabalhar
cansa. Os banqueiros querem governar?! Pois que governem!
*Isaac
Rosa, Publico, Espanha
Traduzido
por Tlaxcala,
Rede Internacional de Tradutores
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu
A
última moda nos governos europeus, tendência que alguns tanto trabalham para
implantar, é a tecnocracia: o governo dos ‘especialistas’. Economistas, claro,
de comprovada ortodoxia. Frente a políticos vacilantes e indecisos, à mercê da
opinião pública, nada como a firmeza que nos garantem os ‘especialistas’,
graduados e pós-graduados nas melhores escolas de administração de empresas e
negócios.
Até agora, trabalharam muito para implantar a nova moda
na Grécia e na Itália. Na Grécia, pressionaram até o último momento para pôr no
poder o equivalente grego do nosso espanhol Miguel Ángel Fernández
Ordóñez[1]: o
economista Lucas Papademos, ex-presidente do Banco Central Grego, e
ex-conselheiro do Banco Central Europeu. Ainda não resolveram, talvez porque
tenha parecido descaramento demais pôr lá um banqueiro, com as ruas em ebulição.
Mas estão tentando; e o nome ali ficou, para assustar. [2]
Na
Itália, enquanto Berlusconi agoniza, embaralham-se as escolhas, entre as quais,
lá está a tecnocracia, representada por Mario Monti, ex-comissário europeu,
formado, como Papademos, nos EUA, e diretor europeu da Comissão Trilateral, da
qual o grego também participa. Monti seria de fato um preposto, a mando de Mario
Draghi, presidente do Banco Central Europeu, ex-presidente do Banco da Itália e
ex-vice-presidente do grupo Goldman Sachs (influente banco de investimentos, do
qual Monti também é assessor).
Na
Espanha, onde as modas sempre chegam com atraso, ninguém precisa de executivo
tecnocrático. Mas, se precisarem, proponho nosso Fernández
Ordóñez.
Pouco
a pouco, o círculo vai-se fechando, e, com banqueiros e economistas
tecnocráticos a redigir leis e decretos, logo conseguiremos que os mesmos que
nos meteram na crise em que estamos fiquem também encarregados de nos
governar.
Sim, já
sei que, na prática, sempre são eles que dividem o bacalhau, mas até agora ainda
se via alguma diferença: uma coisa é ter o poder; outra coisa é governar; e
aceitávamos que os políticos governassem, e os banqueiros tivessem todo o poder.
Pois que façam todo o serviço! Que tenham todo o poder e que governem! Ficaria
meio vergonhoso, mas... Eu, francamente, já não duvido de nada.
Nota
dos tradutores
[1]
Presidente do Banco de España.
“Socialista”, claro...
[2]
Artigo
escrito horas antes
do anúncio de Papademos, como primeiro-ministro da Grécia
*Isaac
Rosa
(Sevilha, 1974) publicou os romances “La
malamemoria” (1999), depois reelaborado como “¡Otra maldita novela sobre la guerra
civil!” (2007); “El vano
ayer” (2004, Prêmio Rómulo Gallegos e transformado em um filme com o título
“La vida em rojo”), “El país
delmiedo” (2008, JM Lara Prêmio da Fundação para o melhor romance ano) e “La mano invisible” (2011).
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