Mónica Garcia Prieto |
30/11/2011, Periodismo Humano – Mónica Garcia
Prieto
Tradução
de Gabriela Blanco p/ o Diário
Liberdade, Galiza
Fotos:
Muhammed Muheisen
Enviado
pelo pessoal da Vila
Vudu
Periodismo Humano - [Mónica G. Prieto, Periodismo Humano, Tradução de Diário Liberdade] Beirute. O máximo que a comunidade internacional dedicou de atenção para a revolução social que mobiliza centenas de milhares no Iêmen desde janeiro foram dois minutos. Cento e vinte segundos desperdiçados pelo Conselho de Segurança no dia 21 de outubro para debater como reagir perante a repressão armada de uma população que se colocou massivamente nas ruas para acabar com 33 anos de ditadura. A ameaça de que o conflito armado entre o regime e as tropas desertoras degenere em outra guerra civil, e a crise humanitária – admitida pelas próprias Nações Unidas – que atinge o país e se agrava dia a dia.
Iemenitas em oração aos seus mortos |
“Somente
dois minutos. E sabe o que faziam as tropas do presidente Saleh nestes precisos
dois minutos? Disparavam contra os manifestantes”, explica recostado em uma
poltrona de um café central de Beirute, Farea al Muslimi, um dos mais destacados
ativistas iemenitas e um dos mais ativos nos meios de comunicação com o objetivo
de gerar certa consciência social no exterior.
Farea
não se surpreendeu que o Conselho de Segurança despachasse o dossiê iemenita com
mais prontidão do que se solicita a janta em um restaurante. No diário das
sessões, a resolução 2014 sequer é identificada com o nome do país, simplesmente
se refere a ela como “Resolução sobre Oriente Próximo”. Mais indignante ainda é
seu conteúdo, mil mortos e 19.000 feridos depois do início das manifestações
sociais: “Em Human Rights Watch nos sentimos decepcionados por um texto que é
contraditório”, explica com certo assombro em sua voz Christophe Wilcke,
pesquisador de HRW para o Iêmen, contatado por telefone. “Por um lado pede que
todos os atores respondam pelos seus crimes, e nós opinamos que isso inclui a
Ali Abdullah Saleh, por outro lado respalda a iniciativa do Conselho de
Cooperação do Golfo [que media o conflito entre o regime e sua população sem
nenhum êxito] que outorga imunidade a Saleh”.
Marcha dos milhões em Sana |
“Há
uma semana que os disparos e os bombardeios são quase diários”, explica por
telefone desde Sana Atiaf al Wazir, responsável pelo blog Women from Iemen e
outro dos rostos públicos da revolução. “As tropas do regime atacam os
desertores, fortes em Hasaba e Sofan [feudos do poderoso líder tribal Ahmed
Ahbar, que também abandonou o ditador] e tememos um aumento de seu
enfrentamento. Mas isso não tem nada a ver com o acampamento pacífico que
levamos a cabo desde fevereiro”, continua mediante a linha telefônica. “Saleh
conseguiu que os meios de comunicação coloquem o foco nos combates, mas eles são
um detalhe muito pequeno se comparado com a revolução”, insiste Farea, 21 anos e
estudante de Ciências Políticas.
Iemenitas choram e enterram seus mortos |
Revolução?
Que revolução? A ausência de informação sobre o Iêmen é gritante. Desde janeiro,
suas marchas são multitudinárias. Rios de homens e mulheres revestem ruas
inteiras proferindo gritos de mudança, liberdade e dignidade. Sua luta é a mesma
que qualquer outra nação árabe submetida à ditadura, e seus mortos também caem
abatidos por balas dos soldados que deveriam defendê-los: “No Iêmen, investem-se
milhões de dólares em um Exército que nunca nos defendeu de uma agressão
externa”, resume abatido Faria. O país árabe mais pobre, mais instável, o
segundo lugar do mundo com mais armas por cabeça – 15 milhões, 61 por cada 100
habitantes – depois dos Estados Unidos e um dos mais instrumentalizados por
potências estrangeiras, desde os EUA até a Arábia Saudita, passando pela Al
Qaeda, carece de atenção internacional. E cada minuto de silêncio trai a um povo
que desafiou o medo e a impunidade para empreender uma revolução pacífica que
desemboque em uma democracia.
Em
janeiro e fevereiro, as primeiras marchas de dezenas de milhares de pessoas se
transformaram em um acampamento permanente junto a Universidade, a qual foi
batizada de Praça da Mudança. Jovens e crianças, homens e mulheres, urbanos e
membros de tribos que meses atrás nunca se relacionaram com o resto,
instalaram-se sem uma única arma para exigir a saída de Saleh, que pretendia
entregar em herança a Presidência ao seu filho, perpetuando assim um sistema
militar, corrupto e ditatorial baseado no medo. Configurava-se assim um milagre:
“No ano passado toda essa gente não teria se conhecido pessoalmente, salvo que
estivessem empunhando armas. Pela primeira vez nas últimas décadas, nós
iemenitas nos unimos. Saleh nos fez pensar durante anos que éramos serpentes,
dizia que governar Iêmen era como dançar sobre cabeças de serpentes, mas esta
revolução nos serviu para olharmos uns aos outros. E descobrimos que não somos
maus nem temíveis, mas que somos pessoas e que podemos conviver
juntos”.
Crianças perigosas... |
Farea
al Muslimi se emociona recordando uma cena na Praça da Mudança de Sana que
presenciou há um mês, antes de abandonar Iêmen para retomar seus estudos em
Beirute: “Apareceu um jovem de bermuda e com uma toca, o típico rapaz Facebook,
e se sentou para conversar com um homem mais velho, membro de uma tribo,
adornado com a roupa típica. E começaram a discutir sobre a conveniência de se
usar véu. O rapaz lhe dizia que isso não figurava no Corão, o outro argumentava
que era o islamicamente correto. É uma conversa impensável há algum tempo atrás.
Esta revolução rompeu com a lacuna geracional e algo mais. Antes, somente nos
olhávamos cara a cara para combatermos, agora o fazemos para construir algo
pacificamente”. O certo é que para os iemenitas sobram-lhes motivos para
promover uma revolução, como detalha o jovem universitário: “50% do país é
pobre, uma quinta parte da população morre por falta de alimentos, sete milhões
vão para a cama com fome, nos meus 21 anos de vida vivi sete guerras, nunca
tivemos paz, nem igualdade, nem liberdade... Ou existimos ou não existimos. Ou
saímos à rua ou aceitamos morrer em silêncio. Podemos morrer de fome ou morrer
nas ruas pela nossa dignidade e a dos nossos”.
E
optaram pela última opção. Saleh começou então um jogo de promessas não
cumpridas que somente lhe serviam para ganhar tempo e obter silêncio
internacional. Primeiro, prometia reformas, depois, que não entregaria o poder
ao seu filho, mais tarde, não voltaria a optar pelo poder, finalmente,
abandonaria seu cargo quando recebesse garantias que nunca lhe pareciam
suficientes. E enquanto isso, ordenava a suas tropas atacar com fogo real e gás
lacrimogêneo os manifestantes desarmados, que já ocupavam as principais praças e
ruas de todo Iêmen, desde Taiz até Aden, de Sana a Mukalla. Uma insuportável
enxurrada de mortes que quase alcançam já o milhar. Mesquitas convertidas em
hospitais de campanha, bairros evacuados por seus habitantes por temor aos
disparos. E o efeito contrário ao desejado. Como ocorreu com o resto das
ditaduras, cada morte civil arrastava mais gente para as ruas. As dezenas se
converteram em centenas e aos líderes iniciais somaram-se responsáveis
religiosos como Sheikh Abdul-Majid Al-Zindani até milhares como o citado Ali
Mohsen, desde muitas tribos do país até os independentes do sul ou os houthis,
os rebeldes zaidis que combatem no norte contra a discriminação de sua
comunidade. Para assombro de muitos jovens que pretendem mudar o sistema que
todos eles representam: “Mas a revolução não é um jardim privado. Qualquer um
que aceite seus princípios pode participar”, destaca
Farea.
Marcha em Sana |
Alguns
se preocuparam quando viram passear entre suas fileiras o familiar rosto do
general Ali Mohsen, conhecido por seus desmandes ao lado da família Saleh: “É
certo que sua presença nos dividiu”, confessa Atiaf, uma das ativistas que
participou na redação dos princípios da revolução. “Não saímos às ruas para
substituir Saleh por Ali Mohsen. Queremos um Estado de Direito, um Governo que
nos represente, um Estado civil baseado na democracia”, incide Farea. “Ali
Mohsen não representa nenhuma mudança, foi um sanguinário e corrupto amigo de
Saleh, o mesmo que [o líder tribal mais influente do país] Ahmar”, insiste Atiaf
al Wazir. “Mas não podemos impedir que se somem à revolução”. Tampouco se pode
impedir que tomem as armas para defender aos manifestantes dos disparos do
regime, convertendo Sana em uma cidade militarizada e começando os combates que
hoje em dia paralisam a cidade: “Há checkpoints por todos os lugares, alguns
amigos contaram quantos há do centro ao aeroporto: somam 16. Alguns são dos
desertores, outros de Saleh”, detalha Fatima Saleh, outra ativa tuiteira
iemenita envolvida na revolução social.
Como
demonstra a ambígua resolução 2014, as vidas humanas valem barato no Iêmen.
Décadas de guerras e a mais recente aparição da Al Qaeda estigmatizaram o país
mais pobre do mundo árabe, sem recursos energéticos que inquietem os dirigentes
ocidentais: “Iêmen não tem importância para a comunidade internacional. Carece
de petróleo e não tem Israel em suas fronteiras, assim não afeta os interesses
regionais”, avalia Hakim al Masmari, direto do diário Iêmen Post, em conversa
telefônica desde Sana. “Saleh é como qualquer outro ditador: sente-se forte
porque não se sente questionado, mas em qualquer momento pode descobrir sua
debilidade. Continuará com sua agenda porque pensa que ninguém pode lhe tirar do
poder”. Tanto Al Masmari como Wilcke, assim como Ataif al Wazir e outros
ativistas, respondem de forma automática o que poderia se fazer para parar o
ditador. Sanções econômicas, proibição de viajar para ele e os seus – das forças
a cargo de seu filho e seus sobrinhos depende seu poder militar –, congelamento
de bens no estrangeiro, asfixia econômica... “A revolução iemenita foi
abandonada diferentemente de outras revoluções principalmente pelos EUA e Arábia
Saudita”, explica ao Periodismo Humano mediante correio eletrônico Noon Arabia,
pseudônimo da autora do blog Notas de Noon e uma das tuiteiras mais ativas e
influentes em relação com o Iêmen. “Saleh foi complacente com a política saudita
no Iêmen, foi um servidor leal e também um aliado americano na chamada guerra
contra o terror, permitindo-lhes atacar com drones [aviões não tripulados] o
território iemenita quando o desejem, em troca de receber ajudas militares.
Ambos os países desejam manter o status quo pese a sua retórica sobre a
necessidade de que abandone o poder. E dado que os meios de comunicação
principais são financiados por esses países, faz-se vista grossa sobre o que
passa no Iêmen”.
Para
os grandes meios de comunicação, Iêmen é Al Qaeda. Para os iemenitas, Al Qaeda é
uma mera anedota em uma vida de sofrimentos. Mas desde que Saleh vendeu o espaço
aéreo para Washington em troca de ajuda militar, essa anedota custa vidas e
condena famílias inteiras. O assassinato de Abdul Rahman al Awlaqi foi um ponto
de inflexão. No fim de setembro os EUA se parabenizava publicamente por
assassinar o seu pai, Anwar al Awlaqi, cidadão americano-iemenita e um dos
comandantes locais da Al Qaeda, mediante um bombardeio aéreo. Em 14 de outubro,
a população se comovia após saber da morte de seu filho, Abdul Rahman, de 16
anos, um adolescente fã de livros de Harry Potter e da série Crepúsculo, em outro
ataque aéreo. Sua família sustenta que foi bombardeado enquanto participava de
um churrasco com seus amigos: “Era um rapaz que ia à escola e que não podia ser
mais distante da luta de seu pai. Seu único delito foi estar junto a ele. Se
falam tanto de promover a democracia, o mínimo que deveriam fazer seria
prendê-los e levá-los a julgamento, ao invés de executá-los”, disse Atiaf com
raiva.
Al
Qaeda é um espantalho que emprega Saleh para conservar suas alianças. Sobretudo,
desde que o grupo terrorista tentou assassinar um dos príncipes mais influentes
da Arábia Saudita, o ultraconservador Nayef, ministro do Interior, e muito
provavelmente o novo herdeiro do trono wahabi, após a recente morte do príncipe
Sultan por um suicida forrado de explosivos em agosto de 2009. Iêmen desempenha
um papel central nas ações da Al Qaeda desde sua fundação, mas ganhou peso nos
últimos anos estendendo suas ambições até os Estados Unidos, onde organizou
alguns atentados com escasso êxito. Sua força radica, pelo julgamento dos
ativistas iemenitas, na estratégia clandestina do regime de
Saleh.
“O
regime engana o Ocidente dizendo-lhe que se mantendo no poder reduzirá a
influência da Al Qaeda, mas meu acompanhamento das notícias de Iêmen me faz
pensar que o regime distribuiu armas para alguns grupos divididos das forças de
Segurança para intimidar o Ocidente. É uma mensagem que diz “olha o que pode
acontecer se o regime cai”, aponta Fatima Saleh. É um temor difundido na
sociedade iemenita: “Durante anos Saleh jogou com o extremismo”, menciona Atiaf.
“Ele os usa, prende, liberta, deixa escapar, serve-se deles para conseguir seus
objetivos políticos”. E enquanto isso, a população sofre com os bombardeios
americanos com os quais Washington tira sarro da legalidade internacional que
exige dos demais: “Em Abiyan os bombardeios deixaram 90 mil desabrigados”,
lamenta Atiaf. “Foram instalados em escolas, mas isso deixou sem colégio a todas
as crianças da região. Tudo isso cria um enorme ressentimento em relação aos
Estados Unidos”. No total, as diferentes formas de violência resultaram em uns
300 mil desabrigados em todo o país, que vivem em condições
subumanas.
Farea,
fiel aos seus estudos universitários, explica a presença da Al Qaeda no Iêmen –
onde tem sua base na Península Arabiga, o AQAP, uma das principais plataformas
da organização de Bin Laden em todo o mundo – como resultado da política da
ditadura: “O Governo não nos defende da Al Qaeda. Não existe um contrato social
em meu país, por isso prosperam organizações fanáticas como essa. A desigual
distribuição de recursos afeta inclusive as pessoas mais preparadas, ninguém tem
esperanças porque a corrupção impede de conseguir um trabalho, salvo que se
tenha dinheiro ou influências. Para muita gente, a Al Qaeda é a única opção. Te
oferecem um salário e um paraíso, quem dá mais? Saleh alimenta a Al Qaeda com
seu regime corrupto. E não vai ser tão estúpido ao ponto de acabar com eles
porque perderia milhões tratando-se de cooperação militar”. Daí que o povo,
segundo este jovem ativista, veja com os mesmos olhos a ditadura, a Al Qaeda e
os Estados Unido: “Perdemos o respeito a eles. Eles não se preocupam pelas vidas
humanas, prejudicam nossa economia, não nos representam. As pessoas estão
fartas”.
Sem
uma firme reação internacional, que possibilidades têm os jovens iemenitas que
insistem em perpetuar seu protesto pacífico? “A diferença com a Tunísia e o
Egito é que lá o Exército está fundado sobre uma base nacional; no Iêmen ele
está sobre uma base familiar”, lamenta Al Muslimi. Refere-se à Guarda
Republicana e às divisões comandadas por familiares de Saleh, as melhores e mais
equipadas do país. “Deve-se parar os militares, mas é impossível enquanto lhes
siga chegando dinheiro em questão de ajuda militar”, complementa Ataif em alusão
às doações americanas em troca de que Saleh combata – oficialmente – a Al Qaeda.
Agora é questão de paciência, argumentam os entrevistados, e de evitar a
tentação de tomar as armas: “A revolução não é uma corrida. Os antecedentes
colocaram o bastão muito alto, mas não temos pressa para que a revolução
triunfe. Esperamos 33 anos e podemos seguir esperando; do contrário, levaremos
nosso país ao inferno”, acrescenta Farea em uma sucinta alusão a uma revolução
armada. “Sabemos que isto não terminará quando Saleh tenha saído do poder.
Tratará de deixar seu filho e seus sobrinhos e teremos de seguir lutando
pacificamente. Serão anos de luta, mas se aguardamos 33 anos de ditadura podemos
fazê-lo”, acrescenta Atiaf.
Saleh, o ditador, ordenou que atirassem na multidão desarmada |
Surpreende
a quantidade de mulheres ativistas que trabalham na revolução iemenita. Nas
manifestações, milhares de feministas vestidas com niqab gritam palavras de
ordem separadas dos homens, segundo corresponde em uma sociedade muito
tradicional, mas não duvidam ao tomar ações drásticas e provocadoras como
queimar véus para chamar a atenção dos meios de comunicação. Atiaf, Fatima ou
Noon Arabiya não são casos isolados, como demonstra o fato de que a principal
ativista do país, Tawakol Karman, presidenta da ONG Mulheres Jornalistas Sem
Correntes, tenha sido reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz junto a outras duas
mulheres. Explicam-me desde Iêmen entre risadas: “Quinze milhões de mulheres
iemenitas levamos a revolução há anos”. Ou séculos: “Lembre-se da rainha de
Saba”, disse Farea com um sorriso aberto. Ela reinou antes que chegasse o
Islamismo ao Iêmen; anos depois, outra mulher subiria ao trono do país
islamizado, Arwa Bin Ahmad al Sulaihi: governaria 55 anos. Para elas e eles, o
temor mais difundido é que Saleh aprenda a lição equivocada do exemplo líbio e
opte por combater até a morte para conservar o poder: “Muitos estão esperando
uma guerra, ou ao menos enfrentamentos muito duradouros entre a I Divisão e a
Guarda Republicana em Sana e os milicianos pró-revolucionários e a Guarda
Republicana em Taiz”, explica Fatima mediante e-mail enviado desde Sana. “Saleh
tem muita má intenção, está tentando empurrar a guerra para as pessoas
envolvidas na revolução pacífica usando qualquer meio ao seu alcance para
provocá-las”, prossegue a ativista.
No
entanto, Al Masmari descarta um conflito em grande escala: “Trata-se de uma
guerra pessoal entre Ali Mohsen e Saleh e aí vai ficar. Os iemenitas não vão
combater, as marchas seguirão sendo pacíficas”, estima o diretor do Iêmen Post.
Atiaf al Wazir teme que as coisas mudem rápido: “Durante nove meses a revolução
foi pacífica, mas as pessoas pacíficas estão sendo atacadas com armas. Se o
enfrentamento militar se estende, é imprevisível o que pode acontecer porque
ambas as partes têm grandes arsenais”. No entanto, descarta que os movimentos já
armados, como os separatistas do sul ou os houthis, envolvam-se em uma guerra:
“Não creio que se envolvam porque não tirariam benefícios, mas é certo que ambos
os lados, tanto as tropas de Ali Mohsen como as de Saleh, têm muitíssimas armas
após anos de guerra e anos de compras de recursos bélicos. A demonstração de
força pode converter-se em um enfrentamento aberto”.
Parece
claro que a juventude iemenita está farta de violência: “Crescemos rodeados de
armas, já não queremos mais balas”, repudia Farea com um gesto casual. “Esta
revolução é pacífica ou não é. Mas não sei o que vai ocorrer quando se acabe a
paciência dos iemenitas. Se se decepcionam podem se converter em um vulcão. Eles
têm potencial e ganharam a mudança após nove meses manifestando-se em paz.
Imagine todo esse potencial com armas”. Farea mexe na barba antes de prosseguir:
“Eu prefiro não pensar nisso: não sou valente o bastante para imaginar como
seria Iêmen se se opta pela via armada”.
Após
dez meses de revolução social e mil mortos, uma fraca resolução do Conselho de
Segurança concede imunidade ao ditador Ali Abdullah Saleh, responsável da
repressão militar contra civis. Praticamente a totalidade da sociedade iemenita
se uniu contra o tirano em uma estranha irmandade, pouco comum no país
árabe.
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