Publicado
em 08/12/2011 por *Mair Pena
Neto
João
Havelange, o cartola-mor do futebol brasileiro e mundial, deixa a história pela
porta dos fundos. Aos 95 anos, o todo poderoso dirigente, que comandou a FIFA
de 1974 a 1998, renunciou a seu cargo no Comitê
Olímpico Internacional, do qual era membro desde 1963, para não ser expulso da
entidade por corrupção. Havelange estava envolvido com a empresa de marketing
esportivo ISL, da Suíça, que faliu em 2001 deixando dívidas de cerca de US$ 300
milhões. O brasileiro era acusado de ter recebido dinheiro da ISL em troca da
concessão de lucrativos contratos relacionados às Copas do
Mundo.
Com
a renúncia ao COI, a investigação por parte da entidade foi arquivada. Havelange
estava prestes a ser pego com a boca na botija pela negociação de direitos
televisivos quando presidiu a FIFA. Segundo a BBC, com base na sentença de um
tribunal suíço, Havelange teria sido beneficiário de um pagamento ilícito da ISL
de US$ 1 milhão. Ele e outros dirigentes da FIFA foram obrigados a devolver US$
6 milhões de dólares ao cofres suíços. A propina recebida chegaria a US$ 9
milhões.
Ricardo
Teixeira, seu ex-genro e sucessor na CBF, também foi acusado de participar do
esquema. A estreita ligação de Havelange com a ISL vem de longe, como contam os
jornalistas Vyv Simson e Andrew Jennings, no livro “The Lords of the Rings”. Logo depois
de ser eleito presidente da FIFA, em 1974, superando o inglês Stanley Rous, por
apenas 16 votos, Havelange se aproximou do alemão Horst Dassler, criador da
Adidas. Dassler fora convocado a apoiar Stanley Rous e por pouco não virara uma
eleição, na qual Havelange empregara mundos e fundos. Ao fim da votação, os dois
perceberam que eram homens poderosos e que o melhor seria atuarem
juntos.
Durante
sua campanha, Havelange prometera aumentar o número de participantes na Copa do
Mundo, incluindo africanos e mais asiáticos, numa versão global do Campeonato
Brasileiro de 1979, que teve 80 clubes, dentro do lema de “onde a Arena vai mal,
mais um time no Nacional”, que a ditadura militar adotou para tentar fortalecer
seu partido de sustentação. Havelange obtivera os votos das federações africanas
e asiáticas e precisava retribuir o apoio. Mas suas promessas tinham ido além.
Ele se comprometera a criar cursos de futebol nesses continentes, a financiar a
construção de estádios e a criar um novo Campeo0nato Mundial Júnior e não tinha
dinheiro para isso.
Dassler
foi o homem convocado para a tarefa e, deste então, até sua morte, esteve
intimamente ligado a Havelange. A ISL, sua empresa de marketing, era a detentora
exclusiva da venda dos direitos da Copa do Mundo. Com Havelange, a Copa se
transformou num torneio gigante, com 32 seleções. Na última edição, na África do
Sul, eram 13 da Europa, oito das Américas, seis africanas, três asiáticas e duas
da Oceania. A competição passou a ser patrocinada pelas maiores corporações do
mundo e os dirigentes da FIFA a desfrutar de uma vida de
rei.
Nasceu
com Havelange, um admirador confesso da organização nazista dos Jogos Olímpicos
de 1936, dos quais participou como nadador, a postura autoritária da FIFA, que
impõe aos países organizadores das Copas o seu famigerado caderno de encargos,
nada menos que uma interferência nas leis e soberanias nacionais, determinando,
entre outras coisas, vistos de trabalho a estrangeiros, isenções fiscais e livre
transferência de divisas. Até a venda de bebidas alcoólicas nos estádios tem que
ser autorizada, mesmo contrariando leis locais, como no caso do Brasil. Afinal,
a indústria cervejeira é uma das grandes patrocinadoras do
evento.
O
episódio da renúncia ao COI desmistifica de vez a figura de Havelange, que não
merece ser nome de estádio de futebol no Brasil. Fica lançada desde já a
campanha pela mudança do nome do Engenhão, no Rio de Janeiro, de Estádio João
Havelange para Estádio “Garrincha, Alegria do Povo”, em homenagem a um dos
maiores craques da história do futebol brasileiro, que jogou no Botafogo, clube
carioca, e que recentemente teve seu nome extraído do estádio de Brasília.
Garrincha nos deu muito mais alegrias do que Havelange e jamais envergonhou os
brasileiros.
Mair
Pena Neto é
um
jornalista
carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência
Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia.
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