Danny Schechter |
5/1/2012, Danny
Schechter, Consortium
News
Traduzido e
comentado pelo pessoal da Vila
Vudu
Entreouvido na
Vila Vudu
“Grandes EUA! Viva
os EUA! Aioooou, Silver! Me Tarzan,
you Jane! De buc iz ôn de têibol!
Que baita país, os
EUA!
Porque, no
Brasil-2012, É MUITO PIOR! No Brasil-2012, o noticiário e o colunismo político
já não passam de grotesco arremedo de “aula magna” ministrada por autoproclamado
“professor” udenista golpista, comentada por arremedo de jornalista
autoproclamado “isento” e “bem informadíssimo” (só rindo!), em que tooooodos
fazem propaganda de tucano-uspeanos-udenistas sem votos e sem poder – e todos
esses, sempre, absolutamente convencidos de que:
(1) no Brasil, o
ELEITOR e o CONSUMIDOR seriam idiotas;
e de que
(2) quanto menos
votos tenha hoje o ex-presidente, ex-governador, ex-ministro, ex-embaixador,
ex-sub-do-sub em geral, mais
entrevistável seria o tucano-udenista paulista sem-votos entrevistado da
hora.
Desses, o espécime
hoje mais em voga – e dos mais abjetos –, é um “historiador” e “professor” da
UFSCar, Marco Antonio Villa, convidado infinitamente requentado nos programas da
GloboNews comandados por William
Waack.
Hoje, o mesmo
fascista sincero incansável está na
Folha de S.Paulo
[1], espinafrando, dessa vez, até os
jornalistas (raríssimos!) que tiveram coragem de escrever que, desse
“historiador” e “professor” da UFSCAR,
erigido em “especialista” nos programas políticos do vergonhoso
“jornalismo” paulista, não se aproveitam nem as vírgulas!
Convenhamos: no
Brasil é MUITO PIOR do que o que se lê abaixo, sobre o jornalismo nos EUA.
O “jornalismo”
político no Brasil-2012 é o PIOR DO MUNDO!”
[Pano
rápido]
O primeiro
comentário de Rick Santorum, depois de ver sua “avançada” comemorada como grande
sucesso, com reles 30 mil votos em Iowa foi: “Segue o jogo”. E, sem nem
perceber, entregou logo o jogo e os pontos, só por ter chamado o jogo de
jogo.
A questão é que
não é só jogo político: é também jogo “midiático”. Pseudo eventos como esse, são
o ar que a mídia respira, o alimento, sem o qual a mídia morre: dá trabalho à
mídia, faz os jornalistas sentirem-se importantes (e com carteira assinada, no
Brasil-2012!). E cria-se como uma bolha de ar, espaço e tempo para infindáveis
comentários de ‘especialistas’ e espetáculo, que vai fazendo passar o tempo, e
ajuda a sobreviver ao infinitamente tedioso inverno em
Iowa.
Para os iowanos, é
a chance de “participar” em algo que parece muito importante; para os
jornalistas, é a rotina da notícia, ritual santificado. O que a mídia faz, de
fato, é apresentar um clip de publicidade [dela mesma], fantasiado de
noticiário.
Semanas e semanas
de ‘cobertura’ diária, ininterrupta, dia e noite, incluindo pesquisas e
‘análises’ de publicidade na televisão, e ninguém, absolutamente ninguém, fala
sobre o quanto as empresas-imprensa lucram só por inventar um falso sentimento
de expectativa e de excitação, com o qual conseguem extrair lucros do dinheiro
que tantos gastam em infindáveis anúncios de propaganda deles mesmos (mas que
são pagos às redes de televisão) – como os $17 milhões de dólares que o
governador do Texas, Rick Perry, investiu em sua corrida para lugar algum.
(Quanto você supõe que custe cada voto?).
Em Undernews, Chris Crawford chama
atenção para vários fatos da realidade que vivem enterrados e praticamente
jamais apareceram à luz do sol dos noticiários políticos de
televisão:
1. Os Cáucuses não elegem ninguém e nada (nem delegados às
convenções partidárias).
2. Todos os
eleitores que elejam o “vencedor” não enchem nem ¼ de um estádio de futebol
americano.
3. Dos três
milhões de habitantes de Iowa, só 100 mil participam.
4. Os presidentes Gephardt, Huckabee, Harkin,
Robertson.
5. Dizer que
aquilo “areja” o campo político, é o cachorro que ganha migalhas do banquete e
lambe os beiços.
6. O vencedor
ganha talvez seis delegados, que podem desistir de votar nele (para ser indicado
candidato, é preciso garantir os votos de 1.100 delegados).
7.
No Iowa, o rebanho suíno é maior que
o rebanho humano.
Analistas de mídia
que analisaram a cobertura repetiram que a coisa parece mais corrida de cavalos
que discussão de problemas e posições.
O Projeto para
Excelência em Política disse que o noticiário esteve mais focado na corrida de
cavalos com revezamento que atrasou a aparição noturna de Rick Santorum, segundo
análise do Projeto, examinando os principais temas da narrativa que a imprensa
inventou para Iowa.
“Essa análise,
baseada em amostra de mais de 11.500
websites de notícias,
concluiu que elementos típicos de corridas de cavalos (estratégia, arrancada e
apostas) foram o tema de mais alta ocorrência (27%) na cobertura da volátil
competição em Iowa. Em segundo lugar,
aparecem os recordes anteriores e posições de largada (19%). Em terceiro,
referências ao próprio sistema do
cáucus em Iowa (16%). Referências aos problemas e
atividades dos eleitores de Iowa
aparecem no fim da fila (6%).”
Muitos veículos
chamaram a atenção para a total irrelevância do circo de Iowa, mas cobriram o circo, mesmo assim,
como se tivesse alguma importância – o que deu grande importância ao circo de
Iowa, porque lhe deu enorme visibilidade, convertendo o circo de Iowa em farsa,
mas com grande visibilidade e importância. Muitos dos analistas desossados que
comentaram a farsa, falavam da farsa, mas nem por isso se apresentaram como
farsantes, e lá ficaram eles, falando e fazendo-se de
importantíssimos.
Marvin Kitman,
crítico de mídia, escreveu que “Basicamente, o formato do evento, que não é
sequer uma primária, pode ser comparado ao número de pessoas que compareciam a
uma reunião do Politburo, antigamente, nos tempos de pouca democracia na
URSS”.
“Como na
democracia leninista, o
Cáucus de Iowa é baseado no princípio do
centralismo democrático, pelo qual pequenos grupos reúnem-se para eleger grandes
grupos. É um cruzamento entre votar numa primária de verdade e a grande tradição
dos EUA de selecionar candidatos em salas de ar irrespirável, pura fumaça dos
cigarros, antes de uma convenção.
“Na verdade, o Caucus de Iowa é muito menos democrático que uma
eleição do Politburo, porque desqualifica como eleitor, muita gente: o pessoal
que trabalha às 3ªs.-feiras à noite; quem não tenha dinheiro para pagar alguém
para ficar com o bebê; todos os soldados que estão lutando as guerras de Obama
pelo mundo; todo o pessoal que viajou a negócios; todo o pessoal que não sai à
noite, de medo do escuro. Seja qual for a razão, só uns 80 mil iowenses
dar-se-ão ao trabalho de votar.”
Agora, toca para
New Hampshire, para mais do mesmo,
com tripulação ainda menor de jogadores a postos. Bachman foi-se. Perry faz pose
de campanha de reavaliação. Gingrich foi curto-circuitado pela insatisfação ele
mesmo inflou tanto. Huntsman ainda tem um pouco do dinheiro de papai para torrar
por aí.
Media Tenor, outro grupo que monitora a
imprensa, escreveu:
“Com a mídia
cobrindo as “melhoras” na economia [já
estavam hoje, as tais “melhoras”, nos “noticiários” vergonhosos da Rede Globo,
desde cedo, de manhã (NTs)], o presidente Obama passará a ser visto sob luz
mais favorável, o que significa que os candidatos Republicanos terão de pensar
em outros temas, para seduzir a base e eleitores indecisos” – segundo Racheline
Maltese, pesquisadora de Media
Tenor.
“Iowa responde seguidamente a questões
sociais, por causa do baixo número de participantes nos caucuses. É oportunidade para ver-se
que mensagens os candidatos estão passando aos apoiadores, mas nem sempre
reflete o tom mais amplo das eleições” – observa ela.
“Nem sempre
reflete” – é dizer muito pouco. Até aqui, o vencedor é, por irônico que pareça,
Barack Obama – só porque nada faz para mostrar-se “presidencial”, ou quando faz
uma pausa no jogo de golfe, ou quando não está assinando “declarações”, na
calada da noite, na véspera de Ano Novo, nas quais manifesta “reservas” – mas
mesmo assim assina, emenda inconstitucional à Lei de Segurança Nacional dos EUA
para 2012.
E a corajosíssima
“imprensa” norte-americana continua a mais esconder que cobrir a crise
financeira, o desespero dos mais pobres e a violenta pressão econômica sobre
tantas famílias norte-americanas. O fracasso da imprensa nos EUA é efeito da
decisão, dos principais jornalistas e empresários da mídia nos EUA, que se
recusam a ver que o próprio jornalismo, os próprios jornalistas e suas práticas
contribuem para aprofundar uma crise que se aproxima rapidamente do
colapso.
O New York Times não se peja de converter-se, cada dia mais,
em jornal para o 1%: o preço do jornal nas bancas subiu para $2,50. Você tem de
pagar mais para ler cada dia menos sobre a inflação que não pára de
crescer.
E os
“noticiários” de televisão são cada dia menos noticiários, como observa o Washington Post:
“Os noticiários de
TV são alimentados cada dia mais com publicidade comercial mascarada como
noticiário – e o governo federal quer intervir nesse processo. Preocupado com a
evidência de que essa sutil “compra de noticiário” já ocupa quase totalmente o
serviço jornalístico, a Federal
Communications Commission propôs uma lei regulatória, segundo a qual todos
os 1.500 veículos das redes da televisão-empresa dos EUA passariam a ser
obrigados a informar, nos próprios noticiários, quais as empresas beneficiadas
por cada notícia distribuída aos consumidores.
“A proposta, que
exigiria muitos meses de trabalho até ser implementada, foi elogiada por grupos
de críticos e de militantes a favor do direito dos consumidores, que têm
criticado o sistema vigente, que obriga os veículos a informar quais os
anunciantes que pagaram para que uma ou outra notícia fosse ao ar, mas só no
final do programa, nos créditos da equipe técnica.
“A menos que
alguém espere até o último crédito técnico, não se fica sabendo que empresa
pautou cada notícia” – disse Corie Wright, conselheiro sênior do instituto Free
Press, grupo de pesquisadores de mídia que está apoiando a proposta da FCC. – Se
cada jornal e jornalista dos noticiários de televisão for obrigado a declarar,
no próprio noticiário de televisão, a empresa que pautou uma ou outra notícia, o
consumidor passa a poder verificar se o noticiário é isento e jornalístico, ou
se não passa de publicidade paga, impingida aos consumidores pagantes como se
fosse jornalismo.
A regulação agora proposta visa aos noticiários
oferecidos a telespectadores como se fosse trabalho de jornalismo independente,
mas que, de fato, são modelados pelos patrocinadores, quando não são diretamente
pautados por eles”. [2]
O problema, de
fato, é que nem o noticiário que não seja modelado, ou diretamente pautado pelos
patrocinadores, tem qualquer credibilidade, nem induz ao julgamento crítico ou
democrático, nem sugere qualquer possibilidade de o consumidor poder,
efetivamente, contestar um status
quo cada vez mais corrupto, em todo
o jornalismo que lhe é impingido.
O que hoje se
conhece como “mídia” não passa de papo infinitamente requentado, entre idiotas,
para que todo o público consumidor de notícias continue a ser, como hoje está
sendo, perfeitamente enganado.
[2] 3/1/2012, Washington
Post, “FCC
seeks to change regulation of corporate interests disclosures on TV
news”.
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