Publicado em
05/02/2012 por *Mário Augusto
Jakobskind
Enquanto
as mais diversas mídias de mercado continuam a bombardear Cuba com antigos
preconceitos da época da Guerra Fria, no Atlântico Sul o velho colonialismo de
um país, o Reino Unido, com nostalgia de um passado de dominação forçada segue
com toda a força. É o que revelam as últimas notícias sobre o enclave das
Malvinas, área onde foram descobertas riquezas
petrolíferas.
David
Cameron, o conservador herdeiro de um país falido e que se tornou um apêndice
dos Estados Unidos na Europa, usa de retórica ao atacar a Argentina como nos
velhos tempos. Teve a ousadia de atribuir ao governo de Cristina Kirchner
“vocação colonialista”. É o tal fenômeno da transferência, pois é notório que
apesar de hoje não ter mais terras de sol a sol, o ranço colonialista não foi
abandonado, seja pelos Partidos Trabalhista ou Conservador
britânico.
Seguindo
a tradição, o governo britânico enviou modernos navios de guerra e de quebra
está por lá nas Malvinas o príncipe Williams para treinar pilotagem de
helicóptero. Os britânicos ocupam desde o século XVIII terras que pertencem aos
argentinos e alegam primariamente que os habitantes das ilhas apoiam a
dominação.
Há
quase 30 anos houve uma guerra mal conduzida pelos militares argentinos, que se
aproveitaram de uma causa justa para manterem-se no poder. Madame Margareth
Thatcher, depois de enviar navios de guerra com ogivas nucleares aproveitou o
embalo para se fortalecer internamente.
O
tiro dos militares argentinos então saiu pela culatra, precipitando o fim da
ditadura. Sabem o motivo? Os militares tinham se especializado em torturar
argentinos opositores e não souberam enfrentar as forças de ocupação, haja
vista, por exemplo, o então capitão Alfredo Aziz, o Anjo da Morte, que
literalmente se borrou quando foi preso.
A
derrota dos argentinos não significou a desistência de o país retomar as terras
roubadas pelo colonialismo britânico. Hoje, o primeiro-ministro David Cameron
usa argumentos que não resistem a menor análise para justificar a continuidade
da dominação da área que os britânicos denominam
Falklands.
A
América Latina de 2012 é bem diferente daquele de abril de 1982 quando da guerra
das Malvinas. Os que se colocavam mecanicamente contra a Argentina por estar o
país sob o jugo de uma ditadura cruel não podem mais repetir a tese. Hoje, os
governos democráticos do MERCOSUL - Brasil, Uruguai, Paraguai – e demais do
continente latino-americano têm a obrigação de cerrar fileiras em defesa
intransigente da Argentina, felizmente vivendo na plenitude
democrática.
É
preciso mostrar ao mundo e as potências que utilizam as mesmas táticas coloniais
de sempre que a Argentina não está só em sua exigência de retomada das
Malvinas.
Em
1982, ignorando solenemente a doutrina segunda a qual os países americanos
sofrendo incursões militares de fora da região devem ter a solidariedade e o
apoio integral de todo o continente, o então governo dos Estados Unidos (Ronald
Reagan) ficou ao lado do colonialismo do Reino Unido.
Hoje,
sob o governo de Barack Obama, os EUA defendem a mesma posição de antes, até
porque necessitam do Reino Unido para incursões do gênero colonial como as
ocorridas no Iraque, no Afeganistão e mais recentemente na Líbia, país onde os
Médicos Sem Fronteira decidiram sair porque em várias cidades não adiantava nada
a sua presença. É que, segundo os Médicos Sem Fronteira, depois de medicados os
líbios vinculados ao regime deposto voltam às prisões para serem torturados e
voltam a ficar em precárias condições de saúde.
Desta
forma que os EUA, Reino Unido, França, Itália, Qatar e demais países do Golfo
estão trazendo a democracia no país do Norte da África.
Em
relação a Cuba, a mídia de mercado voltou suas baterias contra o regime cubano.
E daqui para frente os estereótipos de sempre retornam com toda a força,
sobretudo pelo fato de no próximo mês de março a ilha caribenha receberá a
visita do Papa Bento XVI, que, convenhamos, nem progressista
é.
No
final de dezembro, em discurso proferido no encerramento do ano legislativo
(Assembleia Popular), o Presidente Raúl Castro anunciou a promulgação de 2.900
indultos de presos com mais de 60 anos e que não cometeram delitos que
provocaram mortes. Entre os indultados se encontravam cubanos condenados pela
Justiça por conspirarem contra o Estado e que já cumpriram parte das penas ou
que tinham problemas de saúde. Não houve praticamente divulgação a
respeito.
Quanto
à blogueira Yoani Sánchez, quem conhece minimamente Cuba sabe perfeitamente que
ela fala por ela mesma e é alimentada por segmentos mais radicais de direita do
exílio cubano. É absolutamente sem sentido reproduzir, sem checar, como fez O
Globo, a afirmação da blogueira de que “nas ruas de Havana os cubanos comentam
que Dilma veio a Cuba com a carteira aberta e os olhos
fechados”.
Qualquer
um que visite Cuba e perguntar nas ruas quem é Yoani Sánchez, que se intitula
porta-voz dos cubanos, vai obter a resposta: mas quem é Yoani? Isso não impede
de encontrar circulando por Havana e outras cidades pessoas descontentes com o
regime cubano e até mesmo um taxista particular circulando tranquilamente com
uma bandeirola estadunidense em seu veículo. E assim sucessivamente, embora a
maioria dos que foram consultados por este jornalista apoiassem o governo, por
entenderem perfeitamente que mesmo com todos os defeitos não aceitam o retorno a
um tempo em que a ilha caribenha era um mero entreposto dos Estados
Unidos.
Mas
a blogueira prefere dizer que antes de 1 de janeiro de 1959, ou seja, antes do
triunfo da revolução, havia em Cuba “liberdade de
expressão”.
Por
estas e muitas outras, entende-se porque Yoani Sánchez consegue tanto espaço
pelo mundo afora e ganha tantos prêmios muito valorizados. E também porque o
Instituto Millennium a convidou para escrever pelo menos de 15 em 15 dias em
espaços da mídia de mercado do Rio e São Paulo e com direito a reprodução em
jornais de outros Estados.
Independente
da decisão do governo cubano de não conceder permissão da blogueira vir ao
Brasil, a mídia de mercado aproveitaria da mesma forma a vinda para se voltar
contra Cuba.
Uma
pergunta: quem financia Yoani Sánchez?
*Mário
Augusto Jakobskind é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
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por Direto
da Redação
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