Escrito e enviado por Rui Martins*
Leia
também:
15/6/2012, redecastorphoto, Chris
Marsden em: Do editor da BBC-Londres (no blog): “A cobertura da
BBC do massacre de Houla só reproduziu propaganda da oposição síria” (em
português).
Comentário da
redecastorphoto: É muito claro que
existe a prática de dumping em
praticamente todo o jornalismo internacional veiculado no Brasil, mas não é só
por parte da BBC; vale também para outras agências estatais.
O FATO é que
o jornalismo e jornalistas brasileiros são, regra geral, PÉSSIMOS (extremamente
ignorantes, quando não, venais).
Isso é facilmente constatável ao ler o OI
(Observatório da Imprensa) e verificar o quase NADA do noticiário nacional, mais
ainda o internacional que é apenas jornalismo-de-repetição (meros papagaios das
agências externas) onde o OI, não muito diferente do que os ridículos, p.ex., da
GloboNews- williamswaacks, demétriosmagnolis,
celsoslafers, etc. - tenta comicamente “observar”.
Aliás, o OI,
tal como a GloboNews, para nós da
redecastorphoto, é apenas um “Seinfeld” ou um dos “Comedy Capers” que torna
digestivo o NADA que é o nosso desinformativo jornalismo-de-mercado.
Este blog
sempre teve a preocupação de levar aos nossos correspondentes e seguidores – nem
sempre com sucesso, é claro, mas com muito esforço – o que consideramos de
melhor na mídia internacional e alguma coisa da mídia
nacional.
Depois de 2
anos de prática – completados em 28/5 p.p. - e 3.600 postagens, consideramos ter
contribuído muito mais na informação aos nossos correspondentes que a grande
maioria dos “jornais/jornalistas-de-fancaria” atualmente empregados na
imprensa-de-mercado.
Não cremos
que a melhoria da “formação de jovens jornalistas” tenha algo a ver com o óbvio
dumping praticado pelas agências
internacionais.
A baixíssima
qualidade dos nossos jornalistas está na sua FORMAÇÃO, seja universitária ou
não, e na impossibilidade de haver congruência entre o fato real (ou notícia) e
o interesse político/editorial.
Berna (Suiça) - É uma questão de
raciocínio simples. Vejam bem, a grande imprensa brasileira é contra o
estatismo, e mais ainda no ramo da mídia. Basta se lembrar os protestos pela
criação da TV Brasil.
Porém, isso não impede que usem e
abusem do material de imprensa, áudio e escrito, de uma empresa estatal
estrangeira, se podem economizar com isso. Não, não se trata da Agência Nova
China, nem do serviço brasileiro do Pravda russo. Nossos amigos da CBN, do
Estadão, da Folha online e outros mais, adoram os informativos, reportagens,
notícias, entrevistas do Foreign
Office londrino.
E é verdade, a qualidade do
material informativo que nos é enviado pelos ingleses é bem superior à média da
mídia brasileira, além de serem noticiários postados com rapidez, já traduzidos
e geralmente na frente das agências France Presse ou EFE.
Vocês, ardorosos utilizadores, já
perceberam que estou falando da BBC Brasil. A favor da BBC (a da velha ilha
inglesa, como dizia o disquinho Subdesenvolvido do Centro de Cultura Popular, da
época das Reformas de Base e de Jango-Brizola) existe aquela figura antológica
dos noticiários da Segunda Guerra Mundial, o Iberê da BBC. E, embora não ouvisse
por já viver fora do Brasil, os noticiários não censurados do tempo da nossa
ditadura militar.
Já houve quem quisesse fechar a
BBC, única coisa que restou do império da rainha Vitória, no qual o Sol nunca se
deitava. Hoje existe o Commonwealth,
mas já não é a mesma coisa. Se não me engano foi Margareth Thatcher que impôs um
regime na BBC, mas pode ter sido um primeiro-ministro anterior. Em suma, o Sol
continua não se pondo no imperial reinado da BBC.
E todos os anos, o Parlamento
inglês renova o orçamento da maior cadeia de mídia estatal do mundo, maior que a
Voz da América e já nem se fala mais da Rádio Moscou, que começava suas
transmissões não com a Internacional, mas com o hino soviético.
E por que será que, durante 24
horas por dia, speakers, redatores se
revezam para fornecer em áudio ou nos portais de idiomas diferentes as últimas
notícias ? Será pelo amor dos nossos filhinhos? Claro que não, faz parte da
manutenção do prestígio da marca inglesa em todo mundo, como foi importante na
luta do chamado Mundo Livre contra a Cortina de Ferro. É informação mas tem
política e propaganda no meio.
Tudo bem, há países ricos com
menor ambição, cujas transmissões se destinam principalmente aos seus
emigrantes, para não perderem o contato, a cultura com seu país de origem, como
parece ser o caso da isolada Suíça, que, depois de acabar com seu serviço de
ondas-curtas, pensa agora em fechar a versão Internet, o Swissinfo.
Mas o que há de errado na BBC? já
deve estar perguntando um indignado ouvinte das reportagens rebroadcastingadas pela CBN, Eldorado ou
outras tantas, espalhadas pelo Brasil. Um sucesso muito maior do obtido pelos
americanos que, logo depois da Guerra, em plena guerra-fria, distribuíam junto
com o leite em pó, os comentários de Al Netto (deve ser com certeza com dois
tês).
Acho que foi, em 2000, que pedi ao
Benê da CBN, depois de um de meus boletins, que entidade reunia, em termos de
categoria profissional, os jornalistas. E ele, sempre bem informado, me disse –
a Fenaj. E por que cargas d’água esse meu interesse ? Porque foi por ali que
começou a se criar a atual Rede BBC Brasil e porque comecei a me preocupar pelos
jovens jornalistas que iriam nos suceder, a mim e meus colegas correspondentes,
nessa ingrata, mas maravilhosa, profissão.
Era o começo do rebroadcasting, ou seja, uma rádio
fabrica no seu estúdio um áudio e manda de graça, ali na bandeja, para rádios
locais utilizarem. A idéia do rebroadcasting era, no princípio, bem
samaritana: levar programas de rádio instrutivos e educativos às pequenas
comunidades. E, antes da revolução da Internet, fazia-se isso com fitas gravadas
(que as rádios acabavam usando para gravar outros programas), elepês ou
cassetes, ou a rádio beneficiada com os programas gravava o som transmitido por
ondas-curtas ou recebia por telefone.
O rebroadcasting samaritano não tem nada
de mal e pode até ser equiparado aos esforços de uma UNICEF para levar a cultura
e orientação sanitária aos pequenos povoados e vilarejos. Atualmente, há muito
rebroadcasting para a África, onde
numerosos países vivem ainda na miséria. Porém, algumas rádios mais sensatas
preferem juntar ao rebroadcasting a
formação de jornalistas locais em cursos no próprio país ou no exterior, para
não serem chamadas de neocolonialistas.
Onde é que o rebroadcasting é ruim ? Quando o
material da rádio estrangeira, preparado no nosso idioma, não se destina à Rádio
de Catacoquinho ou de Judas Perdeu as Botas, mas para as rádios comerciais, para
os portais diversos de grande frequência e com bastante publicidade.
Se uma rádio estrangeira,
financiada pelo dinheiro público do seu país, portanto uma potência com a qual
não se pode competir, começa a fornecer seu material áudio e mesmo escrito para
rádios comerciais e para jornais brasileiros de grande tiragem, cria-se uma
situação estranha.
Américo Martins, comentando em
2002 o fornecimento de material da sua BBC para a CBN falava na criação de uma
parceria, ou troca de informações. Só que não se vê no portal da BBC o material
brasileiro fornecido pela CBN, mesmo porque é a BBC quem tem a maior e melhor
rede de informação.
Trata-se, portanto, de uma
parceria unilateral, que satisfaz a BBC por lhe dar grande visibilidade junto ao
público brasileiro. Nada a ver com a época em que os jornalistas e radialistas
do serviço brasileiro de ondas-curtas da BBC, com encontro marcado no dial e com
hora certa, sentiam-se como se falassem apenas aos seus familiares. Uma época da
qual, Ivan Lessa, o decano desse enorme polvo da informação, se
lembrava.
A descoberta do rebroadcasting conjugado com o contrato
jurídico da parceria permitiram o fornecimento de material jornalístico
gratuito, sem causar desconfianças. Entretanto, o sucesso dessa fórmula mostrou
a ocorrência de dois vícios de procedimento em termos de mercado e de trabalho –
o dumping e a concorrência
desleal.
O dumping é o fornecimento de um produto
ou serviço por preço abaixo do normal ou abaixo do custo, gerando a concorrência
desleal, pois o concorrente não tem condições para competir. Dumping por empresa estrangeira, é o
fornecimento de um produto ou serviço por preço sem concorrência.
No caso da BBC, as parcerias
incluem empresas comerciais de mídia (nada samaritanas) com a TV Bandeirantes;
Rádios CBN e Rádio Globo (não vi Eldorado na lista, mas era uma antiga parceira)
e numerosos portais e serviços Internet como Folha online, Globo online, Terra,
UOL, Estadão online, Correio Braziliense online, Paraná online.
Embora empresas representativas da
grande mídia brasileira, seus diretores não se acanham com essas parcerias.
Mariza Tavares explica, numa entrevista ao Observatório da Imprensa que, por
economia, deixou de ter correspondente na Europa e optou pela parceria com a
BBC.
E aí está o problema – o dumping e a concorrência desleal da BBC
matam no ovo a possibilidade dos nossos jovens estudantes de jornalismo serem
correspondentes de jornais, revistas e rádios brasileiros. Além disso, mesmo se
o material fornecido é considerado bom, ocorre uma padronização por não se
favorecer mais a diversidade informativa. Ainda nos anos 90, as revistas,
jornais e rádios brasileiros tinham correspondentes, hoje pode haver um ou
outro, mas não fixos com salário mensal e sim frilas, ganhando por matéria.
Aos jovens jornalistas só resta a
possibilidade de uma carreira no Exterior, se trabalharem para a BBC e,
provavelmente, como frilas.
Aqui entra a Fenaj, Federação
Nacional de Jornalistas. A prática de dumping e concorrência desleal no
comércio mundial pode ser denunciada, em Genebra, na OMC, desde que apresentada
por um órgão da categoria e isso também inclui os sindicatos estaduais de
jornalistas. A Fenaj parece disposta a topar essa parada e se houver sindicatos
solidários, é só enviar o contato. Queixa de categoria profissional pode também
ser apresentada, contra dumping e
concorrência desleal, junto à Organização Internacional do Trabalho.
Além disso, o Brasil começa a se
tornar uma grande potência e está na hora de ter um jornalismo realmente
nacional e independente. Já bastam os estragos causados pela Time-Life na nossa imprensa
escrita.
Rui Martins*:
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder
emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao
Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes,
vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do
Brasil e agência BrPress.
So para complementar , o mesmo acontece aqui no Oriente Medio , mais especificamente , entre Israel e os Palestinos . A imprensa , divulga sempre em destaque os "ataques" de Israel , mas nunca ( ou quase nunca ) os ataques dos Palestinos . Isso acontece TAMBEM com a imprensa israeli e
ResponderExcluirassim vai ..... O publico NUNCA e' informado corretamente ....
Na verdade o atacante é SEMPRE Israel. Porque os palestinos defendem suas terras continuamente ROUBADAS (são sumariamente expulsos de suas casas por soldados e colonos judeus) para construção de colônias exclusivas para judeus. Isso sem falar na queima que os judeus fazem das oliveiras seculares existentes nos territórios (ILEGALMENTE OCUPADOS conforme inúmeras resoluções da ONU) da Palestina e da Cisjordânia. Afora criarem um imenso CAMPO DE CONCENTRAÇÃO na Faixa de Gaza. Quem é o atacante?
ExcluirComentário enviado por e-mail e postado por Castor
ResponderExcluirAo autor e às suas e a seus colegas de Jornalismo. Quanto à TV Brasil, ela é um desastre até hoje por inúmeras razões, uma delas a fraqueza ínsita dos trabalhadores de imprensa, do excesso de funcionários herdados da EBC e do desconhecimento do que venha a ser de facto et de jure uma verdadeira TV Pública (só existem 52 no mundo). Coroe-se o fenômeno com o desdém e o desinteresse de nossos homens públicos pelas substâncias formadoras de um ente público de serviços. logo que criado, passa a ser negociado mediante tráficos de vária natureza e corrupção generalizada Tudo isso, não passa de uma traição jugular numa área decisiva do Serviço Público, confundida com propaganda e relações públicas no País dos marketeiros. Na verdade, não se tem noção do que seja público, no Brasil, em termos de serviços, daí essa confusão estulta de público com estatal. Nossa ignorância é abissal, na matéria. Todas essas fraquezas e
defeitos só ajudam o trabalho diuturno de sabotagem à TV Brasil, externa e interna, assim como a quaisquer outras iniciativas mediáticas de caráter público.
ArnaC
(Resposta de Rui Martins enviada por e-mail e postada por Castor)
ExcluirEm minhas últimas passagens pelo Brasil, não tive má impressão da récem-criada TV Brasil. Ao contrário, ela oferece excelente programas culturais e de informação aprofundada. Seu telejornal é de longe superior ao da Globo.
Aqui no Exterior, em breve, se poderá ver a TVBrasil e isso porá fim aos monopólios da Tv Globo e Record, canais aos quais só se tem acesso mediante pagamento de assinatura.
Imagino que o crescimento do Brasil permitirá à TVBrasil ter seus correspondentes, com a possibilidade de oferecer um noticiário diferente da informação unificada oferecida pelas agências estrangeiras.
Rui Martins.