sexta-feira, 15 de junho de 2012

Irã: A Índia que não prevarique

14/6/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido na Vila Vudu: Fato é que todos os BRICS são muito mais parecidos uns com os outros do que supõe a nossa vã imprensa brasileira e os muito mais vãos celsoslafers e demétriosmagnollis que entediam semanalmente os assinantes da Globo News & William Waack...
Se Rússia, China e Índia vão, aos poucos, entendendo que ninguém precisa, de fato, temer tanto o sinistro lobby sionista, o mais provável é que ninguém  (exceto Obama e, mesmo assim, só em ano eleitoral) precise, afinal de contas, temer tanto o sinistro lobby sionista.
São tigres de papel.
Sic transit gloria mundi. Quem diria?
Há reflexões interessantes aí, de fato, pra todos os BRICS...

Sergey Lavrov
A Rússia está tentando tirar algo da cartola para próxima reunião, semana que vem, entre o P5+1 e o Irã, que o país hospedará. Na 4ª-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, esteve em Teerã. Aparentemente, levava ideias novas. De Teerã, foi a Kabul, para participar de encontro lá, na 5ª-feira (sobre o futuro do Afeganistão), para o qual também desembarcou na capital afegã o vice-secretário de Estado dos EUA William Burns (ex-embaixador dos EUA na Rússia). É muito provável que Lavrov e Burns tenham achado tempo para trocar ideias. E o ministro das Relações Exteriores do Irã Ali Akbar Salehi também participou da conferência em Kabul.

Ali Akbar Salehi
Salehi disse a jornalistas, depois de reunir-se com Lavrov em Teerã, que estava otimista em relação à rodada de conversações em Moscou, semana que vem; e que esperava que as conversações fossem “construtivas”. Mas a opinião dominante é que dificilmente haverá grandes novidades na próxima rodada de conversações sobre o Irã.

O presidente Barack Obama dos EUA está sem meios para negociar com o Irã, nesse escorregadio ano eleitoral. E o Congresso não o perde de vista, atento para impedir qualquer concessão que Obama pense em fazer ao Irã. Essa pressão do Congresso não diminuirá. A matrix é mais ou menos a seguinte: Obama tem interesse em relaxar as tensões com o Irã, temeroso de que o preço do petróleo e da gasolina cause alvoroço na opinião pública nos EUA; mas para relaxar as tensões, teria de negociar alguma concessão, o que não pode fazer, apesar da manifesta disposição dos iranianos para retribuir concessão com concessão.

Resultado: as sanções dos EUA contra o Irã só aumentam.

A história demonstra que sanções jamais funcionaram. Mas a discussão, em tom sempre crescente, ajuda o governo Obama a fazer crer, pelo discurso de especialistas e pela mídia, que sua política para o Irã está(ria) gerando algum efeito. Coluna publicada hoje no New York Times, assinada por Trita Parsi [1], iraniano criado na Suécia e premiado especialista em Oriente Médio, que trabalha hoje nos EUA, analisa a fracassada política dos EUA para o Irã.

S.M. Krishna
É mais importante, a cada dia, que a Índia assuma posição sem ambiguidades, que se posicione claramente contra as sanções norte-americanas contra o Irã. O ministro dos Assuntos Externos da Índia, S.M. Krishna, deveria ter-se manifestado com firmeza e sem meias palavras sobre o assunto, como fazem hoje a Rússia e a China. Em Teerã, Lavrov não tergiversou. [2]

Funcionários dos EUA já sinalizam que é impensável, para Washington, impor sanções contra a China, caso não se deixe pautar pelas sanções norte-americanas contra ao Irã. Por que os indianos estamos falando como poodles que tivessem satisfações a dar, ao decidir sobre nossas posições? Convenhamos: quais seriam as tais “situações internacionais” às quais se referiu em tom enigmático o ministro dos Assuntos Internos da Índia, que obrigariam a Índia a reduzir as importações de petróleo iraniano e a aumentar as importações da Arábia Saudita?

Quanto ao sempre referido e temido lobby israelense, que a Índia não quereria incomodar, e se o problema é esse, por que não pedimos que os judeus norte-americanos garantam à Índia a posição de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, em troca do que façamos no caso do Irã? Pois se tanto já nos exaurimos em rompantes de que nunca mais deixaríamos a cadeira no Conselho de Segurança à qual chegamos ano passado, com mandato de dois anos!

Recep Tayyip Erdoğan
Por que, afinal, o lobby israelense em Washington não consegue que os EUA apertem o garrote no pescoço da Turquia, que anda fazendo o diabo contra Israel? A Turquia impediu que Israel tivesse acesso à reunião de cúpula da OTAN em Chicago, da qual Israel queria desesperadamente participar. Líderes israelenses estão sendo processados, acusados de vários tipos de crime, em cortes judiciais turcas. E o que, me digam, o lobby do Estado Judeu pode fazer para vingar as dificuldades que o governo de Recep Tayyip Erdoğan vem impondo a Israel já há dois, três anos? Zilch. Nada.

E mais importante: a atitude da Turquia contra o governo israelense maculou as relações EUA-Turquia? Exatamente o contrário: as relações EUA-Turquia são hoje as melhores e mais sólidas de toda a era pós-guerra fria.

Às vezes tenho a impressão de que nosso próprio pessoal indiano, que pode ter sido “conversado” por Israel por vias obscuras, está deliberadamente espalhando essa lorota, para assustar nossos ministros com a tese risível de que os EUA buscam parceria com a Índia por sugestão de algum lobby israelense. Que sandice! As relações EUA-Índia são baseadas em interesses mútuos. E a Índia deve confiar nela mesma, o suficiente, pelo menos, para entender a raison d’etre do relacionamento EUA-Índia.




Notas de rodapé
[1] 14/6/2012, Abram espaço para Obama, na negociação com o Irã”, Trita Parsi, (em inglês).
[2] 16/6/2012, A Rússia rejeita quaisquer sanções unilaterais contra o Irã”, FarsNews, Teerã, (em inglês). 

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.




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