Adriano
Benayon* 14 de junho de 2012
I.
Juros
1.
Fez-se grande alarde da suposta pressão da presidente para que os bancos
reduzissem um pouco as taxas de juros, acompanhando as baixas recentes na taxa
SELIC, determinadas pelo Banco Central para os títulos do Tesouro
Nacional.
2.
Houve polêmica, com alguns enaltecendo a iniciativa governamental, e a grande
mídia veiculando, junto com os usuais economistas a serviço dos bancos, as
tradicionais advertências de que seria perigoso diminuir as taxas de juros. Na
essência, tudo não passou de teatro.
3.
O fato é que os juros praticados no Brasil são os mais usurários do Planeta, e
as finanças da grande maioria dos brasileiros vai mal, pois os devedores
perdem, cada vez mais, a capacidade de quitar as
prestações.
4.
Em suma, atuais taxas de juros são incompatíveis com a manutenção do volume do
crédito no País. Ou seja: se elas não baixarem, grande número de pessoas físicas
e empresas não-oligopolistas não mais terão condições de tomar crédito, e os
bancos verão cair muito seu volume de negócios.
5.
Ademais, os bancos foram compensados pelo BACEN com a diminuição dos depósitos
compulsórios sobre os depósitos a prazo. Além disso, o BACEN permite-lhes
elevar em 10% (R$ 18 bilhões) o volume de seus financiamentos de automóveis e
veículos comerciais leves.
6.
Assim, o governo prossegue privilegiando dois dos setores poderosos, ambos
controlados por grupos concentradores, o dos bancos - em que a participação
estrangeira segue crescendo - e transnacionais estrangeiras montadoras de
veículos.
7.
O governo petista continua favorecendo essas montadoras com repetidas baixas e
isenções de impostos, como voltou a fazer, há pouco. Parece querer, de qualquer
maneira, fazer com que essas transnacionais prossigam remetendo ao exterior
lucros oficiais (sem falar nos disfarçados) em montantes recordes, o último dos
quais foram os US$ US$ 5,58 bilhões em 2011, com aumento de 36,1% em relação a
2010.
8.
Estimula, de todos os modos, a compra de automóveis, enquanto a infra-estrutura
de transportes públicos urbanos é cada vez mais insatisfatória, as rodovias
também se deterioram e inexistem transportes ferroviários e aquaviários. Desse
jeito, os veículos automotores, sonho de consumo, se atravancam nas vias urbanas
e, quando chegam ao destino, começa o sofrimento para estacionar, acompanhado de
tarifas extorsivas.
9.
Com efeito, como temos demonstrado em vários artigos, as transnacionais e uns
poucos grandes grupos locais, em geral associados a elas, comandam a política
econômica do Brasil, há muitos decênios. Isso é verdade tanto em relação à
chamada economia produtiva, como no que se refere à financeira, como ilustram,
entre outros, estes instrumentos destinados a assegurar que a economia
brasileira seja sangrada em favor de banqueiros estrangeiros e
locais:
a)
juros reais elevados;
b)
prioridade a alocar recursos para o “superávit
primário”;
c)
a emenda constitucional da Desvinculação das Receitas da União (DRU), pela qual
se desviam vultosíssimos recursos tributários, inclusive os da seguridade
social, para o serviço da dívida;
d)
a Lei de “Responsabilidade” Fiscal;
10.
Muita gente tem a ilusão de que, nos últimos anos, houve mudanças significativas
na redistribuição da renda, mas isso só se deu em relação a estratos
marginalizados pelo sistema produtivo. Este prossegue oferecendo poucos empregos
em geral e ainda mais raros quando se trata dos mais qualificados e bem
remunerados, a não ser no topo dos executivos
financeiros.
12.
Alterou-se somente a retórica, supostamente mais à esquerda em relação a
governos anteriores, o que serve para alimentar a oposição por parte da grande
mídia e montar a encenação de que as instituições políticas oferecem alguma
alternativa por ocasião das eleições.
II
–
Camisa de força estrutural
13.
O sistema de poder imperial amarrou a política econômica “brasileira” numa
camisa de força, uma vez que estabelece a meta de inflação associada à ideia
(falsa) de que os juros funcionam contendo a alta dos
preços.
14.
Acontece que houve, ao longo dos últimos decênios, acentuada decadência
estrutural da economia, causada pela desnacionalização. A desindustrialização,
associada também à abertura ao comércio mundial, é apenas uma das facetas dessa
decadência.
15.
Isso implica cada vez maior dependência de produtos importados, especialmente os
de maior conteúdo tecnológico e maior valor
agregado.
17.
Além disso, impostos altos, tarifas absurdas, como a dos pedágios indecentes nas
rodovias paulistas, as da eletricidade privatizada etc. Ademais, os produtos
industriais encontrados no mercado são dominados, na maioria, por carteis e
empresas em oligopólio.
18.
Assim, tanto a produção local, nas mãos das transnacionais, como as importações
têm preços elevados, e tudo isso leva a pressão inflacionária. Então, a pretexto
de conter essa pressão, os juros no Brasil têm-se mantido incomparavelmente
altos (são atualmente negativos na Europa, EUA e
outros).
19.
Fundos e outros aplicadores estrangeiros tomam, no exterior, recursos a juro
zero para aplicá-los no Brasil, em títulos públicos e outros instrumentos
financeiros. Isso faz o câmbio do real sustentar-se em patamar alto e tornar
menos competitiva a produção realizada no Brasil. Junto com a decadência
estrutural, isso causa, nas contas externas do País, déficit de transações
correntes dos mais altos do mundo, em proporção do
PIB.
20.
Portanto, o modelo econômico leva forçosamente a crises e assegura que o País
não realize o tão falado e jamais alcançado desenvolvimento. É o modelo da
dependência, adotado desde meados dos anos 50 e radicalizado, a partir de 1990,
com a adesão subalterna à globalização dirigida pelas potências
imperiais.
Adriano
Benayon*
é Doutor em Economia e autor de “Globalização versus
Desenvolvimento”
E-mail: abenayon.df@gmail.com
(Comentário de Artur Rosa Teixeira, enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirMais um artigo esclarecedor do Economista Brasileiro Adriano Benayon, cuja leitura nos mostra à evidência de como o Brasil, embora governado por um partido que se reclama da Esquerda, desde há 12 anos, o PT, continua na senda da entrega do país aos grandes interesses internacionais, tal como os antecessores.
Vejam como a receita de usurpação do sistema bancário é o mesmo que se aplica em Portugal, apenas com a diferença que o "País Irmão", pela sua riqueza endógena, não precisava disso...
Daí que a crise, de que tanto nos falam, não passa de um expediente para nos espoliar.
Lá não é a crise, contudo os métodos e a propaganda é a mesma.
Mais, vejam como não passa de um mito o Desenvolvimento Econômico do Brasil, que tanto elogio recebe deste lado do Atlântico.
Num país de cujo Orçamento de Estado (Federal) quase 40% vai para os bancos e, embora o discurso oficial se focalize na pobreza, esta apenas recebe cerca de 1% para a bolsa de família, uma esmola envenenada que não liberta os pobres da pobreza, e à volta de 6% para a Saúde e o Ensino.
Nada disto é do conhecimento geral...
Pudera, quem mais lucra são os "mercados" e estes são hábeis na propaganda e contam com muitos servidores apátridas...
Quanto ao PT, obcecado com o Poder pelo poder, mandou às urtigas a sua ideologia, que na oposição, era um dos mais contestatários ao Poder do Capital Privado e ao Imperialismo Yanque, de que é agora um aliado conveniente.
Não admira pois os incentivos à indústria automóvel. No tempo do sindicalismo de Lula da Silva, este pressionava o Governo Militar para liberar os preços dos automóveis em consonância com os desejos dos patrões da indústria automobilística.
O pretexto era proporcionar melhor remuneração do operariado...
Na verdade defendia-se os interesses do Capital Estrangeiro que operava na região do ABC, em São Paulo. Daí também, que à falta de verdadeiras causas, se engaje nas propostas fracturantes, como o aborto, a liberdade de gênero, ecologia “babaca” que defende a Natureza excluindo o homem, etc. que funcionam como “faits divers”, distraindo a opinião pública para que não se aperceba do essencial, ou seja, a contínua drenagem dos recursos naturais e activos brasileiros para a "burra" dos piratas internacionais, ou se entretêm a julgar o passado recente excluindo os crimes lesa pátria praticados por alguns membros que hoje formam o seu governo através de uma pseudo "Comissão da Verdade". Haja decoro!
Abraços.
Artur