16/6/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Barack Obama e Manmohan Singh |
O
telefonema que o presidente dos EUA Barack Obama fez para falar com o
Primeiro-Ministro da Índia, Manmohan Singh, na 5ª-feira, foi surpresa. Aconteceu
um dia depois de terminado o “Diálogo Estratégico EUA-Índia”, embora devesse ter
sido feito, em momento oportuno, pelo menos 3-4 dias antes. O “Diálogo
Estratégico” deu em nada e o melhor que se pôde extrair dele, segundo os
especialistas de jornal, foi que o relacionamento EUA-Índia está “em pausa”, com
as lideranças dos dois lados envolvidos em questões existenciais das respectivas
políticas domésticas. Observadores mais argutos da comunidade mundial
registraram que o “ímpeto” do relacionamento EUA-Índia esmoreceu – tomando
emprestada expressão que se lia numa boa avaliação publicada na revista The Economist [1].
Michael Froman |
O pior momento, foi o “sermão”
aplicado pelo vice-conselheiro nacional dos EUA para Assuntos Externos,
Michael
Froman [2], ao Ministro dos
Assuntos Externos da Índia S M Krishna. Foi quebra de protocolo. Froman meteu o
dedo no nariz do ministro, para que não houvesse dúvidas sobre a atitude que os
EUA esperam do Primeiro-Ministro da Índia. Grosseria e falta de compostura. (No
passado, pelo menos uma vez, o mesmo Froman gritou por telefone, digamos, o que
bem quis, ao Vice-Presidente da comissão de Planejamento, Montek Singh
Alhuwalia, que preferiu não tomar conhecimento dos maus bofes do
norte-americano).
Krishna
viajou para Washington com escala em Pequim (por assim dizer), onde insistiu na
reivindicação de um lugar de membro,para a Índia, na Organização de Cooperação
de Xangai, grupamento regional cuja simples menção basta para desestabilizar os
EUA. E depois de Washington, o ministro indiano partiu diretamente para visita
oficial de três dias a Cuba. Desnecessário dizer que a declaração conjunta
distribuída ao final do “Diálogo Estratégico” manteve ensurdecedor silêncio
sobre a real estrutura subjacente da estratégia regional dos EUA: o tal
“movimento de pivô” em direção à Ásia e o “reequilibramento” das forças dos EUA.
Nesse
quadro, Obama provavelmente decidiu fazer um aceno simpático ao Ministro, depois
de tê-lo mantido a segura distância gélida de si enquanto esteve em Washington.
O documento da Casa Branca sobre a conversa telefônica entre o ministro Singh e
Obama cuida atentamente de não fazer qualquer referência ao relacionamento
EUA-Índia.
Mas
não é documento que se deva tomar pelo valor de face, se se considera a extensa
lista de desejos dos EUA (que abarca, de questões de comércio nuclear, à entrada
da rede Wal-Mart no mercado indiano)
que Obama tem sobre a mesa de trabalho no Salão Oval.
Pranab Mukherjee |
Obama
deve saber que podem acontecer mudanças nos serviços gerais do ministério das
Finanças da Índia. A imprensa ocidental criticou o Ministro Pranab Mukherjee
como o principal empecilho no caminho das “reformas” na Índia. As apostas são
altíssimas, no jogo dos interesses dos EUA.
A
Casa Branca insiste que a conversa Obama-Singh girou em torno de “questões
regionais e internacionais de interesse mútuo” e o lastimável estado da economia
global. Obama pegou o telefone no meio da noite para falar ao ouvido do
Primeiro-Ministro da Índia sobre a crise na Eurozona ou sobre o G-20?
Improvável.
É possível que Obama tenha falado
sobre o Paquistão – sobretudo agora que se prepara para pedir desculpas oficiais
pelo massacre de soldados paquistaneses em novembro passado.
Outra vez, os EUA esperam que a Índia se posicione e esteja a
postos para ajudar quando chegar a hora da decisão [3] sobre Síria e Irã,
nas próximas semanas.
Minha impressão é
que Obama tratou de tentar remediar o fiasco do “Diálogo Estratégico”, antes de
que começassem os discursos fúnebres em Delhi. Seja como for, fato é que a
declaração da Casa Branca diz que Obama e Manmohan Singh trataram de “questões
regionais e internacionais de interesse mútuo” e do lastimável estado da
economia global. [4] Não é pouco, nem
trivial, que a Casa Branca informe que o presidente dos EUA telefonou ao
Primeiro-Ministro da Índia para discutir esses assuntos, mesmo que nada disso
tenha sido discutido. Quantos governantes no mundo são oficialmente declarados
merecedores de tão rara distinção?
Notas
de rodapé
[1]16/6/2012, “Less than allies, more than
friends: America and India try to define a new sort of relationship”
[Menos que aliados, mais que amigos: EUA e Índia tentam definir um novo tipo de
relacionamento], The Economist.
[2] 13/6/2012, First Post Economy em: “India’s
flip flops, poor business climate scaring away US
investors”.
[3] 14/6/2012, The National
Interest em: “The
Path to War with Iran”.
[4] 14/6/2012,White House em:
“Readout
of the President’s Call with Prime Minister Singh of India”.
MK
Bhadrakumar*
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e
segurança para várias publicações, dentre as quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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