Publicado
em 26/06/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
No
encerramento da Conferência da ONU de Sustentabilidade e Desenvolvimento, a Rio
+ 20, ocorreu também um retrocesso político de graves consequências no Paraguai
com o golpe parlamentar que derrubou o Presidente constitucional Fernando Lugo,
assumindo o vice Federico Franco, do Partido Liberal.
Não
era de hoje que a elite paraguaia se sentia incomodada com Lugo no governo. O
tempo passou e aproveitaram a oportunidade de um grave incidente que pode ter
sido armado pelos próprios ruralistas para desencadear a ofensiva que culminou
com a derrubada de Lugo. Um retrocesso ao estilo Honduras, cujo governo de
Franco não deve ser reconhecido, porque a derrubada de Lugo foi totalmente
ilegal.
O
Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel comentou que o golpe de estado no
Paraguai estava sendo preparado há tempos e faz parte da política continental
imposta pelos EUA contra governos democráticos, com a cumplicidade dos poderes
econômicos e políticos e ainda mais a traição do vice-presidente Federico
Franco.
O
golpe teve apoio também dos brasiguaios, os brasileiros donos de terras no
Paraguai e segundo Martin Almada, o descobridor dos arquivos da Operação Condor,
um dos principais integrantes do setor é um tal de Tranquilo Favero, brasileiro,
natural de Santa Catarina, que fez fortuna graças a doação de terras
proporcionadas pelo falecido ditador Alfredo Stroessner, que assim retribuiu o
apoio do empresário.
Não
é à-toa que Merval Pereira apoiou o golpe no Paraguai e o comparou com o
democrático impeachment de Collor em
1992. Um equívoco, na ocasião o então presidente teve todo o tempo do mundo para
se defender e a opinião pública estava contra ele. Já Lugo conta com o apoio
popular e nem tempo adequado lhe foi dado pelos congressistas para ele se
defender.
Merval,
como sempre a serviço da direita, jamais tocaria na questão da mídia de mercado,
linha auxiliar da oligarquia paraguaia para desfechar o golpe de estado
parlamentar. O jornal ABC Color teve papel destacado nos acontecimentos.
Possivelmente similares paraguaios de Merval Pereira foram
acionados.
***
Ainda
estamos nos rescaldos da Rio + 20. A Cúpula dos Povos, além da série de
debates, exposições e tomadas de posição produziu um fato político relevante
aqui no Rio de Janeiro. Depois da passeata dos 100 mil de 1968 a cidade na semana
passada foi palco de uma outra que reuniu cerca de 70 mil
pessoas.
Quanto
à reunião das Nações Unidas realizada no Rio Centro, a pergunta que não quer
calar remete à pergunta: “e agora?”. Qual o avanço
verificado?
A
semana que passou produziu também uma grande contradição. Enquanto na reunião do
G-20, realizada no México, foi aprovado um pacote de cerca de 70 bilhões de
euros para o FMI, na verdade para salvar os bancos, na Rio + 20 os países ricos
não aceitaram dar pelo menos 30 bilhões para um fundo de preservação do meio
ambiente.
Cabe
mais uma pergunta: o Planeta continuará convivendo com os violadores do meio
ambiente que se escondem na retórica de defensores da ecologia desde
criancinha?
Eike
Batista, por exemplo, deu palestra no Projeto Humanidade no Forte Copacabana
defendendo o meio ambiente, enquanto Israel Klabin escreveu artigo no caderno
especial de O Globo sobre a Rio + 20.
Quer dizer: mais uma vez os predadores do meio ambiente se colocam exatamente ao
contrário do que são.
***
A
presença do Presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad no Rio de Janeiro vale um
capítulo a parte. Provocou polêmicas das mais variadas.
Ao
contrário do que é apresentado diariamente pela mídia de mercado, Ahmadinejad
mostrou um discurso conciliador, sem deixar de lado os princípios, reafirmando
que o seu país não quer ter bomba atômica. O islamismo não permite, segundo
Ahmadinejad.
No
encontro que teve com intelectuais, políticos e alguns formadores de opinião,
onde ouviu mais do que falou, o presidente iraniano enfatizou a importância da
Justiça para o mundo e reafirmou suas críticas a uma ordem mundial injusta que
precisa ser modificada.
Na
entrevista coletiva , Ahmadinejad destacou, entre outras coisas, a hipocrisia
dos Estados Unidos que tinha seis acordos nucleares na época do Xá Pahlevi,
quando o Irã vivia uma ditadura, e os suspendeu logo após o triunfo da revolução
E agora pressiona o Irã, segundo Ahmadinejad, exatamente para evitar o
desenvolvimento da energia nuclear para fins pacíficos.
Mas
a presença de Ahmadinejad na Rio + 20, como não poderia deixar de ser, provocou
polêmicas e manipulação da informação.
O
maior exemplo nesse sentido ficou mais uma vez com O Globo. No suplemento
especial sobre o Rio + 20, da quinta-feira (21), na página 4, a única matéria não assinada
era sobre Ahmadinejad (“Ahmadinejad discursa contra a desigualdade”) editada de
forma totalmente manipulada.
No
final da matéria, o jornal dos Marinhos informava que “um forte esquema de
segurança impede a circulação de repórteres e curiosos”. Referia-se o “informe”
ao Hotel Royal Tulip, em São
Conrado.
Os
que circularam por lá naqueles dias puderam confirmar que a notícia divulgada
não correspondia a realidade. Foi colocada com o objetivo de reforçar a imagem
negativa do presidente iraniano.
Os
jornalistas independentes que participaram da entrevista coletiva com
Ahmadinejad chegaram a comentar como no local estava sendo discreta a segurança
do dirigente iraniano que está na bola sete.
Teve
jornalista que chegou ao local de carro e nem teve problema para estacionar no
pátio do hotel, o que geralmente não é comum nos locais onde circulam
autoridades, sobretudo chefes de Estado ou de Governo.
Fica
o registro que pode servir de subsídio para os interessados em analisar como os
jornais cobriram a intensa movimentação ocorrida no Rio de Janeiro nestes
dias.
Mário Augusto Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário
uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e
editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do
seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está
na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto
da Redação
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