17/7/2012, Manlio Dinucci, Il Manifesto,
Itália
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Manlio Dinucci |
Os
EUA defendem a democracia há 236 anos: foi o que disse Hillary Clinton no Cairo.
Quer dizer: ela já apagou da história as mais de 160 intervenções armadas que o
imperialismo norte-americano obrou pelo mundo, a partir dos anos 1940s; as
guerras do período da Guerra Fria, no Vietnã, no Laos, no Camboja e no Líbano;
os golpes orquestrados pela CIA na Guatemala, Indonésia, Brasil, Chile e
Argentina; e as guerras do período pós-Guerra Fria no Iraque, Somália,
Iugoslávia e Afeganistão.
Clinton
garante que o governo Obama mantém o mesmo compromisso em todas essas ações. De
fato, se se considera a estratégia posta em prática pelo Republicano
George W. Bush, do “Oriente Médio Expandido” (para incluir o
Norte da África e a Ásia Central), Barack Obama, Democrata (e recipiendário de
um Prêmio Nobel da Paz), mantém, sim, o mesmo compromisso, com a mesma
estratégia, cujo alvo é toda a região do Pacífico Asiático, em declarada
provocação a China e Rússia.
O
primeiro passo foi à guerra contra a Líbia, país que (como Bill Clinton e Bush
fizeram na Iugoslávia) foi demolido, como estado unificado, para implantar no
poder governantes servis, que obedeçam Washington. Assim se chegou a “eleições
livres” na “Líbia livre”, vencidas pelo “liberal” Mahmoud Jibril, cuja vitória
passa a ser responsabilidade do desejo popular.
Quem
diga isso ignora o fato de que os EUA e outras potências ocidentais gastaram
milhões, na Líbia, para comprar o apoio de organizações e grupos tribais. Ignora
também que Jibril é homem de confiança de Washington, economista formado nos EUA
e propagandista do neoliberalismo econômico no mundo árabe. Em 2007, Jibril foi
nomeado presidente do Conselho de Governo líbio para o desenvolvimento
econômico, organismo ligado a empresas transnacionais de capital norte-americano
e britânico. Nesse posto, Jibril alertou Washington para o fato de que Gaddafi
bloqueara o projeto de privatizar a economia líbia e formar um governo ou grupo
de influência no governo, de tendências ocidentalizantes. Disse também que
aumentavam as pressões chinesas e russas. A vitória de Jibril começou a
delinear-se nas mesas de conspiração.
Dia
30/3/2011 (dez dias antes do início da guerra contra a Líbia), o New York
Times escreveu, com informação de releases do governo Obama: “Se a intervenção de forças norte-americanas
e ocidentais derrubar Muammar Gadhafi, Mahmoud Jibril pode ser o novo líder
líbio”.
A
guerra contra a Líbia é o modelo que os EUA adotaram para desintegrar outros
estados, entre os quais Síria e Irã, que impedem o avanço na direção leste. Dado
que vários países relutam, sem aceitar a implantação de bases militares dos EUA
em seu território, o Pentágono está ocupando águas territoriais, a começar pelo
Golfo Pérsico, e avançando gradualmente na direção leste, usando navios
especiais que servem como bases flutuantes para forças especiais.
Outras bases aéreas e navais já
estão instaladas ou foram ampliadas, nas Filipinas, em Cingapura, Austrália e
outros países. Em Cingapura, está ancorado o primeiro “navio de combate
litorâneo” [1]. É um
novo tipo de navio de guerra, que se pode aproximar da costa e atacar áreas
em terra. A
Marinha dos EUA já deslocou cerca de 50, para o Pacífico.
Além
da ofensiva diplomática, para criar disputas entre a China e países vizinhos,
Clinton fez uma “visita histórica” ao Laos. Prometeu US$ 9 milhões para o
trabalho de remover minas e posou para fotografias ao lado de um menino
mutilado, vítima de munição não detonada, cerca de 30% dos 2 milhões de
toneladas de bombas que os EUA descarregaram contra o Laos em 1964-1973. Claro.
Sempre defendendo a democracia.
Nota
dos tradutores
[1]Orig. Litoral Combat
Ship (LCS). Vídeo a
seguir:
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