quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pepe Escobar: “American (jihadi) Idol” [1]


10/8/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

I don’t want a holiday in the Sun
I wanna go to the new Belsen [2]
I wanna see some history
Cause now I got a reasonable economy –
The Sex Pistols, Holidays in the Sun [3]

Pepe Escobar
Jihadis do mundo, uni-vos: nada tendes a perder, além de um “branco” em cena. Depois da Bósnia, Chechênia e Afeganistão, também o ocidente agora caiu de amores por vocês, tudo outra vez – divirtam-se.

Se ainda faltasse prova, ei-la aqui – diretamente na voz do establishment dos EUA personificado no Council of Foreign Relations (CFR) {1}. Que lindo é saber que:

“...os batalhões do “Exército Sírio Livre” [Free Syrian Army (FSA)] estão cansados, divididos, caóticos e ineficazes. Sentindo-se abandonadas pelo ocidente, as forças rebeldes sentem o moral baixar dia a dia... Mas os combatentes da al-Qaeda podem ajudar a levantar o moral. O influxo de jihadis acrescenta disciplina, fervor religioso, experiência de combate adquirida no Iraque, dinheiro dos simpatizantes sunitas do Golfo e, sobretudo, resultados mortalmente eficazes. Em resumo: o FSA precisa agora da al-Qaeda”.

Reescrevamos o parágrafo acima, no contexto de meados dos anos 2000s na Mesopotâmia.

“A resistência sunita iraquiana está cansada, dividida, caótica e ineficaz. Sentindo-se abandonadas pelo mundo árabe, as forças rebeldes sentem-se cada dia mais desmoralizadas, na luta contra o exército mais poderoso do mundo. Mas os combatentes da Al-Qaeda podem ajudar a levantar a moral. O influxo de jihadis acrescenta disciplina, fervor religioso, experiência de combate adquirida em todos os cantos do mundo muçulmano, dinheiro dos simpatizantes sunitas do Golfo e, sobretudo, resultados mortalmente eficazes. Em resumo: a resistência sunita iraquiana contra a ocupação pelos EUA precisa da al-Qaeda”.

Imaginem os gritos padrão Munch, em todo o ocidente, se alguém, naquele momento, aparecesse com semelhante proposta. Como? Como seria humanamente possível apoiar “terrists” [aprox. “teroristas”] [4]? Essa é fácil: basta que o “terorista” seja “nosso filho-da-puta”.

Ed Husain
O mensageiro do “terorismo” nessa mensagem do CFR é um Ed Husain, apresentado como “especialista em estudos do Oriente Médio”. Antes de ter organizado o primeiro think-tank de contraterrorismo na Grã-Bretanha, foi “ativista dos grupos Jamat-e-Islami, Hizb ut-Tahrir (HT) e da Fraternidade Muçulmana no Reino Unido”. Graças a Alá, abjurou; agora é “empenhado crítico do extremismo e do islamismo”.

A Síria prova mais uma vez que o ocidente adora desertores. Mesmo assim, nosso desertor islamista toma o cuidado de cobrir as próprias bases e acrescenta que “o plano oculto entre os políticos é primeiro livrar-se de Assad – enfraquecendo a posição do Irã na região – para depois lidar com a al-Qaeda”.

Obviamente o nosso desertor – que fala árabe e é “familiarizado” com o urdu – deve crer que “tiro pela culatra” seja terminologia pornô. Até as criancinhas já sabem que, depois da jihad afegã dos anos 1980s, os EUA, a Arábia Saudita e o Paquistão conseguiram “mudar o regime” em Kabul, sim. Mas também conseguiram criar os Talibã, Osama bin Laden, Ayman al-Zawahiri e o “terorismo” global.

Agora, já temos bom motivo para novas esperanças.

A Síria já está convertida em versão inspirada em Holiday in the Sun [Feriado ao sol] inspirada no Sex Pistol (versão remix da jihad): um ímã que atrai líbios, jordanianos, sauditas, argelinos, chechenos, af-paquistaneses e até britânicos com sotaque londrino. {2}

Estão lutando ao lado dos islamistas sírios como esse, de nome Abu Bakr, que acaba de ter seus 15 minutos de fama, na Agência Reuters. {3}

Perguntado por seus planos futuros, Abu Bakr admitiu: “Não quero impor a Xaria e começar imediatamente a cortar mãos de ladrões. Creio na Xaria. Mas se for imposta às pessoas, geraremos medo. Temos de dar segurança às minorias e tratá-los bem”.

A palavra chave aí é, evidentemente, “imediatamente”. Primeiro nos livramos do ditador sanguinário e de seu regime do mal. Deixamos para depois a parte de degolar e decepar mão dos infiéis alawitas, cristãos, drusos e curdos.

Completando a farsa de um Exército Sírio Livre, hoje já totalmente infiltrado por jihadis, e das muitas gangues/brigadas que de fato estão comandando tudo, a mídia-empresa ocidental não faz prisioneiros: agora vendem a ideia de que a CIA está em campo só para o servicinho de separar o FSA, como se fosse o trigo, do joio jihadista – decidindo quem leva as malas cheias de dólares americanos.

Fiéis anotem bem: as armas de destruição em massa de Saddam Hussein já estão à venda em E-bay.

Hillary Clinton
Parece que ninguém contou à secretária de Estado, Hillary “Viemos, vimos, ele morreu” Clinton sobre essa mutreta jihadi. {4} 

Ela tem certeza de que não conhecerá a parte da “disciplina, fervor religioso e experiência do Iraque” dos discursos pró al-Qaeda. Pois conhecerá. O Irã, afinal de contas, continua a ser o Mal Supremo além de qualquer possível Eixo; além do mais, Washington precisa de alguém confiável para culpar pela infinita mentira da “guerra ao terror”.

Podem, portanto, esquecer o próximo filmeco dirigido por Kathryn Bigelow, de glorificação da operação que assassinou Osama bin Laden em Abbottabad. “Gastamos bilhões de dólares. Ainda não estamos nem perto de derrotar nosso inimigo”. {5}  

Inimigos não se derrotam: inimigos seduzem-se e cooptam-se. Será alguma coisa como um remake do icônico “Crepúsculo dos deuses” de Billy Wilder, com Osama bin Laden no papel de Norma Desmond: “Sempre fui grande. Os filmes ficaram pequenos”.

Jihadis do mundo, nada tendes a perder além da coleção de discursos de al-Zawahiri em DVDs arranhados. Chegou a hora da peregrinação a Hollywood, hora daquela fala imortal: “Estou pronta para o close-up, Mr. bin Laden” [5]. Preparem-se para ser detonados pela crítica irada.

Notas de rodapé:

{1}. 6/8/2012, Council of Foreign Relations, Ed Husain em: Al-Qaeda's Specter in Syria .
{2}. 6/8/2012, Press TV, em: None of insurgents were Syrian: UK journalist
{3}. 8/8/2012, Reuters, Erika Solomon em: Insight: Syria rebels see future fight with foreign radicals
{4}. 7/8/2012, Reuters, Andrew Quinn em: Clinton warns of “proxies, terrorists” coming to Syria

{5}. Assista a seguir:




Notas dos tradutores

[1]
American Idol, Conhecido programa de televisão.
[3] “Holidays in the Sun”, da banda The Sex Pistols, 1977 a seguir:

[4] Pronúncia errada da palavra “terrorist”. Era frequente nos discursos de George W. Bush: “temos de ser fortes e vigilantes e nos unir contra esses terrists”. [Informações do Urban Dictionnary]
[5] Fala do filme “Crepúsculo dos deuses”. Pode ser vista/ouvida a seguir:

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