18/10/2012, Parmy Olson, Forbes
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Comentário do
Zé-do-Ki, direto do balcão:
Ah, é! Ah, é! Agooora, vai! Acooorda Estadão! A revista Forbes
já quer ser o 4Chan!
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Parmy Olson |
Mesmo que você jamais tenha ouvido
falar de Christopher Poole, certamente já ouviu falar de sua página na internet,
4chan. Se não ouviu falar do 4chan
– página gigante, super abastecida de produtos criativos, às vezes tolos, às
vezes repugnantes –, certamente já ouviu falar do movimento digital que
4chan disparou há, já, vários anos, os Anonymous. Seja como for,
as duas comunidades reúnem milhões de pessoas e ambas já chegaram às manchetes
da imprensa internacional. Fato é que, por trás do palco, o fundador de
4chan sempre comandou sua página original, de fato, com orçamento mínimo;
de fato, sem um vintém.
4chan não tem empregados em tempo
integral, [não emprega jornalistas, nem editores], nem desenvolvedores nem
administradores de sistemas. Poole e um desenvolvedor de sistema que trabalha em
tempo parcial administram uma página na internet que já se aproxima de 20
milhões de visitantes/mês, absolutamente sozinhos.
“De
fato, não dá dinheiro” – diz Poole no Web
Summit em Dublin, Irlanda , vestido,
como sempre com suas tradicionais calças largas cinza escuro e camiseta cinza
claro. 4chan não conta com investidores – o que talvez nem surpreenda,
dada total liberdade de conteúdo que, não raras vezes, inclui muita pornografia.
Chris Poole fala sobre o 4chan durante a conferência Digital Life Design (DLD) em 22 de janeiro de 2012 |
Há quem diga, na
tech-indústria, que a página nunca passou de mais uma
“bootstrapped” [1] [butestrepada?] ao longo dos últimos nove
anos de existência, e que depende do fundador para sobreviver. Em certo sentido,
4chan nada tem de “iniciante”, como projeto que Poole manteve ao longo
dos anos, para a imensa comunidade que ali se reuniu. “É um hobby”, diz
Poole, que atende pelo apelido “moot” na página, onde é adorado por muitos
usuários.
Depois
da palestra para os desenvolvedores aqui reunidos, Poole desabou num sofá
próximo, com ar exausto. Problemas de fuso horário. Dali só sai para as raras
conferências nas quais veja algo interessante a aprender, ou para encontrar
alguém que considere interessante. Poole também está ocupado em malabarismos
para organizar uma outra empreitada, dessa vez com dinheiro às veras. Em 2011,
Union Square Ventures investiu $3
milhões numa página colaborativa que Poole fundou, chamada Canvas Networks. Mas os anos de
4chan ensinaram-lhe lições valiosas, a principal das quais é que o
segredo é não complicar.
Poole
diz que as pessoas têm um impulso incontrolável de “trabalhar com redundâncias”.
Em outras palavras, é uma obsessão por começar negócios em que se reúnem mais
dinheiro, sistemas e partes móveis, do que as realmente necessárias. “Em todos
esses casos, um desses itens sempre dará xabu” – ensina.
4chan, por sua vez, roda em apenas cinco
servidores e só há dois meses teve sua primeira Application Programming
Interface (API). Nos últimos nove anos, as quedas que houve foram provocadas por
erros do próprio Poole ou por fatores externos que ele não controlava, como um
ataque distribuído de negação de serviço [orig. Distributed Denial of Service
(DDoS)], comandado por detratores. Poucos problemas tiveram algo a ver com
mau funcionamento ou má operação de software ou hardware.
A
página exige manutenção mínima (de fato, super mínima). Todas as páginas são
iguais, para todos os usuários, absolutamente sem diferença alguma. A página
nada arquiva; não arquiva nenhum conteúdos. A cada (mais ou menos) 24 horas,
4chan apaga todos os comentários e imagens postadas depois da última
“limpeza”. “É uma das raríssimas páginas que absolutamente não tem memória” –
diz Poole. “Dia seguinte, tudo é esquecido para sempre”.
A
memória-zero ajudou Poole a evitar multas monstros. Das dezenas de milhares de
postados no 4chan todos os dias,, muitos incluem links para páginas
torrent de música e filmes, além de softwares “pirateados”. Mas,
quando a intimação judicial aparece em sua caixa de mensagens, o link
“criminoso” já foi apagado há muito tempo. “Não tenho recursos, como YouTube, para processos de $1 bilhão
contra Viacom” – diz ele. Daí aprendeu que “Só armazene o que você precisa
absolutamente armazenar. As pessoas tendem a armazenar tudo”.
Ensina
também que programadores e criadores iniciantes devem-se habituar a comprar
material usado. Assim como há vasto mercado para cadeiras de escritório de
segunda mão (graças ao número de programadores e criadores iniciantes que
compraram cadeiras novas e deram-se muito mal), há também vasto mercado para
servidores de segunda mão. Como carros, os servidores perdem grande parte do
valor no minuto em que são tirados da prateleira. “4chan não existiria
sem eBay” – diz Poole. Diz também que comprou todo seu hardware naquela
página; e há anos, no tempo em que ainda não tinha idade para dirigir e sua mãe
tinha de levá-lo “a picos muito pirados” onde se vendia hardware de
segunda mão.
Outra
das lições que Poole aprendeu e ensina é parar de tentar resolver problemas que
nada têm a ver diretamente com o que você quer fazer. Houve tempo em que
4chan rodava seu próprio DNS; e aquela configuração dava-lhe muito
trabalho. “Eu tinha um servidor primário DNS e, se alguém derrubasse aquele
servidor, derrubava toda a página”. Poole e alguns apoiadores até chegaram a
tentar escrever um sistema captcha próprio, para o 4chan, mas “foi
a pior ideia possível”. Hoje, o serviço de hospedagem de redes Cloudflare cuida integralmente do DNS do
4chan e de mitigar os ataques DDoS.
“Trabalhar absolutamente sem
dinheiro pode ser uma bênção”, disse Poole na conclusão. “Se você vive sem
recursos, é obrigado a olhar com lente de aumento tudo o que você tem.
Aprende-se a pensar de modo completamente diferente. O dinheiro não faz sumir os
problemas”. E com essa Poole sumiu da sala, à procura do almoço e, depois, uma
merecida sesta.
Nota
dos tradutores
[1] Orig. Bootstrapped, “ser morto ou eliminado
por golpe fraco ou mal aplicado, especialmente a facadas. Na origem, o adjetivo
aplicou-se a um dos personagens de “Piratas do Caribe”, Norrington, o qual,
conhecido e afamado por ser espadachim habilidosíssimo e invencível, acaba
morto, em total anticlímax, por adversário amalucado e hiper incompetente, de
nome Bootstrap Bill” (imagens em: “Bootstrap” Bill
Turner).
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