Postado por Joana em 21/12/2012- 5:04; desinformemonos.org
Traduzido por Mariana Petroni e
Erneneck – Foto Moysés Zuñiga
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu
Numa ação massiva, disciplinada e
simultânea, que não era vista desde os dias do levantamento insurgente de 1994,
milhares de zapatistas ocuparam pacificamente e num silêncio ensurdecedor cinco
cidades do estado de Chiapas. Algumas horas depois,revelaram um breve
comunicado.
Chiapas, México. Milhares de bases de
apoio do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) ocuparam num silêncio
emblemático as ruas de cinco municípios do estado de Chiapas, na primeira
manifestação púbica que os zapatistas fazem desde o dia 7 de maio de 2011,
quando se juntaram à convocatória do Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade.
Essa ação simultânea e massiva, a maior de toda a história, foi antecedida pelo
anúncio de que a organização indígena daria sua palavra, a qual se conheceu
algumas horas depois da mobilização.
“A quem possa interessar.
Escutaram? É o som do seu mundo caindo. É o do nosso mundo ressurgindo. O dia
que foi o dia era noite. E noite será o dia que será o dia”
Foi a mensagem assinada pelo
subcomandante Marcos e difundido horas depois, através da página Enlace
Zapatista.
Em cada uma das cidades ocupadas
(Ocosingo, Las Margaritas, Palenque, Altamirano e San Cristóbal), os tzeltales,
tzotziles, ch’oles, tojolabales, zoques, mames e mestiços marcharam com seus
tradicionais lenços e passa-montanhas, em fila e silêncio rigoroso. Homens e
mulheres, na sua maioria jovens, passaram sobre o templete em cada cidade e levantaram o
punho. Essa foi a expressão mais simbólica de toda a mobilização.
Força, disciplina, uma ordem
extraordinária, dignidade, integridade e coesão. Não é pouco. São 19 anos nos
quais uma infinidade de vezes foram considerados mortos, divididos e isolados.
Uma e outra vez saíram para dizer “aqui estamos”. Hoje, com 40 mil zapatistas
nas ruas, novamente silenciaram, de uma só vez, os boatos infundidos.
Em San Cristóbal de Las Casas,
cidade onde são feitas tradicionalmente as manifestações do EZLN fora do seu
território, mais de 20 mil homens e mulheres zapatistas provenientes do caracol
de Oventik, onde se concentraram um dia antes, desfilaram sob uma chuva que
começou de madrugada. A passeata de 28 destacamentos (segundo a numeração que
levavam os grupos nos seus passa-montanhas) iniciou fora da cidade, ao redor das
oito e meia da manhã, e aproximadamente ao meio dia a retaguarda ainda estava
muito longe do centro da cidade. A praça central foi muito pequena para receber
todos eles.
Habitantes e turistas gritaram e
cantaram o hino zapatista em alguns trechos da passeata. Os comerciantes, como
de praxe, baixaram suas cortinas, porque os índios novamente os surpreenderam. O
templete foi colocado na frente da
catedral, enquanto que os blocos zapatistas organizados se localizaram ao redor
da zona central da cidade.
Em Palenque, uma antiga cidade
ch’ol e um dos centros turísticos mais importantes do estado de Chiapas, os
indígenas zapatistas entraram pela avenida principal e realizaram o gesto do
punho sobre o templete colocado no
centro da cidade, em frente à igreja. Posteriormente, saíram pela rua Chiapas
para voltar às suas comunidades.
Em Las Margaritas, os zapatistas
repetiram a dinâmica com 7 mil bases de apoio, enquanto que em Ocosingo – cidade
tomada pelo insurgentes no dia 1 de janeiro de 1994, onde se deu o massacre de
civis por parte do exército federal durante os primeiros dias de guerra, mais de
6 mil bases de apoio iniciaram a ação a partir das seis horas da manhã;
aproximadamente 8 mil zapatistas ficaram no caracol de La Garrucha porque o
transporte para a cidade não foi suficiente. Não tinham se concentrado tantos
zapatistas nessa localidade desde os combates sangrentos do levantamento
indígena.
Os símbolos são muitos elegeram o
último dia do ciclo maia, o dia que seria “o fim do mundo” para muitos e para
outros o início de uma nova era, a troca de pele, a renovação. Durante estes 19
anos o caminho da luta zapatista está cheio de simbolismos e profecias, nessa
ocasião não foi diferente.
Desde o anúncio de que, em breve,
a comandância geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) daria
sua palavra, a expectativa pelo conteúdo de sua mensagem só cresceu, mas, nessa
sexta-feira, o que se escutou foram os passos, o caminhar silencioso cruzando
cinco praças, seu andar digno e rebelde pelas ruas e seu punho ao
alto.
A última vez que o subcomandante
Marcos, chefe militar e porta-voz zapatista, falou foi no epistolar intercâmbio
com o filósofo Luis Villoro, no dia 7 de dezembro de 2011. A iniciativa política
mais recente foi o festival da Digna Raiva, para o qual convocaram as lutas e os
movimentos do México e do mundo, em dezembro de 2008.
Esta sexta-feira não se
apresentaram os membros do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena, como
fizeram em maio de 2011, que foi a última vez que foram vistos Tacho, Zebedeo,
Esther, Hortência, David e a toda a comandância geral, com a exceção do
subcomandante Marcos, que tem se mantido distante da cena pública.
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirO SubComandante SubDeleuziano MARCOS disse certa vez:
"Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos."
Agenciando-se, os Marcos fazem multidão!
Barbara Szaniecki (UniNômade)