sábado, 8 de dezembro de 2012

Não precisamos do apoio nem esqueceremos o rancor de vocês


3/11/2012, Abdel Bari Atwan, (ár.), Al-Quds Al-Arabi; e 12/1/2012 (esp.), Rebelión, trad. do árabe, J. Sadaka)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu




Abdel Bari Atwan nasceu em Gaza. Vive em Londres desde 1979. Foi editor do diário Al-Quds al-Arabi, que se publica em Londres, em árabe, desde 1989. É autor de The Secret History of al-Qaida e de Country of Words, de memórias.



Observação da redecastorphoto: Este artigo foi escrito pouco antes da apresentação do pedido da Palestina à ONU como estado observador.

O voto contra, de EUA, Grã-Bretanha e Alemanha, ao pedido que os palestinos apresentaremos à Assembleia Geral da ONU, para que a Palestina seja reconhecida como Estado observador não membro, não é só atitude vergonhosa, que revela degeneração moral e ética: também é atitude de hostilidade contra os árabes e muçulmanos.

É difícil para nós entender as razões pelas quais esses países opõem-se ao pedido dos palestinos, se se considera os reiterados chamamentos que fazem ao diálogo, contra a violência e pelo respeito às normas do Direito Internacional. Esses países que prometeram apoiar a criação de um verdadeiro Estado palestino mostram suas reais intenções ao se oporem à concessão de status de Estado observador, sem direitos concretos e como medida, de fato, mais, simbólica.

O atual governo dos EUA, governo de Obama, que iniciou o primeiro mandato comprometendo-se a criar um verdadeiro Estado palestino, não se limitou, dessa vez, a pressionar fortemente o presidente Mahmud Abbas para que renuncie ao pedido oficial, ameaçando, até, pôr fim à ajuda que dá aos palestinos. Foi mais longe: escreveu a vários governantes europeus, pedindo-lhes que votem contra o pedido dos palestinos e, inclusive, que usem sua influência para obter que outros países façam o mesmo.

Ignoramos as causas desse rancor contra os palestinos, submetidos à fome e a um bloqueio total, privados dos mais elementares direitos humanos, com a cumplicidade dos EUA, que ainda se apresentam como grande defensor da democracia e da justiça em todo o mundo.

O que fizemos, os palestinos, contra os EUA, para merecer tanto ódio, tanto rancor? Nenhum exército palestino jamais invadiu os EUA, jamais ocupou território norte-americano.

Mas, cúmulo dos cúmulos, é a posição da Grã-Bretanha e seu atual governo, manifestada pelo ministro do Exterior, William Hague, que anunciou ao Parlamento que seu governo poderia apoiar o pedido dos palestinos, com duas condições: que os palestinos se comprometam a jamais recorrer ao Tribunal Penal Internacional para denunciar os crimes de guerra de Israel; e que voltem às negociações sem condições prévias.

William Hague
William Hague, palestinófobo, que se integrou ao lobby israelense ainda adolescente, aos 16 anos, apresenta-se, com essas “condições”, como um dos personagens mais cínicos da história contemporânea: com moral dupla e hipocrisia, tenta impor “condições” prévias aos palestinos, em troca do reconhecimento fictício de um Estado; e, ao mesmo tempo, pede que voltemos à mesa de negociações sem condiciones previas. Difícil imaginar desfaçatez mais completa.

A Grã-Bretanha, país que desempenhou papel fundamental na entrega da Palestina como presente ao sionismo, deveria sentir-se culpada pela tragédia dos palestinos. Seria de esperar que confessasse e buscasse redenção para suas culpas, que indenizasse os palestinos, vítimas de crime histórico – como fizeram muitas potências colonialistas.

Os palestinos, ao apresentar seu pedido à Assembleia Geral da ONU, para que nos reconheçam como Estado observador, não precisamos do voto da Grã-Bretanha, nem do voto dos EUA, nem, sequer, do voto da Alemanha. Já temos os 135 votos mínimos necessários, suficientes para a aprovação.

Mas não esqueceremos a oposição desses países e de outros que nos deram as costas, quando mais os palestinos precisávamos deles, nesse momento histórico crucial.

Esses países não conhecem os princípios da justiça universal, nem valores humanos básicos. Alinharam-se à ilegalidade, à repressão, ao bloqueio, ao roubo de terras, à tirania da colonização, apoiando a agressão, os crimes de guerra, o assassinato de crianças, a destruição de casas, derrubadas sobre famílias inteiras.

Para tentar justificar o alinhamento ao sionismo, alegam que o Estado palestino será criado mediante negociações e acordos. Então, cabe perguntar: e onde estão as tais ditas “negociações”? Quem é o responsável pelo fracasso de todas as negociações, além de Israel?
O presidente Abbas negocia há mais de 20 anos. Israel infligiu-lhe todos os tipos de humilhação. E onde está o estado palestino que tantos dizem apoiar?

Pessoalmente, não sou entusiasta desse movimento diplomático e seus ganhos modestos: um Estado fictício. Porque sou claramente consciente de que só se respeitam direitos internacionais quando beneficiam Israel e os EUA. Mas já que o presidente Abbas decidiu-se por essa via, temos de reconhecer que, no mínimo, sobreviveu às pressões de EUA e Israel; e que voltou a pôr o problema palestino no centro da atenção mundial, depois de marginalizado por árabes, antes de marginalizado também por outros.

Mahmoud Abbas
O presidente Abbas terá de recorrer ao Tribunal Penal Internacional imediatamente depois de obter o ingresso na ONU, para ligar-se àquele tribunal e iniciar o processo para condenar os sionistas criminosos de guerra, com os informes, dados e provas dos crimes israelenses já reunidos no Relatório Goldstein.

O reconhecimento internacional da Palestina, que acontecerá hoje, e a mudança no voto de países como Espanha, França e Portugal, jamais teriam sido possíveis sem a heroica resistência na Faixa de Gaza e sua resposta dissuasiva à agressão, agora que, pela primeira vez, a Resistência atingiu Telavive. Essa Resistência custou-nos a vida de 170 palestinos, dessa vez; muitos dos quais, como sempre, crianças.

O povo palestino continuará a gritar contra o muro da hipocrisia ocidental e contra a injustiça universal, até alcançar seus objetivos: até recuperarmos todos os territórios que nos foram usurpados. E obrigaremos países como os EUA ou a Grã-Bretanha, alinhados com nosso inimigo, a pedir desculpas e a pagar as correspondentes indenizações. Quanto a Israel e seu regime de apartheid, o castigo será maior, resultado de seus crimes horrendos.

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