11/1/2013, Arun Rath – The World - Resenha
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jessica Chastain, no papel de Maya, quer localizar o homem mais procurado do mundo |
Embora Hollywood sempre
tenha gostado de filmes de suspense de espionagem, “a indústria” não dava muita
atenção à CIA até os anos 60s, quando o agente Felix Leiter, representado por
Jack Lord, apareceu em 007 Contra o Satânico Dr. No (1963). Mas a
CIA já trabalhava com Hollywood desde os anos 1950s.
Tricia Jenkins, autora de The CIA in
Hollywood (2012), diz que a CIA começou a
trabalhar com Hollywood para influenciar públicos estrangeiros, “O objetivo da
agência era modelar a política exterior, ou “ganhar” corações e mentes pelo
mundo, durante a Guerra Fria”, escreve ela.
Tricia Jenkins |
A
CIA criou um think tank para combater contra a ideologia comunista; esse
think tank adquiriu os direitos de Animal Farm de George Orwell –
e pôs um porco falante na tela, 20 anos antes de A rede de Charlotte (no
Brasil, A menina e o
porquinho)
[1973, adaptação de um livro infantil de E. B. White, de 1962]. Jenkins diz que
a CIA também queria promover uma determinada visão da sociedade e da vida nos
EUA, e pressionou pela mudança de algumas falas nos roteiros dos anos 1950s,
para fazer os personagens negros parecerem “mais dignos” e os personagens
brancos, “mais tolerantes”. Essa imagem “politicamente correta” visava a
promover uma imagem mais simpática e atraente dos EUA, para um mundo dividido,
em que os públicos escolhiam lado, na Guerra Fria.
Mas
enquanto a CIA usava Hollywood para projetar um ideal norte-americano, não dava
sinais de preocupar-se com a própria imagem.
“Nos velhos tempos, a CIA, e a
organização que a precedeu, o Office of
Strategic Services, OSS, de fato
não se preocupavam muito com o que o público pensasse deles” – diz Ted Gup,
autor de The Book of
Honor: Covert Lives and Classified Deaths at the CIA
(2007). Mas,
no final da Guerra Fria, a CIA entendeu que precisava atualizar a própria
imagem: “Perceberam que, sem apoio público, seu orçamento estaria sempre
ameaçado. Suas próprias atividades ficariam ameaçadas”.
Em
1996,
a CIA contratou um homem de ligação com Hollywood: Chase
Brandon — primo de Tommy Lee Jones – que tinha muitas conexões com “a
indústria”.
Tricia
Jenkins diz que houve notável modificação no retrato da CIA depois desse
período. Antes dos anos 1990s, em filmes como Os três
dias do condor (1975, dir. Sidney Pollack), a CIA era apresentada como
maligna, amoral, agência de assassinos ou, vez ou outra, sob personagens
cômicos, como “Max”, do seriado de TV Agente 86 [apresentado de 1965-70,
orig. Get Smart].
“Hoje
tudo isso mudou muito, a imagem é muito mais favorável” – diz Jenkins. – “A
agência é frequentemente apresentada como organização moral e altamente
eficiente. Não comete erros. É absolutamente indispensável. Hoje, mais que
nunca”.
Desde
meados dos anos 1990s, a CIA trabalhou numa longa lista de produções, dentre as
quais A soma de todos os medos [2002, com o mesmo Ben Affleck, de
Argo, em
cartaz em São Paulo ], e vários importantes seriados de TV –
Alias [2001-2006], 24 horas
[2001-2012] e Homeland [estreou no Brasil em março de 2012 pelo canal
por assinatura FX
Em
alguns casos, a agência foi pintada em cores bem menos agradáveis, às vezes em
produções nas quais colaboraram ex-agentes, sem aprovação da Agência – como no
filme Syriana [2005], que traz George Clooney no papel de Bob Barnes,
agente da CIA encarregado de assassinar um líder do Oriente Médio. O personagem
Bob Barnes foi baseado num ex-agente, Bob Baer.
O
verdadeiro Bob Baer– que trabalha agora num novo livro, The Perfect Kill: 21
Laws of Assassination [As 21 regras do assassinato perfeito] – relembra:
“eles me telefonaram e disseram: queremos que você nos acompanhe numa viagem ao
Oriente Médio”. “Viajei com o diretor, Stephen Gaghan; levei-o ao Líbano, a uma
reunião com uns tipos estranhos que eu conhecia em Londres, Nice , Soforth. Ele
ficou fascinado por poder ver o Oriente Médio real”.
Syriana não é
exatamente anúncio de publicidade da CIA. Mas filmes desse tipo são exceção.
Jenkins diz que hoje, quase sempre, a CIA consegue pôr em tela a imagem que lhe
pareça mais adequada, praticamente em todos os filmes. E, a menos que você leia
até as letras microscópicas dos créditos finais, você jamais saberá que assistiu
a um filme produzido com assessoria da CIA.
“Mas
vale lembrar que a CIA não assessora qualquer um. Só ajuda produtores ou
roteiristas que apresentem a Agência sob luz positiva e que possam contribuir
positivamente para o trabalho de recrutamento” – diz Jenkins.
E se você acha Ben Affleck ou
Jessica Chastain atraentes, difícil imaginar mais efetivos anúncios de
recrutamento para a CIA que Argo [em cartaz em SP ] e Zero Dark Thirty
[no Brasil: “A Hora Mais Escura”, já fartamente anunciado, por exemplo, em: Veja
os comerciais do filme
sobre a caçada a Osama bin Laden que estreará
nos EUA dia 25/1]”.
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