6/1/2013, Dan Glazebrook
[resenha], Morning Star Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Sobre: AMIN, Samir. The People's Spring: The Future Of The Arab
Revolution, 2012, Fahamu Books &
Pambazuka Press, £16.95
Dan Glazebrook |
O
livro de Samir Amin é exposição crucialmente importante de como o Islã político
apoia a agenda imperialista no mundo árabe. O lançamento não poderia ser mais
oportuno. Samir Amin estava escrevendo sobre o uso do Islã político como
ferramenta do imperialismo para minar regimes seculares, durante anos. Mas, na
década que se seguiu à 2ª. Intifada de 2000, quando a jihad armada
devastava exércitos ocidentais, de Basra a Helmand, sua tese não poderia ser
mais contraintuitiva, para dizer o mínimo.
Os
eventos dos dois últimos anos, com os islamistas outra vez atuando como tropa de
choque do imperialismo na Líbia e na Síria, ao mesmo tempo em que promovem a
globalização neoliberal em áreas do Egito as quais nem Mubarak conseguira
alcançar, estão mostrando que o “Islã político” continua tão útil ao
imperialismo como sempre foi.
O
livro mapeia o desenvolvimento do Oriente Médio e do Egito, ao longo dos últimos
2000 anos, das origens à queda como articulador dos sistemas comerciais
mundiais, mediante as tentativas sempre interrompidas e retomadas de
modernização, durante os séculos 19 e 20, até o declínio que se seguiu à derrota
de Nasser na Guerra dos Seis Dias. Mas as partes mais interessantes do livro são
aquelas em que se rastreiam os desenvolvimentos dos últimos 50 anos.
Interessante:
cerca de 80% do livro já estava escrito antes das explosões sociais do início de
2011. Delineando as crescentes pressões e conflitos sociais que precederam os
levantes, Amin mostra que pouco havia ali de surpreendente ou inesperado. Mas
mostra também que, embora a captura dos levantes populares pela Fraternidade
Muçulmana não fosse absolutamente inevitável, também foi altamente previsível.
Desde
o tempo de Sadat, argumenta Amin, o estado egípcio já era cúmplice no
crescimento do poder da Fraternidade Muçulmana. A derrota de Nasser em 1967, e
sua morte, em 1970, resultaram numa capitulação ao imperialismo e a um
correspondente declínio nos padrões de vida e na legitimidade do regime.
Para
compensar, o estado buscou ganhar legitimidade religiosa, entregando
sistematicamente ao controle de islamistas várias instituições poderosas – os
meios de comunicação, a educação, as cortes de justiça. Todo esse processo
aprofundou-se depois do colapso da União Soviética, o que levou a uma nova onda
de neoliberalismo e de empobrecimento, acompanhada de tentativas renovadas para
canalizar a oposição em direção puramente religiosa.
Para
Amin, a aparente “contradição” entre o estado de Sadat-Mubarak e o da
Fraternidade não passa de encenação. O Egito vem sendo governado por uma espécie
de aliança entre essas duas forças, já há muito tempo.
Fraternidade Muçulmana |
O
imperialismo sempre foi cúmplice no processo, permitindo aos seus amigos
sauditas que fizessem jorrar dinheiro sobre a Fraternidade Muçulmana, que era,
assim, capaz de continuar a prover serviços essenciais, como assistência médica,
onde o Estado era forçado, pelo FMI, a fazer cortes e mais cortes.
Hoje,
as forças ocidentais apoiam completamente que a Fraternidade ocupe e passe a
controlar o país. Como Amin explica:
...o
único objetivo de Washington e seus aliados, Israel e a Arábia Saudita, é fazer
abortar o movimento egípcio democrático; para isso, querem, mesmo, impor ali um
regime islâmico sob a direção da Fraternidade Muçulmana – o único meio que há
para que consigam perpetuar a submissão do Egito.
A
Fraternidade, mediante o pleno apoio à política imperial de “mudança de regime”
na região, e a redução da economia egípcia a um sistema de mercado informal, de
bazaar, é aliada perfeita para o imperialismo, no serviço de “conter” a
emergência do Egito como estado forte e independente.
O
programa da Fraternidade implica capitulação ante o capital globalizado e os
militares norte-americanos, ao mesmo tempo em que se mantém o status quo.
Não surpreende que Cameron e Hague se mostrem apoiadores tão empenhados dos
Irmãos.
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