17/2/2013, The Real News Network (vídeo)
Falas transcritas e traduzidas
pelo pessoal da Vila
Vudu
Domingo,
Rafael
Correa foi reeleito para mais quatro anos de mandato
presidencial, com 61% dos votos. Essa é a 7ª eleição que Correa vence, em
sequência: três vezes presidente eleito, uma eleição para a Assembleia
Constituinte, uma confirmação na presidência, depois de aprovada a nova
Constituição; e duas eleições parlamentares, de meio de mandato.
Apesar
da intensa polarização em alguns setores da sociedade equatoriana, os 61%
conquistados nessa reeleição, dão a Rafael Correa capacidade e poder
políticos para continuar a implementar seu projeto. Sobretudo, porque a oposição
não conseguiu unir-se e organizar-se e apresentar projeto alternativo
consistente.
Quando
terminar esse novo mandato, em 2017, Correa terá permanecido no poder por dez
anos ininterruptos. É recorde, num país onde, na década passada, entre 1997 e
2007, houve 10 presidentes, inclusive cinco em 25 horas, dia 21 de janeiro,
quando foi derrubado Jamil Mauad.
Simon
Pachano, de FLACSO, Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, entende que
há duas principais razões que explicam a popularidade e o sucesso de
Rafael
Correa :
Simon
Pachano: Primeiro
que os dez anos anteriores foram anos de crise e instabilidade, com eventos que
chocaram muito o povo do Equador, como a crise dos bancos e a derrubada de
sucessivos presidentes. Esses anos marcaram muito os equatorianos e levou-os a
procurar solução em algum líder forte. Viu-se essa procura em várias eleições.
Até que os eleitores encontraram Rafael Correa. Depois que os
eleitores encontraram quem lhes pareceu que correspondesse ao tipo de governante
que desejavam, os eleitores deram-lhe, como se diz, um ‘cheque em branco’. Foi como se
os eleitores dissessem “Encarregue-se de tudo, que nós nos retiraremos para
nossa vida privada. Em grande medida é o que se vê até hoje: desapareceram as
grandes manifestações de rua, as pessoas já não fazem manifestações ou
protestos.
Para
Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisa Política Econômica, em Washington, o povo
do Equador fez escolha bem clara.
Mark
Weisbrot: O
motivo pelo qual Correa foi reeleito com larga margem e está firmemente plantado
no governo do Equador é que seu governo promoveu progresso social. O povo não
tinha nada nem semelhante ao que tem hoje, há muitos anos. Desemprego em níveis
baixíssimos, redução acentuada dos níveis de pobreza, aumento forte nos
investimentos em educação pública.
A
principal razão para o apoio popular com o qual Correa conta hoje parece ser a
ênfase que o governo dá em atender às necessidades do povo, mais que qualquer
interesse privado. Em vez de governar com vistas a alguma “austeridade”, em
obediência servil às instituições financeiras e grandes corporações, o governo
de Rafael
Correa investe em infraestrutura e em educação, fiscalizando de
perto a aplicação dos orçamentos públicos.
León
Trujillo, autor, professor e intelectual:
Rafael
Correa implantou várias políticas que foram bem recebidas pela
população, sobretudo a política de redistribuição mais equitativa da riqueza.
Essas políticas foram possíveis, porque o Equador foi um dos países beneficiados
pelos altos preços do petróleo. Desde que Rafael Correa assumiu, o preço do
petróleo nunca parou de subir, 13, 30, 50, 70, já chegou a 110 e está hoje em 95
dólares o barril. Concretamente, implica que o orçamento nacional passou, de 5
bilhões, quando Correa assumiu a presidência, para os 28 bilhões que temos hoje.
O Estado tem hoje quase seis vezes mais dinheiro do que antes de Correa, o que
permite que ele cumpra todas as suas promessas eleitorais.
A
nova legislação eleitoral hoje vigente no Equador proíbe a participação de
financiamentos privados nas campanhas eleitorais – o que modificou radicalmente
a paisagem política do país. Antes, o dia das eleições era dia normal de
trabalho: hoje, é feriado nacional. Nas duas eleições presidenciais às quais
concorreu, Correa venceu no primeiro turno de votação direta, com mais da metade
dos votos.
Na
opinião de Mark Weisbrot, o Departamento de Estado dos EUA erra ao supor que o
processo político na América Latina seja resultado da ação de um punhado de
líderes, quando, de fato, o que se vê é um processo social que em muito
ultrapassa governantes como Rafael Correa ou Hugo
Chávez.
Mark
Weisbrot: A
política externa dos EUA para a América Latina é regida por muito mais do que só
por interesses de grandes corporações. No caso da Venezuela, por exemplo, as
grandes petroleiras norte-americanas, Chevron e Exxon, por exemplo, não têm
qualquer interesse em opôr-se a Hugo Chavez ,
mas o Departamento de Estado vive a tentar desestabilizar aquele governo.
A
impressão que se tem é que o Departamento de Estado vê todos os governos de
esquerda, inclusive o governo do Brasil, pode-se dizer, em termos, ainda, da
Guerra Fria: o Departamento de Estado simplesmente não quer que aqueles governos
existam, não os quer por ali... Por isso, já trabalham para implantar na opinião
pública a ideia de que Correa seria “o próximo Chávez”, que teria o mesmo tipo
de empenho político de Chávez. De fato, é opinião que se baseia só nas fantasias
do Departamento de Estado, para o qual só um “homem forte” faria mudar a
história da América Latina. Nada disso é bem assim.
O
que de fato se vê é que as muitas instituições que se foram constituindo na
região, UNASUL, CELAC, ALBA e outras, criaram mecanismos pelos quais os países
da região passaram a conseguir operar em harmonia, a tal ponto que até um
governo de direita, como Santos, na Colômbia, acabou por seguir os passos dos
governos de esquerda, contra os desejos dos EUA, em várias questões.
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