4/2/2013, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Ver também:
30 /1/2013, redecastorphoto, Max Altman em: “70
anos da Batalha de Stalingrado”
A famosa cena do filme
hollywoodiano Círculo de
Fogo
[Orig.
Enemy at the Gates]
capturava bem o espírito do tempo quando, falando a uma sala cheia de militares
soviéticos bem no centro do front de Stalingrado na 2ª Guerra Mundial, o
recém nomeado Comissário do Exército Vermelho, Nikita Khrushchev, enviado
especialmente por Joseph Stalin para conter a retirada, sob o assalto dos
alemães, berrou:
Meu
nome é Nikita Sergeyevich Khrushchev. Vim para tomar as rédeas da situação por
aqui. Essa cidade não se chama Kursk, não se chama Kiev, não se chama Minsk.
Essa cidade é Stalingrado! Essa cidade leva o nome do Comandante. É mais que uma
cidade: é um símbolo. Se os alemães capturarem essa cidade, todo o país cairá em
colapso. Agora, que todos levantem a cabeça. (Cena a seguir, em
inglês)
Fato
é que a vitória na Batalha de Stalingrado, na 2ª Guerra Mundial foi um dos
momentos decisivos da história soviética. E o nome de Stálin está ligado para
sempre àquela batalha heroica. Isso, nem se discute.
Sábado
passado comemoraram-se os 70 anos
daqueles dias, com
Vladimir Putin presente às cerimônias. Interessante anotar que a cidade de
Volvogrado reivindicou para si o nome de “Stalingrado” (que Nikita Khrushchev
fez trocar, em 1961), especialmente para aquela comemoração histórica. Foi
exigência da população da cidade, a mesma em cuja defesa morreram meio milhão de
russos, mártires de uma saga heroica que durou 200 dias. Pois decidiram ser
lembrados, 70 anos depois, associados ao nome de Stálin.
A
decisão do Kremlin, de falar não de Volvogrado, mas de “Stalingrado”, nas
comemorações do final da semana, é carregada de simbolismo político. É a Rússia
que renasce – e com ela sua autoconfiança – afinal se reconciliando com sua
história profunda.
O
ocidente dirá – e já começou a dizer – em tom de crítica, que Putin está
“ressuscitando” Stálin. A ironia dessa história é que, sem a mão de ferro de
Stálin, a batalha de Stalingrado teria tido história diferente; e toda a
história do ocidente teria sido outra, se Stálin, ali, não tivesse feito mudar a
maré da guerra.
A
Batalha de
Stalingrado foi o ponto de virada da 2ª Guerra
Mundial. Hitler concentrara o principal grupamento estratégico de seus exércitos
entre os rios Don e Volga – 14 divisões nazistas concentravam-se contra
Stalingrado – distribuídas numa fronteira de 850 quilômetros .
Os
alemães perderam 1,5 milhão de homens na Batalha de Stalingrado. O Exército
Vermelho destruiu 3.500 tanques nazistas. Stálin quebrou literalmente a espinha
dorsal da Alemanha nazista; Hitler nunca mais se recuperou.
Winston Churchill |
Os
sacrifícios russos não teriam alcançado a proporção gigantesca que alcançaram,
se as potências ocidentais – a Grã-Bretanha, em especial – tivessem aberto uma
frente ocidental. Mas, na ocasião, Winston Churchill contava com que a União
Soviética sangraria até morrer, sem apoio ocidental, e não reapareceria para
contar a história.
Por que uma nação se envergonharia
da própria história? Nada é só belo e bom; tudo vem com a parte que presta e a
parte que não presta. A gigantesca contribuição de Stálin na construção da União
Soviética também é parte inarredável, imensa, da história da Rússia. Ninguém se
dedica a narrar a história dos EUA impondo, no coração da história, a escravidão
e o racismo. Nem o banho de sangue da Partition é o único evento que se considera,
na história da civilização indiana. É sempre importante relembrar as lições da
história.
Vladimir Putin |
A
Rússia está renascendo hoje, sob imensíssima pressão. Os EUA recusam-se a
aceitar a ressurgimento da grande Rússia, e não abrem mão de uma sua sempre
pressuposta “superioridade nuclear” – que é a única inspiração, a essencial
inspiração do ‘novo’ programa dos mísseis de defesa dos EUA.
Os
EUA dizem que estão “ignorando” a Rússia,
mas
o verdadeiro jogo norte-americano é fugir de qualquer tipo de discussão séria e
consequente sobre o equilíbrio estratégico global.
O
pretexto aparente é que Putin seria “autoritário”. Mas a agenda real é quebrar o
sistema político russo. Os EUA avaliam que haja rachaduras internas entre as
elites russas e as classes médias; e que o edifício que Putin constrói
tenazmente, sem descanso, não tem pernas firmes – como qualquer casa dividida.
Não há dúvidas de que a Rússia tem, sim, de extrair força e densidade histórica
de memórias que são dela: “Que
os inimigos da Rússia nunca esqueçam a Batalha de Stalingrado”.
*MK
Bhadrakumar
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista
em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu, Asia Online e Indian
Punchline. É o filho mais
velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e
militante de Kerala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.