1/3/2013, Marjorie Cohn, Countercurrents
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Marjorie
Cohn é
professora da Faculdade de Direito Thomas Jefferson e ex-presidente
da National Lawyers Guild [aprox.
Ordem dos Advogados dos EUA]; é vice-secretária geral de comunicações da
Associação Internacional de Advogados Democráticos e representante dos EUA no
Comitê Executivo da Associação Americana de Juristas. É autora de Cowboy
Republic: Six Ways the Bush Gang Has Defied the Law [República dos caubóis:
seis vezes em que a gangue de Bush desobedeceu a lei] e co-autora, com Kathleen
Gilberd, de Rules of Disengagement: The Politics and Honor of Military
Dissent. Pode-se ler uma antologia de seus escritos em
The United
States and Torture: Interrogation,
Incarceration and Abuse. Outros artigos da professora Marjorie
Cohn são acessíveis em www.marjoriecohn.com
Bradley Manning |
Bradley
Manning declarou-se culpado em 10 acusações, entre as quais posse e comunicação
deliberada a pessoa não autorizada de todos os principais elementos do que se
conhece como documentos vazados por WikiLeaks. A pena, se for condenado pelos
crimes que confessa ter cometido, pode chegar a 20 anos de prisão.
Pela
primeira vez Bradley pôde falar publicamente sobre o que fez e por quê. Suas
ações, agora conhecidas por suas próprias palavras, mostram um jovem soldado
muito corajoso.
Quando
tinha 22 anos, o cabo Bradley Manning entregou documentos secretos a WikiLeaks.
Entre esses documentos, o vídeo conhecido como “Collateral Murder” [Assassinato
Colateral], em que se veem militares norte-americanos num helicóptero Apache,
assassinando 12 civis desarmados, dos quais dois eram jornalistas da Agência
Reuters, e ferindo duas crianças. Assista a seguir versão completa:
Supus
que, se o público, principalmente o público norte-americano, assistisse àquele
vídeo, talvez surgisse algum debate sobre os militares e nossa política exterior
em geral, como era aplicada ao Iraque e ao Afeganistão
– disse Bradley ante o tribunal militar que o está julgando, durante as
formalidades da sessão em que se declarou culpado em algumas das acusações. – Supus que o vídeo pudesse levar a
sociedade norte-americana a reconsiderar a necessidade de engajar-se em
operações de antiterrorismo, sem nada saber sobre a situação humana das pessoas
contra as quais disparamos todos os dias.
Bradley
disse que se sentiu frustrado por não ter conseguido convencer seus superiores a
investigar os fatos que se veem no vídeo “Assassinato Colateral” e outras
imagens e escritos de “pornografia bélica” que havia nos arquivos que entregou a
WikiLeaks.
Fiquei
muito perturbado, quando não vi qualquer reação diante de crianças
feridas
O
que mais perturbou Bradley foram os soldados que se veem no vídeo, que:
...parecem
não dar valor algum à vida humana e referem-se
[aos alvos dos tiros], como “filhos da
puta mortos” [dead bastards].
Pessoas
que se aproximaram para resgatar os feridos também foram alvejadas e mortas. A
ação dos soldados norte-americanos que se veem naquele vídeo é tipificada como
crime de guerra nos termos das Convenções de Genebra, que proíbe de atirar
contra civis; impedir resgate e socorro de feridos; e destruição de cadáveres
para impedir que sejam identificados.
Ninguém
de WikiLeaks pediu ou estimulou-o a dar os documentos, disse Bradley.
Ninguém
associado com a Organização WikiLeaks (WLO) pressionou para que lhes desse mais
informação. A decisão de entregar documentos a WikiLeaks foi exclusivamente
minha.
Antes
de fazer contato com WikiLeaks, Bradley tentou interessar o [jornal]
Washington Post para que publicasse os documentos, mas não recebeu
qualquer resposta do jornal. Tentou fazer contato também com o New York
Times, também sem sucesso.
Durante
os primeiros nove meses de detenção, Bradley foi mantido em cela solitária – o
que caracteriza tortura, dado que o isolamento pode levar a alucinações,
catatonia e suicídio.
Bradley
manteve a declaração de “inocente” nos demais 12 crimes de que os promotores do
tribunal militar o acusam, dentre outros o crime de espionagem a favor do
inimigo e colaboração com o inimigo, cuja pena é a prisão perpétua.
As
ações de Bradley fazem lembrar o que fez Daniel Ellsberg, que divulgou os
“Papéis do Pentágono”, no qual se expunham as mentiras do governo dos EUA e que
apressaram o fim da Guerra do Vietnã.
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