Alfredo
Pereira dos Santos
Cenário:
laboratório de informática de um pólo de ensino a distância de uma universidade
federal. Dia de prova de matemática.
A
prova versará sobre temas como equações exponenciais, logaritmos e
trigonometria, coisas que antigamente eram aprendidas no ensino fundamental e
médio mas que hoje a universidade precisa ensinar, pois os alunos conseguem
passar no vestibular sem as ter aprendido.
Teorema de Pitágoras |
Uma
aluna diz a um colega que está completamente por fora da matéria e pede
ajuda. Em todos os demais ramos da matemática do ensino médio essa aluna
apresenta as mesmas dificuldades.
No
meio da explicação aparece o “Teorema de Pitágoras”. A aluna em
dúvida não conhece o teorema e diz que vai anotar o seu enunciado numa folha de
papel. Ao se aproximar o fim da anotação ela pergunta:
--
Hipotenusa se escreve com I ou com
H?
Desce
rápido o pano. A platéia chora. Chora principalmente porque sabe que não se
trata de ficção, mas de uma história real.
Pitágoras de Samos |
Os
espectadores saem e alguns, em grupos, se põem a falar sobre o futuro da
personagem. Conseguirá ela superar as suas dificuldades e levar o curso a bom
termo? Uns dizem:
--
Deus queira que ela consiga.
Pessimistas
dizem:
--
Impossível, será muito difícil para ela recuperar o tempo perdido. Eu acho que
ela vai desistir.
Um
outro concorda e pergunta:
--
De fato, se ela tem dificuldades agora o que não dizer de quando chegar a hora
de aprender Limites, Derivadas e Integrais?.
Um
terceiro aventa a hipótese da universidade “baixar o nível”, facilitando a vida
dessa aluna. Nada de novo sob o Sol, pois não dizem que até o Instituto Rio
Branco e o Instituto Militar de Engenharia “baixaram o nível”, gerando o
protesto de alguns? Um outro diz:
--
Eu já vi esse filme antes, com o aluno chegando ao terceiro período mas devendo
matérias de períodos anteriores em que não consegue ser aprovado. De reprovação
em reprovação ele acaba desistindo.
Alguém
diz que: “
--
É um absurdo que uma universidade federal permita o ingresso de uma pessoa sem
condições, para massacrá-la, gerando frustração e
sofrimento.
As
comparações surgem, inevitavelmente. Um espectador, que já esteve em Cuba quatro
vezes e duas na China, fala sobre o sistema educacional daqueles países. Diz
que:
--
O sistema educacional da China é o melhor do mundo e na média, os médicos
cubanos são melhores do que os brasileiros, pois o ensino médio de lá é muito
melhor do que o daqui, de modo que os alunos chegam à escola de medicina com
muito mais base em química, física, biologia e matemática.
Ressalta
que:
--
Cuba forma médicos aos borbotões e que é dessa quantidade que surge a
qualidade.
Alguém
pergunta:
--
Porque as nossas autoridades educacionais não vão ver o que está acontecendo em
matéria educacional em Cuba e na China?
Um
outro responde:
--
São realidades diferentes!
Procuram-se
culpados e responsáveis. A ditadura militar de 1964 aparece como ré, por
diversas ações e omissões. Alguém exclama:
--
São os famigerados acordos MEC-USAID!
A
classe política é também arrolada no processo.
Um
coronel diz que:
--
O Brasil não tem jeito, pois esse é o nosso KARMA.
Um
professor universitário aposentado diz que:
--
O Brasil não deu certo e não vai dar .
Não
falta quem diga que:
--
Os culpados são os alunos, que não querem nada com os livros.
Pais
também são culpados:
...pois
deixam os filhos muito tempo vendo televisão.
As
opiniões se sucedem, as horas passam, o cansaço sobrevém e cada um vai para sua
casa dormir. O tempo está bom e amanhã vai dar praia. Pela tarde tem jogo no
Maracanã e à noite tem o FANTÁSTICO. Depois é dormir que segunda-feira é dia de
batente.
E La Nave Va - Catherine Burg |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.