27/3/2013, MK
Bhadrakumar*, Indian
Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Robert Burns |
The
best laid schemes o’mice na’men
/
Os melhores planos que ratos e homens façam,
Gay
aft a-gley/Alegres
depois do trabalho,
Na’lea’e
us nought but grief a’pain/Só
trazem luto e dor
For
promised pay/pelo
que um prometeu ao outro, mas não cumpriu.
[Robert
Burns, “To a Mouse”/Para um rato]
[Íntegra,
em inglês, em Poesia
Escocesa]
[Epígrafe acrescida pelos tradutores]
[Epígrafe acrescida pelos tradutores]
Ali Akbar Velayati |
Há exatamente um mês, quando escrevi [1]
que um candidato a ser observado nas eleições
presidenciais do Irã de 12/6 próximo seria Ali Akbar Velayati, ex-ministro de
Relações Exteriores, foi um tiro no escuro, mas também opinião cevada na
observação atenta dos corredores da política bizantina em Teerã e em Qom, nos
últimos meses.
Bloomberg
Businessweek
acaba
de chegar à mesma conclusão. [2]
BB
evidentemente serve-se de fontes de alto nível em Washington e em Teerã,
para instruir seus artigos, e a minha única fonte é pura, incansável paixão por
observar o Irã, alimentada por velha paixão por aquele país e seu belo povo.
De
fato, é também minha opinião desejante, enviesada, indiano-cêntrica. Estive
várias vezes na mesma sala com Velayati em Teerã e em Delhi, quando ele ali
esteve como Ministro; e não tenho dúvidas de que sua ascensão ao poder como
Presidente do Irã será magnífica novidade para a Índia – desde que, é claro,
Delhi procure genuinamente reconstruir seus laços estratégicos com o Irã.
Velayati
teve papel chave no movimento ascendente da curva das relações entre Índia e
Irã, nos dez anos a partir do fim dos anos 1980s (quando o então
Primeiro-Ministro da Índia fez movimento dramático de aproximação com
Teerã).
O
entendimento estratégico deu excelentes frutos, quando Teerã ajudou a Índia a
conter a tempestade nos países muçulmanos, depois da destruição de Babri Masjid
(1992), e a liderança iraniana mostrou incansável compreensão na questão das
atrocidades então em curso nas regiões da Caxemira, no início dos anos
1990s.
Depois, o Irã ajudou a Índia a conter a detonação
diplomática, relacionada ao problema da Caxemira, que os sauditas promoviam na
Organização de Cooperação Islâmica, com o Irã, de fato, já organizando a
resistência anti-Talibã conhecida como Aliança do Norte (1997). [3]
Eram
tempos em que nenhum indiano se atreveria a subestimar o Irã como fator de
estabilidade, com certeza no que tivesse a ver com interesses centrais da Índia.
Boa parte de tudo isso aconteceu sob a orientação de Velayati. Tinha visão clara
sobre as relações Irã-Índia e via essas relações como crucialmente importantes
para o Irã.
Lembro
perfeitamente a conversa, em Hyderabad
House, no final de 1989, quando Velayati falou pela primeira vez da ideia do
corredor Norte-Sul, como acesso da Índia à rota para a Rússia e a Ásia Central –
de fato, delineou ali as potencialidades do projeto de um óleogasoduto
Irã-Paquistão-Índia (IPI).
Oleogasoduto Irã - Paquistão - Índia |
É homem cordial, erudito, tem nervos de aço [4]
e cabeça de negociador incansável. E é muito
bem-humorado, capaz de fechar com risadas um dia de negociações duríssimas –
talentos que muito ajudarão o Irã a acalmar as águas do Estreito de Ormuz.
Absolutamente
todos sabem que Velayati manifesta e representa os interesses mais radicalmente
fundamentais do regime iraniano. Mas é pragmático, dos que sabem que a política
é a arte do possível.
Estreito de Ormuz - passagem de 40% do petróleo que abastece o ocidente |
Tudo
isso volta a ser extraordinariamente importante, porque o próximo presidente do
Irã tem papel decisivo na modelagem do “Novo Oriente Médio” e da segurança
regional e internacional.
E
se e quando as conversações se iniciarem entre EUA e Irã, como provavelmente
começarão depois de passadas as eleições de junho no Irã, Velayati é o homem
mais qualificado para melhor negociar pelo Irã: goza da confiança do Supremo
Líder, Ali Khamenei; tem ampla e clara compreensão da política mundial e de como
opera o sistema internacional; e fala perfeito inglês (embora com sotaque
norte-americano). É garantia de conversa iluminadora, caso o Presidente dos EUA,
Barack Obama, algum dia apareça para conversar com ele sobre guerra e paz no
Oriente Médio – e depois resolva continuar o papo numa mesa menos formal, para
falarem de ratos e homens. [5]
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Notas
dos tradutores
[1]
5/2/2013,
Indian Punchline, MK Bhadrakumar em:
“A
rising star in Iranian politics” [Uma estrela ascendente na política
iraniana]
[2] 26/3/2013, Business Week,
Ladane Nasseri, em: “Velayati
May Run for Iran President as Calm to Ahmadinejad Storm”
[3]
Aliança
Afegã do Norte [orig. ing. Afghan Nothern
Alliance],
oficialmente, Frente Islâmica Unida para Salvação do Afeganistão
(em persa Jabha-yi
Muttahid-i Islami-yi Milli bara-yi Nijat-i
Afghanistan), foi frente militar formada no final de 1996, depois que os
Talibã (Emirado Islâmico do Afeganistão) tomaram Cabul. A Aliança do Norte foi
proposta por afegãos e lutou guerra de defesa contra o governo dos Talibã – com
apoio de Rússia, Irã, Índia, Tadjiquistão e outros; os Talibã era apoiados pela
al-Qaeda e pelo exército do Paquistão. Depois que os EUA invadiram o Afeganistão
e lá implantaram o governo Karzai, no final de 2001, a Aliança do Norte dividiu-se,
dando origem a vários partidos políticos.
[4]
Ali
Akbar Velayati discursava na ONU, como Ministro de Relações Exteriores do Irã,
quando um dissidente saltou sobre ele, arrancou-lhe das mãos o discurso que lia
e rasgou-o. Um segurança tirou o homem da sala. Velayati esperou calmamente, de
mãos no bolso. “Alguém, da nossa
delegação tinha cópia do texto e me entregou” – conta Velayati, recordando o
episódio do início dos anos 1980s, em entrevista para a televisão iraniana. –
“Achei a página 10, onde lembrava que
havia parado, e continuei a ler” (ver no primeiro parágrafo do “link” da
Nota [2]).
[5]
Orig. mice and men.
A expressão, do verso de Burns que se lê na epígrafe, dá título também ao
romance Ratos e Homens de John Steinbeck,
de 1937, cujo enredo também é relevante para compreender a metáfora que se lê
aqui.
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MK
Bhadrakumar* foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União
Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia
e segurança para várias publicações, dentre as quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK
Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de
Kerala.
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