21/4/2013, Paul Craig
Roberts – Institute for Political
Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Paul Craig Roberts |
Os
governos dos EUA estão em guerra há 11 anos. Os militares norte-americanos
destruíram o Iraque, deixando em ruínas o país e milhões de vidas, e abriram as
porteiras do sectarismo sanguinário que o governo secular de Saddam Hussein
mantivera bem contido. Qualquer dia que se observe o Iraque hoje “libertado”, o
número de mortos é maior do que durante o auge da tentativa norte-americana para
ocupar o país.
No
Afeganistão, depois de 11 anos de tentativas norte-americanas para ocupar o
(outro) país, o sucesso é ainda menor que depois de uma década de tentativas
soviéticas. Os afegãos não se entregam, apesar de duas décadas de guerra contra
duas superpotências. Como os soviéticos, os norte-americanos também deram jeito
de matar muitas mulheres, crianças e velhos, mas número bem menor de valentes
combatentes, que continuam vivos. Em lugar do governo fantoche dos soviéticos,
há lá um governo fantoche dos EUA. Só isso mudou, e o fantoche dos
norte-americanos é ainda mais frágil que o fantoche dos soviéticos.
Na
Líbia, Washington usou seus fantoches corruptos da OTAN e bandidos recrutados
pela CIA para derrubar outro governo estável, de Muammar Gaddafi, e deixou a
Líbia entregue à violência sectária. Um país estável e próspero foi simplesmente
destruído por governos ocidentais que muito falam sobre respeito aos direitos
humanos e tanto condenam China e Rússia por não fazer o que eles fazem.
John Kerry |
No
Paquistão e no Iêmen, Washington mata civis, usando drones
em ataques
aéreos. Paquistão e Iêmen são dois países com os quais
Washington não está em guerra, mas cujos governos foram subornados para que
dessem aos EUA direito de assassinar os paquistaneses e iemenitas e
norte-americanos em seu território, para assim desestabilizar também os dois
países.
E
agora, na Síria, Washington está ocupadíssima destruindo mais um governo secular
e estável, chefiado por um médico oftalmologista formado na Inglaterra.
Os
11 anos de agressão ilegal a países muçulmanos cometida por Washington – que
configura crime de guerra, nos termos definidos pelo Tribunal de Nuremberg que
condenou nazistas – resultaram em número muito maior de civis mortos que de
militares mortos; resultaram também numa política doméstica, cá nos EUA, que já
destruiu o Estado de Direito e todas as proteções constitucionais de que gozavam
os cidadãos norte-americanos. Washington e sua imprensa-empresa prostituída
(presstitutes) vivem a repetir que esse seria o preço a pagar para salvar
os norte-americanos dos ataques dos terroristas da al-Qaeda – nenhum dos quais
foi jamais encontrado ou preso em território dos EUA.
Submetido
à agressão ininterrupta da propaganda com a qual Washington e seu Ministério da
Propaganda “midiático” bombardeiam meus ouvidos e olhos há 11 anos, imaginem
qual não foi minha surpresa, atônito e boquiaberto, ao ver duas manchetes
justapostas: “Frente Al-Nusra jura fidelidade à al-Qaeda” (BBC) e
“Movimento para ampliar ajuda aos rebeldes sírios ganha velocidade no Ocidente”
(NY Times).
Frente al-Nusra, terroristas da al-Qaeda financiados pelos EUA na Síria |
A
Frente Al-Nusra é o principal grupo militarizado dos “rebeldes sírios” e jurou
fidelidade ao mais mortal inimigo dos EUA – a al-Qaeda de Osama bin Laden.
Parem
as máquinas!
O
governo dos EUA jurou a nós, cidadãos, durante 11 anos, que estava torrando
trilhões de dólares em guerras e mais guerras para proteger os norte-americanos
contra os ataques da al-Qaeda. Em nome disso, destroçaram a assistência social,
Social Security, Medicare, toda a rede de seguridade
social, o valor de câmbio do dólar, a avaliação do valor de câmbio dos papéis do
Tesouro Norte-americano e todas as nossas liberdades civis. TUDO, para salvar os
EUA, dos ataques dos terroristas da al-Qaeda. Assim sendo... por que, agora,
Washington está apoiando a mesma al-Qaeda que trabalha para derrubar um governo
secular não islamista na Síria, o qual nunca, em tempo algum, ameaçou, nem de
longe, os norte-americanos!?
William Hague |
Duas
presstitutes do The New York Times, Michael R. Gordon e Mark
Landler, encarregaram-se de elevar a organização terrorista al-Qaeda ao status
de “oposição síria”. Numa reunião-almoço, reunida com esse fantoche de
Washington, o secretário de Relações Exteriores britânico, William Hague, e o
secretário de Estado dos EUA, John Kerry, a “oposição síria” – quer dizer: a
al-Qaeda – “solicitou” jatos bombardeiros e armamento antitanques. Um alto
funcionário norte-americano esclareceu que “nossa ajuda está em trajetória ascendente.
O presidente Obama ordenou que sua equipe de segurança nacional
identifique outros meios pelos quais possamos ampliar nossa ajuda” (à
al-Qaeda!).
O
secretário de Estado dos EUA, John Kerry, anunciou um “pacote de ajuda para
defesa”, no valor de $123 milhões, para a “oposição síria” (hoje comandada pela
al-Qaeda!). Washington já enviou $117 milhões em “alimentos e suprimentos
médicos e hospitalares” para a “oposição síria”; e ordenou que seus fantoches no
Oriente Médio mandem armas.
Observem
o duplifalar orwelliano: os EUA estão fornecendo armas a uma força terrorista
estrangeira, para que destrua um governo secular e uma população inteira com os
quais os EUA não estamos em guerra; e a isso se dá o nome de “pacote de ajuda
para defesa”.
Dia
11/4, o jornal Le Monde, do establishment francês, noticiou que a
Frente al-Nusra afiliada à al-Qaeda é a força militar que domina a “oposição
síria”, não algum grupo de democratas revolucionários. Apesar disso, os
fantoches de Washington, França e Grã-Bretanha, estão empurrando a União
Europeia para que também forneça armas à tal “oposição síria”, quero dizer, à
al-Qaeda. E o senador John McCain quer que os EUA ataquem diretamente o governo
Sírio (bombardeio aéreo, é o que ele quer), apesar de os EUA não estarem em
guerra contra a Síria, porque o senador McCain acha imprescindível que os EUA
ajudem a al-Qaeda a assumir o governo por lá.
John McCain |
Simultaneamente,
os xiitas islamistas, aos quais os EUA entregaram o controle do Iraque,
anunciaram que se aliaram às forças de al-Qaeda-EUA (?!), interessados em também
radicalizar e fundamentalizar a Síria.
Os
números mais recentes da ONU indicam que os ataques contra a Síria organizados
por procuração pelos fantoches de Washington já mataram 70 mil pessoas. Mas os
norte-americanos só pensam nas bombas da Maratona de Boston, que mataram três
pessoas.
Mais
uma vez “a única nação indispensável” está levando morte e destruição a um país
inteiro... talvez para oferecer “liberdade e democracia” a pilhas de cadáveres.
Nenhum sírio jamais pediu para ser assim “libertado” da própria vida.
Americanos,
orgulhem-se! Estamos cumprindo nosso dever com nossa arrogante hegemonia sobre o
mundo e também nosso dever com Israel, que já alugou o governo dos EUA. Temos
todo o direito de nos impor como potência hegemônica no planeta Terra, passando
pelo Mar Mediterrâneo. Portanto... Washington tem todo o direito de destruir a
Síria... para acabar com a base naval russa! Os romanos jamais toleraram que
potência estrangeira tivesse base naval ali. Não podemos deixar por menos!
Afinal, não somos estado-pateta, com medo da própria sombra. O Mediterrâneo foi
mare nostrum – nosso mar – dos romanos. Agora é nosso. Portanto... temos
todo o direito de destruir a Síria.
Israel,
claro, recebeu o título de “Grande Israel” das mãos de Deus em pessoa – e quem
sou eu para discordar dos pregadores cristãos sionistas que engordam com o
dinheiro israelense – para os quais parte da “Grande Israel” seria o rio no sul
do Líbano que fornece preciosa, preciosa água.
Militantes do Hezbollah |
O
Hezbollah, ajudado por Síria e Irã impediu que Israel confiscasse o sul do
Líbano para pôr as mãos na água que Deus dera pessoalmente aos israelenses.
Portanto, os EUA, para fazermos nosso dever de fantoches de Israel, temos agora
de destruir tudo – a Síria e o Irã, para isolar o Hezbollah, tirá-lo do caminho
que nos leva à água, indispensável à “Grande Israel”.
As
igrejas cristãs sionistas nos EUA repetem essa mensagem todos os domingos. Se
você não acredita neles, é porque é algum tipo de antiamericano antissemita e
tem de se exterminado. Ou talvez seja um desprezível terrorista muçulmano a ser
submetido a simulação de afogamento, até confessar. A Segurança Doméstica fará
picadinho de você, como fizeram dos russos/chechenos muçulmanos terroristas em Boston, que
tentaram explodir a Maratona.
Quero
dizer é que... como nós, povo indispensável, levaremos liberdade e democracia ao
mundo, se os russos mantêm uma base naval em nosso mar? Como projetaremos força,
se projetamos tal fraqueza a ponto de admitir base de potência estrangeira na
nossa exclusiva esfera de influência, a milhares de milhas de distância de
nossas fronteiras? Não esqueçam: as fronteiras dos EUA são as fronteiras do
mundo. Como diz nosso hino: “Do mar ao mar brilhante”. Não esqueçam.
Vladimir Putin |
Claro,
não queremos confrontos com outra potência militar nuclear, mas o jeito de
contornar isso é demonizar o governo sírio e a Rússia por apoiar o governo de um
oftalmologista e “brutal ditador” que resiste contra a tentativa da al-Qaeda
para tomar a Síria e financiada com dinheiro de Washington. Nossos mestres em
Washington podem usar a ONU e todos os nossos bem pagos estados-satélites para
pressionar os russos a calarem o bico e saírem do nosso caminho. Quer dizer: por
que Putin não aceita todas aquelas ONGs pagas com nosso dinheiro pelas ruas de
Moscou empenhadas em derrubar seu governo? Quero dizer, quem Putin pensa que é,
para atravessar-se à frente de nossa hegemonia sobre o universo e, além do mais,
também à frente da hegemonia sobre o Oriente Médio que Deus deu a Israel? Quero
dizer, Putin está em campo, e em campo estão aqueles malditos chineses. Quero
dizer, sério, quem essa gente pensa que é? Norte-americanos?! Aqueles chinas
nunca ouviram falar do nosso controle sobre todo o Pacífico? Quero dizer, qual
é? Os chinas são surdos? Saíram para o almoço?
Quero
dizer, sério, como poderemos os norte-americanos chegar ao Paraíso, se não
obedecemos ao que Deus mandou fazer e entregamos todo o Oriente Médio a Israel,
como Israel reza e rezam as sagradas escrituras? Quero dizer, sério, vocês
querem desobedecer à vontade de Deus e assar no Inferno? Ali, em vez das virgens
que os muçulmanos prometem, é só fogo, você será queimado vivo. Melhor você
escolher o lado certo, antes de morrer.
Quero
dizer, sério, quem quer acabar assim? Melhor os EUA darmos cabo da Síria, o mais
depressa possível, como Israel ordenou. Se os EUA não obedecermos ao que Israel
diz-que Deus disse... estamos fritos!
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