Publicado em 11/07/2013 por
Urariano Motta [*]
Recife
(PE) - O
inquérito do assassinato da menina Tayná, no Paraná, ilustra o tempo de trevas
que sobrevive no Brasil. Em breves
linhas lembramos que toda a imprensa noticiou que uma linda jovem de 14 anos,
Tayná Andrade da Silva, havia sido estuprada e morta por quatro empregados de um
parque de diversões, no dia 25 de junho. E que os frios estupradores confessaram
o seu hediondo crime, depois de um rápido e eficiente trabalho da polícia.
Jussara Joeckel |
Os
apresentadores na tevê bradavam, elevavam a tensão em nossas veias: “E aí, o que
devia ser feito com esses animais?”, e mostravam as imagens das quatro feras.
Assim estávamos nós com a nossa
consciência insatisfeita, porque clamávamos pelo sangue desses monstros, quando,
passados alguns dias, a brava perita Jussara
Joeckel descobriu que jamais houve
qualquer violência sexual contra Tayná. Mais, que o exame de DNA no sêmen
encontrado na calcinha da jovem não pertence aos tidos como culpados. E para o
cúmulo do absurdo, a perita afirma que a menina foi morta depois dos
“assassinos” presos. Escândalo.
Joice Hasselman |
A perita Jussara teve a sorte de ser apoiada por
uma jornalista à altura, Joice Hasselmann.
A
repórter divulgou a análise e registrou no Blog
da Joice que em meio aos gritos
e ao bate-boca de uma reunião na Secretaria de Segurança, um integrante da
Polícia Civil chegou ao extremo da pergunta:
(...)
será que na contraprova nós não
conseguimos um laudo com resultado inconclusivo?
Sabe-se
agora que o preso Adriano teve um cabo de vassoura enfiado no ânus, amarrado de
ponta-cabeça e agredido com uma máquina de choque, para que confessasse o crime.
A máquina de choque foi usada com uma haste de metal introduzida no seu ânus.
Adriano, internado em hospital, tem sinais de perfuração no intestino. E todos
os presos, depois de torturados, tiveram que assinara sem ler os “seus”
depoimentos escritos.
Infelizmente,
este é um caso exemplar da polícia brasileira, de Norte a Sul do país. Prende-se
o culpado, para depois iniciar-se a investigação que prove a sua culpa. A
investigação, todos sabemos, é sempre a mesma: porradas primeiro, uma pergunta
depois. Se o culpado não responder logo o que se quer provar, tudo mal. Pau de
arara e choques elétricos como método infalível de apuração. Se responder
conforme a acusação, tudo mais ou menos. A tortura continua, mas dessa vez para
selar o depoimento, ou como gritam os torturadores:
Ah,
então você escondia o jogo, não é, safado? Você vai ver agora o que um criminoso
merece.
Pelo
medo e terror, selam assim a culpa do culpado.
O
costume da tortura se transformou em uma coisa tão banal, que os advogados falam
nas entrevistas em invalidação do inquérito, porque contaminado pela violência.
Isso é óbvio. Daí os doutores partem para a soltura dos presos, com a posterior
cobrança ao Estado pela prisão indevida. O que é justo. Mas da ação lhes escapa
o maior horror: eles parecem não ver que os policiais deveriam responder, antes
de tudo, pela tortura, porque esse é um crime condenável, imprescritível em
nossa Constituição e em todos os tribunais civilizados. O fundamental lhes
escapa: a mais severa punição prisional para o torturador.
Mais.
Chamamos a atenção para o comportamento da imprensa que reproduz as versões da
polícia sem um filtro, sem uma dúvida.
Os
repórteres copiam o Boletim de Ocorrência, e de tal modo que repórter policial é
o mesmo que policial repórter. Mas isso é igualzinho ao tempo da ditadura. É
igual àqueles malditos anos em as mortes de “terroristas” eram reproduções
exatas da Agência Segurança Press.
Se não,
olhem o que se falou sobre o assassinato da menina de 14 anos nas tevês:
- “Polícia
termina investigação sobre morte da menina Tayná”, em 05/07/2013.
- “Polícia
conclui inquérito e afirma que os suspeitos mataram Tayná”, em 05/07/2013.
- E esta informação de
9/7/2013: “Reviravolta:
sêmen encontrado em Tayná não é dos suspeitos”.
- E a última informação
de 11/7/2013 sobre o “Caso
Tayná: após denúncias de tortura, delegados são
afastados”.
Os
exemplos da imprensa brasileira, que reproduz de modo literal o que a polícia
lhe sopra, ao fim de torturante inquérito, poderiam ser mostrados a um infernal
infinito. E o mais grave, leitor. Agora mesmo, neste preciso instante, um preso
comum está sendo torturado, sofrendo empalação ou é morto. Isso em plena democracia.
Era bom que transformássemos o caso Tayná em um começo de real
mudança, nas delegacias de polícia e na imprensa.
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Enviado por Direto da Redação
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