11/7/2013, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
A
quinta rodada do Diálogo Econômico e Estratégico EUA-China começa nessa 5ª-feira
em Washington. Essa “Fraternidade” China-EUA envolve, sim, muita conversa – sem
ação perceptível. A Think-tank-lândia tenta passar a impressão de que
Pequim está(ria) agora em posição mais fraca em relação a Washington ,
comparada ao ambiente pós-crise financeira em 2009. Bobagem.
É
como se o escândalo (global) em curso, da Agência de Segurança Nacional dos EUA,
jamais tivesse acontecido; Edward Snowden expôs o modo como o governo dos EUA
virou-se contra os próprios cidadãos, sem parar de espionar virtualmente o
planeta inteiro. E há o meme de que a
economia chinesa está(ria) “com problemas”, quando Pequim, de fato, está
lançando estratégia de longo prazo, complexa, para calibrar os efeitos de um
relativo desaquecimento da economia.
E,
por fim, o suposto “comportamento agressivo dos chineses”, em termos de
segurança da Ásia, não passa de conversa de “especialistas” de jornal e TV.
Preparação do palco para o Diálogo Estratégico EUA - China |
Pequim está construindo sua Marinha, claro – ao mesmo tempo em que a China e um grupo
seleto de membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático estão cuidando da
sintonia fina de suas táticas, antes de conversações multilaterais sobre um
código de conduta no caso de problemas sérios no Mar do Sul da China. Pequim
seria doida, se partisse para a diplomacia dos barcos armados – que certamente
atrairia um contragolpe norte-americano.
Completamente
atolados
É
claro que Pequim interpretou, corretamente, que a “libertação” da Líbia pela
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – agora já revertida
em conversão da
Líbia em estado falhado; o apoio dos EUA à destruição da Síria;
e o “pivoteamento” para a Ásia como ações interligadas, cujo alvo é a ascensão
da China e concebidas para fazer gorar a complexa estratégia chinesa de um
corredor eurasiano de energia.
Pois nada parece estar dando
certo. Como Asia Times
Online noticiou, o oleogasoduto Irã-Paquistão (IP)
pode bem converter-se em IPC, onde o “C”, de China, será uma extensão até
Xinjiang, no oeste da China. Pequim também sabe muito bem como o proposto
gasoduto Irã-Iraque-Síria foi questão chave para o enfático ataque contra a
Síria, orquestrado por atores como Qatar, Arábia Saudita e Turquia. Pequim
calcula que, se Bashar al-Assad ficar e o gasoduto de US$10 bilhões chegar a ser
completado (claro que com ajuda financeira de chineses e russos), o principal
cliente será a própria Pequim, não a Europa Ocidental.
Oleogasoduto IP (Irã - Paquistão) já estendido até a Índia tornando-se IPI |
Considerando
sua relação estratégica com Islamabad, Pequim está também muito consciente de
todos os movimentos dos EUA para gerar dificuldades no Baloquistão paquistanês,
crucialmente importante do ponto de vista geoestratégico – com possível
transbordamento para a vizinha província Sistão-Baloquistão no Irã.
Paralelamente, Pequim interpreta a intransigência e a obsessão dos EUA quanto ao
programa nuclear iraniano como história-máscara, para atrapalhar a sólida
parceria de segurança energética entre Teerã e Pequim.
Quanto
ao Afeganistão, os corredores em Zhongnanhai em Pequim
devem reverberar, de gargalhadas, vendo que Washington já regrediu nada menos
que 16 anos, de volta ao segundo governo de Bill Clinton – em política, é uma
eternidade! – às conversas com os Talibã em Doha, nas quais se disputa,
essencialmente, um dos mais velhos gambitos de todo o Oleogasodutostão.
“Queremos um oleogasoduto” (o TAPI, Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia),
diz Washington. “Queremos nossa parte”, respondem os Talibã. Isso é política de
Feitiço do Tempo [orig. Groundhog
Day,
filme de 1993].
O
problema é que Washington nada tem, absolutamente nada, a oferecer aos Talibã.
Os Talibã, por sua vez, manterão a agenda da ofensiva de verão, sabendo muito
bem que estarão livres para fazer o que quiserem, depois que o presidente Hamid
Karzai sair de cena, para o esquecimento. Quanto à noção, de Washington, de que
Islamabad conseguirá manter os Talibã afegãos sob controle... até as cabras no
Hindu Kush riem dessa.
Trata-se,
sempre, da Síria
A
Síria, essa sim, continua a ser a história chave – como pivô de um câncer que se
alastra, sob a forma de guerra sectária sunitas/xiitas, largamente encorajada
pela Casa de Saud e outros atores do Conselho de Cooperação do Golfo, que o
governo Obama engoliu, anzol, isca e vara.
Foi
preciso que aparecesse um diplomata de coragem para vazar, mais as traduções do
russo ao árabe e daí ao inglês, para que o mundo tivesse uma ideia do que os
políticos discutem nessas “cúpulas” em vasta medida ocas, boas, só, para
fotógrafos.
O
que o presidente russo Vladimir Putin disse a Obama, ao britânico David Cameron
e ao presidente francês François Hollande, cara a cara, é impressionantemente
fascinante.
Exemplos: [1]
Da esquerda para a direita: Merkel, Putin, Cameron, Obama e Hollande (G8) |
Putin
falando à mesa:
Vocês
querem que o presidente Bashar al-Assad saia? Olhem só os líderes que vocês
inventaram no Oriente Médio, ao longo do que chamam de “Primavera Árabe”.
Putin
falando a Obama, Cameron e Hollande:
Vocês
querem que a Rússia abandone Assad e seu regime e que se alinhe a oposição cujos
líderes vocês sabem que não sabem coisa alguma além de lançar fatwas declarando os outros
heréticos, e cujos membros – que vêm de um punhado de países diferentes e têm
múltiplas orientações – não sabem fazer coisa alguma além de degolar gente e
comer carne humana?
Putin
falando diretamente a Obama:
O
seu país enviou seus exércitos para o Afeganistão em 2001, com a desculpa de que
estariam combatendo os Talibã, a organização al-Qaeda e outros terroristas
fundamentalistas que o governo de vocês acusou de serem responsáveis pelos
ataques de 11/9 contra New York e Washington. E aí estão vocês hoje, fazendo uma
aliança com eles, na Síria. E vocês e seus aliados já declararam que querem
enviar armas para eles. E aí você tem o Qatar, onde você [os EUA] tem sua maior
base na região. E no território desse mesmo país, os Talibã estão abrindo um
escritório de representação.
A
melhor parte é que a chanceler alemã Angela Merkel, na sequência, apoiou cada
palavra de Putin. E o presidente da China, Xi Jinping, só pode ter feito o
mesmo.
Continue
a tecer a tal rede, meu irmão
Bashar al-Assad |
Ainda
que a brilhante ideia do governo Obama de selecionar rebeldes “do bem” para
presentear com armas leves por acaso funcionasse (e não funcionará: em qualquer
teatro de guerra, as forças combatentes mais realmente hardcore – como as
gangues estilo Jabhat al-Nusra – são quem fica com as melhores armas), nem assim
alguma coisa garantiria que as forças de Bashar al-Assad viessem a ser
derrotadas.
É
o contrário. Haverá avançada para reconquistar toda a cidade de Aleppo – já em
progresso. E outra avançada rumo ao sul, na direção de Daraa, para proteger a
fronteira com a Jordânia; armas entregues a “rebeldes” no sul da Síria pelas
petromonarquias-movidas-a-petróleo entram pela Jordânia. Rumores sobre
“superdispersão” são enormemente exagerados: a coisa pode ser feita em etapas.
A
Rússia, enquanto isso, jogará jogo muito esperto; garantindo armamento essencial
ao governo sírio e preparada para entregar material mais letal, no caso de
Washington decidir mandar para lá armas menos leves.
E
há então a confusão toda com a Fraternidade Muçulmana. O jornal Al-Akhbar
oferece detalhes deliciosos de como a Casa de Saud virtualmente destruiu o Qatar
no Egito – bem como na Síria. Nunca é demais lembrar que a Casa de Saud apoia os
retrógrados partidos salafistas no Egito e arma os retrógrados combatentes
salafistas na Síria.
No Egito, apresento-lhes o novo
chefão – sauditas e emiradistas – iguais ao velho chefão – qataris. Antes de
decidir recentemente se autodepor, Emir al-Thani gastou nada menos que $17
bilhões num punhado variados de “primaveristas árabes”, quase todo o dinheiro,
para Mursi no Egito. Agora, a Casa de Saud já ofereceu $5 bilhões e os Emirados,
$3 bilhões. Nenhum deles, pelo visto, lê nesse Asia Times Online o que
Spengler escreve – e que já provou que o Egito, para grande lástima daquele povo
maravilhoso, continuará a ser uma república de bananas, sem bananas (ver “Islam’s civil
war moves to Egypt”, Asia Times Online,
8/7/2013).
Para
resumir: Pequim está apostando que vencerá no Paquistão, no Irã, na Síria (já
está vencendo no Iraque), no Oleogasodutostão, para nem falar do Mar do Sul da
China, enquanto Washington enreda-se cada vez mais na sua Fraternidade-rede.
“Fraca”? Só porque vocês querem.
Nota dos
tradutores
[1] Do jornal libanês As-Safir, n. 12.522, 6/7/2013 em:
تقرير
ديبلوماسي
توقع
سقوط
«الإخوان»
في
مصر..
وفي
غيرها traduzido ao inglês
por Eric Mueller, conforme publicado em 10/7/2013: “Putin
Dresses Down The Group of Eight”
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