22/8/2013, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Robert Zaretsky |
O
autor e acadêmico Robert
Zaretsky
traça alguns paralelos interessantes entre o ataque dos militares argelianos aos
islamistas, no início dos anos 1990s, e o que está acontecendo atualmente no
Egito. Em Foreign
Policy, Zaretsky avalia que o Egito também se encaminha para uma
“década negra”.
Há
semelhanças logo à primeira vista, porque os militares argelianos também se
autoapresentavam como defensores da democracia e também caricaturizavam os
islâmicos como “antidemocráticos” e fanáticos. O ocidente fez-se de cego ante a
carnificina na Argélia e mostra-se ambivalente hoje, ante o golpe no Egito.
Mas
os paralelos praticamente acabam aí.
Diferente dos islamistas
argelianos, a Fraternidade Muçulmana existe há décadas como movimento
clandestino e sobreviveu à repressão pelo estado. A Fraternidade é capaz de
adaptar-se e assume protoformas e muitas caras – no início da revolução da Praça
Tahrir, trabalhou secretamente com os militares egípcios. E a Fraternidade
Muçulmana sabe
distinguir entre tática e estratégia.
Praça Tahrir durante Ramadan de 2012 |
Além
disso, a Fraternidade é, pode-se dizer, um conglomerado de pequenos grupos de
bairro que fazem trabalho caritativo, o que a liga de modo quase inseparável às
massas miseráveis que não podem ser destruídas nem dizimadas em operações
cirúrgicas.
E
há ainda um ambiente regional no Oriente Médio hoje, que não era o mesmo há 20
anos passados. Diferente dos islamistas argelianos, a Fraternidade tem uma
extensa rede por todo o Golfo Persa, a Jordânia, a Síria e além.
O
Hamás é fruto da Fraternidade, o que a torna protagonista do problema palestino
e do conflito árabes-israelenses. Muito diferente disso, os islamistas
argelianos foram duas vezes removidos da questão do Oriente Médio.
A
Primavera Árabe enfrenta ameaça extrema, mas a demanda por reformas e mudanças
continuará a se fazer ouvir. O acordo construído para o Oriente Médio pelas
antigas potências coloniais e a ordem política de então, depois da desintegração
do Império Otomano há 100 anos, foram desmontados. O Egito portanto, continuará
preso no torvelinho regional do qual não há saída. O Egito não é a Argélia, mas
o coração pulsante do mundo árabe – e a Argélia é mais mediterrânea que
oriental.
O dilema da junta egípcia será que
não pode sustentar alguma total supressão permanente dos islamistas. Questão
tortuosa que já surge é o papel do Partido
Nour salafista, que gozou de consistente
apoio clandestino dos sauditas, e ficou na corda bamba depois da deposição do
governo da Fraternidade. Antes do que se pensa, será forçado a assumir posição
ao lado do Islã político, e a junta egípcia depende criticamente dos “bilhões
do Golfo”, como diz a Agência Reuters, para sobreviver.
Mohamed El Baradei Mohamed Mursi |
E o processo está apenas começando
e ainda não se sabe como o Egito reage à libertação de Hosni Mubarak. Os
alinhamentos políticos focados na antipatia contra Mohamed Mursi já duram mais
do que a utilidade que tiveram para seus protagonistas. Quem algum dia previu
que o rápido flerte entre Mohamed El Baradei e a junta tomaria
o rumo bizarro que tomou? Basta isso, para saber que o novo
alinhamento das forças políticas no Egito pode ainda trazer surpresas.
[*]
MK
Bhadrakumar
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em
questões do Irã, Afeganistão e
Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações,
dentre as quais The
Hindu, Asia
Times Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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