Salvador Allende |
Publicado em 10/09/2013 por [*] Mário Augusto
Jakobskind
O 11 de setembro da América Latina
está completando 40 anos. Trata-se de uma data trágica que corresponde ao golpe
comandado pelo general Augusto Pinochet que derrubou o Presidente constitucional
Salvador Allende. Muito se denunciou sobre a participação dos Estados Unidos
comprovada por inúmeros documentos oficiais demonstrando a culpa no cartório do
então Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger.
Nestes dias, documentos da
chancelaria do Chile tornados públicos confirmam a participação também do
Governo do então ditador de plantão Garrastazu Médici no golpe sangrento. A
embaixada brasileira tornou-se inclusive num espaço de apoio aos golpistas. O
chefe da representação diplomática, embaixador Câmara Canto, esteve de braços
dados com militares que transformaram o Chile numa espécie de sucursal do
inferno. Tanto assim que quando se confirmou a vitória dos golpistas, Câmara
Canto comemorou com seus asseclas abrindo champagne.
Logo após o golpe, o Governo
brasileiro colaborou financeiramente com a ditadura e assim sucessivamente.
Mesmo antes do golpe, a ditadura civil militar vigente no Brasil respaldava os
chilenos de extrema direita. Documentos tornados públicos no Chile comprovam a
participação de brasileiros em apoio a grupos extremistas de direita como o Patria y Libertad.
Matéria do jornal O Estado de S.
Paulo informa que em julho de 1973, o Brasil concedeu asilo político a Eduardo
Roberto Keymer Aguirre, identificado como integrante do Patria y Libertad. A concessão ocorreu
quatro dias depois que os extremistas assassinaram um ajudante de ordens de
Allende, o capitão Arturo Araya Peeters.
René Dreifuss |
Os vínculos da extrema direita
chilena com extremistas brasileiros não se resumiram a este fato. Anos atrás, o
cientista político René Dreifuss em seu livro “A Internacional capitalista”
revelou que o jornalista Aristóteles Drummond, uma figura nefasta vinculada até
hoje a antigos golpistas da pior espécie, fornecia armas para os extremistas do
Patria y Libertad.
Há tempos este
espaço democrático divulgou a informação veiculada no importante trabalho de
pesquisa de René Dreifuss sobre o extremista brasileiro acusado inclusive de
responsável pela explosão de uma bomba numa exposição soviética no Rio de
Janeiro.
Pois bem, na reportagem do Estadão
sobre os documentos divulgados nestes dias no Chile aparece novamente o nome de
Aristóteles Drumond como um dos brasileiros que teria transportado recursos para
os chilenos que preparavam o golpe contra Salvador Allende.
Aristóteles Drummond |
Questionado pelo jornal paulista,
Aristóteles Drummond preferiu não assumir diretamente a ajuda fornecida, mas a
sua resposta é um reconhecimento da ajuda. Analisem bem o que disse este senhor
que todo ano aparece no Clube Militar para comemorar o golpe que levou o Brasil
a ingressar numa noite escura de 21 anos.
Eu não levei, mas teria levado.
Tenho o sentimento de que os brasileiros amigos do Chile tenham (enviado
dinheiro). Sou de classe média, mas, se corresse uma lista aqui para dar US$ 500
(a grupos anti-Allende), eu daria do meu bolso. Acho que o general Pinochet foi
decisivo para evitar a criação de uma sucursal de Cuba no Pacífico. Pinochet
salvou o Chile, assim como os militares salvaram o
Brasil.
Aristóteles Drummond, que chegou a
ocupar um cargo de confiança no governo Negrão de Lima na área de habitação, não
foi perguntado pelo Estadão sobre a denúncia de René Dreifuss do fornecimento de
armas ao gupo Patria y Libertad, mas
se em algum momento for perguntado sobre o tema, provavelmente não confirmará
integralmente a ação, mas o teor da reposta será nos moldes da que deu ao
Estadão.
Tais fatos são importantes de
serem conhecidos pela opinião pública e ajudarão também à Comissão da Verdade a
concluir seu relatório sobre os trágicos acontecimentos ocorridos no Brasil
depois do golpe de estado que derrubou o Presidente constitucional João
Goulart.
O caso de Aristóteles Drumond é
bastante emblemático e não será nenhuma surpresa se outros documentos a serem
tornados públicos apontarem a participação de outros brasileiros que seguiram
impunes ao longo do tempo. É também uma demonstração concreta segundo a qual o
golpe no Brasil não foi apenas de conotação militar, mas civil também
Por estas e muitas outras não
bastam apenas autocríticas de estilo marqueteiro, como fez recentemente O Globo,
sobre o golpe de 64. No caso das Organizações Globo, que ao longo dos anos se
transformaram numa espécie de diário oficial dos detentores de fato do poder,
teria que acontecer um reconhecimento que além do “erro editorial” do apoio ao
golpe, o grupo midiático então comandado por Roberto Marinho, como diria Leonel
Brizola, engordou na estufa da ditadura.
______________________
[*] Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário
Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto da Redação
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.