14/9/2013, Blog Moon of Alabama, EUA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O
Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC e ao lobby israelense. Foi
a primeira vez que isso aconteceu, em 22 anos.
A
Síria reconquistou a própria independência. O mais provável é que, em 2014,
Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República Árabe Síria. A história
síria o recordará para sempre, como governante civilizado e herói do seu povo.
O
povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra que
o presidente desejava. Essa é vitória imensa e um precedente. Que todos os
norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra
inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se. Os
norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer
guerra.
Mapa atualizado (até 22/8/2013) da guerra da Síria (clique na imagem para aumentar) |
Em 2006
os EUA estavam em guerra no Iraque. Muitas das forças inimigas contra as quais
os EUA lutavam furiosamente chegavam ao Iraque através da Síria. No mesmo ano o
Hezbollah derrotou Israel, que invadira o Líbano. As forças armadas de Israel
eram emboscadas cada vez que tentavam penetrar no Líbano, enquanto o Hezbollah
usava foguetes contra as posições do exército israelense e nas cidades. O
Hezbollah recebia apoio e suporte da Síria e do Irã, que chegavam através da
Síria. Os planos de longo prazo dos EUA e Irã, para manter a supremacia no
Oriente Médio dependiam de interromper as vias de abastecimento para o Hezbollah.
Os
países sunitas sectários do Golpe viram seus sunitas serem derrotados no Iraque
e um governo xiita, apoiado pelo Irã, assumir no Iraque. Todos esses países
tinham motivos para tentar atacar a Síria. E também havia razões econômicas, que
tornavam necessário derrubar uma Síria independente. Um gasoduto, do Qatar à
Turquia, competia com outro, do Irã à Síria. Grandes reservas de gás natural
descobertas nas águas de Israel e Líbano, faziam aumentar muito a possibilidade
de que também houvesse gás em águas nacionais sírias.
No
final de 2006, os
EUA começaram a financiar uma oposição externa ao partido Baath, que
governava a Síria. Aqueles opositores eram na maioria exilados da Fraternidade
Muçulmana expulsos da Síria depois que fracassaram várias tentativas de golpe de
Estado, entre 1976 e 1982. Em 2007, EUA, Israel e Arábia Saudita construíram um
plano para “mudança de regime” na Síria. O objetivo do plano
era destruir a aliança da “resistência” entre o Hezbollah, Síria e
Irã:
Para minar o Irã,
predominantemente xiita, o governo Bush decidiu, de fato, reconfigurar suas
prioridades no Oriente Médio. No Líbano, o governo cooperara com o governo da
Arábia Saudita, que é sunita, em operações clandestinas que visam a minar o
Hezbollah, organização de xiitas apoiada pelo Irã. Os EUA também tomaram parte
em operações clandestinas contra o Irã e seu aliado, a Síria. Resultado
colateral dessas atividades foi provocar a radicalização de grupos sunitas
extremistas, que têm uma visão militante do Islã e são hostis aos EUA e simpáticos à Al-Qaeda.
Em
2011, três anos de seca, provocada pelo aquecimento global e pela Turquia, que
construiu barragens e gigantescos projetos de irrigação na região, haviam
enfraquecido a economia síria. Grandes populações, das áreas rurais mais pobres,
perderam seus meios de sobrevivência e acorreram às cidades. Esses fatores
criaram o terreno fértil a partir do qual lançar um golpe contra o estado sírio.
A
parte que coube aos EUA naquele plano foi garantir cobertura “midiática” e o
necessário “clima de opinião”, na opinião pública global, para viabilizar o
golpe. Para isso, os EUA usaram as ferramentas que conhecem bem, de criar
“revoluções coloridas”. “Jornalistas cidadãos” foram recrutados, treinados e
armados com o necessário equipamento de vídeo e comunicações bem conhecidos da
“mídia comercial” de propaganda, em todo o mundo. Outros foram treinados para
organizar “manifestações civis pacíficas”. Os sauditas encarregaram-se da parte
mais tenebrosa do plano: financiaram e armaram grupos rebeldes, muitos deles
associados à exilada Fraternidade Muçulmana, com a tarefa de instigar movimento
mais amplo e atacar forças do estado sírio, além de atacarem também
manifestantes civis pacíficos.
Uma
manifestação local em Deraa, perto da fronteira da Jordânia, foi usada para
iniciar o golpe. Manifestações começaram pacíficas, mas logo começaram os
ataques à bala contra manifestantes e contra a polícia. Inevitavelmente, os dois
lados escalaram. Grupos armados pelos sauditas passaram a atirar
consistentemente contra soldados do estado sírio. Com colegas mortos e feridos,
as forças do exército sírio retaliaram contra os manifestantes. Grupos de
manifestantes armaram-se, eles também, para enfrentar o exército sírio.
Os
“cidadãos jornalistas” entraram em cena, com propaganda de que só haveria
vítimas entre os “manifestantes pacíficos” e jamais noticiaram o número de
vítimas entre os soldados sírios. As agências “ocidentais” de noticiário
integraram-se ao esquema. Ativaram-se células já organizadas em outras cidades
da Síria. Mais uma vez, a expressão “manifestantes pacíficos” foi apresentada
como cobertura para “uma terceira força”, como disse a comissão de investigação
da Liga Árabe, que lutava contra as forças do governo sírio e também instigava
os manifestantes a armarem-se.
O
governo dos EUA ajudou com sua própria campanha de propaganda; por exemplo, quando
mentiu
sobre ataques da artilharia síria contra manifestantes – que não haviam acontecido.
Organizações para-governamentais
norte-americanas, como
Avaaz, Anistia Internacional e Human Rights Watch, uniram-se à campanha
contra o governo sírio. E a ciberguerra, movida contra agências noticiosas
sírias, suprimiu completamente o outro lado da história. Até hoje, a Agência
Sírio-Árabe de Notícias [orig. Syrian Arab News Agency, sana.sy] continua expurgada dos
resultados de procura no Google. [1]
Rapidamente se tornou visível que a estratégia concebida para criar uma
“revolução colorida” não funcionara.
O
estado sírio mostrou-se mais capaz de resistir do que parecia. O presidente
sírio Bashar al-Assad era mais respeitado e querido pelos sírios do que os
instigadores do golpe haviam suposto. E o presidente atendeu rapidamente várias
das demandas dos manifestantes autênticos. A Constituição síria for reformada,
criaram-se novos partidos, houve eleições e as forças de segurança mais
violentas e abusivas foram contidas, postas sob controle estrito. As grandes
cidades, mesmo aquelas nas quais a maioria era de sunitas, não apoiaram e nem se
uniram à violência crescente dos milicianos sectários. As deserções do exército
sírio e de quadros políticos foram poucas e sem importância. Durante algum
tempo, até a economia conseguiu resultados bastante satisfatórios.
Os
inimigos da Síria tiveram de aumentar o “envolvimento”. Arábia Saudita e Qatar
usaram todas as suas capacidades para recrutar jihadis de outros países
dispostos a lutar na Síria. A CIA, alimentada com dinheiro saudita, enviou para
lá toneladas de armas e munição, recolhida de seus arsenais pelo mundo. Grupos
terroristas foram criados, com treinamento e inteligência de combate. E criou-se
um grupo de exilados, para começar a ser apresentado ao mundo como futuro
governo possível para a Síria.
O
governo sírio foi forçado a recolher-se, para preservar seus soldados. Grandes
porções da Síria rural foram tomadas pelos grupos terroristas. A população
dessas áreas fugiu pelas fronteiras ou para as cidades maiores. Nas áreas
urbanas onde os terroristas se acastelaram, tornou-se difícil desalojá-los sem
causar vasto dano aos prédios e à infraestrutura. Mas o governo sírio, dessa
vez, já sabia o que fazer. Com a ajuda de aliados, unidades armadas do Irã,
unidades armadas do Hezbollah foram retreinadas para guerra contra grupos
terroristas insurgentes. E criaram-se unidades paramilitares locais, para
reocupar as áreas das quais o exército já desalojara os terroristas. A Rússia
cuidou de manter o suprimento de artigos necessários à sobrevivência dos civis e
armamento para as forças do exército sírio.
Do
lado dos instigadores do golpe as coisas começaram a dar errado.
Os
Jihadis providenciados pela Arábia Saudita mostraram combatentes
eficientes, mas fanáticos religiosos, e não encontraram espaço no contexto
social da Síria – de governo laico e sociedade multirreligiosa liberal
inclusiva. Começaram os confrontos com a população e com combatentes locais
pró-Assad. Ainda hoje chegaram
notícias de luta violenta no nordeste da Síria, entre terroristas
jihadistas e bandidos locais.
Questões
sobre suprimentos de armas a serem recebidas da Líbia, entre os EUA e grupos da
Al-Qaeda, mataram o embaixador dos EUA em Benghazi.
Apesar
de ter sido “reformatado” pelo menos três vezes, o planejado grupo para um
governo no exílio mostrou-se inefetivo, dadas as disputas internas entre os
vários grupos entre si e entre seus patrocinadores. A campanha de imprensa sobre
“manifestantes pacíficos” começou a fazer água, à medida que mais e mais imagens
e histórias emergiam, mostrando massacres cometidos pelos grupos golpistas,
contra soldados sírios. A população nos países que inicialmente apoiara o que
supunha ser um levante democrático mudou de opinião, e passou a opor-se a
qualquer envolvimento naquele conflito.
Quando
se tornou mais evidente que os golpistas não conseguiriam derrotar o exército
sírio, o presidente Barack Obama dos EUA apareceu com sua “linha vermelha” sobre
o uso de armas químicas. Foi como um convite aos golpistas, para que usassem
armas químicas no cenário da guerra, para em seguida culpar o governo sírio.
Assim se criaria a necessidade, dado o que dissera o presidente, de os EUA
intervirem militarmente, ao lado dos jihadistas terroristas. Tentaram fazer isso
algumas vezes, mas Obama não deu sinal de disposição para usar a força. Para
tentar impedir que, no caso de os terroristas conseguirem tomar o governo sírio,
eles assumissem o poder, os EUA alteraram o plano: agora, haveria terroristas
“moderados”, treinados pelos EUA, que assumiriam o controle dos combates,
sobretudo em torno da capital Damasco.
Em
meados de agosto de 2013, um grupo de 300
combatentes treinados pela CIA entraram na Síria pela Jordânia. (Hoje,
o governo Obama está tentando alterar essa data).
A
tarefa deles era ir até Damasco e assumir, eles mesmos, a luta contra o governo
sírio. Foram impedidos. Pararam, sem conseguir avançar mais, a caminho de um
subúrbio de Damasco. Sem o apoio aéreo dos EUA, como havia acontecido na Líbia,
o uso de forças especiais treinadas pelos EUA revelou-se inútil. Foi ativado
então o plano “linha vermelha”.
Locais dos ataques com gás em bairo de Damasco em 21/8/2013 (clique na imagem para visualizar) |
Dia
21 de agosto, algum produto químico venenoso foi liberado no ar em alguns
subúrbios de Damasco. Instantaneamente surgiram pelo canal YouTube enorme quantidade de vídeos em
que se viam cadáveres enfileirados de supostas vítimas de ataque “químico”. Mas
os vídeos não indicavam nenhum dos sintomas corretos de vítimas de exposição ao
gás sarin, nem os atingidos que se via estavam recebendo os cuidados médicos de
protocolo para o caso de ataque real com armas químicas. Tudo era falso. A
conclusão de que se tratava de falsa
operação “armada” para inculpar o governo Assad correu o mundo.
Mas
Obama ainda tentou convencer o mundo de que o governo sírio usara armas
químicas, e insistiu em distribuir fiapos de evidências, mas, de fato, não
exibiu qualquer prova. E convocou aliados para que se unissem a ele numa
intervenção militar.
David Cameron |
O Parlamento britânico votou e
decidiu que não. O povo britânico, como o povo norte-americano já não tem
estômago para mais guerras. Obama viu-se preso num “ardil 22”:[2] podia ir à guerra sem consultar o
Congresso; nesse caso, corria o risco de ser tirado da presidência por
impeachment, de uma Câmara de Representantes muito hostil; ou pedia autorização
ao Congresso para ir à guerra. Em pouco tempo Obama desceu da posição de “faço a
guerra sozinho” [3] e pediu autorização ao Congresso. O
povo dos EUA já era amplamente contrário a mais uma guerra no Oriente Médio, e
os
militares também. Pressionados pelos eleitores, e ante o fato de que não
havia prova alguma do tal “massacre”, o Congresso negou a licença para matar que
Obama lhe pedira.
O
Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC e ao lobby israelense. Foi
a primeira vez que isso aconteceu, em 22 anos.
Obama
tem agenda urgente a cuidar, no plano doméstico. Há o Obama-care, o orçamento, e
disputa já iminente pelo teto da dívida. Depois de perder a guerra no Congresso,
Obama não poderia, baseado só em pressupostos poderes presidenciais, ir à
guerra. Os riscos eram altos demais: ou um impeachment imediato, ou status de pato
manco até o final do mandato. O que fazer?
Foi
quando o cavaleiro russo, Vladimir Putin, acorreu em socorro de Obama.
Richard Lugar |
Putin ofereceu um negócio: a Síria
aceitaria entregar armas não convencionais; e os EUA aceitariam que o governo
sírio e o presidente Assad permanecessem no poder. Não é ideia nova: apareceu há
um ano, em agosto de 2012, quando o ex-senador Richard
Lugar propôs exatamente isso, em Moscou.
As
armas químicas sírias são praticamente inúteis, no campo tático. Mas podem ser
usadas contra centros de população israelenses – e têm, por isso, importante
poder dissuasório e de contenção, contra a violência de Israel. Mas nas atuais
circunstâncias converteram-se em risco a evitar. Ao mesmo tempo, os mísseis
convencionais do Hezbollah já se comprovaram muito efetivos, como força de
contenção; e não implicam os mesmos problemas associados às armas não
convencionais. A Síria pode, com segurança, entregar parte de seu armamento de
contenção dissuasória. E confia que seus aliados Irã e Rússia providenciarão
substitutos efetivos, se necessário.
Obama
agarrou-se à boia que Putin lançou para ele. Sabia que entrar abertamente em
guerra contra
oponente bem preparado e
aliados significaria guerra longa e incerta. Metera-se em situação de
perde-perde, mas agora voltava a ainda parecer vencedor. Resgatou Israel de uma
situação em que estava ameaçada por bombas de gás e ainda arranjou a alguma
coisinha para fazer trotar seu cavalinho de batalha premiado – o desarmamento de
armas de destruição em massa.
Hoje, os ministros de Relações
Exteriores da Federação Russa e dos EUA assinaram umas “Linhas Gerais para a
Eliminação das Armas Químicas Sírias” [orig. Framework for
Elimination of Syrian Chemical Weapons]. Exige-se que, sendo possível,
todas as armas químicas sírias estejam eliminadas até meados de 2014.
Rei Abdullah da Arábia Saudita, o grande derrotado |
O
documento nada diz sobre o futuro do governo Assad. Mas a Rússia com certeza já
providenciou para dar e obter as necessárias garantias. Nem a Síria teria
entregado suas armas sem negociação precisa e suficiente.
A
Rússia, tanto quanto a Síria, sabe que Obama tem de manter a imagem, e ninguém
falará sobre o real acordo firmado horas antes em Genebra. Agiram, aliás, como
Nikita Khrushchev, que manteve silêncio sobre seu acordo com Kennedy, sobre a
remoção dos mísseis nucleares norte-americanos da Turquia, depois da crise dos
mísseis em Cuba. À parte as garantias anunciadas, o cumprimento das garantias de
desarmamento, que pode demorar um pouco mais do que foi acordado hoje, depende
da sobrevivência do governo de Assad. Derrubar Assad é assunto que, por hora, os
russos proibiram.
Daqui
em diante, Obama começará, aos poucos, a reduzir o apoio aos terroristas na
Síria. Pressionará Israel, Arábia Saudita e Turquia para que façam o mesmo.
Quanto mais rapidamente a Síria promover a eliminação das armas químicas, mais
rapidamente Obama se recolherá. A imprensa-empresa nos EUA rapidamente
descobrirá a disputa pelo orçamento e o negócio da espionagem pela Agência de
Segurança Nacional dos EUA, que voltarão às manchetes. E, aos poucos, a opinião
pública dos EUA esquecerá que existe Síria.
A oposição síria não está gostando
do acordo e não deseja que dê certo.
O Conselho Militar Sírio fará o possível para que dê errado. Mas logo perceberá
que ficou sem apoio político e sem dinheiro. Enquanto isso, as forças locais do
CMS combatem contra grupos aliados da al-Qaeda. É bem possível que alguns grupos
locais anti-Assad rapidamente se aliem ao exército sírio, contra os terroristas
jihadistas. O general Selim Idris talvez consiga algum emprego burocrático de
baixo escalão em Dubai ou no Qatar.
Bandar bin Sultan |
O
rei saudita odeia os ideólogos da al-Qaeda tanto quanto odeia a Fraternidade
Muçulmana e todos os persas. Concordará em pôr fim à guerra e atacará o bolso
dos que insistam em continuar a financiá-la.
O
príncipe Bandar, responsável por recrutar terroristas jihadistas, deu-se muito
mal (outra vez) e não fez o que foi pago para fazer, porque disse que
controlava, mas não controlava seus jihadistas alugados. Pode ser mandado de
volta para o deserto bravio. Os estados do Golfo seguirão (terão de seguir) o
exemplo dos sauditas.
Em
Israel, Netanyahoo já viu que, essa,
ele perdeu. A derrota do AIPAC no Congresso já o informou disso. Embora
esse round contra a Resistência não tenha sido decisivo, é verdade que
grande parte da Síria foi destruída e que o arsenal estratégico sírio está, por
hora, reduzido. Netanyahoo também
concordará com o plano dos EUA de reduzir os latidos pró-guerra, mas exigirá
alguma “compensação” imerecida. É o que ele sempre faz, e Obama sempre cede.
Recep Erdogan |
O
premiê turco Erdogan tentará continuar a apoiar os jihadistas na Síria. É o
único estadista do planeta que o faz por razões ideológicas: Erdogan é crente
fiel. Mas tem também muitos problemas com outros vizinhos e a economia turca
movida a empréstimos externos está à beira de precipício profundo. Há sinais
vindos da Rússia e do Irã, de que pode haver algumas dificuldades técnicas,
motivadas pelo inverno, com os suprimentos de gás para a Turquia. Provavelmente
bastarão para induzir Erdogan a jogar a toalha. Há também gente dentro de seu
próprio partido, sobretudo empresários da Anatólia, que já não o aceitam como
líder. Podem usar a fraqueza política de Erdogan para trazer outro ator para o
palco.
Sem
apoio e sem qualquer possibilidade de vencer a luta, a parte síria da oposição
que se armou provavelmente deporá armas e tentará algum acordo de anistia com o
governo. Os quadros estrangeiros da al-Qaeda continuarão a lutar. Mas têm mínima
base ideológica de apoio entre a população síria; e não têm qualquer chance
contra exército experiente e plenamente mecanizado. Haverá bloqueio contra seus
financiadores. Mas o terrorismo é duro de matar. É possível que, em breve, os
EUA ajudem a Síria, com inteligência ou drones, a combatê-los.
Claramente,
a Rússia é a grande vitoriosa estratégica na guerra à Síria. Está de volta ao
cenário do Oriente Médio, em condições de aí permanecer por algum tempo. Ganhou
por larga margem de pontos, a batalha pela opinião pública global. A Gazprom ficará feliz se puder ajudar a
Síria na prospecção e na extração de gás de suas reservas oceânicas. Daí virão
os fundos para reconstruir e rearmar a Síria. A Gazprom pode também comprar gás do
gasoduto Irã-Síria, vendê-lo à Europa e reforçar seu monopólio por ali.
O
Irã reforçou seu papel estratégico e está hoje bem posicionado para negociar um
bom entendimento com os EUA, que pode pôr fim a 30 anos de hostilidades quentes
e frias. Investiu muito na Síria e mais gastará para ajudar a reconstruir o
país, mas o resultado estratégico – vitória do “eixo da Resistência” – vale bem
o que custou.
A
Síria e o povo sírio venceram a guerra e perderam muito. Serão precisos muitos
anos para reintegrar os refugiados, para reconstruir o país e esperar que
cicatrizem feridas profundas. Mas a Síria também reconquistou a própria
independência. O mais provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito
presidente da República Árabe Síria. A história síria o recordará para sempre,
como governante civilizado e herói do seu povo.
O
povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra que
o presidente desejava. Essa é vitória imensa e um precedente. Que todos os
norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra
inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se.
Os
norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra.
Notas
dos tradutores
[1]
TALVEZ ISSO ACONTEÇA SÓ NOS EUA. No Brasil, encontra-se o que se vê em Syrian
Free Press, acessada às 19h04, 14/9/2013; e encontramos facilmente a Agência SANA, acessada, às
19h03, 14/9/2013.
[2]
Ardil
22 é título de um famoso romance-sátira da 2ª Guerra Mundial,
lançado em 1961, depois, filme. O “ardil
22” é uma
lei-armadilha pela qual os pilotos-personagens sempre acabavam obrigados a voar
em missões de guerra:
Você
pode se declarar louco, para não ser mandado voar a missão que eles inventam.
Mas se eles perceberem que você não quer voar a missão, prova-se que você não
está louco, e eles mandam você voar a missão.
[3] 31/8/2013, Moon of Alabama em: “Syria:
Obama’s Climb-down - Congress Vote On All Out
War”:
Naquele
momento, Obama só poderia ter uma de duas ideias na cabeça: ou (a) ele não quer guerra e espera que o
Congresso o salve daquela estúpida “linha vermelha”, armadilha que ele mesmo
inventou para si próprio e que foi a causa real da operação
clandestina, falsa, no subúrbio de Damasco; ou (b) ele quer guerra e espera que o
AIPAC, com seu descomunal lobby,
ponha ordem no Congresso e lhe dê sua guerra, para benefício do sionismo
universal.
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